TÍTULO IV
LEISHMANIOSE
VISCERAL OU CALAZAR CID 085.05
CODAR
– HB.VLV/CODAR 23.104
1.
Caracterização
O
Calazar é uma doença infecciosa sistêmica ou generalizada, produzida por um
protozoário, de evolução crônica e que se caracteriza por apresentar:
· Febre de início gradual ou repentino, de
curso prolongado e irregular, com períodos de remissão, alternando com períodos
de febre moderada, muitas vezes com dois picos diários de elevação da
temperatura.
· Crescimento do fígado (hepatomegalia), do
baço (esplenomegalia) e dos gânglios linfáticos que, além de crescidos, ficam
doloridos e inflamados (linfoadenopatia).
· Queda progressiva do estado geral, com
emagrecimento que tende a se acentuar com a passagem do tempo, debilidade e
adinamia.
· Queda da contagem dos glóbulos vermelhos
(anemia), dos glóbulos brancos (leucopenia) e das plaquetas, caracterizando um
estado de pancitopenia.
As crianças são mais
sensíveis à doença, a qual, se não for tratada corretamente, apresenta elevados
índices de letalidade.
Em alguns casos, pode
ocorrer cura aparente seguida do aparecimento de lesões cutâneo-mucosas
semelhantes as da leishmaniose cutânea.
2.
Dados Epidemiológicos
a.
Agente Infeccioso
O agente infeccioso do
calazar é um protozoário da classe Mastigophora (flagelados) da espécie
Leishmania donovani. Estes protozoários apresentam-se com flagelos (sob a forma
de leptomonas), no tubo digestivo dos flebótomos e nas culturas dos parasitas,
e desprovidos de flagelos (sob a forma de leishmânias), nos tecidos dos
hospedeiros vertebrados.
b.
Elos da Cadeia de Transmissão
Os
principais elos da cadeia de transmissão desta doença são o(s):
· insetos do gênero Phlebotomus, representado
no Brasil pela espécie Phlebotomus longipalpis ;
· canídeos e roedores silvestres;
· cães domésticos;
· homem.
No Brasil, o Calazar é uma
doença enzoótica (endêmica de animais), transmitida acidentalmente ao homem,
por intermédio da picada de uma fêmea de flebótomo, que se tornou infectante ao
picar um cão doméstico ou um roedor ou canídeo silvestre, portador da doença.
Na Índia, o homem é o
único reservatório conhecido da doença.
c.
Períodos de Incubação e de Transmissibilidade
No homem, o período médio
de incubação varia entre 2 e 4 meses, mas em casos extremos, pode variar entre
10 dias e dois anos.
A transmissibilidade ocorre enquanto os parasitas se
encontrarem na pele ou no sangue dos hospedeiros vertebrados.
Pode ocorrer
transmissão inter-humana, por transfusão de sangue ou por contágio sexual. Há
descrição de casos de transmissão por mordedura de animais infectados, em
laboratórios de patologia.
d.
Suscetibilidade e Resistência
A suscetibilidade é geral.
A imunidade nos casos curados é permanente.
Não existe imunidade
cruzada entre a leishmaniose cutânea e o calazar.
e.
Ocorrência
O calazar é uma doença
rural, que ocorre em focos isolados na Índia, na Turquia, no Oriente Médio, em
países mediterrâneos, no Quênia, no Sudão, na América Central, no México e na
América do Sul.
No Brasil, ocorre de forma
endêmica, em focos isolados nos seguintes Estados do Nordeste: PI, CE, RN, PB e
PE; e sob a forma de casos esporádicos, nos seguintes Estados: AL, SE, BA, MG,
ES, TO, PA.
3.
Medidas de Prevenção e de Controle
A prevenção depende do
rociamento com inseticidas eficientes e de ação residual, das paredes internas
e externas das casas, dos galpões, dos canis e das áreas de criação de roedores
domésticos.
Os monturos com detritos
de matéria orgânica, num raio de 200 metros das casas e das áreas de criação de
roedores e de cães, devem ser enterrados ou protegidos com telas finas.
Os cães domésticos e os
demais reservatórios animais, suspeitos de estarem infectados com Calazar devem
ser eliminados.
As casas devem ser
teladas, com telas de malha fina, da mesma forma, os mosquiteiros também
deverão ser de malha fina.
O combate sistemático à
malária e à doença de Chagas contribui para reduzir a ocorrência de flebótomos
e a transmissão do Calazar, que também é beneficiado pela eliminação de cães
vadios provocada pelas campanhas de erradicação da Raiva.
Em casos de desastres, deve
ser vetada a presença de cães domésticos e de outros animais, nas áreas de
alojamento dos desabrigados, especialmente nas áreas de ocorrência da doença.
4.
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico é confirmado
pela identificação dos protozoários da espécie Leishmania donovani sob a forma
de corpúsculos intracelulares – Corpúsculos de Donovani – em esfregaços de
material corado, obtido por biópsia de medula óssea, de baço, de fígado ou de
gânglio ingurgitado.
Normalmente, estes corpúsculos são encontrados no interior
de células do Sistema Retículo Endotelial (histócitos), responsáveis pela
defesa do organismo e em células dos órgãos hematopoiéticos, responsáveis pela
produção dos glóbulos vermelhos e dos glóbulos brancos do sangue.
O tratamento com antimonato
de meglumina (glucantime) e com anfotericina B deve ser conduzido em regime de
semi-internamento e por equipe experimentada.
As expectativas de cura crescem,
em função da precocidade do tratamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário