22 maio 2020

TÍTULO II - CÓLERA CID OO1 - CODAR – HB.ACO/CODAR 23.202 - Caracterização - Agente Infeccioso - Dados Epidemiológicos - Reservatórios - Mecanismo de Transmissão - Período de Incubação e de Transmissibilidade - Suscetibilidade e Resistência - Medidas Preventivas - Controle dos Pacientes, dos Contatos e do Meio Ambiente Imediato - Medidas a serem Tomadas em Casos de Surtos Epidêmicos - Implicações em Desastres


TÍTULO II

CÓLERA CID OO1

CODAR – HB.ACO/CODAR 23.202

1. Caracterização

A cólera é uma infecção intestinal aguda e grave, causada pelo Vibrião colérico e se caracteriza pelo início súbito, com diarréia profusa, vômitos ocasionais, rápida desidratação, acidose e colapso periférico, provocado pelo choque hipovolêmico. A morte pode sobrevir poucas horas após o início da doença, se o paciente não for convenientemente hidratado e tratado.

Em pacientes não tratados e mal hidratados, a letalidade pode ultrapassar 50%. Ao contrário, com tratamento adequado e hidratação precoce, a mortalidade é inferior a 1%.

Casos benignos, com diarréias moderadas, podem ocorrer, especialmente em crianças, da mesma forma que infecções inaparentes e totalmente assintomáticas, especialmente com vibriões do grupo Eltor.

O diagnóstico é confirmado laboratorialmente pela cultura de vibriões coléricos O – grupo 1 – a partir das fezes ou dos vômitos, ou pela observação da mobilidade característica do vibrião, por intermédio do microscópio de fase ou de campo escuro, a qual é inibida pelo anti-soro específico. A demonstração de um aumento significativo do título de anticorpos antitóxicos, aglutinantes ou vibrocidas também permite o diagnóstico.


2. Agente Infeccioso

Vibrio choleral O – Grupo 1, com três biótipos, caracterizados por sorotipos: Eltor, Inaba e Oga-a. A doença é provocada pelas enterotoxinas produzidas pelos vibriões e, em cada epidemia, predomina um tipo particular de agente. Os vibriões são bactérias que se apresentam sob a forma de bastonetes finos, recurvos e altamente móveis.


3. Dados Epidemiológicos

a) Reservatórios

O homem é o principal reservatório da cólera, que pode persistir na água durante longos períodos e contaminar frutos do mar, como ostras e caranguejos.


b) Mecanismo de Transmissão

Em essência, a transmissão se efetiva pela ingestão de água e, secundariamente, de alimentos contaminados pelas fezes e vômitos dos pacientes e, em menor grau, de portadores assintomáticos. Há que considerar também os alimentos contaminados pela água, moscas e mãos sujas e os frutos do mar de águas poluídas e consumidos crus ou mal cozidos.


c) Período de Incubação e de Transmissibilidade

A incubação ocorre de algumas horas a 5 (cinco) dias, com médias de 2 a 3 dias.
A transmissibilidade, durante a fase aguda, ocorre por apenas alguns dias após a cura e é sensivelmente reduzida, quando o paciente é tratado com antibiótico eficaz (tetraciclina). Têm sido observados casos de portadores assintomáticos e de infecção biliar crônica que continuam eliminando vibriões, por anos.


d) Suscetibilidade e Resistência

A doença clinicamente manifesta aparece normalmente nos estratos socioeconômicos menos favorecidos. Mesmo nas epidemias graves, os coeficientes de ataque raramente excedem 2%. Está demonstrado que acloridria gástrica (ausência de ácido clorídrico) aumenta o risco da doença. Esta, mesmo quando assintomática, eleva significativamente o nível de anticorpos para surtos com sorotipos homólogos.



3. Medidas Preventivas

a) Remoção sanitária dos dejetos humanos, por intermédio de latrinas higiênicas, que devem ser mantidas impecavelmente limpas e desinfetadas e, sempre que possível, teladas e à prova de moscas. É importante que sejam dotadas de pias, para facilitar a lavagem cuidadosa das mãos, em locais distantes das fontes de água. Cabe registrar que estes cuidados se aplicam a todas as doenças transmitidas por água e alimentos contaminados por fezes.

b) A água de abastecimento público deve ser adequadamente tratada, sendo prevista a cloração e a filtração de toda a água potável. Para a proteção de pequenos grupos, em locais de águas suspeitas, é preferível ferver e arejar a água a ser utilizada como bebida e no preparo de alimentos.

c) A educação sanitária da população vulnerável e dos manipuladores de alimentos, sobre a cólera e seus mecanismos de transmissão, deve ser reforçada. É importante que assuntos relacionados com eliminação sanitária das fezes, asseio corporal e lavagem cuidadosa das mãos sejam reforçados.

d) Há que reforçar também o adestramento do pessoal de saúde empenhado na assistência dos pacientes sobre as atividades de desinfecção concorrente e terminal.

e) O leite deve ser escrupulosamente pasteurizado ou fervido, e especial cuidado deve ser reservado aos laticínios, cuja produção, armazenamento e distribuição devem ser supervisionados pela vigilância sanitária.

f) Os alimentos devem ser manipulados, preparados, submetidos a cocção, estocados, conservados e distribuídos em ambientes escrupulosamente limpos e higienizados. Durante os surtos de cólera, é preferível que os alimentos sejam cozidos e servidos quentes e que as saladas cruas sejam suprimidas.

g) O consumo de frutos do mar deve ser restrito aos de boa procedência que, mesmo assim, devem ser cozidos por mais de 10 minutos, antes de serem servidos.

h) As moscas e baratas devem ser controladas pelo uso de telas metálicas nas aberturas, pelo controle dos focos de proliferação (monturos), pelo uso de armadilhas e pelo rociamento com inseticidas eficazes, com o objetivo de evitar a contaminação mecânica dos alimentos.

i) O controle sanitário de todas as indústrias de alimentos e de bebidas e dos restaurantes deve ser reforçado pela Vigilância Sanitária. A água utilizada nos processos industriais e na lavagem do vasilhame deve ser absolutamente segura.

j) As medidas de proteção à infância devem ser reforçadas. A amamentação até os seis meses deve ser estimulada, e os cuidados higiênicos relativos à alimentação devem ser reforçados.


4. Controle dos Pacientes, dos Contatos e do Meio Ambiente Imediato

- A notificação à autoridade sanitária local é obrigatória.

- O isolamento dos pacientes em hospitais, durante o período sintomático agudo, deve ser realizado em enfermarias, escrupulosamente limpas e asseadas e com pessoal especialmente adestrado. O controle das moscas deve ser observado.

- A desinfecção concorrente das fezes, vômitos, vestuário, roupas de cama e objetos de uso do paciente (fômites) deve ser rigorosamente observada. O material deve ser tratado com ácido carbólico e outros desinfetantes e recolhido em sacos plásticos de duplo envoltório, devendo ser lavado, em abundância, com desinfetantes e, em seguida, autoclavados (esterelizados). Uma preocupação especial deve ser dada à eliminação das fezes, que devem ser submetidas a uma enérgica desinfecção preliminar.

- Os contatos familiares devem ser tratados profilaticamente com tetraciclina ou furasolidina.

- A investigação das prováveis fontes de infecção pela vigilância epidemiológica, deve ser rigorosa.

- O tratamento específico e sintomático é de capital importância para recuperar os pacientes e evitar a morte desnecessária dos mesmos.

A reposição dos líquidos, com volumes adequados de soluções eletrolíticas, para corrigir a desidratação, a acidose e o desequilíbrio eletrolítico, é de capital importância para evitar a morte do paciente.


Para a maioria dos pacientes, é possível fazer a reidratação oral, e para os pacientes em choque, é indispensável a reidratação endovenosa:

- A solução oral – distribuída pelo Ministério da Saúde – é constituída de 20g/l de glicose ou 40 g/l de sacarose, 3,5g/l de cloreto de sódio 2,5g/l de bicarbonato de sódio e 1,5g/l de cloreto de potássio em volumes equivalentes à perda líquida estimada.

- As soluções endovenosas também foram padronizadas pelo Ministério da Saúde – OMS – e contêm 4g de cloreto de sódio, 1g de cloreto de potássio, 6,5g de acetato de sódio, 5,8g de lactato de sódio e 8g de glicose por litro. O ringer-lactato também é utilizado, da mesma forma que a solução Dacca.

Após restabelecida a volemia, pode-se continuar o processo de reidratação por via oral.

O tratamento específico é realizado com as tetraciclinas.


5. Medidas a serem Tomadas em Casos de Surtos Epidêmicos

a) Implementar as atividades de educação sanitária no sentido de reduzir as vulnerabilidades da população ao problema.

b) Providenciar instalações adequadas e seguras para o tratamento dos pacientes e reciclar o pessoal responsável pela assistência.

c) Adotar medidas de saneamento emergencial, destinadas a assegurar o abastecimento adequado da água e a eliminação sanitária das fezes, em áreas desprovidas de saneamento básico.

d) Providenciar instalações apropriadas e seguras para garantir uma adequada eliminação dos dejetos.

e) Intensificar as atividades de vigilância epidemiológica, com o objetivo de permitir a rápida identificação dos enfermos, das fontes de infecção e dos mecanismos de transmissão, com o objetivo de facilitar o planejamento de contingência para controlar o surto epidêmico, no mais curto prazo possível.

f) Intensificar as atividades de vigilância sanitária, com o objetivo de fiscalizar a produção de alimentos e bebidas e garantir o controle de qualidade dos estabelecimentos responsáveis pelo preparo e comercialização de alimentos.

g) Incrementar as medidas de saneamento básico relacionadas com o (a):

- tratamento e distribuição da água potável;

- esgoto sanitário e tratamento dos dejetos;

- limpeza urbana e recolhimento e destinação do lixo;

- controle de moscas e de outros vetores mecânicos que possam contribuir para a disseminação do vibrião.


6. Implicações em Desastres

A cólera foi reintroduzida recentemente no Brasil, a partir das regiões fronteiriças com o Peru e a Colômbia e disseminou-se pelas demais regiões do País.

No momento atual, a Região Nordeste, cuja população sofre um problema crônico de abastecimento de água é a mais atingida pela endemia, que recrudesce nos períodos de seca. Em 1999, foram registrados 4.498 casos, dos quais 89,5% ocorreram no Nordeste. 

No ano de 2000, ocorreram 576 casos (até julho), coincidindo com o período de chuvas normais.

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