22 maio 2020

TÍTULO III - LEISHMANIOSE CUTÂNEA CID 085.1 a 085.5 - CODAR – HB.VLC/CODAR 23.103 - Caracterização - Dados Epidemiológicos - Agente Infeccioso - Reservatórios e Transmissores - Suscetibilidade e Resistência - Mecanismo de Infecção - Medidas de Controle - Controle do Paciente, dos Contatos e do Meio Ambiente


TÍTULO III

LEISHMANIOSE CUTÂNEA CID 085.1 a 085.5

CODAR – HB.VLC/CODAR 23.103


1. Caracterização

Doença polimorfa da pele e das mucosas, caracterizada pela presença de lesões nodulares ulcerativas, que dão origem a úlceras indolores de bordas cortantes e bem marcadas e fundo granuloso e avermelhado.

As lesões ulcerativas podem ser simples ou múltiplas. As lesões metastásicas localizadas na mucosa naso-buco-faríngea podem surgir imediatamente após o desaparecimento das lesões cutâneas e, quando não tratadas, podem ser fatais.

O diagnóstico é feito pela identificação de formas não flageladas da Leishmania brasilienses (no Brasil) em esfregaços corados em material raspado ou aspirado de áreas próximas das bordas das lesões. Nos casos crônicos, a reação intradérmica de Monte Negro está indicada, da mesma forma que as provas sorológicas de imunofluorescência indireta.



2. Dados Epidemiológicos


a. Agente Infeccioso

A doença é provocada por um protozoário flagelado do gênero Leishmania.

No Brasil e no restante da América do Sul a espécie responsável é a L. brasiliensis; na América Central, México e sul do Texas é a L. mexicana, nos países mediterrâneos da Europa e da África, no Oriente Médio, Índia, Paquistão e Sul da Antiga União Soviética é a L. tropica.

Dentre todas, a espécie mais agressiva é a Leishmania brasiliensis.


b. Reservatórios e Transmissores

Na América do Sul, a Leishmaniose é uma doença tipicamente enzoótica, transmitida esporadicamente ao homem, quando o mesmo atua na selva.

Os reservatórios são roedores silvestres, canídeos, marsupiais, preguiças e, em muitos casos, os cães domésticos.

A doença é transmitida por intermédio da picada de uma fêmea infectada de flebótomo que sugou o sangue de um hospedeiro infectado. As formas infectantes atingem as glândulas salivares de 8 a 20 dias e ficam em condições de serem inoculadas pela picada.

O flebótomo é conhecido como birigüi no sul do Brasil e como mosquito-palha nas regiões Norte e Nordeste. É pequeno, de cor amarela, corpo piloso e cabeça alongada e fletida para baixo. Deposita seus ovos sobre a matéria orgânica, em locais úmidos, quentes e sombrios.

Suga preferencialmente ao crepúsculo e à noite, e sua picada produz coceira intensa e duradoura.

Durante o dia, concentra-se nos arbustos sombrios do sub-bosque e seu raio de ação máximo corresponde a 200 metros.


c. Suscetibilidade e Resistência

A suscetibilidade é geral e é normal o aparecimento de imunidade, inclusive heteróloga, após a cura da lesão. Uma infecção benigna, provocada pela Leishmania tropica, cura espontaneamente e confere imunidade para a L. brasiliensis.

No entanto, infecções ocultas podem ser reativadas após anos de cura aparente, e a ocorrência, a posteriori, de lesões mutilantes pode estar relacionada com mecanismos de hipersensibilidade.


d. Mecanismo de Infecção

A forma flagelada só ocorre no aparelho digestivo do inseto. Após inoculado, o protozoário perde o flagelo e se instala nos histócitos (células do sistema retículo-endotelial) localizados na derme, onde se multiplicam, até provoc ar a ruptura dos mesmos.

Embora, no Oriente Médio e nos Países Asiáticos e Mediterrâneos, a Leishmaniose se comporte como uma doença urbana e atinja todas as pessoas, inclusive as crianças, no Brasil é uma doença de selva e só atinge os grupos profissionais que nela trabalham, inclusive os militares das Unidades de Infantaria de Selva.


3. Medidas de Controle

As medidas preventivas, para serem eficazes, dependem do aprofundamento dos estudos sobre os hospedeiros e sobre os transmissores.

Nas áreas de treinamento militar, observa-se que, nas fases iniciais, o número de militares infectados é elevado mas, nos anos subseqüentes, os índices de infecção iniciam um processo de redução. É possível que este fenômeno decorra da fuga progressiva dos reservatórios infectados e dos agentes transmissores dos campos de instrução.

A utilização de “redes de selva”, com teto plástico e paredes laterais de malha muito fina, reduz os riscos de picada durante a noite. A instrução das equipes para que evitem derrubar os arbustos copados com facões reduz as possibilidades de levantar nuvens de flebótomos, durante os deslocamentos nas florestas.

O uso de repelentes e de roupas protetoras e a proibição de banhos de rios, nos horários vespertinos e noturnos, contribuem para reduzir a contaminação.

A construção de alojamentos telados e o rociamento com inseticidas das unidades residenciais localizadas nas proximidades das áreas florestadas (200 metros) também contribuem para a redução dos riscos de infecção.

Os esforços para desenvolver uma vacina efetiva e eficiente devem ser redobrados.

Observou-se que soldados que estiveram no Oriente Médio e foram contaminados com L. trópica, tiveram o chamado “botão do oriente” e adquiriram resistência para a L. brasiliensis.


4. Controle do Paciente, dos Contatos e do Meio Ambiente

·  Não existe necessidade de notificação nem de isolamento.

·  O tratamento específico com antimoniais pentavalentes (glucantime) e com a anfotericina B, nas formas muco-cutâneas, é indispensável e obrigatório. O uso de pirimetamina (daraprin) e de quinacrina (atebrina), como medicamentos de reforço, pode ser recomendável.

·  Os esforços para o desenvolvimento da vacina devem ser intensificados.

·  Nos acampamentos, a aspersão de inseticidas nas lonas das barracas e nos arbustos adensados, num raio de 200 metros, tem se revelado um método eficiente de controle.

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