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26 maio 2020

MANUAL DE DESASTRES HUMANOS - VOLUME II - ESPECULAÇÃO


ESPECULAÇÃO

CODAR – HS.CES/CODAR – 22.202


1. Caracterização

Ocorre especulação quando uma das partes de um negócio abusa da boa fé ou de uma situação desvantajosa da outra para auferir lucros, de forma antiética.

Normalmente, a tendência para a especulação se intensifica, quando ocorrem desastres naturais e humanos, na condição de um desastre secundário, quando estes eventos adversos contribuem para desestabilizar o mercado.

É importante caracterizar que a natureza humana é imperfeita e que as motivações comportamentais, relacionadas com condutas altruístas, são tão freqüentes quanto as relacionadas com condutas egoístas e pouco éticas.

É interessante registrar que crianças incentivadas a participar de jogos altamente competitivos não titubeiam em agir desonestamente todas as vezes que imaginam que não estão sendo fiscalizadas.

Embora individualmente os seres humanos sejam dominantemente egoístas, os mecanismos de solidariedade e de auto-censura, existentes nos grupos comunitários coesos e bem estruturados, promovem comportamentos sociais dominantemente altruístas.

Para coibir a especulação e outros comportamentos sociais pouco éticos, é necessário que se estimule a formação de grupos comunitários fortes, coesos e cidadãos e que se estabeleça uma sadia cumplicidade com estes grupos de pressão, com o objetivo de coibir ou minimizar os efeitos dos comportamentos antiéticos e egoístas dos especuladores.


2. Causas

A especulação, especialmente com produtos alimentícios e com outros produtos básicos de consumo obrigatório, atua como fator de agravamento dos quadros de desequilíbrio social e relaciona-se com:

-  deficiência nos processos de produção, armazenamento, circulação e comercialização de bens;

-  perdas, por desperdícios, na colheita, na estocagem, na distribuição e no consumo de alimentos. De acordo com dados do IBGE e da Fundação Getúlio Vargas (1991), aproximadamente 30% dos alimentos produzidos no Brasil são desperdiçados, entre a colheita e o consumo final;

-  rejeição de produtos comercializados, por problemas relacionados com deficiência no controle de qualidade e com o uso de técnicas arcaicas e ultrapassadas na produção destes produtos.


3. Ocorrência

A especulação é fruto do imediatismo e da prepotência e tende a intensificar-se nas sociedades fechadas, onde o livre comércio e a concorrência são bloqueados por mecanismos artificiais.

Em conseqüência de desastres de grandes proporções, que tendam a desequilibrar as economias regionais, a especulação é estimulada.

No entanto, o processo inflacionário é o mais importante fator isolado que atua como estimulador da especulação.

A estabilidade da moeda, ao contrário, acaba despertando a consciência da força do mercado consumidor para atuar como antídoto das pressões especulativas.

De qualquer forma, o aperfeiçoamento da legislação, que funciona como Código de Defesa do Consumidor, é de importância capital para reduzir a especulação.


4. Principais Efeitos Adversos

Na condição de desastre secundário, a especulação contribui para incrementar os danos e os prejuízos causados pelos desastres principais.

Como os estratos sociais menos desenvolvidos são os mais vulneráveis às manobras especulativas, este desastre secundário contribui enormemente para incrementar as desigualdades sociais e regionais.


Ao desestimular a produção e o consumo, a especulação, quando desenfreada, concorre para reduzir o desenvolvimento econômico e social, e relaciona-se com a (o):

-  retenção de estoques, objetivando a redução da oferta de determinados produtos e o desencadeamento de pressões altistas, relacionadas com a aquisição e o consumo dos mesmos;

-  crescimento desnecessário da cadeia de intermediação entre os produtores e os consumidores finais;

-  predominância do poder econômico do comerciante intermediário que, ao adquirir do produtor, força os preços para baixo e, ao vender ao varejista, força os preços para cima.


A visão imediatista de muitos comerciantes atacadistas pode prejudicar todo o processo econômico ao:

-  desestimular a produção;

-  desencorajar o consumo.


É provável que arcanos mentais, desenvolvidos ao longo dos 322 anos em que o Brasil foi colônia de Portugal, expliquem a tendência para a exacerbação da especulação no País. Na época do Brasil colônia, os reinóis aportavam o país, com o objetivo de enriquecer, no mais curto prazo possível, e retomar a Portugal em condições de gozar da riqueza acumulada.

Esta motivação explica a especulação e os comportamentos predadores da época e que foram incorporados parcialmente pelo inconsciente coletivo dos nacionais.

Infelizmente, os 180 anos de independência (2002) não foram ainda suficientes para que estes arcanos mentais fossem varridos do inconsciente coletivo e muitos comerciantes atacadistas continuam a atuar como reinóis predadores da sociedade brasileira, da qual não se sentem parte integrante.


5. Monitorização, Alerta e Alarme

O estudo das tendências altistas permite que se infira a importância relativa dos processos especulativos dentro de uma sociedade.

O nível de abertura de uma sociedade, com relação ao comércio global influi poderosamente na redução dos mecanismos especulativos.

Nestas condições, a monitorização dos preços de bens e de serviços e o estudo da legislação, que tem o objetivo de proteger determinados segmentos do mercado interno permite inferir sobre o nível de especulação.

Outro fator que permite monitorizar o fenômeno é o estudo do grau de organização das associações de consumidores. Quanto mais forte for a consciência do poder de pressão do mercado consumidor, menor será a capacidade dos especuladores para atuar em prejuízo do processo socioeconômico.


6. Medidas Preventivas

A visão simplista de que a sociedade se organiza economicamente, segundo camadas horizontais de espessuras decrescentes, é pouco útil e está ultrapassada. Esta visão só interessa para ser mantida por governos de índole predadora.

Na realidade, a sociedade moderna organiza-se em torno de grupos de pressão, que se caracterizam por seus interesses homogêneos e concordantes. Nestas condições, em função de seus interesses sociais, econômicos e culturais, um mesmo indivíduo pode associar-se a mais de um grupo social devidamente estruturado.

O primeiro “board’ ou câmara de coordenação de atividades de produção e comercialização de um conjunto de bens foi o da bacia leiteira de Londres. Este “board”, estruturado no século XVIII, estende-se nos dias atuais por toda a Grã-Bretanha e deu origem às modernas câmaras de coordenação de nossos dias.

Da mesma forma que as câmaras setoriais ou “boards” de produtores e de mecanismos similares, que geraram centrais de vendas unificadas e associações de comerciantes varejistas, com centrais de compras unificadas, é possível promover “boards” de consumidores e “associações de donas-de-casa” responsáveis pelo desencadeamento de mecanismos de pressão contra os processos especulativos.

A estruturação da sociedade em câmaras e associações de produtores, de comerciantes varejistas e de consumidores concorre para o equilíbrio dinâmico do mercado e para desencorajar a especulação, forçando a modernização do comércio atacadista.


Em termos muito genéricos, para coibir a especulação é necessário:

-  fazer cumprir a legislação que controla e minimiza os abusos do poder econômico, com o objetivo de coibir comportamentos comerciais pouco éticos, na busca do lucro excessivo;

-  estimular a formação de grupos comunitários coesos e com poder de pressão suficiente para se contraporem aos interesses de grupos pouco éticos, inclusive de especuladores. As associações de “donas de casa” são bons exemplos destes grupos comunitários que podem comandar retrações de aquisições de produtos que sofreram pressões especulativas.


Na medida em que a estabilidade da moeda gerar no consumidor esclarecido a consciência de seu imenso poder, os preços serão mais facilmente controláveis.

Nestas condições, a globalização da economia é um fator preponderante para minimizar os efeitos da especulação.

As atuais medidas de controle de inflação e de estabilização da moeda estão concorrendo para reequilibrar o mercado e minimizar a especulação.


A abertura do mercado brasileiro ao comércio internacional está provocando um choque de renovação, que está concorrendo para:

-  o fortalecimento das empresas que se modernizarem;

-  o enfraquecimento do poder das empresas retrógradas que insistirem em manter comportamentos arcaicos e imediatistas.


É muito importante caracterizar que uma das mais importantes vulnerabilidades do sistema econômico brasileiro relaciona-se com a circulação de mercadorias e que os fretes excessivamente elevados, concorrem para aumentar o chamado “custo Brasil” e para reduzir a competitividade dos produtores brasileiros. É importante que as vias de circulação de mercadorias sejam modernizadas e que o custo dos fretes seja substancialmente reduzido.


A modernização da produção depende fundamentalmente do esforço concentrado relacionado com:

-  o aumento da produtividade;

-  a redução do desperdício de insumos ao longo das linhas de montagem;

-  a valorização do controle de qualidade;

-  a redução dos custos de produção.


O crescimento do poder dos grupos de consumidores, produtores e de comerciantes varejistas concorrerá para a modernização das atividades de intermediação e de circulação de mercadorias e para a redução das tendências especulativas.

Na medida do possível, a responsabilidade pelo financiamento dos estoques reguladores deverá ser repassada para as câmaras setoriais, dos diferentes “boards” de produtores, apoiados pelo Sistema bancário e pelas chamadas “bolsas de commodities” e, em caráter mínimo, pelo próprio governo.

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