Psicologia dos acidentes
As pessoas tendem a reagir de forma diferente ao perigo, entretanto,
as reações gerais mais comuns são a ansiedade e o medo, talvez as mais fortes
de todas as emoções. No exato momento em que o impacto ocorre, a vítima, na
maior parte das vezes, pressente a sua ocorrência instantes antes, a dor ou
outros quadros de ordem psicológica ainda não se manifesta. Segundos depois, a
vítimas se encontra em estado de estupor sem saber realmente o que havia
ocorrido; a partir do momento em que tomam consciência do fato, começam a
surgir os primeiros sinais de dor, não raro de forma aguda, surgem sintomas que
caracterizam a ansiedade, o medo e, por vezes, o pânico.
Quando acompanhado, a primeira preocupação, geralmente, é com os
demais ocupantes do veículo, especialmente se tiverem fortes laços de
relacionamento.
Nesse momento, o quadro se diversifica podendo dar lugar à clássica
trilogia do medo (luta - fuga - inércia), em que a vítima terá como padrão de
conduta uma ou mais condutas tais como:
a) procura se auto-liberar e abandonar o veículo;
b) já auto-liberada procura ajudar as outras vítimas;
c) entra em desespero;
d) entra em bloqueio psicológico;
e) tem alternância entre crises de ansiedade relaxamento muscular,
principalmente quando ainda presa nas ferragens.
Recursos de atendimento e controle
Tipos de pessoas atuantes
Grupo 1- Sobreviventes:
A reação imediata dos sobreviventes, uma vez que descobriram que não
estão seriamente feridos é a de ajudar os demais. Eles, normalmente, não sabem
o que fazer, mas sentem que devem fazer algo para ajudar os outros. Essa
situação em que pessoas destreinadas, em estado de choque, procuram prestar
socorro sem qualquer preparo técnico e sob forte tensão emocional, merecem especial
atenção por parte das equipes de resgate, quando da sua chegada, uma vez que
tal fato constitui sério risco.
Grupo 2 - Pessoas destreinadas (curiosas):
A segunda classe de prestadores de serviço é constituída por aquelas pessoas
que, presenciando o evento ou nos seus arredores, se deslocam para o local,
motivadas pela curiosidade ou pelo sentimento de ajuda e socorro às vítimas.
Grupo 3 - Pessoas treinadas:
O terceiro grupo a comparecer ao local do acidente é composto de
pessoas treinadas, como bombeiros, Defesa Civil, Polícia Rodoviária,
organizações emergenciais (constituídas por profissionais especializados na
área de resgate e medicina de urgência).
As primeiras preocupações
desse grupo deve ser inicialmente duas:
1ª - evitar novos riscos associados ao acidente;
2ª - prestar socorro à(s) vítima(s).
Características das equipes de resgate
O trabalho de resgate não constitui um trabalho fácil, nem glamouroso.
Certamente, nem todas as pessoas se adequam a tal tipo de serviço. Capacidade
técnico-profissional, preparo físico, liderança, motivação, iniciativa,
criatividade, cooperação, controle sobre o medo (fobia), boa aparência e
comportamento são fatores que juntos contribuem para uma melhor ação por parte
do bombeiro.
Devem se destacar como
principais atributos aos bombeiros
militares:
a) capacidade
técnico-profissional - ser capaz de operar todos os equipamentos de
resgate, bem como conhecer sua aplicabilidade sob as mais diversas situações.
b) preparo físico - o trabalho de resgate cria a necessidade de uma demanda física que,
geralmente, continua por longos períodos. É fundamental a preocupação do
bombeiro com a manutenção do seu preparo físico.
c) liderança - é importante para gerenciar o evento mantendo a ordem do cenário e
a estabilidade emocional dos presentes, bem como coordenar as ações, o pessoal,
e os recursos locais.
d) motivação - os bombeiros devem estar preparados para continuar se mantendo
constantemente treinados, independente das situações administrativas ou
políticas, sob um mesmo padrão técnico-profissional.
e) iniciativa - o bombeiro deve ser capaz de executar operações de acordo com
determinada situação independente de ordem dentro de padrões de conduta
pré-estabelecidos.
f) criatividade - cada situação é única. O bombeiro deve estar apto a aplicar um
grande número de recursos e técnicas frente a novas situações.
g) cooperação - o trabalho de resgate é um esforço de equipe.
h) controle sobre o medo
(fobias) - é importante que os bombeiros estejam
conscientes de suas limitações. Parte desse conhecimento deve ser sobre as
fobias. É fundamental que o líder da equipe conheça, detalhadamente, as
limitações da sua equipe.
i) boa aparência e
comportamento - a aparência e o comportamento da equipe de
resgate devem instituir confiança nos outros e, principalmente, sobre a vítima.
j) sensibilidade – o bombeiro deve possuir a capacidade de experimentar sentimentos
humanitários, de ternura, simpatia e compaixão para com a(s) vítima(s),
transmitindo-lhe(s) confiança, tranqüilidade e apoio.
Composição do serviço de salvamento
O Serviço de Salvamento Rodoviário (SSR) é constituído por duas unidades de intervenção: uma de resgate
rodoviário (Unidade de Resgate Rodoviário - URR) e outra de medicina de emergência (Unidade de Medicina de
Emergência - UME).
A Unidade de Resgate
Rodoviário (URR) compõe-se de:
- viatura de resgate rodoviário com equipamentos específicos;
- equipe de resgate rodoviário, constituída por bombeiros.
A Unidade de Medicina de
Emergência (UME) compõe-se de:
- viatura tipo unidade de tratamento intensivo (UTI) - unidade de trauma
com equipamentos específicos e, equipe de emergências médicas constituídas por:
- médico;
- auxiliar de enfermagem.
Os membros da equipe
possuem as seguintes atividades:
O motorista bombeiro:
- faz a aproximação do local do evento com segurança;
- sinaliza o local do acidente;
- posiciona corretamente a viatura de forma a facilitar a retirada dos
equipamentos de desencarceramento, bem como as demais atividades;
- aciona a equipe de apoio caso não esteja operando no local e a situação
assim exija;
- dá segurança no local do acidente, desde o isolamento da bateria até o derramamento de óleo ou gasolina;
- mantém a vigilância sobre todo equipamento;
- mantém acionado, durante todo o tempo o corpo de bomba da viatura
com água ou outro recurso de combate ou prevenção de incêndios (extintor) com a
finalidade de realizar um rápido combate às chamas;
- mantém contato permanente via rádio com a sua unidade;
- exerce, cumulativamente, as funções previstas para bombeiro.
A guarnição de bombeiro:
- faz uma rápida avaliação do local identificando os riscos associados
ao evento (alta tensão, vazamento de combustível, produtos perigosos,
instabilidade do veículo, escombros, barreiras em condições de deslizamento e
incêndio);
- elimina os riscos associados que impeçam a operação de
resgate;
- define o isolamento e sinalização do sistema viário local;
- remove os restos de vidro e detritos da viatura;
- faz a cobertura dos pontos cortantes;
- solicita o Suporte Básico de Vida (SBV) à equipe de emergências
médicas, incluindo a imobilização da(s) vítima(s), se necessário;
- realiza o resgate;
- faz as anotações necessárias;
- faz a coleta de bens, bem como o seu acautelamento;
- realiza a entrega do local e dos bens à autoridade que se fizer presente;
- solicita o apoio do Corpo de Bombeiros após a avaliação inicial, caso
necessário;
- no caso da presença do Corpo de Bombeiros, trabalhará sob as ordens
do Comandante de Socorro;
- faz o resgate de vítima(s) de locais de difícil acesso;
- solicita e coordena o auxílio dos demais na operação de resgate.
O médico da equipe de resgate:
- mantém o Suporte Básico de Vida (SBV) e a imobilização da(s) vítima(s)
até o seu total desencarceramento;
- após o desencarceramento, executa e, se necessário, na UTI, o Suporte
Avançado de Vida (SAV);
- identifica o centro hospitalar e conduz para o mais próximo e/ ou
mais equipado.
O motorista socorrista:
- idem as funções do motorista bombeiro;
- auxilia no transporte da vítima para a UTI.
Comportamento do bombeiro
A conduta dos elementos da equipe constitui uma indicação de seu
nível. A natureza do serviço de resgate torna-se maior pelo fato de que o
pessoal não se afeta pela natureza do quadro que se apresenta.
Isso deve contribuir para que seja criada uma atmosfera de serviço em que
se demonstre competência e tudo o que é possível, ser feito para socorrer e
atender os envolvidos no acidente.
Algumas características de
comportamento são imprescindíveis a esse tipo de trabalho:
a) atitude - séria e profissional antes de tudo; deve ser tomada e mantida
no sentido de buscar a confiança e o apoio.
b) emoções - por vezes, são difíceis de controlar em muitas
circunstâncias. Em um acidente, o controle das emoções é um trabalho difícil.
Entretanto, cada esforço deve ser feito no sentido de prevenir emoções adversas
que influenciem uma análise criteriosa da situação ou o desempenho pessoal. A
despeito de toda tensão gerada no local do acidente, o bombeiro deve ter a
habilidade de se manter calmo e simpático sem se envolver com o quadro.
c) cortesia - cortesia, tato e bom senso são vitais. Se o trabalho de
resgate é realizado de forma rápida e eficiente, a cortesia, por intermédio de
elogio, constitui um elemento motivacional para um melhor desempenho da equipe.
Material utilizado:
- viaturas de intervenção;
- equipamentos.
Fazem parte do equipamento das viaturas de resgate e combate a
incêndio os seguintes materiais:
- equipamentos de corte: constituem exemplos desse tipo de equipamento
as motos-abrasivas, facas, aparelhos corta frio, conjunto hidráulico de
salvamento Lukas (tesoura) etc.
- equipamentos de tração: constituem exemplos desse tipo de equipamento
os do tipo Tirfor, conjunto hidráulico de salvamento Lukas quando usando um
sistema de conexão inversa.
- equipamentos de expansão: é o conjunto hidráulico de salvamento
Lukas.
- equipamentos de uso geral e apoio: são os geradores, refletores,
croques, equipamentos de proteção respiratória, todos aqueles que garantam o
suporte necessário à execução das operações. etc.
Fatores que afetam a chegada do socorro ao local
Diversos fatores poderão dificultar a chegada do socorro ao local, entre
eles temos:
- volume de tráfego (engarrafamentos);
- bloqueio total de pista;
- desvios;
- condições da rodovia.
Abordagem do evento
A abordagem do evento deve ser feita com toda cautela, com todo o
sistema de iluminação convencional externo e interno do veículo, além da de
emergência ligada, bem como o sistema de sonorização de emergência, podendo o
chefe da equipe de resgate utilizar o sistema de som de sua viatura
(alto-falantes) para pedir o afastamento das pessoas do local.
Por vezes, alguns fatores (tais como estradas interrompidas por outros
veículos, como já dito anteriormente, ou pela ação do vento ao transportar
nuvens tóxicas em caso de acidentes envolvendo produtos perigosos) podem
limitar essa abordagem.
Congestionamentos de trânsito originados pelo próprio evento não
permitem uma aproximação rápida do socorro, fazendo com que as viaturas fiquem
retidas no engarrafamento, com isso, a equipe de resgate deve deslocar-se para
o local a pé, levando os seguintes materiais portáteis básicos que possam
auxiliar no início do resgate:
- pé de cabra;
- tesourão;
- extintor de pó químico seco;
- maca;
- cordas.
Ao aproximar-se do local, já se pode ter uma idéia do quadro que se
apresenta, uma vez que populares com gestos indicam a presença de vítimas ainda
vivas; enquanto que, em um quadro que se encontra um público com pessoas
paradas, indicam vítimas fatais ou acidente sem vítimas.
Avaliação tática
A avaliação tática inicial é feita desde a aproximação do local do evento,
pois alguns pontos deverão ser imediatamente observados, tais como:
- disposição do local;
- riscos associados;
- tipo de colisão.
Disposição do local
O local do evento apresentará sempre um arranjo especial de acordo com
a sua natureza e extensão.
Riscos associados (primeira fase)
Nessa avaliação, alguns riscos deverão ser logo observados:
- cabos de alta tensão caídos próximo aos veículos;
- vazamento ou derramamento de combustíveis;
- vazamento ou derramamento de produtos perigosos;
- veículos em condições instáveis;
- escombros;
- barreiras em condição de colapso;
- incêndio.
Riscos associados (segunda fase)
Quanto ao envolvimento de veículos nos acidentes rodoviários, eles
podem se apresentar sob as seguintes formas:
- colididos frontalmente;
- colididos por trás;
- colididos lateralmente;
- colididos contra objetos estáticos (postes, muros etc.);
- colididos contra veículos de porte maior (caminhões, trens etc.);
- capotados;
- tombados;
- sobre ou sob outros veículos;
- em outros níveis acima ou abaixo da sua via de deslocamento;
- com objetos sobre o veículo (postes, muros, marquises, etc.);
- dobrados em torno de objetos estáticos (postes, muros etc.);
- divididos por objetos estáticos (postes, muros etc.);
- outras formas exigirão uma tática especial de ação conforme o quadro
se apresentar.
Posicionamento das viaturas no local do evento
O posicionamento das viaturas possui duplo efeito em uma operação de resgate em um acidente rodoviário: o primeiro é o de assegurar
a segurança necessária à execução das operações, tanto para os bombeiros e,
principalmente, para a vítima; o segundo é o de tornar o trabalho mais cômodo,
evitando desgastes físicos desnecessários.
Os seguintes aspectos devem ser observados ao serem posicionadas as
viaturas de emergência:
- topografia do local do evento, incluindo curvas na estrada e
barrancos que impeçam a visualização de outros veículos;
- distâncias superiores a 100 (cem) metros contrários à direção do vento
em emergências envolvendo produtos perigosos;
- posicionamento de veículos na “posição de fenda” (figura 321);
- acesso e saída de outros veículos de socorro e/ou apoio ao local do evento;
- preservação da posição dos veículos e outros indícios do acidente para fins periciais;
- limitações de distância de emprego dos equipamentos fixos do veículo de socorro tais como linhas de mangueiras, cabos hidráulicos de cunhas expansoras etc.
Se o veículo de socorro só tiver condições de ser localizado longe dos veículos envolvidos, deverá ser estabelecida uma comunicação entre ambos por meio de rádios portáteis.
Após a avaliação tática inicial, as informações relativas ao evento devem ser passadas ao Centro de Operações assim que possível.
Toda a área de ação deverá ser protegida por cones de sinalização.
Isolamento do local
É vital estabelecer o controle da situação do local logo que possível, por meio do isolamento, objetivando definir e gerenciar a área do evento, dando uma maior atenção, logo durante a fase inicial de avaliação quanto:
a) ao odor de combustíveis vazando;
b) à localização das vítimas, seu estado e como se encontram (retidas ou não);
c) aos riscos potenciais próximos ao local do evento.
Os veículos não devem ser tocados pelos bombeiros até que quaisquer possibilidades de eletrocussão, devido à queda de cabos elétricos sob o veículo, sejam eliminadas.
Círculo de trabalho exterior
É a área demarcada que se situa fora do círculo interior onde estão demarcadas as seguintes áreas (figura 323):
- sistemas de desencarceramento e liberação (sobre uma lona ou plástico de cor visível);
- ambulância;
- viatura de salvamento;
- bens recolhidos (dentro de um saco plástico);
- depósito de destroços.
Nessa área, devem ser realizadas buscas dentro de um raio de, aproximadamente, 30m de distância visando à possibilidade de existência de pessoas ejetadas do veículo e/ou outros riscos associados.
Sinalização do acidente
Os acidentes normalmente causam problemas ao fluxo de trânsito, sendo de primordial importância que seja conferida determinada sinalização ao local, a qual visa à proteção dos veículos em trânsito, bem como do pessoal envolvido nas operações. Devendo ser observado a disposição do sistema de alerta e o controle de tráfego.
Disposição dos sistemas de alerta
Em acidentes rodoviários, cones, luzes estroboscópicas, placas e outros dispositivos similares de sinalização deverão ser utilizados.
Esses dispositivos deverão ser colocados em locais de fácil visualização e de forma tal que todos os motoristas que passam pelo local tenham condições de reação (frenagem) dentro de uma determinada margem de segurança. Os fatores que devem ser considerados para uma sinalização eficiente são:
a) topografia rodoviária;
b) limites de velocidade estabelecidos;
c) distâncias para frenagem dos veículos;
d) volume de tráfego;
e) condições meteorológicas.
ou seja:
Distância de frenagem (M) = Velocidade máxima (Km/h) x 1,5
Controle de tráfego
O diagrama adiante mostra um procedimento de controle de tráfego para assegurar a segurança do local.
A sinalização deverá ser feita de cada lado do evento para uma maior
segurança.
É vital estabelecer o controle da situação do local logo que possível, por meio de isolamento, objetivando definir e gerenciar a
área do evento.
Devem ser tomadas as seguintes medidas, obrigatoriamente, nesta ordem,
logo após ser feita a avaliação tática Inicial, quando já se tem uma noção
global, mais definida:
1º) isolamento do local do evento e sinalização viária, como forma de
evitar novos acidentes (figura 324);
2º) armação da linha de ataque.
Estabilização dos veículos acidentados
Podem ser encontradas diversas situações em que o veículo esteja
capotado, tombado ou próximo a um precipício, antes que se toque nele, deve ser
realizada a sua estabilização, evitando desde traumatismos (TCE, TCV),
agravamento de hemorragias até a queda completa do veículo que pode, sem sombra
de dúvida, causar a morte das vítimas.
Todos os veículos deverão ser estabilizados antes de quaisquer ações
de resgate. Veículos em condições de instabilidade oferecem riscos especiais
para as vítimas e para os bombeiros.
Sob nenhuma circunstância, um veículo deverá ser tombado ou virado com
vítimas no seu interior.
A estabilização pode ser
conseguida por meio de vários meios:
Calços ou cunhas, macacos expansores, esticadores e sacos de ar; macacos
hidráulicos devem ser usados para levantar ou estabilizar o veículo, mas devem
ser evitados os macacos mecânicos, pois eles não são ideais para essa situação.
Numa emergência, vários materiais podem ser utilizados para a estabilização,
incluindo o macaco mecânico, o pneu reserva, o capô e a tampa do porta-malas.
Os calços podem ser feitos de madeira de 5cm x 10cm ou 11cm x 10cm com
cerca de 41 a 61cm de comprimento. Os calços devem ser fortes e de madeira
inacabada, porque superfícies pintadas também podem se tornar escorregadias
quando molhadas. Madeiras de lei, como, por exemplo, o carvalho ou peroba,
devem ser usados, se possível. As cunhas
podem ser feitas do mesmo material (de 41cm x 61 cm de comprimento e 5 a 15cm
de espessura).
Nos casos de capotagens, podem ser usados os exemplos de estabilização
com calços conforme figura abaixo:
Veículos em colinas ou penhascos
Quando o veículo estiver na encosta de uma colina, devem ser amarrados cabos e ancorados a árvores, postes, carros guincho ou qualquer ponto fixo antes de realizar o salvamento. Às vezes, mover ou balançar o veículo irá lançá-lo colina abaixo. Quando o carro estiver equilibrado no penhasco, remover as vítimas poderá fazer o veículo mudar de posição e despencar.
Deve-se amarrar correntes ou cabos para a ancoragem antes de realizar o salvamento. As cordas são enfraquecidas quando em contato com uma superfície afiada, que pode cortá-las (figura 326).
2 Ônibus e veículos pesados com suspensão a ar
Deve ser tomado extremo cuidado quando se trabalhar com veículos com sistema de suspensão a ar, que use foles de borracha para suportar e nivelar o veículo em cada roda, com ar de um compressor.
Quando o veículo estiver envolvido num incêndio ou acidente, os foles poderão falhar e o veículo tombará a aproximadamente 77mm do solo e qualquer pessoa que esteja próxima ou trabalhando sob esse veículo poderá ser ferida ou morta. Quando elevar o ônibus, posicione o apoio do macaco no ponto específico à frente ou à retaguarda das rodas, eleve, com apoio do macaco. Em qualquer outro lugar, o macaco poderá romper a lataria.
Em determinadas situações, deve-se zelar também pelo próprio estado do veículo evitando destruir o que não foi destruído no acidente.
Em determinadas condições, o uso de cabos de aço sob a ação de cargas de tração poderão cortar partes inteiras de lataria fazendo com que o prejuízo seja maior ainda. Por outro lado, adiciona-se o risco suplementar de um novo tombamento ou queda do veículo. Nesse caso, deve ser feita a proteção das partes sensíveis do veículo com lonas e, quando a situação permitir, deve-se utilizar fitas tubulares de nylon das do tipo usado em montanhismo, as quais possuem uma resistência de 200 Kgf.
Riscos de incêndio
Um risco potencial de incêndio e/ou explosão está sempre presente quando, em acidentes de veículos, houver vazamento de combustível. Na fase “avaliação inicial”, deve-se observar, em vários locais, a presença de combustível. A atenção especial deverá ser concentrada em:
a) tipo de combustível utilizado (GLP, gasolina, álcool ou diesel);
b) vazamento de combustível sob o veículo;
c) rompimento da tubulação de combustível que vai do tanque ao carburador;
d) presença de transporte irregular de combustível.
Para evitar tal ocorrência, deixa-se, durante toda a fase de operação, uma linha de mangueira armada, já pressurizada para um ataque inicial ou, na inexistência desta, extintores de Pó Químico Seco (PQS) de 6 Kg, no mínimo, 2 (dois). A razão da opção pelo extintor de PQS baseia-se na sua maior eficiência de emprego ao ar livre, consideravelmente superior ao de dióxido de carbono (CO2).
Uma medida adicional que se tornou modus operandi ao longo dos anos consiste no esvaziamento e na diluição do combustível presente nos tanques de combustível, entretanto, tal medida só deverá ser levada a efeito quando apresentar considerável risco para a operação a presença de combustível no tanque (figura 327).
Bateria do veículo
Um risco especial consiste na bateria dos veículos. Além do ácido presente
nessas baterias causar queimaduras nos bombeiros, uma bateria mal desconectada
ou com energia elétrica presente poderá originar incêndio e/ou explosão do
veículo por centelhas.
Na seqüência de desligamento da bateria, deverá se fazer, preferencialmente, o desligamento do borne negativo correspondente ao
“terra” do veículo, ou seja, de toda a carroceria do carro, uma vez que está
desligada uma área maior de risco (todo o veículo) será minimizada.
Maneabilidade operacional
Os bombeiros devem tomar cuidado especial para reduzir os efeitos
psicológicos que alguns ruídos indesejáveis, mas necessários (vibrações,
movimentos, conversações), têm sobre a vítima:
- A vítima deve ser avisada e preparada para evitar a ansiedade e o
medo;
- Vibrações podem adicionar lesões e causar dor;
- Imobilização e tranqüilização verbal podem ser necessárias para
prevenir o choque ou complicações de lesões;
- Movimentos súbitos devem ser evitados para prevenir lesões
adicionais e efeito psicológico que eles podem ter sobre a vítima;
- Boa comunicação, treinamento adequado e trabalho em equipe são
essenciais para evitar os efeitos negativos;
- As conversações devem ser limitadas apenas a assuntos importantes;
- Evitar descrições minuciosas das condições da vítima, da extensão dos danos do veículo e fala em tons altos;
- Conversa para tranqüilizar a vítima é aconselhável e ajuda
psicologicamente.
Deve ser limitado o acesso
à vítima somente a membros da equipe treinados e habilitados.
Será feito um desmantelamento sistemático do veículo ou dos restos até
que o desejado aumento de espaço seja conseguido, para remover a vítima.
Não esquecer as duas regras fundamentais de salvamento em acidentes
rodoviários:
- não remova a vítima até que os primeiros socorros tenham sido administrados;
- retire os destroços que envolvam a vítima e não a vítima dos destroços.
O princípio da remoção de destroços sobre a vítima se baseia em uma
situação que pode ser exemplificada em termos práticos como uma folha de papel
amassada com um objeto em seu interior. Pouco a pouco o papel deve ser
desamassado e esse objeto deve, por fim, ser liberado.
Sob hipótese alguma, em um processo de desencarceramento, deve-se
aplicar qualquer força sobre a vítima com o intuito de liberá-la.
Os menores movimentos traduzir-se-ão em dores, traumatismos, agravamentos
do quadro e até levar à morte. Parta do ”princípio cirúrgico”, vá fazendo o desencarceramento aos poucos; à
medida que se aproximar da vítima use equipamentos cada vez menores e de maior
sensibilidade. A aplicação de cunhas expansoras e tesouras pneumáticas podem
resolver até determinado ponto, à partir daí, a tendência serão materiais cada
vez menores e mais sensíveis, até uma agulha se for preciso, desde que seja
garantida a incolumidade da vítima e minimizado seu sofrimento durante o
processo de desencarceramento.
Essa atividade poderá demorar de minutos a horas e horas as quais
poderão se transformar em dor, ansiedade e desespero para a vítima; e ansiedade
e desgaste físico para o bombeiro o qual deve manter a calma e a serenidade,
alternando a execução de sua atividade quando atingido o ponto máximo de
desgaste por meio da substituição por outro bombeiro em melhores condições.
Atividades de desencarceramento
Há quatro atividades principais de desencarceramento que deverão atuar
sobre a vítima retida nas ferragens. São elas:
1) desmontagem - a separação dos componentes do veículo na ordem
inversa pela qual foram montados.
2) destorção - a torção forçada de partes do veículo objetivando uma
abertura para a retirada da vítima.
3) deslocamento - o movimento de uma parte do veículo de um local para
outro ou a remoção de determinados componentes.
4) rompimento - pelo corte de componentes que podem e/ou devem ser
removidos.
Força aplicada no processo de desencarceramento
O desencarceramento é usado para exercer:
- tração;
- compressão;
- corte;
- flexão;
- torção;
Técnicas para liberação
Não há dois acidentes automobilísticos iguais, mas o senso comum e o conhecimento do funcionamento do material de salvamento dão
ao bombeiro a flexibilidade necessária para realizar sua função.
Sobretudo, não se deve temer ao tentar algo diferente.
Considerações
Prioritariamente, ao selecionar a atividade de desencarceramento,
quatro pontos devem ser considerados:
1) definição do que deve ser movido;
2) em que direção deve ser movido;
3) que quantidade de força é necessária para mover as ferragens;
4) por qual distância deverão ser removidas as ferragens.
Em todo o processo de desencarceramento, um dos membros da equipe de
resgate deverá, quando possível, ser posicionado como um observador de
segurança, o qual se situará como monitor da situação avaliando todos os riscos
potenciais para os bombeiros e/ou para as vítimas.
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