TÍTULO V
DESASTRES RELACIONADOS COM A
DESTRUIÇÃO INTENCIONAL DA FLORA E DA FAUNA
CODAR
HS.EDF/22.105
1. Caracterização
A
destruição intencional da flora e da fauna caracteriza um desastre humano, de
natureza social, com gravíssimas repercussões sobre o meio ambiente, provocando
danos ecológicos que, muitas vezes, são de muito difícil reversão.
A destruição da flora e da fauna
autóctones, representa a destruição de um patrimônio do país e pode ser
provocada pela:
- Redução, transformação ou total eliminação de
biótopos naturais;
- Utilização intensiva, descontrolada e muitas
vezes ilegal de agrotóxicos, como desfolhantes, outros herbicidas, inseticidas
e outros produtos perigosos;
- Introdução de espécies animais e vegetais
exógenas, sem um estudo ambiental prospectivo, estabelecendo competição com a
flora e a fauna autóctones e atuando como pragas dominantes;
- Perda de controle sobre pragas autóctones ou
exógenas, muitas vezes introduzidas acidentalmente, em conseqüência de
desequilíbrios ambientais de origem antropogênica;
- Redução de biodiversidade, em conseqüência da
intensa disseminação de monocultura;
- Caça e pesca predatórias, clandestinas e
desencadeadas à margem da legislação protetora vigente.
2. Estudo Sumário dos Principais
Complexos Florísticos do Brasil
a) Estudo das Florestas Latifoliadas
Perenes
Dentre
os complexos florísticos do Brasil, cujas áreas mais sensíveis ou residuais
necessitam de medidas de preservação, destacam-se as florestas latifoliadas
perenes, que se caracterizam por apresentarem numerosas árvores de folhas
largas, pouco espessas e persistentes, as quais, normalmente, não são dotadas
de estruturas de proteção contra evaporação.
Normalmente
as árvores destas florestas são altas e se tocam pelas copas, que abrigam
grande número de lianas e epífitas.
Tipicamente, estas florestas
apresentam múltiplas estratificação, que são constituídas por:
- Gramíneas, musgos e ervas
- Arbustos e subarbustos
- Árvores
- Lianas ou cipós e epidendros ou orquídeas
No Brasil são identificados os seguintes
tipos de florestas latifoliadas perenes:
- Floresta Latifoliada Perene Tropical
- Floresta Latifoliada Perene Equatorial
- Floresta Latifoliada Perene Subtropical
- Floresta Latifoliada Perene de Altitude
1) Floresta Latifoliada Perene
Tropical
Este
complexo florístico, caracterizado por sua imensa biodiversidade também é
conhecido como floresta tropical úmida de encosta ou mata atlântica.
Na
época do descobrimento, esta importante formação vegetal ocorria de forma mais
ou menos contínua, desde o cabo de São Roque no Rio Grande do Norte, até o
litoral meridional de Santa Catarina.
Esta
mata luxuriante crescia nas escarpas orientais do Planalto Atlântico Brasileiro
alcançando altitudes que variam entre 200 e 2.500 metros. Estas encostas, ao
interceptarem os ventos alísios oriundos do Atlântico e carregados de umidade,
provocam chuvas abundantes, que se distribuem por quase todo o ano.
Em
conseqüência da elevada umidade atmosférica, estas matas luxuriantes são
ricamente ornadas de epífitas, trepadeiras e lianas. De um modo geral, as
escarpas orientais do Planalto Atlântico Brasileiro são constituídas pelos
elevados da Chapada da Borborema, Chapada Diamantina e Serra do Mar.
No
Sul do Brasil estas matas estendem-se para algumas áreas da bacia do rio
Paraná, atingindo os baixos cursos dos rios lguaçu, Paranapanema e Inviema.
O
estrato mais alto de árvores é constituído por espécies dos gêneros Lecythis,
Aspidosperma, Vochysia, Ouratea, Cabrálea, Carimana, Cedrela e Necfranda. O
estrato mais baixo é constituído de espécies dos gêneros Drymis, Psychotria, - interi,
e por alguns fetos arborescentes dos gêneros Cyathea e AIsopIila.
Dentre
as árvores de grande importância econômica destas matas e que devem ser objeto
de manejo apropriado, destacam-se o Cedro (Cedrela fisiis), o Jatobá ou Jatai
(Hymenaeacourbarll), o Jequitibá (Cariniana estrelleusis e C. Iegalis) e a
Peroba-rosa (Aspidesperma polyneuron).
Ao
longo do processo de ocupação das terras brasileiras, a mata atlântica sofreu
grandes intervenções, inicialmente, em função do chamado ciclo da
cana-de-açúcar e, mais modernamente, em função da expansão da lavoura cafeeira.
No
Sul da Bahia, este complexo florístico foi mais protegido pela cultura do cacau
que é mais protecionista, por necessitar de áreas florestais sombreadas para se
desenvolver plenamente.
Nos
dias atuais, existem pequenas áreas residuais da Mata Atlântica em,
praticamente, todos os Estados Litorâneos brasileiros a partir do Rio Grande do
Norte.
Há
que destacar a atividade de recuperação e de reflorestamento da Floresta da
Tijuca e da Floresta de Petrópolis, no final do século passado, as quais foram
dirigidas pelo Major Archer. Estes exemplos demonstram que é possível recuperar
algumas áreas florestais da Mata Atlântica e restabelecer a vegetação inicial.
Não
há nenhuma opinião discordante, sobre a necessidade de se recuperar e
transformar as áreas residuais ou de testemunho da Mata Atlântica, em
santuários ecológicos de preservação obrigatória.
2) Floresta Latifoliada Perene
Equatorial
Também
conhecido como Floresta Amazônica, Hiléia Amazônica (Humboldi) ou Mata
Higrófila, este complexo florístico recobre aproximadamente 40% do Território
brasileiro, caracterizando-se como uma das mais vastas e, sem nenhuma dúvida, a
mais luxuriante área florestal de todo o Mundo.
Comportando-se
como uma imensa floresta fechada, a selva Amazônica possui uma impressionante
variedade de espécies vegetais, e apresenta o maior nível de biodiversidade de
todo o Globo Terrestre.
Esta
floresta higrófila deve sua existência a um clima equatorial, caracterizado por
temperaturas elevadas, com reduzida variabilidade térmica diária e anual e por
precipitações que variam entre 2.000 e 3.000mm anuais, bem distribuídas ao
longo das estações.
Embora
a higrofilia seja uma característica comum, em função dos elevados índices
pluviométricos, a floresta amazônica não é absolutamente uma formaçáo
florística homogênea, apresentando, ao contrário, uma grande diversidade de paisagens.
A grosso modo, em função da
topografia, nesta floresta são distinguidas as seguintes paisagens:
- Mata de Terra Firme ou Caaetê
- Mata Permanentemente Alagada ou Caaigapo
- Mata de Várzea
A
calha do rio Amazonas funciona como uma imensa barreira, estabelecendo
diferenças de paisagens entre as florestas da margem norte e as da margem sul.
Também
podem ser estabelecidas diferenças entre as chamadas Amazônia Ocidental,
constituída pelos estados do Amazonas, Roraima, Acre e Rondônia, e a Amazônia
Oriental constituída pelos Estados do Pará e do Amapá e pelos extremos Oeste do
Estado do Maranhão e Norte do Estado de Tocantins.
A
mata de terra firme ou caaetê recobre as áreas mais elevadas do chapadão
terciário, que não são atingidas pelas inundações. Os estratos superiores desta
belíssima floresta são dominados por árvores de grande porte, com destaque para
a castanheira (Bertholltia excelsa), o Caucho (Castilloa ulei), a muirapinima
(Brosimum guianensis), o acapu (Vouacapoua americana), os louros (Octea sp) a
andiroba (Garapa Guianensis), a macauba (Platymiscium oenkei) e a Sapucaia
(Lecythis pacaensis).
Dentre
as lianas ou cipós, há que destacar o guaraná (Panhlinia cupania), cuja cápsula
fornece semente rica em xantinas, como a teofilina, a teobromina e a cafeína, e
que são usados na fabricação de bebidas refrigerantes e estimulantes.
A
mata de várzea ocorre ao longo dos aluviões fluviais dos rios da bacia
amazônica e está sujeita a inundações cíclicas, por ocasião das grandes
enchentes anuais. Em função da topografia, a largura das várzeas varia podendo,
em alguns casos, atingir centenas de quilômetros.
Sobre
os sedimentos quartenários, que constituem o solo das várzeas, desenvolvese em
uma flora com elevado grau de biodiversidade, porém com árvores menos altas que
as de terra firme e com maior espaçamento que as árvores da floresta
permanentemente inundada.
Dentre
as árvores que ocorrem na mata de várzeas, há que destacar a seringueira (Hevea
brasihiensis), o pau-mulato (Calycophyhlum spruceanum), além de árvores de
menor porte dos seguintes gêneros: Sapium, Virola, Corala, Ingá, Rheedia,
Triplaris, Cecropia, Cássia e Plumeria. De um modo geral, as várzeas são
abundantes em palmáceas, com destaque para o Buriti (Mauritia vinifera) e para
a Pupunheira (Guilielma speciosa) e árvores de menor porte das seguintes
famílias Rubraceae Solanadae, Myrtaceae, Caricaceae e Sterculeaceae. Em muitas
áreas, as matas de várzeas se alternam com campos de várzeas.
A
mata permanentemente alagada ou igapó ocorre em terrenos de solos mais antigos
e estáveis e, ao contrário da várzea que está sendo criada pela sedimentação,
sofre uma ação erosiva permanente. Em conseqüência da erosão, o nível do solo
tende a ser rebaixado, o que aumenta a área de alagação.
A
mata de igapó possui a vegetação mais densa, exuberante e variada de toda a
floresta amazônica. Como esta vegetação ocorre nas imediações dos grandes rios,
que são as principais vias de penetração da Amazônia, surgiu uma falsa idéia de
que toda a floresta higrófila é impenetrável.
Na
floresta de lgapó dominam espécies dos gêneros Calophyllum, Macrolobum,
Nectandra, Piranhea, Triplaris e Bombax, além de palmáceas como piaçava
(Leopoldinea brasiiensis) e ervas aquáticas, como a Vitória-régia (Victória
regia).
A floresta equatorial amazônica se
prolonga, por intermédio da floresta latifolicida semidecídua tropical (mata
seca) em direção:
- ao sul, fazendo a transição entre a floresta
higrófila e os cerrados do Brasil Central;
- ao norte, fazendo a transição entre a floresta
equatorial e as Estepes do Roraima.
É
esta floresta de transição, com características de mata seca tropical, que está
sofrendo um intenso processo de desmatamento, seguido de queimadas.
É
absolutamente indispensável que se desenvolvam técnicas de manejo florestal e
de bosquejamento (derrubada parcial da vegetação arbustiva), que permitam
aumentar gradualmente o adensamento de espécies arbóreas de maior valor
econômico. É desejável que os cultivares selecionados para o adensamento sejam
resistentes às pragas e altamente produtivos.
É
imperativo que as técnicas de queimadas sejam definitivamente abandonadas.
3) Floresta Latifoliada Perene
Subtropical
A
vegetação latifoliada perene, que se desenvolve no extremo sul do Brasil,
possui características muito próprias, que podem ser observadas nas encostas
sul da Serra Geral e nas Matas de Galeria, que ainda ocorrem nas margens dos
rios da bacia do rio Uruguai.
Esta
mata é menos rica em lianas e epífitas (como as orquídeas) porém é muito rica
em fetos arborescentes (samambaias), como os xaxins.
Dentre
as árvores de maior porte, há que destacar a Grapiapunha (Apuleia praecox), a
Gabriuva (Mycrocarpus frondosus), a Timbaúba (Enterohlobium timbauva), o Ingá
(Ingá marginata), o Angico (Pitadema dema rígida), o Louro (Cordia hipolenca),
o Umbu (Phytolaca dióica) e o Camboatá (Cupania vernahis).
Esta
formação vegetal foi uma das mais duramente atingidas do Brasil e seus poucos
testemunhos remanescentes merecem ser preservados. É indispensável que sejam
delimitados santuários ecológicos, nas poucas áreas onde ainda existem
testemunhos desta importante formação arbórea, antes que seus últimos
remanescentes desapareçam definitivamente do Brasil.
4) Floresta Latifoliada Perene de
Altitude
Acima
de 1.200 metros de altitude observa-se uma sensível mudança florística e
estrutural na vegetação.
As matas de altitude caracterizam-se
por:
- apresentarem uma menor variedade de espécies
florísticas;
- possuírem árvores mais baixas, cujas alturas
máximas variam entre 10 e 15 metros;
- Apresentarem um número reduzido de lianas e
fetos arborescentes e em número elevado de epífitas, como as orquídeas.
Nas
serras mais elevadas e nas áreas de solos rochosos, esta vegetação dá lugar aos
campos de planalto, os quais normalmente são mal drenados e sujeitos a ventos
fortes e geadas, durante as estações mais frias do ano.
No
Brasil, este padrão de vegetação ocorre nas partes mais elevadas da Serra da
Mantiqueira e do planalto das Guianas e, evidentemente, apresenta variações
locais muito importantes.
As
matas da Serra da Mantiqueira, que são as mais estudadas, são ricas em espécies
dos gêneros Cabalea, Croton, Landia, Proticum e Rosácea.
Este
complexo vegetal é extremamente vulnerável aos incêndios florestais, que, em
virtude da intensidade dos ventos, são de muito difícil controle.
Estas
matas tendem a desaparecer, caso não sejam protegidas em santuários ecológicos
como o do Parque Nacional de ltatiaia.
b) Estudo das Florestas Latifoliadas
Semidecíduas
Durante
a estação chuvosa esta vegetação se confunde com as florestas latifoliadas
perenes. No entanto, nos meses de estiagem, ocorre uma mudança radical, que se
caracteriza pela perda de folhagem, especialmente dos estratos arbóreos mais
elevados.
Normalmente
este padrão de vegetação arbórea faz a transição entre as florestas perenes e a
vegetação típica das áreas menos úmidas, como a dos Cerrados e a das Caatingas.
Nestas condições pode-se distinguir
dois subtipos de florestas latifoliadas semidecíduas:
- A floresta semidecídua de padrão equatorial
que circunda a mata higrófila amazônica e faz a transição da mesma para os
cerrados do Brasil-Central para as Matas de Cocais do Meio-Norte e para os
Cerrados de Roraima e Rondônia
- A floresta semidecídua de padrão tropical que
se interpõe entre a chamada mata atlântica e a vegetação de caatinga do
semi-árido nordestino e os cerrados do Brasil-Central.
A
transição, que caracteriza este complexo vegetal, resulta dos menores índices
de precipitação e da menor umidade atmosférica nas estações de estio.
Nesta
mata, também conhecida como mata seca, além das espécies arbóreas que perdem as
folhas durante a estação seca, existem vegetais de folhas duras, espessas e
feltrosas que não caem durante os períodos de estio e que são protegidas contra
as perdas líquidas por vapotranspiração.
Resíduos
destas matas de transição ainda ocorrem na chamada mata seca do Nordeste, em
raras encostas dos rios das bacias dos rios Grande, Paranaiba, Alto Paraná,
Paraíba do Sul, da Serra da Mata da Corda e das Zonas das Matas dos Estados de
Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Na
área norte do Brasil ocorrem florestas semidecíduas nos Estados de Rondônia, Roraima,
no Nortão do Estado de Mato Grosso, no Norte do Estado de Tocantins e no sul
dos Estados do Amazonas e do Pará.
Depois
da floresta higrófila da Amazônia, as florestas semidecíduas são as mais
extensas do Brasil e apresentam várias diversificações regionais.
Nas florestas semidecíduas, há que
destacar as seguintes espécies arbóreas:
perobas
(Aspidosperma Sp), cedros (Cedrela sp), jatobás (Hymenaea courbaril), paineiras
(Chorisia sp), caneleiras (Nectranda myriantha), Ipês (Tabebuia e Tecoma sp) e leguminosas,
como o pau-brasil (Caesalpinia echinata), pau-ferro (Caesalpinia ferrea) e
pau-d’arco (Tabebuia serratifolea e T. inpetiginosa).
Esta
formação vegetal vem sendo devastada ao longo do processo de desenvolvimento do
Brasil e, no momento atual, está sendo duramente atingida, em função da
expansão da fronteira agrícola para a Região Norte.
c) Estudo da Floresta Acicufoliada
Subtropical
Conhecida
no Brasil como “Mata de Araucária” ou “Mata de Pinheiro do Paraná” se
caracteriza pela existência do pinheiro-do-paraná (Araucária angustifólia) que
é uma árvore de folhas pontiagudas, cuja altura varia entre 15 e 25 metros. A
copa, que é cônica quando as árvores são novas, se dispõe em sentido paralelo
ao solo, lembrando um imenso guarda-chuva, nas árvores adultas. Suas sementes
reúnem-se em grandes cones de pinhões que, antes da descoberta, se constituía
em importante fonte de alimentos.
Os
pinheiros do Paraná ocorrem desde o Sul de Minas Gerais e Norte de São Paulo,
até o Planalto Sul-Riograndense. A floresta de Araucária, no entanto, ocorre de
forma típica nas áreas elevadas dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, desenvolvendo-se a partir de uma altitude média de 500 metros do
Rio Grande do Sul e de 600 metros no Paraná.
O
estrato arbóreo superior é constituído pelas Araucárias, enquanto que o
subbosque é formado de árvores latifoliadas, como a erva-mate (Ilex
paraguaiensis), o cedro (Cedrela fissilis), o camboatá (Cupania vernahis), o
angico (Piptademia rígida), o Ipê (Tecoma Alba) e a imbuia (Phoebe porosa).
Esta
formação vegetal foi intensamente explorada pelas empresas madereiras até o
quase desaparecimento dos pinheiros-do-paraná, no entanto, a cultura de
erva-mate é nitidamente preservacionista.
Com
a crescente valorização do pinhão, como fonte de alimento natural rico em
féculas, é possível que se obtenha uma gradual recuperação das matas de
araucárias.
d) Estudo das Matas de Galerias e dos
Capões
As
matas de galeria ou matas ciliares correspondem a florestas alongadas, que se
desenvolvem ao longo dos cursos dos rios, aproveitando a umidade do solo das
áreas marginais.
De
um modo geral, as Matas de Galeria são encontradas ao longo dos rios que se
desenvolvem nas áreas de cerrado, da caatinga e dos campos gerais.
Os
capões de mato e as veredas (magistralmente descritas por Gracilíano Ramos)
ocorrem quando a umidade resultante de um afloramentodo do lençol de água
subterrâneo dá origem a uma pequena bacia fluvial.
No
caso específico das veredas, estes afloramentos ocorrem nos fundos de vales,
enquanto que os capões de mato costumam ocorrer em áreas de campos.
De
um modo geral, as matas de galeria, os capões e as veredas assumem
características das regiões em que se desenvolvem, proliferando espécies
arbóreas que ocorrem nas matas próximas.
A
preservação e a recuperação destes complexos florísticos exercerá uma
influência benéfica sobre o regime dos rios beneficiados, reduzindo os
processos erosivos, os desbarrancamentos e os assoreamentos, incrementando a
biodiversidade e revitalizando a fauna autóctone local.
e) Estudo das Formações Campestres
Estas
formações caracterizam-se pela predominância de gramíneas e, em alguns casos,
de leguminosas rasteiras. A altura das gramíneas nativas brasileiras varia
entre 10 e 50 centímetros. Além das gramíneas e leguminosas rasteiras ocorrem
subarbustos e, ocasionalmente, arbustos.
Quando
ocorre o predomínio de vegetação rasteira forma-se os campos limpos.
Quando
ocorrem numerosos arbustos e subarbustos, formam-se os campos sujos.
No
Brasil, os campos limpos ocorrem desde o Sul do Estado de São Paulo até o Rio
Grande do Sul, onde são denominados campos da campanha gaúcha.
Do ponto de vista estrutural, os
campos se apresentam sob a forma de:
- pradarias, quando a cobertura de gramíneas e
de leguminosas é densa e contínua;
- estepes, quando a cobertura de gramíneas e de
leguminosas rasteiras ocorre de forma esparsa ou formando tufos isolados,
deixando grandes porções de solo descobertas.
No Brasil são classicamente estudados
quatro estruturas de campos gerais:
- os estepes da Região Norte
- os campos do planalto meridional e da campanha
gaúcha
- os campos serranos
- os campos de várzea
Dentre
todos os complexos vegetais brasileiros, as matas de galerias, os capões de
mato e as veredas são os mais importantes, em termos de prioridade para a
recuperação e a preservação.
1) Estepes da Região Norte
Também
conhecidas como estepes do Roraima estes campos são muito pobres e apresentam
uma cobertura de gramíneas muito baixas e rarefeitas. Este padrão de estepe
ocorre também em alguns trechos da Serra dos Pacaás Novos, no Estado de
Rondônia, e da Chapada dos Pareás, no chamado “nortão” do Estado de Mato
Grosso.
Estes
campos ocorrem em solos pedregosos ou arenosos, que se caracterizam por sua
baixíssima fertilidade natural. Evidentemente esta reduzida fertilidade tende a
se agravar cada vez mais, como conseqüência das queimadas.
2) Campos do Planalto Meridional e da
Campanha Gaúcha
Esta
formação florista ocorre em áreas de clima subtropical, com uma estação seca
pouco pronunciada, e apresenta-se sob a forma de uma estrutura contínua, típica
dos campos de pradaria.
Incluem-se neste padrão de campos de
pradaria:
- os campos de vacaria, localizados no sul do
Mato Grosso do Sul;
- os campos gerais e os de Palma e Guarapuava,
no Estado do Paraná;
- os campos de Lajes, Irani e São Joaquim, no
Estado de Santa Catarina;
- os campos do Planalto e da Campanha Gaúcha, no
Rio Grande do Sul.
Esta
imensa área de campos vem sendo ocupada por rebanhos de bovinos, desde a época
do Brasil Colônia.
3) Campos Serranos
Estes
campos ocorrem em áreas restritas das montanhas e dos planaltos elevados, da
Serra da Mantiqueira, da Canastra, da Bocaiúva, do Espinhaço e do Roraima.
Estes
campos pouco férteis, de solos pedregosos e constantemente castigados pelos
ventos frios e pelas geadas, são constituídos por plantas baixas e esparsas
pertencentes às seguintes famílias de vegetais: mirtácea, bromeliácea,
velosiálea, amarilidáceas, amarantácea, melastomácea, licopodiácea, xiridácea e
encauleicea.
De
um modo geral, a vegetação dos campos serranos é muito pobre e esparsa.
4) Campos de Várzeas
Estes campos, de estrutura variável
apresentam uma característica comum, que é a de permanecerem umedecidos por
ocasião das cheias anuais.
Estes
campos são abundantes na Amazônia, no Meio-Norte, no Pantanal Matogrossense e
no Médio Araguaia.
Na
Amazônia a área de várzea, dividida entre os campos e matas de várzeas,
corresponde a, aproximadamente, 10% de território total, totalizando uma área
com a extensão de mais de 56 milhões de hectares. Nestas condições a área que é
inundada e fertilizada naturalmente, somente na região Amazônia, corresponde a
80 vales do Nilo.
Estas
áreas de campos de várzea são ideais para o desenvolvimento de uma atividade
pecuária, com características especiais, de tal forma que, nas oportunidades de
cheia, o gado seja concentrado em currais elevados, onde é alimentado com
volumoso colhido nas várzeas e transportado até os currais, por intermédio de
embarcações. Nas condições atuais, as imensas reservas de campos de várzea
deste País são subtilizadas.
f) Estudo das Formações Complexas
São
consideradas como formações complexas aqueles complexos fiorísticos, com
elevado grau de heterogeneidade, e que apresentam aspectos muito
diversificados, com grandes variações nas paisagens locais.
No Brasil, as formações florísticas
complexas compreendem:
- o cerrado ou Savana Tropical Brasileira
- o complexo do Pantanal
- as matas de Cocais
- a Caatinga
1) Cerrado ou Savana Tropical
Brasileira
Os cerrados são um tipo de vegetação
caracterizada por apresentar dois estratos florísticos:
- Um estrato baixo, dominado por gramíneas,
raras leguminosas rasteiras e por subarbustos de folhas grandes e duras.
- Um estrato mais elevado constituído por árvores
baixas retorcidas, com cascas grossas e suberosas e que crescem de forma
espaçada.
O
cerrado é uma vegetação complexa que faz a transição entre as florestas
latifoliadas, as matas de cocais e as áreas de caatinga, com as áreas de campo
e com o complexo do pantanal.
Caracteristicamente
a vegetação de savana ocorre em áreas de solos ácidos e de clima tropical com
uma estação chuvosa e outra de estio bem marcada, esta vegetação é fortemente
influenciada pelo clima e pelo solo.
No
Brasil o Cerrado predomina no Brasil Central, compreendendo o Distrito Federal
e os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás com expansões para
Minas Gerais, Tocantins, Oeste da Bahia, Sul do Maranhão e Piauí. Manchas de
cerrado também ocorrem em São Paulo, no Paraná (Rio das Cinzas e Campo Mourão),
no Amazonas e em Rondônia e em alguns estados do Saliente Nordestino.
O cerrado é uma formação florística
bastante complexa e heterogênea:
- Nas áreas mais úmidas dos chapadões, ocorre o
chamado “cerradão” caracterizado pelo maior adensamento da vegetação arbórea e
arbustiva.
- Nas áreas menos úmidas predomina o chamado
“cerrado ralo”.
- Nos fundos de vales, que foram escavados nos
chapadões, pelo sistema de drenagem, ocorrem as chamadas “veredas”, com
características de mata de galerias, tipicamente ricas em palmácea, como o
buriti. Esta mescla de vegetação foi magistralmente descrita por Graciliano
Ramos em seu livro Vidas Secas e por Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas.
Algumas características genéricas individualizaram as árvores deste complexo
florístico.
Normalmente, as árvores e os arbustos
do cerrado apresentam:
- troncos e galhos tortuosos
- cascas espessas e suberosas
- folhas grandes e de aspecto coreáceo
O
estrato herbáceo é constituído principalmente por gramíneas, cuja altura varia
entre 30 e 50 cm. No Sul do Mato Grosso do Sul ocorrem excepcionalmente
gramíneas com até 2 metros de altura.
A
altura do estrato arbóreo varia entre 3 e 6 metros e, em alguns trechos, ocorre
um estrato intermediário, constituído por arbustos e subarbustos.
Espécies
arbóreas mais comuns no Cerrado são as seguintes: pequi (Caryocar brasiliense),
lixeira (Curatella americana), pau-terra (Qualea sp), pau-santo (Kielmeyera
coriacea), lobeira (Solanum sp), carne-de-vaca (Roupala brasiliensis), murici
(Byrsonima sp), barbatimão (Stryplinodendron barbatimão), capotão (Salvatia
couvalariodora), cagaita (Eugenia desíntericu), açaizeiro (Euterpe oleracea),
buriti (Mauritia vinifera), guariroba (Syagrus oleracea) mangabeira (Hancornia
speciosa), caju (Anacardím humile).
Dentre todas estas espécies há que
destacar:
- O Pequi (Cariocar brasiliense, C. villosum e
C. glabrum), cujo fruto é uma drupa globosa do tamanho de uma laranja, de cor
verde-amarela e de mesocarpo claro e butiroso, envolvendo de 1 a 4 sementes
volumosas. O fruto do pequizeiro é a maior fonte vegetal de protovitamina A
(beta caroteno) que se conhece. Bem explorado um pequizeiro pode produzir
anualmente aproximadamente 30 (trinta) litros de óleo comestível, de excelente
qualidade, riquíssimo em vitaminas A e D e com baixíssimos índices de
colesterol.
- A Mangabeira (Hancornia Speciosa) é abundante
no cerrado e nos tabuleiros arenosos das regiões praianas nordestinas. A
mangaba é uma drupa de polpa branca, perfumada, saborosa e ligeiramentei
acidulada.
Em 1587, Gabriel Soares descreveu a
mangaba pela primeira vez, usando as seguintes expressões:
“...
a qual cheira muito bem e tem suave sabor, é de boa digestão e faz bom
estômago, ainda que comam muitos; cuja natureza é fria, pelo que é muito boa
para doentes de febres, por ser muito leve”.
A.
L. C. Castro considera que o sorvete de mangaba, juntamente com os de cajá e de
graviola, são os mais de saborosos do Nordeste, devendo ser servidos com
sorvetes de frutas de sabor neutro como a pinha (ou ata), o sapoti ou mesmo com
o sorvete de tapioca.
O
cerrado foi inicialmente utilizado como área de pastagem e, mais recentemente,
vem sendo utilizado como área agrícola produtora de grãos, mediante técnicas de
correção da acidez do solo, com calcários. Para evitar que a totalidade deste
complexo vegetal desapareça, com graves prejuízos para a política de manutenção
da biodiversidade, é necessário que, em cada um dos municípios do Brasil
Central, sejam delimitados santuários de preservação ambiental, onde o cerrado
seja preservado.
2) Complexo do Pantanal
O
chamado complexo pantanal é uma formação florística extremamente heterogênea,
que se desenvolve numa região de planícies sujeita a inundações anuais, a qual
é localizada na bacia do médio Paraguai e abrange o baixo curso de seus
afluentes Cuiabá, São Lorenço, Itiquira, Taquari, Negro e Miranda.
Na
época das cheias, todos estes rios extravasam água para a baixa planície e
alagam uma vasta área, denominada lago Xaraiés pelos indígenas da área.
O
chamado Pantanal Mato-grossense desenvolveu-se como uma bacia sedimentar, em
épocas geológicas relativamente recentes, durante o pleistoceno, que ocorreu no
final do Terciário e no início do Quaternário. Nesta mesma época ocorreu a
formação sedimentar da bacia do médio Araguaia que permitiu a formação da ilha
do Bananal.
O
chamado “mar de xaraiés” surgiu em conseqüência de um movimento de subsidência
(rebaixamento da crosta terrestre), de evolução gradual, que ocorreu como um
fenômeno de acomodação, relacionado com a elevação da Cordilheira dos Andes.
Como o movimento de subsidência ocorreu de forma gradual, o processo de
sedimentação conseqüente permitiu a formação de 5 (cinco) níveis de terraços
fluviais e de 2 (dois) níveis de cobertura dentrífica sobre o pediplano não
inundável.
Como
conseqüência do processo de sedimentação aluvional recente, o solo do pantanal
mato-grossense é constituído por vasas sedimentares arenosas e
siltico-argilosas, com muito pouco cascalho disperso, as quais foram se
depositando sobre um embasamento de arenito. O solo do pantanal, pelos motivos
expostos, é constituído por sedimento aluvionais muito recentes, os quais foram
intensamente lavados e, em conseqüência, possuem uma fertilidade natural
extremamente baixa.
Nestas
condições, o nível de fertilidade geral do pantanal Mato-grossense é fortemente
dependente do ciclo de inundações anuais que ocorre naquela área. Por esses
motivos, o Complexo do Pantanal é o ecossistema mais sensível do País e
quaisquer alterações no sistema de drenagem da área, por assoreamento ou por
dragagens intempestivas na calha do rio Paraguai, que reduzem o nível de
espaimento ? das águas, durante o período de inundação, poderá dar início a um
processo de desertificação, de reversão extremamente difícil.
Do ponto de vista fitogeográfico o
Pantanal Mato-Grossense é realmente uma formação florística extremamente
complexa e heterogênea, onde ocorrem, num espaço alagável, os seguintes padrões
florísticos:
- florestas tropicais latifoliadas perenes
- palmeiras
- campos de várzea
- cerrados ou savanas tropicais
- capões e matas de galeria
- vegetação aquática
Este
ambiente altamente diversificado cria condições para que se desenvolva na área
do Pantanal Mato-Grossense o complexo florístico e faunístico de maior nível de
biodiversidade do planeta, permitindo o desenvolvimento do ecossistema natural
mais rico do mundo.
No
complexo do pantanal coexistem espécies vegetais higrófilas como as da hiléia
amazônica, mesófilas, como as matas tropicais e os cerrados e higrófilas, como
espécies da caatinga.
Destaca-se, no prosseguimento algumas
espécies vegetais que ocorrem no Pantanal:
- O buritizeiro (Mauritia vinifera) que é
considerada por Renato Braga como a mais prestimosa das palmeiras silvestres do
Brasil. Da polpa carnosa do fruto, que é açucarada e oleosa, preparam-se doces
e uma bebida refrescante riquíssima em Caroteno (Vitamina A), sais de ferro, de
cálcio e de magnésio e em ácido ascórbico (Vitamina C). O óleo extraído das
amêndoas tem uma coloração vermelho- sanguínea finíssimo, pobre em colesterol,
rico em vitaminas A e E, pode ser consumido na alimentação diária.
O licor de
buriti é absolutamente delicioso, quando bem preparado e fermentado. Por se
desenvolver em touceiras e ser uma palmeira de crescimento rápido, pode ser
desenvolvida em plantio adensado como fonte produtora de excelente palmito.
Tanto
suas folhas, como seu tronco, podem ser usados na construção e na cobertura de
palhoças.
O
buriti ocorre em áreas de solo úmido e pode ter utilizada com técnicas de
manejo florestal em plantios adensados, na área do pantanal.
Existem
experiências de hibridação do buriti e do açaí com espécies das palmeiras
Juçara, para a produção de palmitos.
- O Carandá (Copernicia alba) é uma palmeira que
se desenvolve nas áreas mais secas. Seu caule, de madeira muito resistente e
extremamente durável, pode ser usado na preparação de postes destinados à
eletrificação rural. Suas folhas produzem uma cera muito semelhante a da
palmeira carnaúba.
- A Guariroba (Syazins oleácea) produz um
palmito amargoso, que é considerado delicioso e um ingrediente indispensável na
preparação da galinhada com arroz e pequi.
- A Barriguda (Cavanilesia arbórea) é uma árvore
de tronco grosso da família das bombácaceas que, da mesma forma que o baobá
africano, armazena água em seu tronco. Suas flores vermelhas são melíferas e
seus frutos drupáceos produzem uma “paina” que é utilizada no enchimento de
confortáveis travesseiros e edredons.
3) Caatinga
O
termo caatinga deriva da língua tupi-guarani (caa=mata, tinga=branca) e
corresponde a um complexo florístico de natureza xerófila que se desenvolveu na
região de clima semi-árido do sertão nordestino.
Vegetais
xerófitos são plantas que desenvolveram mecanismos de adaptação para
responderem às carências de água que ocorrem nas regiões áridas e semi-áridas.
Dentre estes mecanismos de adaptação destacam-se os seguintes: raízes
tuberosas, como no umbuzeiro (Spondias tuberosa), reforço das paredes celulares
com formação de abundantes tecidos mecânicos, como na barriguda (Cavalinesia
arborea), ausência total de folhas, como nas cactáceas, folhas espessas e
reforçadas, como nas bromeliáceas, folhas protegidas por cera, como na
carnaubeira (Copernicia prunifera) e folhas caduciformes que caem durante a
estação seca, como ocorre na maioria das árvores da caatinga.
Para
bem compreender o desenvolvimento adaptativo da caatinga é necessário se
reportar ao clima e à vegetação existente na área há aproximadamente 18.000
anos atrás. Nesta época, o clima do Centro-Oeste, do Norte e do Nordeste era
nitidamente tropical, com chuvas de verão e secas no inverno (A- ), e em
conseqüência, toda esta região era coberta por uma vegetação de savana,
semelhante a do atual cerrado. Nesta oportunidade ocorreu o início da redução
da última glaciação ocorrida no Planeta, e as mudanças climáticas foram se
intensificando até que, nos últimos 10.000 anos, o clima da Amazônia começou a
evoluir para equatorial, sem estação seca (Af) ou com estação seca reduzida
(Am) enquanto que o do Sertão Nordestino iniciou sua evolução para semi-árido
quente (Bsh).
Como
conseqüência destas alterações climáticas, a vegetação primitiva da Amazônia
evoluiu para constituir uma floresta equatorial, enquanto a do Sertão
Nordestino assumiu características de vegetação xerófila.
Infelizmente,
tanto a mídia internacional, como a nacional, que são tão fortemente
preocupadas com os riscos de desmatamento da floresta amazônica, ocupam-se
muito pouco com os riscos de desertificação da caatinga que, juntamente com o
complexo do pantanal e com os manguezais, são os ecossistemas mais sensíveis do
Brasil. É importante recordar que entre 10.000 e 8.000 anos atrás o atual
deserto do Saara era coberto por uma vegetação semelhante à caatinga do
Nordeste.
Dentre as plantas xerófitas melhor
adaptadas as condições de semi-aridez do nordeste sertanejo, há que destacar:
- As cactáceas autóctones, como o mandacaru, o
xique-xique e o faxeiro e as cactáceas naturalizadas, como a palma forageira
(Cactáceas dos gêneros Opuntia e Nopálea).
- As bromeliáceas autóctones, como a macambira
(Bromelia laciniosa) ou naturalizadas, como o sisal ou agave (Agave Sisalana
Perrine).
- As rosáceas como a Oiticica (Licania rígida
Benth) importantíssima árvore oleaginosa que produz um óleo secante, utilizado
na fabricação de tintas e vernizes.
- Palmáceas, como a Carnaubeira (Copernicia
prunifera), que cresce em áreas mais úmidas e que produz uma cera vegetal de
excepcionais qualidades físicoquímicas.
- Leguminosas autóctones, como o Sabiá (Minosa
caesalpinialfolia) a jurema preta (Mimosa hostilis) e naturalizados, como a
leucena (Lucena lencocephala), originária da América Central e a algarobeira
(Prosopolis jutiflora Dc), originária das regiões áridas dos países andinos.
Na vegetação da caatinga, as seguintes
espécies são mais palatáveis para as cabras que são criadas no Sertão em regime
extensivo:
- Sabiá ( Mimosa caesalpiniaefolia )
- Mororó ( Bauhinea forficata )
- Jurema-Preta ( Mimosa sp )
- Juazeiro ou Pau-Ferro ( Caesalpínia férrea )
- Carqueja ( Eallandra pelpoterata )
- Faveleira ( Cniloscalus pheyllacantus )
- Moleque-duro ( Cordia lencophala )
É
evidente que um ecossistema que, ao longo de 18.000 anos de evolução, adquiriu
uma imensa capacidade de se adaptar às secas e estiagens que ocorrem
ciclicamente no sertão, merece ser preservado pelas atuais e futuras gerações.
Um
bom exemplo de manejo racional da caatinga é desenvolvido com a poda, com o
rebaixamento das plantas acima citadas, a uma altura de aproximadamente 30
centímetros do solo, esta poda deve ser repetida a cada 4 anos para que estas
árvores abram suas copas próximo ao solo. Numa segunda fase, procura-se
garantir o adensamento destas essências florestais.
É
evidente que um ecossistema que, ao longo de 18.000 anos de evolução, adquiriu
uma imensa capacidade de se adaptar às secas e estiagens que ocorrem
ciclicamente no Sertão merece ser preservado pelas atuais e futuras gerações.
Por
outro lado, caso a derrubada da vegetação da caatinga, para produzir lenha e
carvão, não seja drasticamente reduzida, ocorrerá uma rápida intensificação do
processo de desertificação, que já se evidencia em numerosas áreas do Nordeste.
4) Matas de Cocais ou de Transição
O
núcleo adensado de matas de cocais ocorre no Meio-Norte, especialmente na
baixada maranhense constituída pelos vales dos rios Mearim, ltapecuru, Grajaú e
Pindaré. Daí ela se expande pelos vales úmidos dos rios da bacia do Parnaíba e
pelos baixos cursos de numerosos rios do chamado Saliente Nordestino.
As
palmáceas, sob a forma de espécies isoladas, ocorrem em, praticamente, todos os
complexos florísticos brasileiros e, sob a forma de manchas de matas de cocais,
elas se expandem nas áreas mais úmidas do cerrado (especialmente nas veredas),
e menos úmidas do complexo do pantanal.
É
importante registrar que, mesmo no Meio-Norte, as palmáceas se apresentam como
vegetação dominante, mas não são exclusivas, tanto que há uma interpenetração
das matas de cocais com os campos de várzeas.
O
termo transição tem explicação fitogeográfica. Realmente as matas de cocais
fazem a transição da floresta amazônica para a caatinga e para o cerrado, matas
tropicais secas e complexo do pantanal.
Dentre as espécies das palmáceas
dominantes autóctones no Brasil, há que citar:
¨
O Babaçu (Orbignya martiana), árvore símbolo do Estado do Maranhão e que
predomina nos vales úmidos dos rios da baixada maranhense e se expande pelos
vales de alguns afluentes do rio Parnaíba. É importante registrar que, depois
da madeira, o babaçu é o produto extrativo vegetal mais importante do País. A
renda total da extração do babaçu é muito superior à gerada pelo látex,
erva-mate, castanha-do-pará, castanha-de-caju e dos palmitos. Uma plantação de
babaçu desenvolvida racionalmente com espaçamento correto garante a produção de
17,6 toneladas de coco por ano.
Com esta produção, se poderia
aproveitar anualmente:
-
2,64 toneladas de epicarpo (camada externa ou casca) e 10,4 toneladas de
endocarpo (parte dura do caroço), para produzir carvão vegetal;
-
3,52 toneladas de mesocarpo (porção farino-oleaginosa que separa a casca do
endocarpo, para produzir 2,11 toneladas de amido e 0,83 metros cúbicos de
álcool, após fermentado;
-
1,05 toneladas de amêndoas que podem produzir aproximadamente 0,58 toneladas de
óleo combustível. Já é tempo de se desenvolver uma tecnologia que permita
garantir o aproveitamento racional do babaçu.
- A carnaúba (Copernicia cerifera) melhor
adaptada aos vales semi-úmidos das regiões semi-áridas e que ocorre inclusive
no complexo do pantanal. A carnaubeira desenvolve-se a partir das áreas
periféricas das matas de cocais do meio-norte, pelos vales semi-áridos dos rios
do Nordeste oriental, atingindo o Ceará, a Paraíba e o Rio Grande do Norte.
- A macaúba ou coco-de-catarro (Acrocomia
sclerocarpa) ocorre nas áreas semiúmidas de todo o Sertão Nordestino e se
expande por todo o Brasil ocorrendo inclusive no Rio Grande do Sul. “Todos os
meninos do interior do Brasil derrubaram cocos-de-catarro com suas atiradeiras
e se deliciaram com suas drupas amarelas e cheirosas”.
- O buriti (Mauritia vinifera), o Açai (Euterpe
sp), a guariroba (Butiá capetata e Syagrus oleracea), são palmáceas que, a
partir das matas de cocais expande-se pelo Brasil Central, atingindo o pantanal
mato-grossense.
- A piaçava (Orbígnia eichleri) e a palmeira
naturalizada conhecida como dendezeiro (Elaecis guineeusis L) crescem muito bem
nas florestas úmidas do sul da Bahia e da Amazônia Ocidental.
O dendezeiro é,
dentre todas as plantas oleaginosas, a de maior capacidade produtiva por
hectare, e ninguém precisa ter bola de cristal para prever a sua imensa
expansão econômica nos estados do Pará, do Amapá e da Bahia, num futuro bem
próximo.
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