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26 maio 2020

MANUAL DE DESASTRES HUMANOS - VOLUME II - FOME E DESNUTRIÇÃO


FOME E DESNUTRIÇÃO

CODAR – HS.CFD/CODAR – 22.203

1. Caracterização

A fome e a desnutrição (ou hiponutrição) são consideradas importantes desastres que, normalmente, atuam de forma gradual e insidiosa, com tendência para a cronificação. A intensidade destes desastres é tão importante que, sem exageros, pode-se afirmar que a fome e a desnutrição flagelam aproximadamente 25% da humanidade.

As definições apresentadas, no prosseguimento, facilitam o entendimento do problema.



· Fome


Desastre provocado pela carência de alimentos, afetando um grande número de pessoas. Normalmente, a fome ocorre como um desastre secundário, complicando desastres:

-  naturais, como secas intensas, inundações com destruição da safra ainda não colhida ou de alimentos armazenados, pragas de insetos (por exemplo, gafanhotos);

-  humanos, como conflitos sociais e guerras de desgaste que assolam numerosos países africanos;

-  mistos, como a desertificação e a salinização do solo.


São mais vulneráveis à fome:

-  os países e macrorregiões geográficas menos desenvolvidos;

-  os estratos populacionais marginalizados pelo processo econômico;

-  as crianças, os idosos, os enfermos e os deficientes físicos e mentais (minusválidos).


· Hiponutrição

Estado patológico, geral ou específico, provocado pela carência na dieta de um ou mais nutrientes, o qual pode ser diagnosticado, mediante exames clínicos e laboratoriais.


· Desnutrição Protéico-Calórica


Estado patológico relacionado com a carência de proteínas e de calorias necessárias ao metabolismo orgânico, o qual pode ser provocado por:

-  carências dietéticas;

-  problemas relacionados com a digestão e absorção dos alimentos pelo aparelho digestivo;

-  problemas relacionados com a intensificação do consumo metabólico (catabolismo) provocados por doenças consumptivas, como o câncer e a tuberculose terminal, e por doenças metabólicas, como o hipertireoidismo e a diabetes.


· Alimento

Toda substância nutritiva, ingerida pelos seres vivos e indispensável à manutenção de seu metabolismo orgânico.

Recurso considerado como indispensável ao sustento e à manutenção do processo vital.


· Alimento Protetor

Alimento de elevado valor nutritivo, utilizado para promover o pleno desenvolvimento físico e proteger a saúde, por ser rico em nutrientes essenciais. A levedura de cerveja é considerada como alimento protetor, de extrema importância, por ser rica em aminoácidos essenciais e em vitaminas do complexo B.


· Alimento Enriquecido

Alimento ao qual se acrescentam, intencionalmente, princípios nutritivos, com a finalidade de incrementar seu valor nutritivo, no combate e na prevenção de enfermidades causadas por carências nutricionais. Os enriquecimentos mais freqüentes são os relacionados com sal iodado, farinhas enriquecidas com vitaminas do complexo B, leite enriquecido com sais de ferro e vitaminas.


· Alimento Tradicional (ou Convencional)

Alimento obtido através de métodos tradicionais de agricultura, pecuária, pesca, caça ou coleta e preparado de forma convencional pela comunidade local. Estão excluídos da definição os alimentos submetidos a processos "não convencionais" de processamento.


· Alimentação Básica

Alimentação usual, num determinado país ou comunidade e responsável pelo aporte diário de calorias e princípios nutritivos. Por já estar adaptada à cultura alimentar da população, deve ser preferencialmente distribuída em circunstâncias de desastre.

No Brasil, a alimentação básica é constituída por arroz, feijão, carne, milho e outros cereais, raízes e tubérculos, farinha de mandioca e de milho, frutas e verduras, leite e laticínios, café, pães, massas e gorduras animais e vegetais.


· Alimentação Artificial

A alimentação artificial, especialmente do recém-nascido, até os 6 (seis) meses de idade, com outro alimento diferente do leite materno, deve ser sistematicamente desencorajada.

A alimentação artificial só se justifica em casos excepcionais e mediante prescrição médica.


· Nutriente

Qualquer um dos compostos orgânicos ou minerais contidos nos alimentos e que desempenha um papel importante no metabolismo geral dos organismos, cumprindo um papel especifico na nutrição. Compreende as proteínas, os hidratos de carbono, as gorduras ou lipídios, as vitaminas e os sais minerais.


· Nutrição

Compreende a fisiologia do aparelho digestivo e a digestão, assimilação e metabolismo dos princípios nutritivos ou alimentares necessários ao desenvolvimento orgânico e à manutenção das funções vitais dos seres vivos.

Ciência biomédica que estuda as interações entre os alimentos e a saúde ou a doença, bem como a prevenção e o tratamento das enfermidades carenciais.


2. Ocorrência

A fome é um desastre de âmbito global, atingindo todos os continentes e flagelando aproximadamente 25% da humanidade, o que corresponde a aproximadamente um bilhão e quinhentas mil pessoas.

O problema é mais grave nos países menos desenvolvidos e mais populosos da Ásia e da África, especialmente na condição de desastre secundário, por ocasião de secas intensas e inundações catastróficas.

Em menores proporções, a fome atinge áreas da Oceania, do Caribe, da América do Sul e da América Central. Mesmo os países desenvolvidos da América do Norte e da Europa Ocidental não são totalmente imunes ao problema.

No Brasil, existe carência alimentar e, algumas vezes, crises de fome epidêmica, especialmente no Semi-Árido Nordestino, por ocasião das secas e nos bolsões de pobreza que se desenvolveram em numerosas áreas urbanas, como conseqüência do desemprego.


3. Danos

A fome e a desnutrição contribuem para agravar os índices de mortalidade e morbilidade geral e, em especial, da morbilidade e mortalidade infantil.


De uma forma mais específica, a desnutrição ou hiponutrição contribui para a redução da:

-  resistência imunitária, aumentando os índices de mortalidade relacionados com as doenças infecto-contagiosas;

-  pressão osmótica e oncótica, as quais são influenciadas pelos sais minerais e pelas proteínas existentes no plasma. A queda das pressões osmótica e oncótica precipita os desequilíbrios hidroeletrolíticos e o aumento da mortalidade por desidratação;

-  estatura e massa muscular, especialmente quando atua cronicamente;

-  capacidade intelectual, algumas vezes de forma irreversível, quando ocorre na primeira infância;

-  capacidade laborativa e produtiva dos estratos populacionais mais afetados.

É fato notório que deficiências na ingestão de calorias, na refeição matinal, além de reduzirem a capacidade produtiva dos operários, concorrem para incrementar os acidentes de serviço.

Esta condição tende a se agravar com a ingestão dos chamados alimentos de poupança, como o álcool, a cola e as bebidas ricas em xantinas que estimulam o sistema nervoso, dando ao organismo uma energia momentânea.



4. Monitorização, Alerta e Alarme

A avaliação quantitativa e qualitativa da situação alimentar ou nutricional de uma população, numa circunstância determinada, é realizada através de indicadores nutricionais.


Os indicadores nutricionais podem ser:

-  indicadores de alimentos disponíveis;

-  indicadores de estado nutricional.

Os indicadores de alimentos disponíveis procuram avaliar a oferta per capita de alimentos, para um determinado grupo social, numa determinada circunstância e durante um período definido. O estudo permite estimar a oferta por categoria de alimentos e avaliar o ingresso diário em calorias.

Os indicadores de estado nutricional procuram, mediante o estudo de amostras estatísticas, definir as repercussões clínicas de uma determinada situação alimentar sobre grupos populacionais definidos.

No Brasil, as informações sobre a situação alimentar são muito pouco precisas e isto prejudica a caracterização e o dimensionamento preciso do problema alimentar, dificultando o planejamento das medidas de controle e de redução do desastre.

Um dos problemas que dificultam o estudo dos alimentos disponíveis é que o mesmo se baseia em dados oficiais de produção e de consumo e não considera a chamada economia informal e a deficiência do sistema de certificação.

A clássica anedota do "boi de dois couros" permite esclarecer o problema. O consumo anual de carne bovina, definido a partir do abate oficial e certificado, é de aproximadamente 22 kg per capita (1999). No entanto, os curtumes adquirem no mercado interno uma quantidade de couro duas vezes maior que a consignada no abate oficial. 

A conclusão óbvia é que aqueles que continuam a calcular o consumo per capita, de acordo com os dados do abate oficial e certificado, aceitam automaticamente que o boi brasileiro tem dois couros.


Ao refletir sobre esta triste anedota, somos forçados a concluir que:

-  a margem de erro é tão grande que praticamente invalida a avaliação dos alimentos disponíveis;

-  é necessário que sejam desenvolvidos mecanismos que permitam a gradual incorporação da economia informal à economia formal do País;

-  mais da metade da produção de carne bovina não vem sendo inspecionada e certificada, com grandes riscos para o consumidor brasileiro.


Situação semelhante ocorre no consumo de carne de suínos e, no que diz respeito ao consumo de carnes de caprinos e de ovinos, a situação é ainda mais grave.

Outro problema sério é que a estimativa de alimentos disponíveis não foi adaptada à realidade alimentar brasileira. Por este motivo, o consumo de produtos como a mandioca, a batata-doce, a farinha de mandioca, a rapadura e as frutas tropicais não é devidamente considerado.

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