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30 maio 2020

MANUAL DE DESASTRES NATURAIS - VOL I - 2 - Seca - Codar: NE.SSc - Codar: 12.402


2- Seca

CODAR: NE.SSC/ CODAR: 12.402


Caracterização

Do ponto de vista meteorológico, a seca é uma estiagem prolongada, caracterizada por provocar uma redução sustentada das reservas hídricas existentes.


Durante o período de seca, ocorre uma ruptura do metabolismo hidrológico, com:

- intensificação das atividades catabólicas ou de consumo;

- redução das atividades anabólicas ou de acumulação.


As reservas hídricas de superfície e de subsuperfície diminuem em função:

- da redução intensa e sustentada das precipitações pluviométricas;

- do incremento das perdas liquidas causadas pela evaporação e pela transpiração;

- do incremento do consumo.


A evaporação da água contida nos reservatórios e a transpiração da água existente nos organismos vegetais e animais aumenta em conseqüência:

- da redução dos níveis de umidade relativa do ar, - do incremento da insolação;

- do incremento do regime de ventos secos.

O desastre seca é também um fenômeno social, caracterizando-se como uma de uma situação endêmica de pauperismo e estagnação econômica, sob o impacto do fenômeno meteorológico adverso.

Para que se configure o desastre, é necessário que o fenômeno adverso, caracterizado pela ruptura do metabolismo hidrológico, atue sobre um sistema ecológico, econômico, social e cultural, vulnerável á redução das precipitações pluviométricas.


Causas

As secas que se instalam periodicamente na região Nordeste do Brasil relacionam se com múltiplos fatores condicionados pela geodinâmica terrestre global em seus aspectos climáticos e meteorológicos.


As chuvas do Nordeste são influenciadas basicamente por:

- deslocamentos no sentido norte-sul da zona de convergência intertropical (ITCZ/ZCIT), sobre o oceano Atlântico

- deslocamento, em sentido sul-norte, de sistemas frontais (SF) provocados por frentes frias originadas no Pólo Sul;

- deslocamento, em sentido leste-oeste, de frentes convectivas de origem continentais/equatorial;

- ação dos alísios de sudeste, carregados de umidade, provocando chuvas de relevo em contato com as vertentes orientais da chapada da Borborema.

Muitos desses fenômenos são influenciados pelas variações de temperatura das águas da superfície dos oceanos.
Está comprovado que o fenômeno El-Niño - Oscilação Sul (ENOS) - guarda uma íntima relação de causa e efeito com os períodos de secas intensas no Semi-Árido nordestino e com inundações catastróficas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Esse fenômeno caracteriza-se pelo incremento do aquecimento das águas superficiais do oceano Pacífico, junto á costa oeste do Equador e da Colômbia. Essa elevação de temperatura provoca a formação de correntes ascendentes em direção á alta troposfera, onde o ar é ressequido. Esse bolsão de alta pressão retorna à superfície do planeta, no Semi-Árido nordestino, provocando uma célula de alfa pressão nas camadas mais baixas da atmosfera.


Essa célula de alta pressão contribui para reduzir a descida da ZCIT/INZT e impede a penetração:

- das frentes convectivas de oeste;

- dos sistemas frontais de sul.

Os sistemas frontais de sul, detidos pela célula de alta pressão nordestina, são responsáveis pela intensificação das precipitações nas regiões Sul e Sudeste.

O deslocamento em sentido norte-sul da Zona de Convergência intertropical também é influenciado pela temperatura superficial das águas dos oceanos. O estabelecimento de um dipolo de temperatura entre as águas do Atlântico tropical, com o aquecimento maior ao sul que ao norte, provoca um aumento relativo da pressão atmosférica ao norte e o deslocamento da ZClT/ITCZ para o sul. Quando o dipolo se inverte, ocorre seca nas áreas ao norte da região Nordeste do Brasil.


Ocorrência

As precipitações pluviométricas podem apresentar-se reduzidas, em caráter:

- permanente: nas regiões de climas áridos e semi-áridos;

- ocasional: em regiões onde os níveis de pluviosidade apresentam-se abaixo da normal, apenas em determinados períodos do ano ou mesmo em alguns anos.

A seca, enquanto desastre, não ocorre em regiões onde as precipitações são reduzidas em caráter permanente, porque nessas a sociedade e a biocenose que sobrevive na área estão adaptadas às condições climatológicas adversas do biótipo.

Ao contrário, em regiões de secas ocasionais, a sociedade e a biocenose, adaptados aos períodos de pluviosidade normal são vulemeráveis às redução cíclicas das precipitações.

Informações sobre Regiões Áridas e Semi-Áridas com índices Pluviométricos Permanentemente Reduzidos.


A redução permanente dos índices pluviométricos está relacionada com os seguintes fatores condicionantes:

- existência de células permanentes de alta pressão atmosférica;

- proximidade de correntes marinhas de águas frias;

- situação a sotavento de cordilheiras de grande porte.
As células de alta pressão desenvolvem-se nos Hemisférios Norte e Sul, ao longo dos paralelos, especialmente em regiões adjacentes aos trópicos de Câncer e de Capricórnio.


As principais regiões áridas, provocadas por células de alta pressão em regiões adjacentes ao trópico de Câncer, são:

- o deserto do Saara, na África, com 8.960.000 km2

- o deserto da Líbia, na África, com 1.300.000 km2

- o deserto Arábico, na Ásia Menor, com 777.000 km2

- o deserto do Thar, na índia, com 200.000 km2

- a península da Califórnia, no México.


As principais regiões áridas, provocadas por células de alta pressão em regiões adjacentes ao trópico de Capricórnio, são:

- o Grande Deserto de Areia, na Austrália, com 384.000 km2

- o deserto de Kalahari, na África, com 310.000 km2

- o deserto de AI acama, no Chile - América do Sul, que é considerada a região mais árida do mundo.


As correntes marinhas, de origem nas regiões ártica e antártica, ao circularem nas proximidades dos continentes, ressecam o ar, e as correntes aéreas, com baixos índices de umidade relativa, absorvem a umidade existente na região.

A corrente de Humboldt é responsável pela redução das precipitações na costa suL-americana, voltada para o Pacífico. Essas correntes marinhas frias também são responsáveis pela semi-aridez da costa da Califórnia (América do Norte), da costa oeste da África e das costas noroeste e sudoeste- da África.

A corrente das Malvinas ou Falklands correm junto á margem ocidental do Atlântico sul e é responsável pelo clima de semi-aridez existente na Patagônia.

A situação a sotavento, de grandes cordilheiras que atuam como obstáculos à penetração de brisas marinhas carregadas de umidade, explica os climas áridos dos desertos de Takla-Makan e de Gobi.


Principais Efeitos Adversos

Os efeitos os adversos da seca repercutem desfavoravelmente em todo o território nacional. A seca não é um problema do Nordeste, é um problema do Brasil.

Durante a seca ocorre uma crise de agravamento de uma situação de pauperismo endêmico e de estagnação econômica, reduzindo ainda mais os já baixíssimos índices de bem-estar social e de qualidade de vida da população local.

Nessas circunstâncias, a economia local, que sobrevive basicamente de uma pecuária extensiva e de uma agricultura de subsistência, sem a menor capacidade de gerar reservas financeiras ou de estocar alimentos e outros insumos, é completamente bloqueada.

É importante recordar que o Nordeste do Brasil é a região semi-árida de maior densidade populacional da Terra. A população que, nas épocas de intercrise apenas sobrevive, perde a capacidade de gerar trabalho remunerado e, conseqüentemente, perde a capacidade de adquirir um mínimo de bens necessários á garantia de sua sobrevivência.

O mercado é afetado muito mais pela drástica redução da já deficiente capacidade aquisitiva do que pela redução da capacidade de produzir alimentos de subsistência e demais bens de consumo imediato A estagnação econômica repercute sobre as já precárias condições sociais, agravando ainda mais os índices de morbimortalidade infantil e dos estratos vulneráveis, constituídos por idosos, enfermos e minusválidos.

A situação de desnutrição crônica da população socioeconomicamente marginalizada.evolui para uma crise de fome.
Cresce a morbimortalidade por infecções respiratórias agudas (IRA), carências nutricionais protéicocalóricas e por gastroenterites e desidratação.

A intranqüilidade social, os assaltos a depósitos de alimentos e o êxodo rural, em busca de melhores condições de sobrevivência, são desastres sociais secundários á grande crise.

As migrações descontroladas e a fixação de populações desenraizadas de seus ambientes culturais, em bolsões de pobreza das grandes cidades do litoral- nordestino e das demais regiões do Brasil, geram novos e importantes desastres sociais.


Monitorização, Alerta e Alarme

O acompanhamento das variações de temperatura das águas de superfície dos oceanos Pacifico, Atlântico e Indico e, em especial, a monitorizarão do fenômeno EI-Niño, permitem uma razoável previsão sobre períodos de seca e de inundações.
O crescente aperfeiçoamento dos modelos matemáticos e estatísticos está permitindo uma evolução extremamente favorável das previsões climatológicas de longo prazo.

A monitorizarão dos níveis dos grandes açudes e dos índices de evaporação diária dos mesmos pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica - DNAEE, -, Departamento Nacional de Obras Contra Secas - DM005 - e por outros órgãos, bem como o acompanhamento da vazão dos mananciais de subsuperfície pelo DNAEE, DM008, Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais - CPRM - e outros órgãos permitem uma razoável previsão sobre a evolução das reservas hídricas.


Medidas Preventivas

As medidas preventivas estruturais e não-estruturais, relacionadas com as secas e, em especial, com a seca do Semi-Árido Nordestino, são detalhadas no Programa de Redução das Vulnerabilidades á Seca no Semi-Árido Nordestino- PREVSAN, cujos dois primeiros volumes - Implementação dos Recursos Hídricos e Pesquisa; Extensão e Desenvolvimento Rural - já foram concluídos pelo órgão central do Sistema-Nacional de Defesa Civil.


Por sua condição de programa holístico, o PREVSAN não estuda apenas pr~etos relacionados com a infra-estrutura hídrica, mas os seguintes projetos globais:

- Implementação dos Recursos Hídricos;

- Pesquisa, Extensão e Desenvolvimento Rural;

- Implementação de Pólos Secundários e Terciários de Desenvolvimento;

- Implementação de Pequenas Empresas e de Indústrias Artesanais;

- Implementação de Indústria Turística;

- Implementação de Infra-Estrutura de Apoio (especialmente transportes, comunicações e eletrificação rural);

- Interiorização das Ações de Saúde;

- Mudança Cultural.


Os objetivos do PREVSAN são:

- Reduzir as Vulnerabilidades do Nordeste a seca, em suas interfaces com os desastres humanos de causas sociais, com especial atenção para a estagnação econômica, o pauperismo, o desemprego, a marginalização econômica e social, a fome e a desnutrição crônica, o êxodo rural e as migrações descontroladas.

- Otimizar as Potencialidades Regionais, com a finalidade de promover o pleno desenvolvimento do Nordeste, reduzir as desigualdades sociais e regionais, incrementar o bem-estar social e a qualidade de vida da população.


O Programa tem as seguintes estratégias:

- Fortalecimento do Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC, no Nordeste Brasileiro, instalando Comissões Municipais de Defesa Civil - COMDEC, nos Municípios situados em áreas de risco;

- Desenvolvimento de recursos humanos, do SINDEC e de outros sistemas, com o objetivo de elevar o número de pessoas capacitadas, em condições de participar do esforço para reduzir as vulnerabilidades do Nordeste;

- implementação de uma mudança cultural e comportamental da sociedade, objetivando o desenvolvimento comunitário e a efetiva participação de comunidades bem informadas no trabalho de reconstrução. Deseja-se que os grupos sociais sejam co-autores das soluções e não objetos passivos e fatores de agravamento dos problemas;

- Promoção de pequenas empresas e de indústrias artesanais que contribuam para o incremento de uma economia que seja menos dependente das condições climáticas locais;

- Ampliação da oferta de empregos estáveis e não dependentes de ciclo das safras e das variações das condições meteorológicas, objetivando a fixação e a melhoria das condições de vida da população;

- Pleno aproveitamento do potencial hídrico armazenado no Nordeste, por intermédio de projetos de irrigação que utilizem racionalmente os recursos hídricos já reservadas;

- Viabilização da oferta permanente de água potável, para uso humano e animal, em todas as localidades nordestinas, mediante o planejamento integrado de sistemas microrregionalizados de captação, tratamento e adução de recursos hídricos;

- Conclusão e recuperação de pequenas obras hídricas, como cisternas, poços e pequenos açudes que, por motivos diversos, não foram concluídos ou que, após entregues á população, deterioraram-Se por faltada manutenção;

- Perenização de rios temporários ou intermitentes, por intermédio de Projetos de Regularização Espacial de Deflúvios das Bacias - PREO;

- Incremento do potencial de recursos hídricos, em áreas onde esses recursos são carentes, por intermédio de Projetos de Interligação de Bacias com Transposição de Deflúvios Excedentes, utilizando o potencial hídrico de importantes rios de caudal permanente, como o Tocantins, o São Francisco e o Parnaíba;

- Promoção de Projetos de Captação e de Irrigação Pontual, com a finalidade de viabilizar a agricultura de sequeiro, em aproximadamente 80% da área total do semi-árido por intermédio de cisternas in pluvio, poços, pequenos açudes, barragens subterrâneas e outras técnicas consentâneas com as comunidades locais;

- Incremento dos grandes perímetros irrigados e otimização do uso dos recursos hídricos desses perímetros, por empresas agrícolas e cooperativas de produção, com elevada capacitação técnica, objetivando garantir a produção intensiva, com índices de produtividade compatíveis com as necessidades de geração de rendas e de ativação das atividades econômicas.

- Nos projetos de irrigação pública, o acesso e a posse da terra devem ser direcionados para pequenos e médios produtores, que tenham comprovado que possuem a necessária competência e capacitação técnica para desenvolver culturas irrigadas com elevados níveis de produtividade;

- Implementação de pólos secundários e terciários de desenvolvimento, na região semi-árida, com o objetivo de promover o fortalecimento de agroindústrias e indústrias produtoras de insumos agrícolas e de outras atividades relacionadas com o agrobussines, próximos de áreas rurais com maior capacidade produtiva;

- Fortalecimento de cooperativismo, objetivando o aumento da produção e da produtividade agropecuária, da oferta de alimento, da capacidade de gerenciamento e da competitividade comercial;

- Intensificação das atividades de educação técnica, com ênfase para a formação e capacitação de técnicos agrícolas, técnicos em economia doméstica, técnicos em irrigação e outros necessários ao desenvolvimento rural, em cooperação com a iniciativa privada, especialmente com as Confederações Nacionais da Indústria, do Comércio e da Agricultura.


- Intensificação das atividades de pesquisa, capacitação, extensão e assistência técnica agropecuária relacionadas com:

- zoneamento agro-ecológico, buscando o desenvolvimento em harmonia com a natureza, a conservação dos solos agricultáveis e a proteção do patrimônio ecológico, - aproveitamento e plena utilização do potencial de recursos hídricos de superfície de subsuperfície objetivando o desenvolvimento de uma agropecuária independente de variações sazonais, relacionadas com a redução das precipitações pluviais;

- fortalecimento de uma agropecuária adaptada ás condições peculiares do semi-árido;

- fortalecimento de atividades florestais e da silvicultura, objetivando o incremento desta atividade econômica, a proteção do solo e a redução dos riscos de desertificação;

- Fortalecimento das atividades relacionadas com a pós-colheita, o armazenamento, a conservação dos produtos agropecuários, o combate ás pragas e com a refrigeração de produtos deterioráveis, objetivando reduzir as perdas e o desperdício;

- Fortalecimento e modernização das atividades relacionadas com a comercialização e a circulação dos bens de produção, objetivando reduzir o número de agentes de intermediação ao estritamente necessário. com a finalidade de aumentar as margens de ganhos do setor produtivo e reduzir os custos finais para os consumidores;

- Intensificação das ações de saneamento básico e de melhoria das condições sanitárias dos habitat urbano e rural, com o objetivo de reduzir a transmissão de doenças infecto-contagiosas e de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar social das populações;

- Intensificação das ações de saúde, com ênfase para a promoção da saúde, a assistência médica primária e para a proteção de estratos populacionais mais vulneráveis, como os grupo materno-infantil, idosos e de deficientes físicos;

- Intensificação de projetos de promoção do planejamento familiar, da paternidade responsável e de reforço da estrutura familiar, com o objetivo de reduzir os problemas relacionados com menores carentes e abandonados.


Implementação dos Recursos Hídricos

Dentre os projetos relacionados no PREVSAN, o de maior importância é o de Implementação dos Recursos Hídricos, que diz respeito á captação, armazenamento, adução e aproveitamento nacional de água.s de origem telúrica, de superfície e de subsuperfície. Relaciona-se, também, com projetos de dessalinização de águas, com altas diluições de sais minerais. Essas águas salinizadas são encontradas com relativa freqüência em poços perfurados em áreas de aforamento do cristalino.


Os Projetos de Implementação dos Recursos Hídricos têm os seguintes objetivos:

- aproveitar plenamente os recursos hídricos já armazenados, especialmente através de macroaçudagem, por intermédio de projetos de irrigação que utilizem racionalmente o potencial já disponível;

- concluir pequenas obras hídricas de captação e recuperar aquelas que se deterioraram por falta de manutenção;

- incrementar a implementação de grandes perímetros irrigados, de acordo com uma ótica empresarial que tenha por principais objetivos aumentar a produtividade, a produção e a comercialização de excedentes agrícolas, promover o agrobussines? e garantir a autogestão desses perímetros, no mais curto prazo possível;

- desenvolver e incrementar projetos de obras pontuais de captação, reservação e aproveitamento de água, para fins de abastecimento e para a pequena irrigação, com a finalidade de viabilizar a chamada agricultura de sequeiro, em aproximadamente 80% da área do semi-árido;

- viabilizar a oferta permanente e suficiente de água potável, para uso humano e animal, em todas as cidades e localidades situadas no Semi-Árido Nordestino, independentemente das variações das precipitações pluviométricas;

- promover o aproveitamento sistemático de águas de subsuperfície, inclusive por intermédio de poços muito profundos, especialmente em áreas sedimentares de grande potencial aqüífero, que se estendem por aproximadamente 890.000 km2 da região sem-árida. O potencial aqüífero de subsuperfície é bem menos importante em áreas de aforamento do cristalino desgastado que se estendem por aproximadamente 710.000 km;

- promover a perenização de rios intermitentes e implementar projetos de regularização espacial dos deflúvios das bacias;

- promover a interligação de bacias com transposição de deflúvios excedentes, objetivando incrementar as obras de perenização e de implementação de projetos integrados de irrigação;

- promover projetos de dessalinização de águas, com níveis compatíveis de economicidade e produtividade, com o objetivo de aproveitar grandes quantidades de águas salinizadas que são captadas em aproximadamente 30% das perfurações desenvolvidas na área do cristalino.


As obras de macroaçudagem no Nordeste iniciaram-se no termino do Segundo Império. Embora concluída após a Proclamação da República, a bela barragem do açude de Cedro, totalmente construída em pedra de cantaria, é um magnífico exemplo das obras daquela época.

 As obras de macroaçudagem objetivavam represar grande coleções de água, com imensos espelhos d’água, as quais atuavam como pólos de desenvolvimento agropecuário. A grande desvantagem dessas obras é que os grandes espelhos de água aumentam a superfície de insolação e, conseqüentemente, de evaporação da água reservada.

As obras de perenização de rios intermitentes tem outra filosofia. Ao contrário das obras de macroaçudagem, não criam grandes espelhos de água sujeitos á evaporação, mas grandes estirões ou trechos de rio, onde as águas circulam com regularidade.


1 - Perenização de Rios lntermitentes

Também chamados de Projetos de Regularização Espacial dos Deflúvios das Bacias - PRED, caracterizam-se por um conjunto articulado de obras, com as seguintes finalidades gerais:

- Incrementar os mecanismos de Infiltração, objetivando uma melhor alimentação do lençol freático;

- otimizar os escoamentos subterrâneos aumentadores das bacias fluviais;

- reduzir os escoamentos subalveolares;

- controlar a velocidade dos escoamentos de calha, ao longo dos diferentes es~es do eixo fluvial.


A estratégia dos PRED consiste em:

- reduzir a prioridade relacionada com a construção de barragens de grande porte que, além de exigirem maior volume de recursos financeiros, são construídas com a finalidade de desenvolver projetos de irrigação com as águas armazenadas, gerando pólos de desenvolvimento agropecuário;

- maximizar a prioridade relacionada com a construção de conjuntos escalonados e integrados de pequenas obras de engenharia, desenvolvidas linearmente ao longo dos eixos fluviais, com a finalidade de regularizar o regime dos rios e incrementar a distribuição espacial de projetos simplificados de irrigação.


A implementação desses projetos, além de caracterizar uma nova visão de planejamento integrado, emite:

- reduzir as necessidades de desapropriação, que contribuem para aumentar os -custos de construção de grandes açudes;

- diminuir sensivelmente os custos de construção;

- reduzir as migrações internas para os pólos valorizados pelas obras de macroaçudagem, em prejuízo das áreas de jusante, e a geração de bolsões de pobreza, em função de expectativas não satisfeitas;

- otimizar os mecanismos de drenagem natural e, conseqüentemente, reduzir os riscos de salinização do solo;

- a implantação de projetos modulados, que podem ser desenvolvidos, sem grandes prejuízos, em função da disponibilidade de recursos;

- o controle de escoamento ao longo da calha, com o mínimo desperdício, e o ajustamento das vazões, em função das necessidades de água dos diferentes estirões;

- um controle mais efetivo das inundações;

- uma grande redução das perdas hídricas por evaporação.


As principais obras estruturais serem desenvolvidas no PRED são:

Linhas de Barramentos Múltiplos

Construção de linhas de pequenas barragens sucessivas, ao longo dos trajetos dos rios, com o objetivo de reduzir a velocidade do fluxo, regularizar os estirões de água e, ao reduzir a superfície dos espelhos de água, diminuir as perdas por evaporação.


Soleiras subsuperficiais ou Passagens Molhadas

Construção de estruturas baixas, ao longo do trajeto do rio, em sentido transversal ao curso de água, com o objetivo de reduzir o escoamento dos rios nas épocas de vazante. As soleiras subsuperficiais, ou passagens molhadas, só permitem o escoamento das águas quando o volume-represado ultrapassa a altura da crista das mesmas.


Barragens de Soleiras Subterrâneas

Escavação de trincheiras, em terrenos aluvionais pouco profundos, as quais são aprofundadas até o horizonte de rocha-matriz impermeável. Essas trincheiras construídas em sentido perpendicular ao eixo maior dos vales podem projetar-se, inclusive, sob o leito de pequenos rios. A seguir, essas trincheiras são preenchidas com material impermeável.


Barragens subterrâneas têm por finalidade:

- aumentar a capacidade de retenção do manto poroso;

- reduzir o escoamento subalveolar (por baixo do leito dos rios);

- aumentar o nível do lençol freático saturado, em todo o vale situado á montante da barragem.


Obras de Dragagem e de Desenrocamento

Essas obras têm por objetivo controlar o assoreamento dos rios, regularizar os estirões, reduzir os regimes turbilhonares, responsáveis pela intensificação do desbarrancamento e de outras alterações no leito e nas margens dos rios.


Obras de Proteção e de Regularização das Margens

O reflorestamento e a recomposição das matas ciliares são, sem nenhuma dúvida, as mais importantes obras de proteção das margens dos rios e de redução da erosão e do assoreamento.

Outras obras como diques, guias e barragens subterrâneas desenvolvidas em sentido longitudinal, com barbacãs a intervalos regulares, podem ser construídas em sentido paralelo ao eixo dos rios, com a finalidade de aumentar o manto poroso nas laterais dos cursos de água.


No PREVISAN, os projetos de perenização de rios intermitentes devem ser desenvolvidos em estreita articulação com:

- as obras de macroaçudagem já implantadas e a implantar;

- os projetos de adução e de abastecimento das cidades e localidades do semi-árido, com água potável;

- as obras pontuais de captação e de reservação de água;

- os grandes projetos de interligação de bacias com transposições dos deflúvios excedentes.


É importante enfatizar que as atividades de irrigação, nos rios perenizados, iniciam-se pela elevação da água, a partir dos fundos dos vales desses rios. Por esse motivo, para que esses projetos tornem-se econômicos, devem ser complementados com projetos de eletrificação rural.



2- Obras Pontuais de Captação e de Reservação de Água

É importante recordar que a região semi-árida do Nordeste Brasileiro é a mais densamente povoada do mundo. Apesar do esforço secular, objetivando o pleno aproveitamento hídrico, ainda existem aproximadamente 500.000 propriedades que não são beneficiadas por obras de captação de água e cuja produção é totalmente dependente do regime de precipitações pluviométricas.

Ao contrário dos demais projetos, os projetos de obras pontuais não têm por objetivo priorizar pólos ou eixos de irrigação, mas reduzir as vulnerabilidades dessas 500000 propriedades que estão dispersadas em aproximadamente 80% da área semi-árida. Por esse motivo, esses projetos são necessariamente e descentralizados.


As obras pontuais de captação e de reservação de água mais adaptadas à região semi-árida são:

- pequenos açudes, especialmente nas áreas de aforamento do cristalino desgastado;

- poços tubulares e outros, especialmente nas áreas sedimentares, com maior potencial aqüífero;

- poços amazonas, construídos nos aluviões fluviais;

- barragens subterrâneas, especialmente em áreas de terrenos aluvionais pouco profundos, com o objetivo de elevar o nível dos lençóis freáticos à montante dos mesmos. A água armazenada pode ser aproveitada “in situ”, através de projetos de fruticultura ou de silvicultura com árvores cujas raízes atinjam as camadas mais profundas;

- barreiros, tanques, cacimbas e passagens cobertas;

- bacias de captação de água (1) construídas ao longo de estradas vicinais, com a finalidade de evitar que os leitos das mesmas sejam danificados por enxurradas e de aproveitar as águas pluviais, para alimentar o lençol freático. No Nordeste, a técnica foi aperfeiçoada, as bacias foram alongadas, sob a forma de canais cobertos com troncos e terra, reduzindo as perdas líquidas por evaporação;

- cisternas in pluvio, que vêm sendo construídas desde os tempos pré-históricos, e, no Nordeste, sua construção é indicada especialmente naquelas áreas carentes de águas superficiais e onde as águas de subsuperfície são salinizadas.

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