5
– Formigas Saúvas
CODAR: NB.AFS/CODAR:
14.105
Caracterização
As formigas são insetos de
ordem dos Himenópteros, sub-ordem Apócrifa, superfamília Formicoidea e família
Formicidae.
São
insetos sociais, cujas colônias são constituídas por:
- imensa população de
fêmeas operárias, sem asas e reprodutivamente não funcionais;
- uma fêmea fértil ou
rainha, única que põe ovos;
- fêmeas virgens,
ocasionalmente destinadas a formar novas colônias;
- machos alados, que
ocasionalmente morrem poucas horas após fecundarem as fêmeas.
Num
formigueiro de saúvas, existem várias castas de formigas operárias:
- operárias mínimas, que
se ocupam da cultura do fungo e da alimentação das larvas e pupas;
- operárias médias, que se
ocupam dos trabalhos de escavação e do corte e transporte de folhas;
- operárias máximas ou
soldados, especializadas na defesa da comunidade e, para tanto, providas de
mandíbulas poderosas e afiadas.
As saúvas são formigas
agricultoras, que cultivam um fungo microscópico, do qual se alimentam.
A
associação entre a saúva e o fungo é uma simbiose obrigatória:
- a espécie de fungo
utilizada como alimento das saúvas só existe nos sauveiros e só se
perpetua porque é cultivada pelas
mesmas;
- a saúva só consegue
sobreviver e alimentar os imensos contingentes populacionais dos sauveiros,
cultivando o fungo.
A organização do sauveiro
e a reserva de alimentos mantida no subsolo permitem a sobrevivência da colônia
às adversidades ambientais, inclusive quando a região é completamente devastada
pelo fogo.
A primeira revoada nupcial
ocorre após três anos de evolução do sauveiro, normalmente na estação das
chuvas (setembro-dezembro), correspondente á primavera.
Nessa oportunidade, o
sauveiro adulto tem várias centenas de panelas e abriga de 3 a 4 milhões de
operárias, todas nascidas de uma única fêmea.
Nessas condições,
distinguem-se os elementos sexuados, numa proporção de 3.000 fêmeas ou içás e
20.000 machos ou bitus. A proporção de 7 machos para uma fêmea garante a
fecundação de todas, que normalmente cruzam com mais de um macho.
A içá ou tanajura é mais
volumosa que as operárias e, antes de iniciar seu vôo, retira uma pelotinha de
fungo, com filamentos de micélio vivo, do ninho onde se criou, e guarda na sua
boca.
Os machos morrem logo após
o vôo nupcial e as fêmeas, uma vez fertilizadas, voltam ao solo, libertam-se
das asas e dão inicio ao novo sauveiro.
Durante
seis a dez horas, a içá:
- perfura um canal com
aproximadamente 10 cm de profundidade por 1 cm de diâmetro, em local livre de
vegetação, retirando e transportando os grãos de terra para a superfície;
- alarga a extremidade do
canal, cavando uma câmara ou panela, com aproximadamente 2,5 cm de raio;
- entope o canal de cima
para baixo, de forma que, concluído o trabalho, permanece isolada do mundo
exterior, na câmara recém-construída.
A içá nunca mais retornará
à superfície do solo, em condições naturais.
A colônia permanecerá
isolada por três a quatro meses e somente quando a população de operárias
ultrapassar cinqüenta, a comunicação com a superfície será restabelecida.
Estudos experimentais
demonstraram que, para cada 6.000 içás fecundadas, apenas três sobrevivem e
conseguem fundar novas colônias. Apesar disso, após cada revoada, o número de
sauveiros de uma área determinada tende a crescer 250%.
Os
principias fatores naturais de limitação da proliferação de novas colônias são:
- ataque das aves, que
devoram as içás no ar, durante a revoada;
- ataque de inúmeros
predadores, inclusive aves de hábitos terrestres, enquanto as içás escavam o
canal inicial;
- ataque de formigas
carnívoras e de animais subterrâneos à câmara inicial;
- ataque de tatus, que
pressentem as câmaras isoladas e escavam túneis para devorá-las;
- morte do micélio do
fungo, ao ser regurgitado, que inviabiliza o desenvolvimento da colônia.
Somente quinze meses após
o vôo inicial é que se pode considerar uma colônia como devidamente
estabelecida.
Os tamanduás, embora
alimentem-se de formigas e de térmitas, raramente destroem a colônia ou atacam
a rainha-mãe.
Conclui-se, dessa forma,
que o combate à saúva é mais eficiente quando desenvolvido contra os sauveiros
em fase de desenvolvimento, antes que se iniciem as revoadas núpcias.
Os vegetais que as saúvas
cortam e levam para o interior dos sauveiros não lhes servem diretamente de
alimento. São cortados, mascados e transformados numa massa esponjosa,
utilizada como canteiro para plantar o fungo que serve de alimento á colônia.
Da mesma forma que o
homem, as saúvas cultivam seus alimentos transplantando micélios de canteiros
antigos para a massa esponjoso, preparada a partir de folhas frescas.
As esponjas de vegetais
são constantemente renovadas e os vegetais recém-cortados são colocados nas
camadas superiores, enquanto a matéria vegetal, já esgotada, é retirada da
parte basal e depositada em panelas de lixo, para onde são levados todos os
cadáveres da colônia.
Nas
panelas de lixo, desenvolve-se uma fauna muito rica, constituída por insetos e
outros artrópodes, como moscas, ácaros e besouros, dos quais:
- alguns se alimentam dos
detritos;
- outros são carnívoros e
alimentam-se dos primeiros.
Compete à rainha iniciar a
cultura do fundo, regurgitando a pelotinha que transportou durante o vôo
inicial, utilizando-a como semente da nova cultura, após adubá-la com uma
gotícula do líquido fecal. Na medida em que a cultura vai se expandindo, a
rainha transplanta parte da mesma e utiliza seu liquido fecal para intensificar
sua proliferação.
Enquanto o fungo se desenvolve,
a rainha vai depositando ovos e, em aproximadamente trinta dias, eclodem as
primeiras larvas que, por não se locomoverem, têm que ser alimentadas
individualmente pela rainha.
O fungo não se desenvolve
plenamente, enquanto a colônia permanece enclausurada. Nessas condições, a
rainha alimenta a colônia com uma reserva nutritiva, semelhante ao leite dos
mamíferos, contido num envoltório resistente e denominado ovo de alimentação. A
rainha tem condições de alimentar a colônia durante 120 dias e, para cada ovo
verdadeiro, deposita dez ovos de alimentação, oferecendo-os ás suas larvas e
transportando-os nas mandíbulas.
Quando a câmara é reaberta
e inicia-se o corte dos vegetais, o fungo desenvolve-se rapidamente e o
alimento, abundante, passa a ser servido às larvas pelas operárias que, antes,
transformam os fungos numa papa, regurgitada para as mesmas.
Com o crescimento da
colônia, aumenta o número de câmaras ou panelas, cresce a circulação vertical e
desenvolve-se um verdadeiro labirinto de túneis horizontais, unindo a
circulação vertical à base das panelas. A terra retirada é acumulada na
superfície, formando amontoados de terra solta, denominados murundus.
Com
trinta e seis meses, o sauveiro tem, aproximadamente:
- 1.000 aberturas externas
ou olheiros;
- várias centenas de
panelas;
- um verdadeiro labirinto
de túneis, por onde circulam as formigas cortadeiras, transportando pedaços de
vegetais.
A população de formigas
operárias oscila entre 3 e 4 milhões e o tamanho dessas varia entre 2 mm e 15
mm. A variação do tamanho não depende do crescimento na fase adulta, e sim na
fase larvária, antes mesmo da transformação em pupas.
A fêmea fundadora da
colônia é relativamente longeva, vivendo entre 15 e 20 anos. Com a morte da
rainha, o sauveiro está fadado à destruição, uma vez que as operárias, em
nenhuma hipótese, permitem a sua substituição, mesmo em condições de
laboratório.
Como
já informado, alguns meses antes da revoada, surgem dois tipos povos de
formigas, caracteristicamente alados:
- os machos ou bitus;
- as fêmeas ou içás
Compete a essas formas
aladas fundar as novas colônias. Os machos perdem sua utilidade e morrem após a
fecundação. Das fêmeas fecundadas, 99,5% morrem sem fundar novas colônias.
Ocorrência
No mundo, existem de 10.000
a 15.000 espécies de formigas, das quais aproximadamente 3.000 vivem em áreas
neotropicais.
As formigas formam a maior
população de animais macroscópicos do globo terrestre.
No Brasil, as formigas de
maior importância são as saúvas, pertencentes á subfamília Myrmcinae, gênero
Atta. Das quatorze espécies desse gênero, a mais nociva para as culturas é a
Atta sexdens rubropilosa.
Não há saúvas nas regiões
de floresta fechada, ao passo que, nos campos, nos terrenos de cultura e -nas
regiões onde a mata foi destruída, elas aparecem em grande quantidade.
Medidas
Preventivas e de Controle
O
combate ás saúvas e às demais formigas cortadeiras depende de.medidas,
relacionadas com:
- proteção ambiental e
incremento da biodiversidade;
- proteção dos predadores,
como aves insetívoras, tatus, galináceos e tamanduás;
- utilização de iscas
impregnadas de defensivos.
As iscas granulosas são
colocadas à margem dos carreiros das saúvas, sempre que possível, protegidas
por pequenas arapucas, que permitem apenas o trânsito de formigas. Essas
arapucas evitam que outros animais entrem em contato com as iscas.
Um dos inseticidas mais
eficazes para ser utilizado em iscas de saúvas é o
dodecacloro-pentaciclodecano, conhecido comercialmente como Dodecacloro.
As formigas cortadeiras
transportam as iscas para o sauveiro e as distribuem nas plantações de fungos.
A droga envenena o fungo, e a população do sauveiro se extingue.
Nenhum comentário:
Postar um comentário