22 maio 2020

LO VI - P E S T E CID 020 - CODAR – HB.VPE/CODAR 23.106 - Caracterização - Dados Epidemiológicos - Agente Infeccioso - Distribuição Geográfica - Reservatórios e Mecanismos de Transmissão - fontes de exposição que causam a doença em humanos - Período de Incubação e de Transmissibilidade - Suscetibilidade e Resistência - Medidas Preventivas - Educação Sanitária - Vigilância Epidemiológica - Vigilância Sanitária - Práticas de Desratização e de Despulinização - Controle dos Pacientes, dos Contatos e do Meio Ambiente Imediato - Participação da Defesa Civil


TÍTULO VI

P E S T E CID 020

CODAR – HB.VPE/CODAR 23.106


1. Caracterização

A peste é uma doença de animais – zoonose – que envolve roedores e suas pulgas, as quais podem transmitir a infecção para outros animais silvestres e domésticos e, ocasionalmente, para seres humanos.

Normalmente, a reação inicial é uma linfoadenite, que se localiza nos gânglios que recebem a drenagem linfática do local da picada da pulga – caracterizando a peste bubônica.

Em aproximadamente 70% dos casos, o bubão localiza-se na região inguinal, mas pode localizar-se também nas axilas e na região cervical.

Os gânglios linfáticos comprometidos apresentam uma intensa reação inflamatória, que se caracteriza pelos “quatro or”: tumor, rubor, calor e dor, ou seja, os gânglios inchados apresentam coloração avermelhada, apresentam-se aquecidos e doem. É normal que os gânglios coalesçam, fistulem e supurem. Na fase de formação do bubão, a febre já se faz presente, acompanhada de adinamia (debilidade) e cefaléia (dor de cabeça).

Todas as formas de peste, inclusive os casos de inoculação local inaparente, podem evoluir para uma fase em que os bacilos invadem a corrente sanguínea e passam a se multiplicar aí, caracterizando a peste septicêmica, que provoca a disseminação da doença para órgãos, como os pulmões – peste pneumônica – e meninges – meningite pestosa.

A infecção dos pulmões provoca uma pneumonia extremamente grave, com efusão pleural e comprometimento dos gânglios do mediastino. A peste pneumônica tem uma significação epidemiológica especial, ao permitir que a peste passe a disseminar-se, a partir da inalação de gotículas de catarro contaminado, em suspensão no ar, dando origem a casos de peste pneumônica primária, com comprometimento da faringe.

O desenvolvimento das técnicas de desratização e de despolinização e, acima de tudo, o advento da terapia antibiótica, com tetraciclina, contribuíram para reduzir a capacidade infectiva e a mortalidade causada pela peste que, nos casos não tratados, ultrapassava 50%. No momento atual, a peste é francamente curável e, se o tratamento for precoce, não ocorrem seqüelas.

O diagnóstico da peste, suspeitado pelo quadro clínico e pelas condicionantes epidemiológicas, é confirmado laboratorialmente, pelos exames microscópicos e pelas provas sorológicas, com técnicas de imunofluorescência.

Em lâminas coradas pelo método de Gram, a microscopia permite caracterizar bactérias gram-negativas, com coloração bipolar e de forma normalmente ovóide, em material aspirado do bubão, do sangue (peste septicêmica) ou do escarro (peste pneumônica).


2. Dados Epidemiológicos


a. Agente Infeccioso

O agente infeccioso é o bacilo da peste –Yersina pestis ou Pastenrella pestis, de acordo com a nomenclatura antiga. Este microorganismo gram-negativo, com característica coloração bipolar e normalmente de forma ovóide (bacilo curto), demonstra nos antibiogramas sensibilidade às tetraciclinas.


b. Distribuição Geográfica

A peste, que na Antiguidade e na Idade Média comportou-se como um dos maiores flagelos da humanidade, nos dias atuais tende a se caracterizar como uma doença de roedores domésticos que pode, ocasionalmente, provocar casos humanos isolados. Nas condições atuais, a vigilância epidemiológica e a vigilância sanitária crescem de importância, com o objetivo de limitar as áreas vulneráveis à doença e de facilitar o diagnóstico precoce e bloquear a disseminação para seres humanos.


Existem pestes em roedores silvestres, com riscos de ocorrência de casos humanos isolados:

- em áreas pontuais do México, do Caribe, da América Central e da América do Sul;

- no terço ocidental do território dos Estados Unidos da América;

- nos países da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, atualmente Confederação dos Estados Independentes – CEI;

- nos países do Oriente Médio e da Ásia Central e Sul Oriental.


No Brasil, a doença foi introduzida, em 1889, no porto de Santos e, em 1900, no porto do Rio de Janeiro. Em 1902, surgiu em cidades portuárias de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Sul e, em 1903, do Pará e do Maranhão. Paraná, Espírito Santo e Sergipe foram atingidos em 1906; a Paraíba, em 1912. Alagoas, em 1914 e Minas Gerais, em 1936.


A história natural da doença no Brasil desenvolveu-se, em três períodos:

- No primeiro período a peste atingiu os principais portos do Brasil.

- Numa segunda fase, disseminou-se pelas rotas de comércio, para as cidades do interior.

- Na terceira fase, a peste foi erradicada nos centros urbanos, mas permaneceu como uma zoonose com ocorrência de casos humanos isolados, nas áreas rurais dos

Estados do: Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Norte de Minas Gerais e áreas serranas do Rio de Janeiro.


c. Reservatórios e Mecanismos de Transmissão

Os roedores silvestres são os reservatórios naturais da peste. Os logomorfos (coelhos e lebres), os carnívoros e os roedores domésticos podem ser contaminados por pulgas infectadas e podem ser fonte de infecção humana.

A peste nos seres humanos ocorre quando estes se introduzem no ciclo de transmissão zoonótica ou quando animais silvestres infectados transmitem a doença, por intermédio das pulgas, para roedores urbanos e, a partir daí, para o homem.


As fontes de exposição que causam a doença humana são:

- as picadas de pulgas infectadas, especialmente a Xenophylla cheopis, nos surtos urbanizados e a Polygenes bohlsi Jordani, nos casos silvestres;

- as gotículas de catarro infectado e os fômites (material infectado pelas secreções purulentas), especialmente no caso de pacientes com peste pneumônica;

- as culturas de laboratório e a manipulação de tecidos de animais infectados, inclusive carnívoros e carniceiros que podem se infectar ao se alimentarem em locais infestados de pulgas infectadas;

- contatos com fezes de pulgas contaminadas.


d. Período de Incubação e de Transmissibilidade

Os primeiros sinais e sintomas ocorrem de 2 a 6 dias após a picada, podendo ser observado nos casos de peste pneumônica ou dilatados, em função do nível de imunidade.

Teoricamente, as pulgas permanecem infectantes durante toda a vida. Normalmente, a peste bubônica é transmitida pela picada da pulga infectada, mas pode ser transmitida pelas gotículas de catarro ou por secreções purulentas, especialmente nos casos de peste pneumônica.


e. Suscetibilidade e Resistência

A suscetibilidade é universal. Os estratos populacionais de baixo nível econômico e social e que vivem em residências com poucas condições de higienização e em ambientes confinados e infestados de pulgas e roedores são mais vulneráveis aos riscos de surtos de doença. A vacinação com três doses confere imunidade por aproximadamente um ano.


3. Medidas Preventivas

O objetivo fundamental da prevenção é reduzir a probabilidade de que seres humanos sejam picados por pulgas contaminadas ou expostas a pacientes com peste pneumônica.

As principais medidas preventivas relacionam-se com a educação sanitária, vigilância epidemiológica, vigilância sanitária e com as práticas de desratizaç ão e de despulinização (extermínio das pulgas).


a) Educação Sanitária

Nas áreas de risco, a educação sanitária tem por objetivo educar a população sobre:

- os riscos da doença e os mecanismos de transmissão;

- o controle do lixo urbano e doméstico;

- as medidas de desratização e de redução da população de pulgas;

- o controle das infestações de pulgas em animais domésticos e em seres humanos,

mediante o uso de inseticidas apropriados;

- a redução dos riscos relacionados com a contaminação em áreas de peste silvestre.


b) Vigilância Epidemiológica

A vigilância epidemiológica controla a ocorrência de casos humanos obrigatoriamente notificados. Controla a população de roedores nos ambientes urbanos e os índices de infestação por pulgas. Vigia os focos de peste silvestre, por intermédio de exames sorológicos de roedores silvestres e dos carnívoros.


c) Vigilância Sanitária

A vigilância sanitária controla os portos e terminais de transportes internacionais e se responsabiliza pela supervisão das atividades relacionadas com a destruição de todos os ratos e de pulgas em navios, docas e armazéns e controla, com especial atenção, as cargas oriundas de países com problemas de peste endêmica e dos viajantes expostos à contaminação, que devem ser isolados e observados durante sete dias.


d) Práticas de Desratização e de Despulinização

Todas as embarcações, contêineres e vagões ferroviários devem ser mantidos livres de roedores e devem ser desratizados periodicamente. As edificações, especialmente as localizadas em terminais de carga, devem ser construídas à prova de ratos (blindadas), com todas as possíveis entradas bloqueadas e devem ser desratizadas e despulinizadas periodicamente.


4. Controle dos Pacientes, dos Contatos e do Meio Ambiente Imediato

- O regulamento internacional exige a notificação de todos os casos suspeitos ou confirmados de peste.

- A investigação da fonte de infecção e dos contatos é obrigatória. Descoberta a fonte de infecção, o controle das pulgas deve preceder ou coincidir com o controle dos ratos. Pulverizar com inseticidas as trilhas dos roedores e os locais de ninhada, as dependências da casa, o mobiliário, as pessoas, as roupas e os animais domésticos é medida indispensável. Numa segunda fase, há que eliminar o rato e controlar o lixo orgânico, para evitar reinfestações.

- Os contatos humanos, além de desinfestados com a aplicação de inseticidas, devem ser submetidos a quimioprofilaxia e mantidos sob observação durante sete dias.

- Os pacientes devem ser isolados e tratados com antibióticos específicos e especialmente nos casos da peste pneumônica, devem ser considerados como contaminantes ativos até que se completem 48 horas de resposta clínica favorável à antibioticoterapia adequada. O uso de luvas, máscaras e aventais descartáveis é obrigatório, da mesma forma que as atividades de descontaminação concorrente e terminal.

- A quarentena é de sete dias para todos os contatos.

- A antibioticoterapia específica deve ser desencadeada, o mais precocemente possível e em doses adequadas. Como existem cepas resistentes a alguns antibióticos, a comprovação da eficiência, com antibiogramas e ajustamento da terapêutica, pode tornar-se necessária.


5. Participação da Defesa Civil

Especialmente nas áreas de riscos de contaminação, próximas a focos de peste silvestre, sob a forma de zoonoses, a participação das COMDEC e dos NUDEC, em campanhas educativas é indispensável.

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