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28 maio 2020

MANUAL DE DESASTRES NATURAIS - VOL I - Erosão Linear – Sulcos, Ravinas e Boçorocas


6 – Erosão Linear – Sulcos, Ravinas e Boçorocas

CODAR: NI.GEV/ CODAR: 13.306


Caracterização

A erosão linear ocorre quando o fluxo de água, arrastando partículas de solo, concentra-se em vias preferenciais e aprofunda sulcos, dando origem a:

- ravinas, com perfil em forma de “V” e poucos metros de profundidade;

- boçorocas, com perfil em forma de “U” e até 50m de profundidade, 30m de largura e 1.000m de extensão.

As boçorocas constituem-se no estágio mais avançado da erosão linear e ocorrem quando o aprofundamento das ravinas atinge e ultrapassa o nível do lençol freático. 

A interseção do fundo da ravina com o nível do lençol freático incrementa o processo erosivo, inclusive, da erosão interna, que remonta através do interior do terreno, carreando material em profundidade e intensificando a formação de veios ou tubos (pipes) vazios, no interior do solo.

Esses vazios, ao atingirem proporções significativas, provocam colapsos e desabamentos que intensificam o fenômeno.


Etimologicamente, a palavra boçoroca ou voçoroca provém do tupi-guarani e pode significar:

- ibi (terra) e çoroc (rasgada) - terra rasgada;

- mbaê (coisa) e çoroc (rasgada) - coisa rasgada;

- mboi (cobra) e çoroci (sulco ou rasgão) - sulco em forma de cobra.

As boçorocas são freqüentes em países de clima tropical úmido caracterizado pela existência de--uma estação chuvosa, na primavera-verão, e outra de estio, no outono-inverno.


De um modo geral, as boçorocas ocorrem em função de fatores predisponentes, relacionados com:

- o balanço hídrico;

- a geologia;

- a pedologia;

- a geomorfologia;

- as ações antrópica.

Dessa forma, solos com texturas dominantemente arenosas, como os de areias quartzosas e alguns solos podzólicos. em áreas movimentadas. caracterizadas por colinas médias, morros e morretes, assentados em formações de padrão arenoso, depositadas em terrenos neocenozóicos, são mais propícios ao desenvolvimento de boçorocas.

Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, as boçorocas ocorrem, normalmente, com maior intensidade, em áreas cobertas pelo cerrado.


1 – Fatores Relacionados com o Balanço Hídrico

Nas fases iniciais das erosões em sulcos e ravinas prevalece o poder erosivo, representado pelas chuvas tropicais intensas e concentradas e pela energia cinética, representada pelo impacto das gotas de chuva sobre a superfície do terreno.

As boçorocas e demais processos erosivos intensificam-se em função da oposição entre períodos de deficiência hídrica e períodos de águas excedentes. 

A passagem do primeiro para o segundo período corresponde a uma fase crítica de desequilíbrio, principalmente quando a proteção proporcionada pela cobertura vegetal é reduzida, facilitando a variação dos gradientes de pressão hidráulica, relacionados com a rápida elevação do nível do lençol freático.

Segundo VIEIRA, nas áreas planas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, o nível do lençol freático decai durante sete meses e eleva-se em cinco meses, enquanto, nas encostas, o nível decai durante nove meses e sobe, bruscamente, em três meses.

É na fase de subida rápida do lençol freático, em função da maior infiltração, que se intensifica a erosão interma através dos veios vazios (pipe), dos desmoronamentos e os deslizamentos das paredes internas das voçorocas.


Conclusivamente, as boçorocas são formas de ravinamento provocado pela combinação de processos erosivos relacionados com:

- o escoamento superficial da água, através de vias preferenciais, facilitando o aprofundamento de sulcos e o ravinamento;

- a erosão interna (pipingi) facilitando o deslizamento lateral das paredes, provocados por subpressões em fissuras de descompressão e pela erosão remontante, seguida do abatimento do terreno.


2 - Fatores Relacionados com a Geologia

Há uma importante relação entre depósitos neocenozóicos e susceptibilidade à erosão linear. Numerosos estudos têm caracterizado que depósitos cenozóicos recentes, ocorridos a partir do Pleistoceno e, especialmente, do Holoceno, constituem os substratos que deram origem a formações arenosas superficiais, onde se concentram quase 100% das boçorocas de evolução recente, cadastradas no Estado de São Paulo.

É muito provável que lineamentos tectônicos profundos, atuando sobre rochas basálticas sotopostas aos depósitos de arenitos de deposição mais recente, ao caracterizarem um padrão profundo de drenagem sub-retangular, facilitem o desenvolvimento de boçorocas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. 

Nessas condições, o fluxo hidrológico descendente, favorecido pela elevada permeabilidade e porosidade das formações arenosas, tem seu escoamento ainda mais facilitado pelas fraturas das rochas basálticas.


3- Fatores Relacionados com a Pedologia

As boçorocas ocorrem preferencialmente em solos de padrão arenoso, semiconsolidados ou inconsolidados, de origem cenozóica, preferencialmente quando o horizonte “B” é argiloso e de tipo podzólicos.

As boçorocas afetam toda a estrutura de rochas alteradas, inclusive a de estratos de formação anterior á era cenozóica.

Os solos arenosos profundos e francamente permeáveis, como os solos aluviais pouco desenvolvidos e as areias quartzosas, são os mais propícios á erosão linear, especialmente quando a cobertura vegetal, normalmente de cerrado, é destruída por queimadas.

Esses solos costumam existir em mantos de decomposição, originados a partir de rochas cristalinas grosseiras, ou pela decomposição de gnaisses, com grandes percentagens de areias.

Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, de um modo muito típico, os solos derivados de arenitos, com conglomerados de varvitos e tilitos, relacionados com as glaciações, são propícios ao ravinamento e formações de boçorocas.


4 - Fatores Relacionados com a Geomorfologia

Os fatores geomorfológicos exercem uma importante influência indireta no desenvolvimento de boçorocas. Os terrenos movimentados, caracterizados por colinas de médio e grande porte, morros e morretes, são mais propícios ás erosões em ravinas e boçorocas.

A grande maioria das erosões lineares ocorre em encostas de perfil convexo e tende a predominar naquelas com curvas de nível côncavo, ou seja, em encostas de padrão coletor, podendo ocorrer, em menor número, em encostas com curvas de nível convexas, ou seja, em encostas de padrão dispersor.

É evidente que os fatores geomorfológicos só são importantes, quando combinados com os relativos ao solo e à geologia.


5- Fatores Antrópicos

A erosão linear é intensificada pelas atividades humanas inadequadas, em áreas de:

- urbanização;

- construção de vias de transporte;

- manejo agropecuário.


Urbanização Inadequada

A formação de ravinas e boçorocas nos perímetros urbanos, situados em áreas de risco, relacionam-se com:

- deficiente zoneamento do solo urbano, em função dos riscos de erosão linear;

- ruas não pavimentadas e drenadas, especialmente nas áreas de risco intensificado,

- despejo de águas pluviais, coletadas e aduzidas em cabeceiras de drenagem;

- concentração da vazão de águas pluviais e de despejo, em função do processo de urbanização, compactação e impermeabilização do solo, em áreas susceptíveis á erosão linear;

- lançamento de águas pluviais e de despejo nos leitos de riachos urbanos, incrementando o potencial erosivo dos mesmos.


 Construção de Vias de Transporte

De uma forma genérica, as erosões em obras viárias podem ocorrer em:

- plataformas;

- taludes dos cortes;

- taludes dos aterros,

- áreas adjacentes ao corpo da estrada.


Em áreas sujeitas às erosões, as obras viárias podem incrementar os processos erosivos, em função dos seguintes fatores:

- mudança das características naturais do terreno, com a execução de cortes e aterros;

- bloqueio da drenagem natural pela implantação da plataforma e desvio e concentração do fluxo da água para os pontos mais baixos do talvegue, onde se localizamos bueiros e as pontes;

- desmatamento e destocagem da faixa viária e das áreas de empréstimo dos aterros.


 Manejo Agropecuário Inadequado

Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, as áreas mais susceptíveis à erosão linear são normalmente cobertas pelo cerrado.


Nas áreas de risco, a erosão linear, que dá origem ás ravinas e boçorocas, é intensificada pelas seguintes atividades antrópicas:

- redução da cobertura arbórea e/ou arbustiva, especialmente nas linhas de cumeadas e nas encostas íngremes;

- abertura de sulcos ou de vias de circulação em sentido transversal ao das curvas de nível; 

- uso exagerado de tratores, provocando a compactação dos horizontes mais profundos e contribuindo para a intensificação do escoamento superficial;

- técnicas agrícolas que desnudem o solo, facilitando a ação desagregadora, provocada pelo impacto das gotas de chuva sobre a superfície do terreno;

- criação intensiva de bovinos e outros animais domésticos em áreas de colinas arenosas, especialmente quando a densidade dos mesmos ultrapassa a capacidade de sustentação das pastagens e quando o pisoteio contribui para a abertura de sulcos, facilitadores da erosão linear;

- prática de queimadas que, além de destruírem a cobertura vegetal, destroem a camada viva, representada pelo húmus, e coagulam os colóides orgânicos, capazes de reter grandes quantidades de água em sua fase gel, facilitando a infiltração e o escoamento superficial da água. Não existe prática mais irracional do que a queimada, por seu imenso potencial de degradação do solo.


Medidas Preventivas

O conhecimento detalhado da dinâmica e das peculiaridades de cada processo erosivo, que se pretenda prevenir ou controlar, da mesma forma que a avaliação sistemática do desempenho das medidas preventivas e das obras de controle, é essencial ao planejamento e gerenciamento de projetos, eficazes e econômicos, relacionados com a prevenção e o controle do ravinamento e das boçorocas.


1 - Boçorocas Urbanas

A prevenção de boçorocas urbanas depende de consistentes estudos de riscos, do mapeamento das áreas de risco intensificado de erosão linear, do zoneamento urbano e da elaboração de normas relativas às condições de utilização do solo urbano e da fiscalização, para assegurar o fiel cumprimento das mesmas.


A implantação de obras corretivas de processos erosivos profundos, em áreas urbanas, segue a seguinte seqüência:

- pavimentação das ruas, especialmente das mais susceptíveis aos processos erosivos;

- microdrenagem, através da construção de estruturas coletoras, como sarjetas e bocas-de-lobo, e de condutos de ligação, poços de visita e outras obras;

- microdrenagem, através da construção de estruturas adutoras, como tubulações e canais a céu-aberto;

- construção de estruturas dissipadoras de energia cinética;

- construção de estruturas estabilizadoras dos vales receptores e talvegues, como barragens escalonadas de terra compactada, de gabiões, de pedras secas, de concreto e de sacos plásticos, cheios de solo-cimento, areia ou concreto.


2 - Boçorocas em Áreas Rurais

No meio rural, as práticas conservacionistas, para serem efetivas, devem ultrapassar o nível das propriedades e ser coordenadas, em nível de microbacias.

Nessas condições, todos os proprietários de terra, com o apoio de uma assessoria técnica, devem desenvolver um plano de manejo integrado da microbacia, que passa a ser obrigatoriamente seguido por todos.

O manejo integrado reduz as erosões linear e laminar, aumenta ~ fertilidade natural do solo e a produtividade de todas as propriedades.


As mais importantes medidas preventivas são:

- manutenção e recuperação da cobertura do solo, com árvores e arbustos, especialmente nas linhas de cumeadas, nas encostas íngremes, nas matas ciliares e nas matas de proteção de nascentes e de olhos d’água;

- manutenção do solo agricultável permanentemente protegido por cobertura verde, restos culturais, palhadas, serragens ou outros;

- prática do rotação de culturas, segundo as faixas do terreno;

- redução do revolvimento do solo ao mínimo indispensável, procurando fazê-lo apenas nas épocas de plantio;

- redução do tráfego de tratores ao estritamente necessário;

- plantio segundo as curvas de nível e implantação, quando for o caso, de sistemas de terraceamento;

- planejamento e implantação racional de estradas vicinais, com eficientes sistemas de drenagem, e construção de bacias de captação, de acordo com técnica preconizada por ACRA;

- sempre que possível, utilizar técnicas de plantio direto e adubação orgânica;

- absoluta proibição de queimadas.


A correção de boçorocas no meio rural assemelha-se á das zonas urbanas e é desenvolvida na seguinte seqüência:

- proteção das cabeceiras de drenagem, com revestimento vegetal;
- isolamento da área da boçoroca;

- desvio das águas de superfície, através da construção de terraços ou vaias de desvio, devidamente compactados e protegidos por vegetação;

- sistematização dos taludes e construção de aterros em sentido transversal;

- construção de barragens temporárias de contenção, com teias de arame, ramos de árvores e pedras secas;

- construção de barragens permanentes de contenção, como aterros compactados e barragens de sacos plásticos, contendo solo-cimento, areia ou concreto;

- construção de vertedouros, com dissipadores de energia.


3 - Boçorocas em Obras Viárias

A prevenção da erosão, provocada por obras viárias, depende da construção de:

- sarjetas revestidas por concreto ou grama, com dissipadores de energia nas plataformas de aterro;

- canais mais profundos, quando ultrapassada a capacidade de escoamento das sarjetas;

- valetas de proteção das cristas de cortes e saias de aterro, com dissipadores de energia;

- barragens e bacias de acumulação ao longo do curso das sarjetas e valetas, para reduzir a velocidade do deslocamento d’água;

- dissipadores de energia, junto ás saídas de jusante dos bueiros;

- proteção dos taludes de cortes e de aterros, com vegetação;

- proibição da rapina dos taludes;

- drenagem profunda; quando for necessário, deprimir o nível da água dos lençóis freáticos.


 Para um maior detalhamento de obras de prevenção e de recuperação, sugere-se a leitura de textos especializados.

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