Procedimentos adotados em acidentes automobilísticos
Após chegar no local do evento, o comandante do socorro ou chefe de
guarnição deverá realizar uma inspeção minuciosa da situação, momento em que
deverão ser observados:
- existência, número, localização e estado das vítimas;
- quantidade e natureza dos veículos envolvidos (carros de passeio, ônibus, caminhões, etc.);
- as vias de tráfego, observando sua localização e curvas próximas;
- quando houver veículos de transporte de carga, a natureza da carga e
a existência de vazamentos ou perda da carga (produtos perigosos no estado
sólido, líquido ou gasoso);
- a necessidade de colher maiores informações sobre a situação, por
meio de questionamentos com as pessoas que testemunharam o fato ou que foram
envolvidas no evento.
De posse dessas informações obtidas no reconhecimento, estabeleça o
socorro, lembrando-se sempre do seguinte:
- o atendimento às vítimas deverá ser de imediato, devendo verificar o
estado geral em que elas se encontram, acalmá-las e efetuar os socorros de
urgência;
- O comandante de socorro ou chefe de guarnição deve priorizar o
atendimento e deslocamento das vítimas, atendendo, inicialmente, aquelas que se
apresentam em pior estado; relegar aquelas que, no momento, não apresentam um
quadro clínico alarmante; estancar hemorragias e proteger órgãos vitais que se
encontram expostos.
A adoção de medidas de segurança que visem evitar o agravamento da
situação ou o surgimento de outro acidente deve ser de caráter urgente, as
quais são:
sinalização: utilizando-se de galhos,
homens devidamente equipados com coletes de sinalização e lanternas, além dos meios visuais
(luminosos) que existem nas viaturas de socorro, observando sempre uma
distância razoável e segura, principalmente quando se tratar de BRs. O período noturno requer, por
parte da guarnição, maiores cuidados e distâncias mais longas de sinalização.
isolamento: delimite a área com
cabos e cones e atente para a proteção da guarnição, dispondo de uma viatura do
trem de socorro, atrás do acidente, no sentido do fluxo de veículo. Quando se
tratar de mão dupla, isole e sinalize as duas pistas.
Outros procedimentos de proteção individual deverão ser tomados, tais
como o uso de luvas cirúrgicas, luvas de raspa de couro, equipamento autônomo
de respiração artificial (caso o evento for pertinente a vazamento de produtos
perigosos), de materiais próprios para trabalhos com eletricidade.
A proteção contra incêndio é feita com o posicionamento de extintores nas proximidades do evento, protegendo de vazamentos de combustíveis
com espuma ou água (para lavagem do local).
É importante desligar ou cortar os cabos da bateria que alimenta o
sistema elétrico ou até mesmo retirá-la nos casos de capotamento.
Corte do fornecimento de energia elétrica quando se tratar de acidentes
envolvendo fiações elétricas (CEB).
Calce, escore ou fixe o veículo acidentado.
Verificação minuciosa do local e proximidades do acidente com o intuito
de descobrir vítimas que tenham sido projetadas para fora.
Em caso de acidentes com vazamento de produtos perigosos, procure
identificar o nome ou o número do produto e informe ao Centro de Operações.
Nesses casos, deverá ser evitado que o produto ou água que contenham resíduos
caiam em locais que venham colocar em risco a saúde pública. Observe que certos
produtos químicos não podem ser expostos à umidade, como é o caso do sódio
metálico, que explode em contato com a água.
No caso de vítimas presas entre as ferragens (extração veicular), sempre
utilize materiais e ou equipamentos de corte, tração, arrombamento, escoramento
ou multiplicadores de força, fazendo a extração das ferragens (no caso de
dúvida não aja pelo instinto, pois o estado da vítima poderá ser agravado ou
até mesmo levá-la à morte clínica ou aparente), e outros procedimentos deverão ser tomados pelos
técnicos da criminalística que concluirão o trabalho de perícia.
Será de responsabilidade do IML a remoção dos possíveis corpos do
local, caso contrário, terá de ser providenciada uma guia de remoção na
delegacia mais próxima. No caso de falecimento da vítima durante o deslocamento
para um hospital, não haverá dúvidas que a guarnição receberá o documento em
questão.
Observação: a sinalização dependerá,
exclusivamente, das necessidades do evento, evitando maiores riscos aos já
ocorridos e maior segurança à guarnição de socorro. A sinalização deverá obedecer
aos dois sentidos da pista, principalmente quando se tratar de mão dupla.
Acidentes com vítimas encarceradas
Procedimentos operacionais específicos na análise prévia da ocorrência:
- Ainda na unidade operacional, deve ter em mãos, no mínimo, dados que
possam conduzir o socorro até o local da ocorrência.
- Durante o deslocamento, colha maiores informações via rádio, para que,
de posse dessas informações, seja elaborado o seu planejamento secundário e,
quando se aproximar do local do acidente, compare o seu planejamento secundário
com a situação real. Analise o seu plano de ação e tente colocar em prática o
mais rápido possível.
- Deve-se, ainda, traçar o seu plano tático preventivo, executar manobras
de segurança e delinear as ações das equipes de trabalho.
O seu planejamento tático será baseado nos seguintes itens:
a) coleta de dados no local: trabalho praticamente simultâneo com a
análise (reconhecimento), na qual será obtido o maior número de informações
possíveis, tais como: condições do acidente, via de tráfego, condições de
acesso, perigo de risco permanente, existência de vítimas e suas condições
físicas e psicológicas, condições e quantidade de veículos envolvidos.
b) meios existentes: a ação tática e técnica dependerão dos meios
existentes e disponíveis para desenvolver a atividade, tais como:
materiais de proteção, sinalização, arrombamento e corte, escora e qualificação
pessoal. Diante desse conjunto de meios, deve-se designar missões específicas
às equipes de trabalho.
Sinalização e estabelecimento de viaturas
A sinalização tem por objetivo básico alertar os veículos que trafegam
em direção ao acidente ocorrido. É uma fonte visual para chamar a atenção e
direcionar o sentido do tráfego (desvio).
Normalmente, a sinalização com relação ao acidente deve começar fora
do alcance visual dos motoristas, alertando-os do ocorrido.
Tem como objetivo também dar melhor segurança à equipe de trabalho,
pois, como conseqüência, tende-se a diminuir a velocidade imposta pelos
usuários da pista de rolamento.
O estabelecimento de viaturas deve proporcionar condições ideais para executar manobras de deslocamento de materiais, fácil acesso
do pessoal. Condições para manter a integridade das vítimas, proteção visual da
cena do evento e melhor desempenho da guarnição
e sua segurança.
Isolamento do local
É o limite mínimo aceitável para que se possa permanecer nas proximidades
do local da cena como observador. O isolamento deve obedecer a alguns critérios
básicos e específicos, tais como: tamanho da área a ser isolada dependendo das proporções do evento, área de ação
da equipe, limite da área de visão dos curiosos, a forma do isolamento
(circular, triangular, quadrada), quantidade de viaturas no local e quantidade
de vítimas lesionadas e ou fatais.
É importante que dentro da zona de trabalho apenas permaneça as
equipes atuantes e o comandante do socorro. O comandante de operações deverá
centralizar o seu comando para melhor coordenação e levantamento das
necessidades que, por ventura, venham a surgir no local.
Observações importantes: a sinalização
e o isolamento devem ser dispostos para que funcionem como garantia da
segurança do tráfego que não pode parar, salvo em situações extremas. É
importante identificar a velocidade destinada a pista de rolamento, o fluxo (se
sentido único ou mão dupla, se é reta, se tem curvas próximas, balões ou
viadutos). Observe, caso o acidente tenha ocorrido próximo a curvas, aclives ou
declives para os critérios de segurança, no que se refere à visibilidade dos
motoristas e procure dispor sempre a sinalização fora das curvas e em linha
reta. Parta do acostamento como advertência e procure limitar o acesso dos
veículos à pista interditada.
Ação tática
Avaliação dos riscos, estabilização do(s) veículos(s) e exposição dos
materiais:
a) Riscos
São fatores para os quais devem ser tomadas todas as medidas preventivas
no local, tais como:
- Cabos energizados sobre a pista ou sobre o veículo;
- Poste com transformadores abalados pelo choque;
- Veículos transportando produtos perigosos (material radioativo e explosivos);
- Risco de desabamento de edificações devido ao impacto do veículo em
sua estrutura.
b) Estabilização do veículo:
A estabilização do veículo acidentado só poderá ser realizada após a
remoção da(s) vítimas(s), o qual só poderá ser acessado e estabilizado de acordo
com a situação, por meio de cordas ancoradas em pontos fixos, calços e/ou
expansores. A técnica e o sistema adequado devem levar em consideração alguns
fatores importantes, tais como: relevo
do terreno e as proporções do acidente.
Necessariamente, o veículo deve ser estabilizado por cordas ou por
cabos de aço, quando o acidente ocorrido for em um plano inclinado, por se
encontrar em situação instável.
Quando isso ocorrer, calços e escoramentos são bastante úteis para
maior segurança.
Um veículo acidentado pode assumir as mais diversas posições, porém,
para que ocorra uma eficiente estabilização, deve ser seguida a regra básica de
obter a maior área possível do veículo em contato com o chão. O melhor
procedimento é o emprego de calços e cunhas de madeira pré-confeccionados.
Veja alguns exemplos básicos
As almofadas pneumáticas são muito eficientes para a estabilização de
um veículo. A colocação de calços nas longarinas do veículo, próximas às rodas
apoiam o veículo, esvaziando os pneus. A situação mais crítica é aquela na qual
o veículo se encontra tombado sobre um dos seus lados, situação em que o apoio
é bastante reduzido, deixando o veículo instável, com acesso limitado e
perigoso.
Em casos como esse, é importante fazer a estabilização com a fixação de
cordas ou cabos de aço, ligando o veículo a pontos de apoio, como árvores,
postes ou na própria viatura.
Quando o veículo se encontra desestabilizado em uma encosta de um
barranco ou em um plano muito inclinado, deve ser calçado nas rodas antes de
qualquer outro procedimento, como já foi citado anteriormente. O veículo deverá
ser ancorado por meio de cordas ou cabos de aço a um ponto fixo, visando
impedir seu deslocamento.
Exposição dos materiais
Os materiais e equipamentos deverão ser expostos na zona intermediária, local de fácil acesso, sendo visualizados e protegidos
de organismos que prejudiquem o seu pleno funcionamento e emprego, evitando que
se cause uma confusão generalizada ou a obstrução do acesso da equipe na
remoção de vítima(s).
Os materiais deverão ser expostos de acordo com as peculiaridades de
cada ocorrência, ficando a critério do comandante de operações decidir a sua
instalação após análise minuciosa do local e do evento.
Ferramentas e equipamentos
Os materiais e equipamentos utilizados para o resgate de vítima presa
nas ferragens podem ser divididos em três grupos distintos:
Ferramentas manuais de porte leve:
Calços de madeira, alavancas, correntes, cabos, grifo, chaves diversas,
serras manuais, machadinha, tesoura de chapa, grampos e manilhas, lanternas,
etc.
Equipamentos de corte:
Tesoura hidráulica, extrator lukas, lancier, aparelho de corte pneumático,
moto abrasivo, corta frio, corta vergalhão hidráulico, corte acetileno, etc.
Equipamentos de tração:
Expansores hidráulicos, almofada inflável, tirfor, talha, roldanas e patescas,
macaco hidráulico e mecânico, etc.
Garantir acesso à vítima:
Na maioria dos acidentes, pode-se ter acesso à vítima de forma mais
simples possível: a abertura das portas pelas suas maçanetas ou simplesmente
baixar os vidros.
Porém, nos casos em que ocorre o abalo da estrutura do veículo, há o
travamento das portas ou a destruição do mecanismo de abertura, havendo a
necessidade de efetuar uma entrada forçada (arrombamento).
a) Remoção dos vidros:
São empregados dois tipos de vidros nos veículos: os laminados e os
temperados.
O vidro laminado é obtido
com uma lâmina plástica prensada entre duas lâminas de vidro por meio de
elevada temperatura e pressão, que compõe os para brisas dos veículos; tem como
característica uma maior resistência ao impacto e, quando quebrado, permanece
com sua estrutura unida pelo plástico, sem a formação de fragmentos cortantes.
O vidro temperado é obtido
por um processo de endurecimento do vidro comum. Ele é empregado nas demais
janelas e, além da dureza, sua principal característica é a quebra em múltiplos
fragmentos.
A primeira e mais simples via de acesso a ser obtida é com a quebra de
um dos vidros laterais ou traseiro do veículo. Para tal, deve-se golpeá-lo
firmemente com um punção de ferro em um dos cantos inferiores, provocando sua
fragmentação. Nesse mesmo canto, após a quebra,
abra um pequeno orifício com as pontas dos dedos e, introduzindo a mão, remova
os fragmentos para fora do veículo, sempre com todo o cuidado para não deixar
cair estilhaços sobre as vítimas. Para facilitar, poderá ser colocada uma folha
adesiva no vidro antes de efetuar sua quebra para diminuir os riscos.
O para-brisa já é um pouco
mais difícil de ser removido, podendo ser empregadas três técnicas:
- corte com um estilete a parte externa de toda a borracha, onde se
encaixa o vidro. Após golpear firmemente com a mão, desloque o para-brisa para
dentro, removendo-o totalmente num só bloco;
- se existir um friso metálico ocultando a guarnição de borracha, remova-o
inicialmente com uma chave de fenda e proceda como no item anterior;
- corte o vidro em todo o seu perímetro lateral com o emprego de uma
machadinha afiada.
b) Abertura das portas:
Lembre-se de que, inicialmente, deve ser tentado o destravamento e a
abertura manual de todas as portas do veículo antes de qualquer outro
procedimento.
Não obtendo êxito, tente arrombar a porta mais próxima da vítima. Também aqui poderão ser empregadas três técnicas para o trabalho:
- com uma marreta, remova a maçaneta, expondo o orifício, onde, com
uma chave, de fenda pode ser solto o pino da fechadura, abrindo a porta; se o
orifício for pequeno para o trabalho, empregue o cortador pneumático para abrir
um orifício maior ao redor do trinco, expondo toda a máquina que poderá ser
destravada manualmente;
- com o emprego de uma alavanca, abra uma fenda entre a porta e seu
batente próxima à maçaneta. Na fenda, posicione o alargador hidráulico e
acione-o até a abertura da porta;
- quando estiver submetida à pressão do alargador, deve ser tomado o
cuidado para que a porta não seja, bruscamente, projetada para fora no momento
em que soltar a trava do pino.
c) Remoção das portas:
Depois de abertas, as portas podem ser facilmente removidas com o
emprego do alargador hidráulico nas dobradiças, até soltá-las dos pinos de
fixação.
Posicione, inicialmente, o alargador com a porta parcialmente aberta
na dobradiça superior e acione-o até romper o pino. Depois, proceda da mesma
forma na dobradiça inferior, removendo a porta.
As portas devem ser removidas nos veículos pequenos, onde há necessidade
de maior espaço para atendimento e remoção da vítima.
Tais procedimentos devem ser tomados quando não existir outros meios.
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