TITULO
III – DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A GEOMORFOLOGIA, O INTEMPERISMO, A
EROSÃO E A ACOMODAÇÃO DO SOLO
CODAR:
NI.G/ CODAR: 13.3
Introdução
Os processos geológicos
que regem a dinâmica da crosta e promovem as mudanças do releva são
classificados em dois grandes grupos, que atuam em permanente interação.
O primeiro grupo
relaciona-se mais diretamente com a geodinâmica terrestre interna, e a energia
necessária ao desenvolvimento e sustentação dos fenômenos provém do
elevadíssimo calar acumulado nas camadas profundas da Terra.
Esses
processos geológicos relacionam-se com:
- o tectonismo;
- a atividade ígnea;
- o metamorfismo.
O segundo grupo depende da
atuação sobre o relevo terrestre, de forças relacionadas com a geodinâmica
terrestre externa, e a energia necessária ao desenvolvimento a sustentação dos
fenômenos provém das radiações solares.
Esses
processos geológicos relacionam-se com:
- o intemperismo;
- a erosão e o transporte
de substratos;
- a sedimentação.
De
uma forma genérica, conclui-se que, no metabolismo do globo terrestre, as
atividades:
- anabólicas, relacionadas
com a gênese e com a transformação do relevo, dependem da energia acumulada no
interior da Terra;
- catabólicas,
relacionadas com a gradual destruição e modelagem do relevo, dependem da
energia calórica produzida pelo Sol e transportada até a Terra por suas
irradiações.
Tectonismo
e Atividades Ígneas
Quando
da apresentação dos terremotos, maremotos e das erupções vulcânicas, foram
abordados assuntos relativos:
- ao tectonismo, a
propósito da apresentação das teorias relativas ao movimento das placas
tectônicas, ao crescimento da superfície do fundo dos oceanos e á deriva
continental;
- às atividades ígneas,
quando do estudo das erupções vulcânicas.
Metamorfismo
Os fenômenos metamórficos
relacionam-se com a transformação da estrutura inicial das rochas e com a
recristalização total ou parcial das mesmas, sob a ação de forças físicas, como
a elevação da pressão e da temperatura, normalmente associadas á ação dos gases
e do vapor d’água.
As
rochas metamórficas, resultantes desses processos, podem ser:
- ortometamórficas, quando
provenientes de rochas magmáticas;
- parametamórficas, quando
provenientes de rochas sedimentares.
Intemperismo
O intemperismo compreende
o conjunto de fatores físicos, químicos e biológicos que, atuando sobre as
rochas, provocam a desintegração e a decomposição das mesmas.
As variações de
temperatura são extremamente importantes, por provocarem a alternância de
contrações e dilatações nas rochas, facilitando o aparecimento de planos de
clivagem.
De um modo geral, o
intemperismo químico é muito intensificado nos climas tropicais úmidos
dominantes no Brasil.
Erosão
Através da erosão, o
material resultante da decomposição das rochas é desagregado e carreado para
outras áreas. A erosão pode ser de natureza eólica, hídrica ou glacial.
No Brasil, a erosão
hídrica é a mais importante na modelagem de nossas paisagens. Existem numerosos
testemunhos de erosão eólica, a exemplo dos Lençóis Maranhenses, arenitos de
Vila Velha, no Paraná, e arenitos de Paraúna, em Goiás.
Os testemunhos de erosão
glacial no Brasil concentram-se, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste,
como os varvitos comuns na região de tu, em São Paulo.
A
erosão eólica é produzida pelos ventos, distinguindo-se:
- a deflação, processo de
remoção e transporte de resíduos soltos de rochas;
- a corrosão, processo de
desgaste das rochas provocado pelo atrito de partículas transportadas pelo
vento.
Dentre
as formas mais importantes de erosão hídrica existentes no Pais, destacam-se:
- a erosão laminar;
- a erosão em sulcos e
ravinas;
- as boçorocas ou
voçorocas;
- a erosão fluvial;
- a erosão marinha;
- a erosão subterrânea.
Sedimentação
A
sedimentação é caracterizada pela deposição do material sob a forma sólida,
após ter sido carreado por meio aéreo ou aquoso. O processo inicia-se quando:
- a força transportadora é
sobrepujada pela força da gravidade;
- o meio transportador
(água) torna-se supersaturado por um de seus solutos;
- ocorre uma modificação
importante na estrutura de sedimentos de origem
orgânica.
A somação dos processos
relacionados com o intemperismo, a erosão e a sedimentação tende, a longo
prazo, a abrandar o relevo. Em se tratando de processos naturais, não podem ser
impedidos pelo homem que, no entanto, pode contribuir para minimizá-los ou
acelerá-los.
Os desastres relacionados
com o intemperismo. a erosão e com a acomodação do solo são bastante freqüentes
no Brasil, produzem anualmente intensos danos materiais e ambientais e
importantes prejuízos sociais e econômicos.
Na
grande maioria das vezes, esses desastres relacionam-se com a dinâmica das
encostas e são regidos por:
- movimentos
gravitacionais de massa;
- processos de transporte
de massas.
Os
movimentos gravitacionais de massas são genericamente subdivididos nas
seguintes categorias principais:
- escorregamentos ou
deslizamentos de solo;
- corridas de massa;
- rastejos;
- quedas, tombamentos e/ou
rolamentos de rochas e/ou matacões.
Os
processos de transporte de massas são genericamente subdivididos nas seguintes
categorias principais:
- erosão laminar;
- erosão em sulcos ou
ravinas;
- boçorocas;
- erosão fluvial,
desbarrancamentos ou fenômenos de terras caídas;
- erosão marinha;
- erosão subterrânea, uma
das causas da subsidência do solo.
Os desastres relacionados
a esses conjuntos podem ocorrer em áreas urbanas densamente ocupados ou em
áreas rurais.
Em
Áreas Urbanas
Os movimentos
gravitacionais de massa ocorrem com relativa freqüência em áreas de encostas
desestabilizadas por ações antrópicas, provocando graves desastres, que
costumam ocorrer de forma súbita. Dessa forma, esses desastres têm componentes
de desastres mistos e assumem características de desastres de evolução aguda.
Por ocorrerem em épocas de
chuvas intensas e concentradas e se distribuírem por numerosas cidades
brasileiras, esses desastres assumem características nitidamente sazonais e,
quando computados os danos anuais, distribuídos pelas diferentes cidades,
assumem proporções de um imenso desastre nacional por somação de efeitos
pardais.
Os movimentos
gravitacionais de massa provocam, também, danos graves ás vias de transporte
rodoviário e ferroviário.
Em
Áreas Rurais
Os processos de transporte
de massa são causas de desastres dominantemente rurais e assumem caráter
insidioso de desenvolvimento gradual e de agravamento progressivo.
Anualmente, a erosão
provoca a perda de um imenso patrimônio nacional, representado pelo solo
agricultável. A estimativa de perda anual corresponde a um bilhão de metros
cúbicos.
A
perda de solo agricultável representa:
- a redução da fertilidade
natural;
- a redução da
produtividade agrícola;
- o incremento do consumo
de fertilizantes químicos;
- o encarecimento da
produção agropecuária
- o assoreamento e a
poluição de rios, lagos e açudes.
Para melhor entender esses
desastres, é importante o conhecimento de alguns conceitos relacionados com a
geomorfologia, o intemperismo, a erosão e a acomodação do solo.
1
- Solo
A crosta terrestre é
constituída por rochas e solos. Em regiões tropicais, o cima quente e úmido, ao
favorecer o intemperismo, intensifica os processos de decomposição das rochas,
dando origem a um manto de alterações, cujo produto final é o solo.
Como resultado do processo
de formação, o manto de alterações apresenta uma série de camadas superpostas
ou horizontes, distribuídas em sentido aproximadamente paralelo ao da
superfície do terreno. Essas camadas apresentam distintos comportamentos
geotécnicos, relacionados com resistência, plasticidade, erodibilidade e outras
características.
A passagem de um horizonte
para outro pode ser de forma brusca ou gradual. Nem sempre todas as camadas
estão presentes na totalidade do substrato de uma encosta.
As diversas camadas que
caracterizam o perfil do solo são designadas, a partir da superfície, como
horizontes A, B, C e D
2
- Horizonte “A”
Denominado horizonte
eluvial, está sujeito à ação direta do intemperismo, constituindo-se na camada
mais intensamente alterada. Normalmente apresenta consistência fofa e porosa e,
no caso dos solos ácidos, as cores variam entre o amarelo e o vermelho, em
função da maior concentração de óxidos de alumínio ou de ferro.
Formada a partir de
alterações das rochas locais, pode receber material carreado de montante em
função da ação da força da gravidade.
3
- Horizonte “B”
Camada subjacente à
superfície, denomina-se, também, horizonte eluvial.
Caracteriza-se pela
concentração de argilas, sesquióxidos e/ou carbonatos. ~ a área de concentração
e precipitação dos sesquióxidos de ferro e de alumínio, nos dumas úmidos, e dos
carbonatos, nos dumas áridos.
Concentra, também, sais
resultantes das atividades de lixiviação, normalmente descendentes nos dumas
úmidos e ascendentes, nos dumas áridos, o que facilita a salinização.
Suas propriedades
texturais e estruturais relacionam-se com as rochas-matrizes, que lhe dão
origem.
4
- Horizonte “C”
Camada de transição entre
a rocha-matriz e os horizontes sobrejacentes. Tem características de rochas
alteradas e fraturadas, apresentando um comportamento geotécnico intermediário
entre a rocha e o solo. Os fragmentos de rochas são denominados saprófitos.
5
- Horizonte “D”
Camada mais profunda do
manto de alterações; corresponde ao substrato rochoso inalterado. Apresenta uma
consistência superior á das unidades sobrejacentes.
Como pode apresentar
planos de divagam e áreas de fratura, é necessário caracterizar sua
continuidade e solidez, antes de utilizar as rochas para fixar alicerces ou
cabos de cortinas atirantadas.
6
- Encosta
É toda a superfície
natural inclinada em declive, que une duas superfícies caracterizadas por
diferentes potenciais de energia gravitacional. Nessas condições, se estabelece
um gradiente de gravidade entre o plano mais elevado e o mais baixo.
O comportamento de uma
encosta, além de depender de sua forma geométrica, é regulado pelos tipos de
terreno que a constituem e pelo ambiente fisiográfico global, como clima e
cobertura vegetal.
7
- Perfil da Encosta
Caracteriza a variação da
declividade ao longo do desenvolvimento da encosta.
Existem perfis retilíneos,
côncavos e convexos.
Nas encostas de perfil
retilíneo, a declividade se mantém constante; nas encostas de perfis convexos,
a declividade, que inicialmente é forte, tende a abrandar-se e, nas encostas de
perfis côncavos, ocorre o contrário.
8
- Tipificação dos Relevos
Os
relevos com encostas são classificados em:
- morros, quando
apresentam amplitude variável entre 100 e 300m, com declividades superiores a
15%;
- relevo montanhoso,
quando apresenta amplitude superior a 300m, com declividade superior a 15%,
- escarpas, quando
apresentam amplitude superior a 100m e declividades superiores a 30%.
9
- Taludes Naturais
São encostas de maciços
terrosos, rochosos ou mistos, geradas por agentes naturais, mesmo que tenham
sofrido alterações antrópicas, como cortes, desmatamentos e introdução de novas
cargas. O termo encosta á do vocabulário corrente dos geógrafos e utilizado em
caracterizações regionais. O termo talude é do vocabulário corrente dos
geotécnicos e utilizado nas descrições locais.
10
- Talude de Corte
É definido como um talude
natural ou encosta, agravado por trabalhos de escavação, realizados pelo homem.
11
- Talude de Aterro
É definido como o talude
ou encosta resultante de trabalhos de aterro realizados pelo homem, utilizando
materiais como argila, silte, areia, cascalho e rejeitos industriais ou de
mineração.
12
- Inclinação
É o ângulo formado pela
interseção do plano médio da encosta com o plano horizontal; medido a partir da
base.
13
- Declividade
Caracteriza o ângulo de
inclinação, definido em uma relação percentual entre o desnível vertical “H” e
o componente horizontal “L” da encosta, de acordo com a fórmula:
D
= H/L X 100
14
- Tálus
São depósitos de solos e
de fragmentos de rochas de dimensões variadas, formadas pelo acúmulo de
material escorregado de porções mais elevadas das encostas. Apresentam grande
heterogeneidade textural e podem ocupar a parte basal das encostas e as porções
das mesmas, onde a declividade é suavizada.
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