2- Seca
CODAR:
NE.SSC/ CODAR: 12.402
Caracterização
Do ponto de vista
meteorológico, a seca é uma estiagem prolongada, caracterizada por provocar uma
redução sustentada das reservas hídricas existentes.
Durante
o período de seca, ocorre uma ruptura do metabolismo hidrológico, com:
- intensificação das
atividades catabólicas ou de consumo;
- redução das atividades
anabólicas ou de acumulação.
As
reservas hídricas de superfície e de subsuperfície diminuem em função:
- da redução intensa e
sustentada das precipitações pluviométricas;
- do incremento das perdas
liquidas causadas pela evaporação e pela transpiração;
- do incremento do
consumo.
A
evaporação da água contida nos reservatórios e a transpiração da água existente
nos organismos vegetais e animais aumenta em conseqüência:
- da redução dos níveis de
umidade relativa do ar, - do incremento da insolação;
- do incremento do regime
de ventos secos.
O desastre seca é também
um fenômeno social, caracterizando-se como uma de uma situação endêmica de
pauperismo e estagnação econômica, sob o impacto do fenômeno meteorológico
adverso.
Para que se configure o
desastre, é necessário que o fenômeno adverso, caracterizado pela ruptura do
metabolismo hidrológico, atue sobre um sistema ecológico, econômico, social e
cultural, vulnerável á redução das precipitações pluviométricas.
Causas
As secas que se instalam
periodicamente na região Nordeste do Brasil relacionam se com múltiplos fatores
condicionados pela geodinâmica terrestre global em seus aspectos climáticos e meteorológicos.
As
chuvas do Nordeste são influenciadas basicamente por:
- deslocamentos no sentido
norte-sul da zona de convergência intertropical (ITCZ/ZCIT), sobre o oceano
Atlântico
- deslocamento, em sentido
sul-norte, de sistemas frontais (SF) provocados por frentes frias originadas no
Pólo Sul;
- deslocamento, em sentido
leste-oeste, de frentes convectivas de origem continentais/equatorial;
- ação dos alísios de
sudeste, carregados de umidade, provocando chuvas de relevo em contato com as
vertentes orientais da chapada da Borborema.
Muitos desses fenômenos
são influenciados pelas variações de temperatura das águas da superfície dos
oceanos.
Está comprovado que o
fenômeno El-Niño - Oscilação Sul (ENOS) - guarda uma íntima relação de causa e
efeito com os períodos de secas intensas no Semi-Árido nordestino e com
inundações catastróficas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Esse fenômeno
caracteriza-se pelo incremento do aquecimento das águas superficiais do oceano
Pacífico, junto á costa oeste do Equador e da Colômbia. Essa elevação de
temperatura provoca a formação de correntes ascendentes em direção á alta
troposfera, onde o ar é ressequido. Esse bolsão de alta pressão retorna à
superfície do planeta, no Semi-Árido nordestino, provocando uma célula de alfa
pressão nas camadas mais baixas da atmosfera.
Essa
célula de alta pressão contribui para reduzir a descida da ZCIT/INZT e impede a
penetração:
- das frentes convectivas
de oeste;
- dos sistemas frontais de
sul.
Os sistemas frontais de
sul, detidos pela célula de alta pressão nordestina, são responsáveis pela
intensificação das precipitações nas regiões Sul e Sudeste.
O deslocamento em sentido
norte-sul da Zona de Convergência intertropical também é influenciado pela
temperatura superficial das águas dos oceanos. O estabelecimento de um dipolo
de temperatura entre as águas do Atlântico tropical, com o aquecimento maior ao
sul que ao norte, provoca um aumento relativo da pressão atmosférica ao norte e
o deslocamento da ZClT/ITCZ para o sul. Quando o dipolo se inverte, ocorre seca
nas áreas ao norte da região Nordeste do Brasil.
Ocorrência
As
precipitações pluviométricas podem apresentar-se reduzidas, em caráter:
-
permanente: nas regiões de climas áridos e
semi-áridos;
-
ocasional: em regiões onde os níveis de pluviosidade
apresentam-se abaixo da normal, apenas em determinados períodos do ano ou mesmo
em alguns anos.
A seca, enquanto desastre,
não ocorre em regiões onde as precipitações são reduzidas em caráter
permanente, porque nessas a sociedade e a biocenose que sobrevive na área estão
adaptadas às condições climatológicas adversas do biótipo.
Ao contrário, em regiões
de secas ocasionais, a sociedade e a biocenose, adaptados aos períodos de
pluviosidade normal são vulemeráveis às redução cíclicas das precipitações.
Informações sobre Regiões
Áridas e Semi-Áridas com índices Pluviométricos Permanentemente Reduzidos.
A
redução permanente dos índices pluviométricos está relacionada com os seguintes
fatores condicionantes:
- existência de células
permanentes de alta pressão atmosférica;
- proximidade de correntes
marinhas de águas frias;
- situação a sotavento de
cordilheiras de grande porte.
As células de alta pressão
desenvolvem-se nos Hemisférios Norte e Sul, ao longo dos paralelos,
especialmente em regiões adjacentes aos trópicos de Câncer e de Capricórnio.
As
principais regiões áridas, provocadas por células de alta pressão em regiões
adjacentes ao trópico de Câncer, são:
- o deserto do Saara, na
África, com 8.960.000 km2
- o deserto da Líbia, na
África, com 1.300.000 km2
- o deserto Arábico, na
Ásia Menor, com 777.000 km2
- o deserto do Thar, na
índia, com 200.000 km2
- a península da
Califórnia, no México.
As
principais regiões áridas, provocadas por células de alta pressão em regiões
adjacentes ao trópico de Capricórnio, são:
- o Grande Deserto de
Areia, na Austrália, com 384.000 km2
- o deserto de Kalahari,
na África, com 310.000 km2
- o deserto de AI acama,
no Chile - América do Sul, que é considerada a região mais árida do mundo.
As correntes marinhas, de
origem nas regiões ártica e antártica, ao circularem nas proximidades dos
continentes, ressecam o ar, e as correntes aéreas, com baixos índices de
umidade relativa, absorvem a umidade existente na região.
A corrente de Humboldt é
responsável pela redução das precipitações na costa suL-americana, voltada para
o Pacífico. Essas correntes marinhas frias também são responsáveis pela
semi-aridez da costa da Califórnia (América do Norte), da costa oeste da África
e das costas noroeste e sudoeste- da África.
A corrente das Malvinas ou Falklands correm junto á margem ocidental do Atlântico sul e é responsável pelo clima de semi-aridez existente na Patagônia.
A situação a sotavento, de
grandes cordilheiras que atuam como obstáculos à penetração de brisas marinhas
carregadas de umidade, explica os climas áridos dos desertos de Takla-Makan e
de Gobi.
Principais
Efeitos Adversos
Os efeitos os adversos da
seca repercutem desfavoravelmente em todo o território nacional. A seca não é
um problema do Nordeste, é um problema do Brasil.
Durante a seca ocorre uma
crise de agravamento de uma situação de pauperismo endêmico e de estagnação
econômica, reduzindo ainda mais os já baixíssimos índices de bem-estar social e
de qualidade de vida da população local.
Nessas circunstâncias, a
economia local, que sobrevive basicamente de uma pecuária extensiva e de uma
agricultura de subsistência, sem a menor capacidade de gerar reservas
financeiras ou de estocar alimentos e outros insumos, é completamente
bloqueada.
É importante recordar que
o Nordeste do Brasil é a região semi-árida de maior densidade populacional da
Terra. A população que, nas épocas de intercrise apenas sobrevive, perde a
capacidade de gerar trabalho remunerado e, conseqüentemente, perde a capacidade
de adquirir um mínimo de bens necessários á garantia de sua sobrevivência.
O mercado é afetado muito
mais pela drástica redução da já deficiente capacidade aquisitiva do que pela
redução da capacidade de produzir alimentos de subsistência e demais bens de
consumo imediato A estagnação econômica repercute sobre as já precárias
condições sociais, agravando ainda mais os índices de morbimortalidade infantil
e dos estratos vulneráveis, constituídos por idosos, enfermos e minusválidos.
A situação de desnutrição
crônica da população socioeconomicamente marginalizada.evolui para uma crise de
fome.
Cresce a morbimortalidade
por infecções respiratórias agudas (IRA), carências nutricionais
protéicocalóricas e por gastroenterites e desidratação.
A intranqüilidade social,
os assaltos a depósitos de alimentos e o êxodo rural, em busca de melhores
condições de sobrevivência, são desastres sociais secundários á grande crise.
As migrações
descontroladas e a fixação de populações desenraizadas de seus ambientes
culturais, em bolsões de pobreza das grandes cidades do litoral- nordestino e
das demais regiões do Brasil, geram novos e importantes desastres sociais.
Monitorização,
Alerta e Alarme
O acompanhamento das
variações de temperatura das águas de superfície dos oceanos Pacifico,
Atlântico e Indico e, em especial, a monitorizarão do fenômeno EI-Niño,
permitem uma razoável previsão sobre períodos de seca e de inundações.
O crescente
aperfeiçoamento dos modelos matemáticos e estatísticos está permitindo uma
evolução extremamente favorável das previsões climatológicas de longo prazo.
A monitorizarão dos níveis
dos grandes açudes e dos índices de evaporação diária dos mesmos pelo
Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica - DNAEE, -, Departamento
Nacional de Obras Contra Secas - DM005 - e por outros órgãos, bem como o
acompanhamento da vazão dos mananciais de subsuperfície pelo DNAEE, DM008,
Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais - CPRM - e outros órgãos permitem
uma razoável previsão sobre a evolução das reservas hídricas.
Medidas
Preventivas
As medidas preventivas
estruturais e não-estruturais, relacionadas com as secas e, em especial, com a
seca do Semi-Árido Nordestino, são detalhadas no Programa de Redução das
Vulnerabilidades á Seca no Semi-Árido Nordestino- PREVSAN, cujos dois primeiros
volumes - Implementação dos Recursos Hídricos e Pesquisa; Extensão e
Desenvolvimento Rural - já foram concluídos pelo órgão central do
Sistema-Nacional de Defesa Civil.
Por
sua condição de programa holístico, o PREVSAN não estuda apenas pr~etos
relacionados com a infra-estrutura hídrica, mas os seguintes projetos globais:
- Implementação dos
Recursos Hídricos;
- Pesquisa, Extensão e
Desenvolvimento Rural;
- Implementação de Pólos
Secundários e Terciários de Desenvolvimento;
- Implementação de
Pequenas Empresas e de Indústrias Artesanais;
- Implementação de
Indústria Turística;
- Implementação de
Infra-Estrutura de Apoio (especialmente transportes, comunicações e
eletrificação rural);
- Interiorização das Ações
de Saúde;
- Mudança Cultural.
Os
objetivos do PREVSAN são:
- Reduzir as Vulnerabilidades do Nordeste a
seca, em suas interfaces com os desastres humanos de causas sociais, com
especial atenção para a estagnação econômica, o pauperismo, o desemprego, a
marginalização econômica e social, a fome e a desnutrição crônica, o êxodo
rural e as migrações descontroladas.
- Otimizar as
Potencialidades Regionais, com a finalidade de promover o pleno desenvolvimento
do Nordeste, reduzir as desigualdades sociais e regionais, incrementar o
bem-estar social e a qualidade de vida da população.
O
Programa tem as seguintes estratégias:
- Fortalecimento do
Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC, no Nordeste Brasileiro, instalando
Comissões Municipais de Defesa Civil - COMDEC, nos Municípios situados em áreas
de risco;
- Desenvolvimento de
recursos humanos, do SINDEC e de outros sistemas, com o objetivo de elevar o
número de pessoas capacitadas, em condições de participar do esforço para reduzir
as vulnerabilidades do Nordeste;
- implementação de uma
mudança cultural e comportamental da sociedade, objetivando o desenvolvimento
comunitário e a efetiva participação de comunidades bem informadas no trabalho
de reconstrução. Deseja-se que os grupos sociais sejam co-autores das soluções
e não objetos passivos e fatores de agravamento dos problemas;
- Promoção de pequenas
empresas e de indústrias artesanais que contribuam para o incremento de uma
economia que seja menos dependente das condições climáticas locais;
- Ampliação da oferta de
empregos estáveis e não dependentes de ciclo das safras e das variações das
condições meteorológicas, objetivando a fixação e a melhoria das condições de
vida da população;
- Pleno aproveitamento do
potencial hídrico armazenado no Nordeste, por intermédio de projetos de
irrigação que utilizem racionalmente os recursos hídricos já reservadas;
- Viabilização da oferta
permanente de água potável, para uso humano e animal, em todas as localidades
nordestinas, mediante o planejamento integrado de sistemas microrregionalizados
de captação, tratamento e adução de recursos hídricos;
- Conclusão e recuperação
de pequenas obras hídricas, como cisternas, poços e pequenos açudes que, por
motivos diversos, não foram concluídos ou que, após entregues á população,
deterioraram-Se por faltada manutenção;
- Perenização de rios
temporários ou intermitentes, por intermédio de Projetos de Regularização
Espacial de Deflúvios das Bacias - PREO;
- Incremento do potencial
de recursos hídricos, em áreas onde esses recursos são carentes, por intermédio
de Projetos de Interligação de Bacias com Transposição de Deflúvios Excedentes,
utilizando o potencial hídrico de importantes rios de caudal permanente, como o
Tocantins, o São Francisco e o Parnaíba;
- Promoção de Projetos de
Captação e de Irrigação Pontual, com a finalidade de viabilizar a agricultura
de sequeiro, em aproximadamente 80% da área total do semi-árido por intermédio
de cisternas in pluvio, poços, pequenos açudes, barragens subterrâneas e outras
técnicas consentâneas com as comunidades locais;
- Incremento dos grandes
perímetros irrigados e otimização do uso dos recursos hídricos desses
perímetros, por empresas agrícolas e cooperativas de produção, com elevada
capacitação técnica, objetivando garantir a produção intensiva, com índices de
produtividade compatíveis com as necessidades de geração de rendas e de
ativação das atividades econômicas.
- Nos projetos de
irrigação pública, o acesso e a posse da terra devem ser direcionados para
pequenos e médios produtores, que tenham comprovado que possuem a necessária
competência e capacitação técnica para desenvolver culturas irrigadas com
elevados níveis de produtividade;
- Implementação de pólos
secundários e terciários de desenvolvimento, na região semi-árida, com o
objetivo de promover o fortalecimento de agroindústrias e indústrias produtoras
de insumos agrícolas e de outras atividades relacionadas com o agrobussines,
próximos de áreas rurais com maior capacidade produtiva;
- Fortalecimento de
cooperativismo, objetivando o aumento da produção e da produtividade
agropecuária, da oferta de alimento, da capacidade de gerenciamento e da
competitividade comercial;
- Intensificação das
atividades de educação técnica, com ênfase para a formação e capacitação de
técnicos agrícolas, técnicos em economia doméstica, técnicos em irrigação e
outros necessários ao desenvolvimento rural, em cooperação com a iniciativa
privada, especialmente com as Confederações Nacionais da Indústria, do Comércio
e da Agricultura.
-
Intensificação das atividades de pesquisa, capacitação, extensão e assistência
técnica agropecuária relacionadas com:
- zoneamento
agro-ecológico, buscando o desenvolvimento em harmonia com a natureza, a
conservação dos solos agricultáveis e a proteção do patrimônio ecológico, -
aproveitamento e plena utilização do potencial de recursos hídricos de
superfície de subsuperfície objetivando o desenvolvimento de uma agropecuária
independente de variações sazonais, relacionadas com a redução das
precipitações pluviais;
- fortalecimento de uma
agropecuária adaptada ás condições peculiares do semi-árido;
- fortalecimento de
atividades florestais e da silvicultura, objetivando o incremento desta
atividade econômica, a proteção do solo e a redução dos riscos de
desertificação;
- Fortalecimento das
atividades relacionadas com a pós-colheita, o armazenamento, a conservação dos
produtos agropecuários, o combate ás pragas e com a refrigeração de produtos
deterioráveis, objetivando reduzir as perdas e o desperdício;
- Fortalecimento e
modernização das atividades relacionadas com a comercialização e a circulação
dos bens de produção, objetivando reduzir o número de agentes de intermediação
ao estritamente necessário. com a finalidade de aumentar as margens de ganhos
do setor produtivo e reduzir os custos finais para os consumidores;
- Intensificação das ações
de saneamento básico e de melhoria das condições sanitárias dos habitat urbano
e rural, com o objetivo de reduzir a transmissão de doenças infecto-contagiosas
e de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar social das populações;
- Intensificação das ações
de saúde, com ênfase para a promoção da saúde, a assistência médica primária e
para a proteção de estratos populacionais mais vulneráveis, como os grupo
materno-infantil, idosos e de deficientes físicos;
- Intensificação de
projetos de promoção do planejamento familiar, da paternidade responsável e de
reforço da estrutura familiar, com o objetivo de reduzir os problemas
relacionados com menores carentes e abandonados.
Implementação
dos Recursos Hídricos
Dentre os projetos
relacionados no PREVSAN, o de maior importância é o de Implementação dos
Recursos Hídricos, que diz respeito á captação, armazenamento, adução e
aproveitamento nacional de água.s de origem telúrica, de superfície e de
subsuperfície. Relaciona-se, também, com projetos de dessalinização de águas,
com altas diluições de sais minerais. Essas águas salinizadas são encontradas
com relativa freqüência em poços perfurados em áreas de aforamento do
cristalino.
Os
Projetos de Implementação dos Recursos Hídricos têm os seguintes objetivos:
- aproveitar plenamente os
recursos hídricos já armazenados, especialmente através de macroaçudagem, por
intermédio de projetos de irrigação que utilizem racionalmente o potencial já
disponível;
- concluir pequenas obras
hídricas de captação e recuperar aquelas que se deterioraram por falta de
manutenção;
- incrementar a
implementação de grandes perímetros irrigados, de acordo com uma ótica
empresarial que tenha por principais objetivos aumentar a produtividade, a
produção e a comercialização de excedentes agrícolas, promover o agrobussines?
e garantir a autogestão desses perímetros, no mais curto prazo possível;
- desenvolver e
incrementar projetos de obras pontuais de captação, reservação e aproveitamento
de água, para fins de abastecimento e para a pequena irrigação, com a
finalidade de viabilizar a chamada agricultura de sequeiro, em aproximadamente
80% da área do semi-árido;
- viabilizar a oferta
permanente e suficiente de água potável, para uso humano e animal, em todas as
cidades e localidades situadas no Semi-Árido Nordestino, independentemente das
variações das precipitações pluviométricas;
- promover o
aproveitamento sistemático de águas de subsuperfície, inclusive por intermédio
de poços muito profundos, especialmente em áreas sedimentares de grande
potencial aqüífero, que se estendem por aproximadamente 890.000 km2 da região
sem-árida. O potencial aqüífero de subsuperfície é bem menos importante em
áreas de aforamento do cristalino desgastado que se estendem por
aproximadamente 710.000 km;
- promover a perenização
de rios intermitentes e implementar projetos de regularização espacial dos
deflúvios das bacias;
- promover a interligação
de bacias com transposição de deflúvios excedentes, objetivando incrementar as
obras de perenização e de implementação de projetos integrados de irrigação;
- promover projetos de
dessalinização de águas, com níveis compatíveis de economicidade e produtividade,
com o objetivo de aproveitar grandes quantidades de águas salinizadas que são
captadas em aproximadamente 30% das perfurações desenvolvidas na área do
cristalino.
As obras de macroaçudagem
no Nordeste iniciaram-se no termino do Segundo Império. Embora concluída após a
Proclamação da República, a bela barragem do açude de Cedro, totalmente
construída em pedra de cantaria, é um magnífico exemplo das obras daquela
época.
As obras de macroaçudagem objetivavam represar
grande coleções de água, com imensos espelhos d’água, as quais atuavam como
pólos de desenvolvimento agropecuário. A grande desvantagem dessas obras é que
os grandes espelhos de água aumentam a superfície de insolação e,
conseqüentemente, de evaporação da água reservada.
As obras de perenização de
rios intermitentes tem outra filosofia. Ao contrário das obras de
macroaçudagem, não criam grandes espelhos de água sujeitos á evaporação, mas
grandes estirões ou trechos de rio, onde as águas circulam com regularidade.
1
- Perenização de Rios lntermitentes
Também
chamados de Projetos de Regularização Espacial dos Deflúvios das Bacias - PRED,
caracterizam-se por um conjunto articulado de obras, com as seguintes
finalidades gerais:
- Incrementar os
mecanismos de Infiltração, objetivando uma melhor alimentação do lençol
freático;
- otimizar os escoamentos
subterrâneos aumentadores das bacias fluviais;
- reduzir os escoamentos
subalveolares;
- controlar a velocidade
dos escoamentos de calha, ao longo dos diferentes es~es do eixo fluvial.
A
estratégia dos PRED consiste em:
- reduzir a prioridade
relacionada com a construção de barragens de grande porte que, além de exigirem
maior volume de recursos financeiros, são construídas com a finalidade de
desenvolver projetos de irrigação com as águas armazenadas, gerando pólos de
desenvolvimento agropecuário;
- maximizar a prioridade
relacionada com a construção de conjuntos escalonados e integrados de pequenas
obras de engenharia, desenvolvidas linearmente ao longo dos eixos fluviais, com
a finalidade de regularizar o regime dos rios e incrementar a distribuição
espacial de projetos simplificados de irrigação.
A
implementação desses projetos, além de caracterizar uma nova visão de
planejamento integrado, emite:
- reduzir as necessidades
de desapropriação, que contribuem para aumentar os -custos de construção de
grandes açudes;
- diminuir sensivelmente
os custos de construção;
- reduzir as migrações
internas para os pólos valorizados pelas obras de macroaçudagem, em prejuízo
das áreas de jusante, e a geração de bolsões de pobreza, em função de
expectativas não satisfeitas;
- otimizar os mecanismos
de drenagem natural e, conseqüentemente, reduzir os riscos de salinização do
solo;
- a implantação de
projetos modulados, que podem ser desenvolvidos, sem grandes prejuízos, em
função da disponibilidade de recursos;
- o controle de escoamento
ao longo da calha, com o mínimo desperdício, e o ajustamento das vazões, em
função das necessidades de água dos diferentes estirões;
- um controle mais efetivo
das inundações;
- uma grande redução das
perdas hídricas por evaporação.
As
principais obras estruturais serem desenvolvidas no PRED são:
Linhas
de Barramentos Múltiplos
Construção de linhas de
pequenas barragens sucessivas, ao longo dos trajetos dos rios, com o objetivo
de reduzir a velocidade do fluxo, regularizar os estirões de água e, ao reduzir
a superfície dos espelhos de água, diminuir as perdas por evaporação.
Soleiras
subsuperficiais ou Passagens Molhadas
Construção de estruturas
baixas, ao longo do trajeto do rio, em sentido transversal ao curso de água,
com o objetivo de reduzir o escoamento dos rios nas épocas de vazante. As
soleiras subsuperficiais, ou passagens molhadas, só permitem o escoamento das
águas quando o volume-represado ultrapassa a altura da crista das mesmas.
Barragens
de Soleiras Subterrâneas
Escavação de trincheiras,
em terrenos aluvionais pouco profundos, as quais são aprofundadas até o
horizonte de rocha-matriz impermeável. Essas trincheiras construídas em sentido
perpendicular ao eixo maior dos vales podem projetar-se, inclusive, sob o leito
de pequenos rios. A seguir, essas trincheiras são preenchidas com material
impermeável.
Barragens
subterrâneas têm por finalidade:
- aumentar a capacidade de
retenção do manto poroso;
- reduzir o escoamento
subalveolar (por baixo do leito dos rios);
- aumentar o nível do
lençol freático saturado, em todo o vale situado á montante da barragem.
Obras
de Dragagem e de Desenrocamento
Essas obras têm por
objetivo controlar o assoreamento dos rios, regularizar os estirões, reduzir os
regimes turbilhonares, responsáveis pela intensificação do desbarrancamento e
de outras alterações no leito e nas margens dos rios.
Obras
de Proteção e de Regularização das Margens
O reflorestamento e a
recomposição das matas ciliares são, sem nenhuma dúvida, as mais importantes
obras de proteção das margens dos rios e de redução da erosão e do
assoreamento.
Outras obras como diques,
guias e barragens subterrâneas desenvolvidas em sentido longitudinal, com
barbacãs a intervalos regulares, podem ser construídas em sentido paralelo ao
eixo dos rios, com a finalidade de aumentar o manto poroso nas laterais dos
cursos de água.
No
PREVISAN, os projetos de perenização de rios intermitentes devem ser
desenvolvidos em estreita articulação com:
- as obras de
macroaçudagem já implantadas e a implantar;
- os projetos de adução e
de abastecimento das cidades e localidades do semi-árido, com água potável;
- as obras pontuais de
captação e de reservação de água;
- os grandes projetos de
interligação de bacias com transposições dos deflúvios excedentes.
É importante enfatizar que
as atividades de irrigação, nos rios perenizados, iniciam-se pela elevação da
água, a partir dos fundos dos vales desses rios. Por esse motivo, para que
esses projetos tornem-se econômicos, devem ser complementados com projetos de
eletrificação rural.
2-
Obras Pontuais de Captação e de Reservação de Água
É importante recordar que
a região semi-árida do Nordeste Brasileiro é a mais densamente povoada do
mundo. Apesar do esforço secular, objetivando o pleno aproveitamento hídrico,
ainda existem aproximadamente 500.000 propriedades que não são beneficiadas por
obras de captação de água e cuja produção é totalmente dependente do regime de
precipitações pluviométricas.
Ao contrário dos demais
projetos, os projetos de obras pontuais não têm por objetivo priorizar pólos ou
eixos de irrigação, mas reduzir as vulnerabilidades dessas 500000 propriedades
que estão dispersadas em aproximadamente 80% da área semi-árida. Por esse
motivo, esses projetos são necessariamente e descentralizados.
As
obras pontuais de captação e de reservação de água mais adaptadas à região
semi-árida são:
- pequenos açudes,
especialmente nas áreas de aforamento do cristalino desgastado;
- poços tubulares e
outros, especialmente nas áreas sedimentares, com maior potencial aqüífero;
- poços amazonas,
construídos nos aluviões fluviais;
- barragens subterrâneas,
especialmente em áreas de terrenos aluvionais pouco profundos, com o objetivo
de elevar o nível dos lençóis freáticos à montante dos mesmos. A água
armazenada pode ser aproveitada “in situ”, através de projetos de fruticultura
ou de silvicultura com árvores cujas raízes atinjam as camadas mais profundas;
- barreiros, tanques,
cacimbas e passagens cobertas;
- bacias de captação de
água (1) construídas ao longo de estradas vicinais, com a finalidade de evitar
que os leitos das mesmas sejam danificados por enxurradas e de aproveitar as
águas pluviais, para alimentar o lençol freático. No Nordeste, a técnica foi
aperfeiçoada, as bacias foram alongadas, sob a forma de canais cobertos com
troncos e terra, reduzindo as perdas líquidas por evaporação;
- cisternas in pluvio, que
vêm sendo construídas desde os tempos pré-históricos, e, no Nordeste, sua
construção é indicada especialmente naquelas áreas carentes de águas
superficiais e onde as águas de subsuperfície são salinizadas.
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