Ancoragens artificiais
Chamamos de ancoragens artificiais todos aqueles elementos que fixamos
em uma parede ou em uma rocha para assegurarmos e/ou ancorarmos uma corda, para
descender. Hoje em dia, a qualidade e quantidade de instrumentos de ancoragem é
muito grande, porém, de pouco vale uma ancoragem sofisticada e de grande
resistência, se, em sua colocação, ela contém erros básicos que podem debilitar
ou torná-la perigosa. Analisaremos esses possíveis erros para saber como otimizar
a resistência dessas ancoragens.
Materiais e instruções técnicas
1) Pitons
É o sistema de ancoragem mais antigo e hoje sua utilização é bastante
desprezada em virtude da existência de mecanismos mais modernos, rápidos e
cômodos, que não deterioram as rochas.
Existe uma variedade de formas e modelos para utilização segundo o
ângulo e a fissura, porém a diferença essencial é o material com que eles são
fabricados. Os pítons flexíveis são de aço doce e os duros de aço
cromo-molibdênio. Este último é o mais resistente e recomendado, já que, por
sua rigidez, atua como alavanca e sua recuperação é mais fácil.
Os pítons flexíveis, por sua pouca resistência e duração, devem ser
utilizados somente em rochas brandas com fissuras bem retorcidas, nas quais os
duros não entrariam e destruiriam as gretas.
A resistência desses materiais é muito diversificada e depende de muitos
fatores, porém só os pítons duros e bem colocados em fissuras horizontais têm
grande resistência, equiparados a outras ancoragens.
A correta colocação a marteladas em um píton não representa problema
algum na prática. Normalmente, um som cada vez mais agudo acompanha os
sucessivos golpes, se diz que o píton “canta” um som diferente, surdo ou
vibrante não é um bom sinal. (figura 441)
Precauções:
- tente colocá-los encaixados nas gretas, assim se consegue um maior
rendimento. De igual modo, o píton deve ter a maior superfície possível de
contato com a rocha.
- não coloque pítons para fissuras horizontais em fissuras verticais e
vice-versa, já que a torção que produz na orelha poderá rompê-lo. Igualmente
respeite a posição correta da orelha.
- quando não conseguir introduzir todo o píton, coloque uma fita ou
cordelete com o nó pata de gato ou fiel na base do píton, o mais próximo
possível da rocha para reduzir o braço da alavanca.
- desconfiar dos pítons é bastante normal. O tempo pode torná-los debilitados
e oxidados e as dilatações das rochas podem afrouxá-los. Não utilizem as ancoragens permanentes em
vias de escolas devido a essas debilitações. Em montanha alta, os pitons devem
ser revisados antes de sua utilização.
- atenção nos casos em que forem colocados vários pítons na mesma
laje: o efeito de expansão poderá afrouxar os que foram implantados
anteriormente.
2) Emportadores (entaladores):
Tão simples quanto eficaz, essas cunhas metálicas se encaixam normalmente
entre as fissuras, daí serem chamadas também de fissureiros. São fabricados em
diversos modelos e tamanhos e os que lhe diferenciam são os desenhos das
cunhas, desde a primitiva forma de pirâmide truncada aos excelentes e modernos
desenhos com frentes curvas e complexas que se adaptam e entalam com grande facilidade.
Sua facilidade de colocação e extração faz com que substituam os
pítons. A resistência é diferenciada dependendo do tamanho e da colocação. Sua
eficiência torna-se maior quanto maior a superfície que o entalador estiver em
contato com a rocha e, quanto mais conhecida e hipotética tensão estiver ligada diretamente com a direção, mais aumenta
a possibilidade de a peça se entalar mais ainda. Para aumentar sua eficiência
ao colocá-los em uma fissura, exerça um suave puxão, para que se acomode melhor
na fissura e impeça que saia com demasiada facilidade.
A extração poderá ser problemática, porém será conveniente trabalhar
com o saca-fissureiros, que não é nada além de um utensílio metálico robusto e
suficientemente grande para manipular e desentalar as peças do interior das
fissuras.
Existem alguns modelos de entaladores diferentes aos das cunhas em que o seu entalamento se produz com o tri-cam ou auxiliado
(excêntrico) por efeito de rotação e expansão. Esses entaladores, se bem
colocados de maneira convencional, oferecem uma grande vantagem, quando em
fissuras com ângulos variados e em lugares onde qualquer outro importador
(entalador) seria eficaz.
Requerem mais experiência em sua colocação e, como regra geral, a fita
ou cordelete que os equipam devem cair ao lado da greta (fissura) de maneira
que, ao receber tração, se entale mais ainda. São os percussores de
dispositivos mecânicos (figura 442).
Os emportadores com marca UIAA são gravados com um a quatro asteriscos que correspondem à resistência.
* mínimo 5 KN
** mínimo 10 KN
*** mínimo 15 KN
**** mínimo 20 KN
Precauções:
A desvantagem dos importadores (entaladores) frente aos pítons é a sua
unidirecionalidade, pois a sua máxima resistência só se consegue em uma só
direção e sentido.
Esse aspecto terá de ser levado em conta sempre que for entalá-los,
pois um emportador muito bem entalado, a princípio, poderá não ser seguro
quando se progride, pois a tensão e movimentos realizados com a corda podem
sacá-lo de seu entalamento ou a direção da queda não coincidir com o seu sentido
e, sobretudo, quando a corda realizar zigue-zagues em seu percurso.
Esses inconvenientes serão solucionados com o emprego de fitas maiores
para amenizar os movimentos e tensões dadas na corda sobre o emportador
(entalador), como também podem contribuir para o bom deslizamento da corda e
direcionar melhor o seu sentido. As fitas devem ser colocadas completas, com
dois mosquetões como em qualquer ancoragem (figura 443). Recordemos que não se
deve empregar simplesmente um mosquetão, pois diminui a resistência de uma fita
de forma perigosa. Em outros casos como em travessias, os fissureiros, como são
assim chamados, quando colocados em posições pouco habituais, não são
suficientes com fitas maiores: terão de recorrer, conectando ao emportador uma
outra ancoragem suplementar (outro emportador entalador), “friend” etc. Os
pontos mais importantes onde é necessária essa precaução são nas mudanças de
direção (figura 444).
Quanto ao sistema que empregamos para esses emportadores, teremos de levar em conta que não é o mesmo quando um importador se submete a outro, servindo como polia para o outro. Que os esforços que suportarão serão muito diferentes (fenômeno chamado de efeito de polia).
Veja os desenhos (figuras 445 e 446).
3) Emportadores (entaladores) mecânicos:
As possibilidades, velocidade e segurança em escalada vão aumentando, consideravelmente, graças a esses
artifícios que são colocados e extraídos rapidamente com uma só mão, graças ao mecanismo
incorporado. Podem ser colocados em fissuras completamente paralelas, inclusive
mais abertas.
É verdadeiramente surpreendente a quantidade de mecanismos desse tipo
que dispomos hoje em dia. Essencialmente, existem dois tipos: os de expansão
por agarras serrilhadas (como o popular friend); e os de cunhas deslizantes os quais são como dois emportadores opostos.
Poucos mecanismos desse tipo têm homologação UIAA, porém, nesse caso,
levam grados, tendo a mesma simbologia de asteriscos que os emportadores levam.
Mecanismos de expansão por agarras (castanhas)
Popularmente conhecidos com o nome do primeiro mecanismo já fabricado
(“friend”), seu desenho permite que a tração exercida se converta em uma grande
força de expansão com as agarras (castanhas). Estas foram desenhadas de tal
forma que os pontos de contato com a rocha, com um perfil de curva, se alojem,
cada vez mais, no seu centro de rotação. Assim se consegue que o efeito de
apertura alcance cinco vezes mais o valor de força inicial, conseguindo um entalamento
excepcional. (figura 447)
Sua utilização não é complicada, requer simplesmente um certo hábito.
São fabricados com quatro, três e duas agarras (castanhas), com afastador
rígido ou com cabo flexível, sendo este último mais aceitável, já que eliminam
alguns inconvenientes como veremos a seguir.
Precauções:
- devido à poderosa força expansiva antes citada, desconfie da resistência
desses mecanismos em gretas formadas por lajes débeis e blocos soltos.
- as agarras trabalham independentemente para conseguir um maior apoio
e estabilidade, uma resistência boa se conseguirá quando todas as agarras
(castanhas) apoiarem-se na rocha em um ponto édio de seu perfil.
- não precisa colocá-los com as agarras completamente cerradas, pois
isso anulará o efeito expansivo, o que pode tornar impossível a sua retirada
posteriormente.
- utilize, se necessário, uma talha menor.
- não os coloque com as agarras (castanhas) completamente abertas
(utilize uma talha menor), já que não podem fazer o efeito expansivo e a peça
atuaria somente como um emportador. Dessa forma, a estrutura dos mecanismos
convencionais não suporta carga, com exceção do excelente modelo “camalot” que,
pela disposição dos seus dois eixos na cabeça, pode atuar completamente aberto
como um emportador passivo.
- o comportamento desses mecanismos é igual aos emportadores, devem
ser considerados igualmente unidirecionais, pesam a sua boa tolerância em
fissuras regulares. Seguem as mesmas precauções explicadas para evitar que se
desbloqueiem ou soltem.
- as fitas compridas são aqui duplamente interessantes, primeiro pela
sua função análoga aos emportadores em evitar que se desbloqueiem, e, segundo,
para evitar que se desloquem dentro da fissura por efeito de movimento do
braço, diz-se que “caminham”. Isso não só é perigoso por deslocar seu interior,
como também poderão tornar difícil a sua recuperação.
- as fissuras oblíquas e horizontais são outro problema, já que o efeito
de alavanca sobre o braço pode dobrá-lo e rompê-lo.
- os modelos com os braços de cabo flexível solucionam esse inconveniente,
não se pode esperar o mesmo dos que têm braços rígidos. Uma solução é utilizar
um cordelete de kevlar enfiado em um dos orifícios superiores do braço; esse
cordelete deverá ser mais curto que o original, no qual também passaremos o
mosquetão servindo de segurança, se, por acaso, esse cordelete se romper.
- na teoria, os emportadores de expansão por agarras podem trabalhar
em fissuras mais abertas sentido abaixo, sempre com os pontos de contato das
agarras (castanhas). Com a rocha, permaneçam por baixo da linha horizontal que
passa pelo eixo do “friend”, e fazem com que exista um ângulo de incidência
positivo. Ser prudente não é o bastante nessa situação, já que a sua eficácia
depende muito do tipo de rocha e a fricção que ofereça.
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