6
- Bicudos
CODAR: NB.ABC/CODAR:
14.106
Caracterização
O bicudo é um percevejo da
espécie Anothomus grandis Bhoeman.
Segundo
o professor SANTIN GRAVENA, da Universidade Estadual Paulista de Jaboticabal,
as pragas-chave dos algodoeiros, por destruírem os botões florais ê as maçãs,
são:
- bicudo - Anothomus
grandis Bhoeman;
- lagarta-da-maçã -
Heliothis virescens Fabricius;
- lagarta-rosada -
Pectinophora gossypiella Sanders.
As
demais pragas dos algodoeiros são:
- percevejo rajado -
Horcias nobilellus Berg,
- broca da raiz -
Eutinobothrus brasiliensis Hambleton;
- pulgão - Aphis gossypii
Glover;
- ácaro vermelho -
Tetranychus ludeni;
- curuquerê - Alabama
argillacea Huebner.
Genericamente,
o ciclo de cultura do algodoeiro pode ser subdividido nas seguintes fases:
- germinação, com duração
aproximada de dez dias;
- desenvolvimento
vegetativo, com duração média de 45 a 6Qdias;
- desenvolvimento dos
botões florais e das maçãs, com duração média de 50 a 80 dias;
- desenvolvimento dos
capulhos, com duração média de 40 a 60 dias.
Dessas fases, a terceira,
correspondente ao desenvolvimento dos botões florais e das maçãs, é a mais
vulnerável à infestação por pragas mais importantes ou pragas-chave dos
algodoeiros. Quanto mais precoce e mais curta for essa fase, menor será a
população das pragas e menor a intensidade dos danos causados por elas.
Na segunda fase,
crescimento vegetativo, somente insetos sugadores, como o pulgão ou lagartas
comedoras de folhas e o curuquerê, infestam os algodoais, causando danos de
pouca importância.
Na quarta fase,
desenvolvimento de capulhos, os algodoeiros são muito pouco vulneráveis às
pragas.
Principais
Efeitos Adversos
A infestação dos algodoais
pelo bicudo provocou importantes prejuízos econômicos no Brasil.
No Nordeste, o desastre
foi de maiores proporções, desorganizando a produção algodoeira e quase
inviabilizando importante segmento da economia do agreste, especialmente nos
Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, fortemente dependentes do algodão, e,
menos, nos Estados do Ceará, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
A exploração algodoeira no
Agreste nordestino normalmente é desenvolvida em regime de meação, por pequenos
produtores descapitalizados e sem acesso ao crédito bancário.
Como
o nível de conhecimento técnico desses produtores normalmente é muito baixo, na
grande maioria das vezes:
- utilizam cultivares de
baixo potencial genético, em termos de produtividade, precocidade e resistência
às pragas;
- plantam em solos
desgastados e utilizam pouco os fertilizantes químicos e os adubos orgânicos;
- não utilizam irrigação
e, por esse motivo, as culturas são muito vulneráveis às freqüentes
instabilidades climáticas da região;
- utilizam pouco os
defensivos agrícolas e, freqüentemente, de forma inadequada.
Apesar de todos os
aspectos negativos, aproximadamente 3 milhões de trabalhadores nordestinos
estão direta ou indiretamente envolvidos com a produção algodoeira. Em
conseqüência, a infestação pelo bicudo contribui para agravar ainda mais as já
precárias condições de vida da população sertaneja e para incrementar a
migração para os grandes centros urbanos.
Medidas
Preventivas e de Controle
O controle da infestação é
possível e viável, e os centros de pesquisa já desenvolveram tecnologias
adequadas, objetivando a redução das vulnerabilidades dos algodoais ao bicudo e
a outras pragas.
As
maiores dificuldades relacionam-se com as atividades extensionistas. Compete ao
extensionista:
- difundir as novas
tecnologias;
- promover a mudança
cultural, necessária a uma revisão de atitudes mentais, de comportamentos e de
práticas arcaicas.
Para
promover a modernização do setor, é necessário:
- aumentar a
produtividade,
- restabelecer o equilibro
ecológico,
- viabilizar
economicamente a produção e as medidas de controle.
Apesar de todas as
dificuldades, o Nordeste tem condições de produzir algodão de muito boa
qualidade e a preços competitivos, tanto de variedades arbustivas, como de
variedade arbórea.
O
controle das pragas e a melhoria da produtividade da cultura algodoeira
permitirão:
- aumentar a produção;
- fortalecer a economia da
região;
- fixar importantes
contingentes de mão-de-obra no sertão.
Para
melhorar a produtividade, controlar as pragas e dinamizar a economia, é
necessário:
- melhorar a qualidade
genética dos cultivaras;
- recuperar o solo
- incrementar a irrigação;
- intensificar o plantio
consorciado e a rotação de culturas:
- desenvolver técnicas de
manejo mie grado das pragas dos algodoeiros.
1
- Melhoramento dos Cultivares
A pesquisa genética deve
objetivar o desenvolvimento de cultivares altamente produtivos, precoces e
resistentes às pragas, sem perder sua rusticidade.
Como as pragas se
multiplicam em proporções geométricas, quanto mais rápido ir o ciclo produtivo,
menor será o número de indivíduos em condições de infestar as culturas,
enquanto vulneráveis.
A fase mais vulnerável
corresponde ao desenvolvimento dos botões florais e das maçãs. Após o
surgimento dos capulhos, a vulnerabilidade diminui. Dessa forma, quanto mais
rapidamente os botões florais evoluírem para capulhos, menor será a
vulnerabilidade dos algodoeiros.
O aumento da produtividade
é indispensável ao fortalecimento da economia e atua como estimulo à pesquisa e
ao desenvolvimento e difusão de tecnologias de ponta.
2-
Recuperação do Solo
É desejável que técnicas
de manejo integrado de microbacias sejam incrementadas.
A
adequada utilização de fertilizantes químicos e, especialmente de adubação
orgânica, contribui para:
- melhorar a textura e a
fertilidade do solo;
- melhorar a saúde das
plantas e a produtividade dos algodoeiros:
- reduzir a
vulnerabilidade dos algodoeiros às pragas.
É
importante recordar que o fenótipo das plantas depende de dois fatores
decisivos e de igual importância:
- dos condicionantes
genéticos definidos pelo genótipo dos cultivares;
- de fatores ambientais,
responsáveis pela caracterização das potencialidades genéticas.
O cultivar, por melhor
qualidade genética que tenha, só desenvolverá plenamente suas potencialidades,
se for cultivado em ambiente adequado.
Irrigação
A Irrigação, quando
adequada, reduz a vulnerabilidade das culturas aos freqüentes períodos de
estiagem, normais na região Nordeste.
A irrigação, além de
contribuir para aumentar a produtividade, facilita o plantio de culturas
consorciadas e a rotação de culturas.
Nas condições de insolação
do Nordeste, a irrigação, associada às técnicas de rotação de culturas, permite
a colheita de até cinco safras anuais, contribuindo para a dinamização da
economia, para a redução da transumância e para a fixação de grandes
contingentes de mão-de-obra.
4
- Rotação e Consorciamento de Culturas
O
planejamento adequado e o manejo racional da rotação e do consorciamento de
culturas, especialmente com a incorporação ao solo dos restos de cultivo, além
de dinamizar a economia e fixar a mão-de-obra, contribuem para:
- recuperar o solo;
- aumentar a produtividade
dos algodoeiros e das outras culturas;
- otimizar o consumo de
adubos e fertilizantes;
- aumentar a fixação do
nitrogênio ao solo, através da cultura de leguminosas e da incorporação de seus
restos de cultivo;
- aumentar a
biodiversidade;
- reduzir a incidência de
pragas especializadas.
O consorciamento do
algodão com o sorgo tem demonstrado efeitos benéficos, porque este atrai
numerosos predadores das pragas dos algodoeiros.
5-
Manejo Integrado das Pragas dos Algodoeiros
Os esquemas de tratamento
preventivo das pragas com defensivos agrícolas, altamente potentes e de largo
espectro, bem como a definição prévia de um calendário de aplicação de
defensivos, estão sendo substituídos por tecnologias de manejo integrado das
pragas.
Essa evolução
fundamenta-se nos mesmos princípios que tornaram a antibioticoterapia
preventiva, com antibióticos de largo espectro, completamente ultrapassados na
medicina humana.
Da mesma forma que o
infectólogo identifica o germe causador de infecção e seleciona o antibiótico
especifico, através de antibiograma, o agrônomo identifica a praga, caracteriza
o limiar de infestação e, quando for o caso, utiliza defensivos específicos.
A revisão crítica
demonstrou que técnicas de tratamento preventivo com defensivos de largo
espectro, de acordo com esquemas rígidos e pré-fixados de aplicação,
contribuíram para selecionar copas altamente resistentes aos defensivos, além
de destruírem os predadores naturais das pragas.
A atual filosofia de
manejo integrado depende da inspeção constante e meticulosa dos algodoais e da
seleção de defensivos agrícolas específicos, direcionados para as pragas
prevalentes que, nas inspeções, ultrapassaram os limiares de aceitabilidade.
Somente as infestações que
ultrapassarem os limiares de aceitabilidade deverão ser tratadas. Dessa forma,
o número de borrifações, que muitas vezes ultrapassava 25, pôde ser reduzido
para médias variáveis entre quatro e oito.
A técnica de plantio
escalonado tem demonstrado ser bastante eficiente.
Recomenda-se
o plantio dos algodoeiros escalonados em três lotes:
- um pequeno lote de
algodoeiros é plantado antecipadamente, nas áreas marginais do algodoal;
- um grande lote de
algodoeiros é plantado aproximadamente trinta dias depois, para garantir a
produção;
- um terceiro lote é
plantado nas áreas centrais do algodoal.
O primeiro lote de
algodoeiros que desenvolvam os botões florais e as maçãs muito precocemente
atrai os bicudos e outras pragas remanescentes de culturas anteriores,
funcionando como ‘boi de piranhas (sic). Quando a inspeção comprovar elevados
índices de infestação, esse lote deverá ser tratado com elevadas concentrações
de defensivos agrícolas, a intervalos de cinco dias. Em seguida, os botões e
maçãs atingidos são colhidos, transportados em sacos impermeabilizados e
incinerados.
O tratamento do lote
principal com defensivos agrícolas dependerá do resultado das inspeções e
deverá ser o estritamente necessário para garantir índices elevados de produtividade.
Realizada a colheita dos capulhos, arranca-se a soqueira e aguarda-se que o
último lote seja infestado pelas pragas residuais.
Quando as inspeções
comprovarem que as pragas se concentraram no lote central remanescente, este é
tratado com elevadas concentrações de defensivos agrícolas e, em seguida, os
botões florais, as maçãs e toda a soqueira-isca são arrancados e incinerados.
O tratamento especifico do
bicudo pode ser realizado com Endossulfan.
O curuquerê é
eficientemente tratado com pulverizações de Bacillus thuringiensis.
A lagarta da maçã é
tratada com uma mistura de partes iguais de B. thuringiensis e piretróides.
A lagarta rosada, por se
esconder na intimidade das maçãs, não é atingida por defensivos, e o controle
mais eficiente é obtido pela queima das maçãs e da soqueira-isca.
A broca da raiz é
destruída na pós-cultura, mediante a queima da soqueira.
Uma aração profunda e
terminal garante o enterramento de botões florais e maçãs remanescentes,
reduzindo as possibilidades de sobrevivência das pragas-chave, para o próximo
ciclo de produção.
Os principais predadores
naturais das pragas dos algodoeiros são joaninha, colossoma, lixeiro, Nabis
sp., Orius sp., percevejo de olho grande ou Geocoris sp., tesourinha, moscas,
aranhas, marimbondos e formigas carnívoras. Esses predadores apresentam níveis
variáveis de especialização para pulgões, ácaros, percevejos e lagartas.
Testes de laboratório
muito promissores estão permitindo a seleção de uma vespa predadora do bicudo.
Ë importante caracterizar que os defensivos de
largo espectro, quando utilizados, atuam muito mais sobre os inimigos naturais
do que sobre as pragas.
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