1 INTRODUÇÃO
A
partir os grandes incêndios ocorridos na década de 70 no Brasil, houve uma
proliferação de leis, regulamentos e normas com o intuito de proteger a
sociedade brasileira contra os males trazidos por esse tipo de tragédia.
O
Governo Federal, cada Unidade Federativa, bem como a Associação Brasileira de (ABNT) passaram a editar muitas vezes de forma independente,
diversos documentos legais ou normativos em diferentes períodos, com o
conhecimento e as experiências disponíveis em cada época, ou ainda para
salvaguardar as falhas que originaram tragédias específicas. A maioria deles
foram atualizados durante o percurso temporal e outros permanecem inalterados,
constituindo o ordenamento jurídico e técnico que é apresentado hoje.
Atualmente,
o país possui um arcabouço de legislações, normas e regulamentos
técnicos prescritivos e independentes entre si, com autonomia também nos
procedimentos exigidos para o licenciamento das edificações dentro de cada
Estado da Federação.
Concomitantemente
ao cenário normativo nacional, o desenvolvimento tecnológico mundial produz
incansavelmente novos materiais e métodos construtivos diferentes dos
convencionais previstos nas regulamentações, que por consequência exigem do
poder público uma gestão dinâmica para que as determinações emanadas não se tornem
ineficientes e sem efetividade.
Também,
com o advento da globalização, processos de unificação e intercâmbio comercial
e científico tem sido alavancados fazendo com que as melhores técnicas,
equipamentos e sistemas construtivos permeiem facilmente as fronteiras, chegando
ao Brasil.
Desta
forma, se o clamor social a partir de 1970 exigiu uma resposta rápida da
administração pública que dispunha de recursos limitados à sua volta, o desafio
agora é outro em uma sociedade globalizada que permite o livre trânsito do
conhecimento e das tecnologias eficientes, a qual exige que esteja ao seu
alcance o que há de mais moderno para propiciar a sua segurança, não cabendo
mais aguardar o próximo infortúnio para só então cobrir suas falhas.
Deve-se
perceber ainda que, a segurança contra incêndio em edificações (SCIE)
está entranhadamente ligada a diversas áreas do conhecimento que fundamentam o
fenômeno "incêndio" desde a sua deflagração, sua dinâmica de
propagação, até a sua extinção,permitindo então o seu estudo como ciência, que,
por conseguinte, torna tangível os meios para seu controle em favor da vida.
Como
diz Cuoghi (2006), "o risco de incêndio é um subproduto indesejado da
atividade humana moderna" e presente durante toda a vida útil de uma
edificação, e não pode mais ser deixado de lado no contexto social e
empresarial. Apesar da urgente necessidade em desenvolver a área, esta evolução
deve ser planejada, bem fundamentada e concordante entre todos os fatores
influenciadores da dinâmica do fogo, e não dependentes da realidade estrutural
de cada Estado brasileiro.
O
processo de implantação da segurança contra incêndio não se resume facilmente
na elaboração de códigos modernos, pois estes serão apenas a expressão formal da
aspiração por resultados concretos advindos da integração de muitos fatores
inerentes, os quais devem ser impreterivelmente analisados e evoluírem de forma
sistêmica, sob pena de gerarem normativas inócuas ou inaplicáveis.
Alguns destes fatores são:
a)
ações preventivas e de conscientização junto à população;
b)
ensino e aperfeiçoamento de todos os recursos humanos diretamente envolvidos
(projetistas e fiscalização);
c) desenvolvimento de investigações (pesquisas) e aprimoramento do conhecimento em SCIE;
d)
infraestrutura laboratorial e certificação de materiais, sistemas e
equipamentos;
e)
organização de um ordenamento jurídico harmonizado e uma regulamentação técnica
única.
A
compreensão da segurança contra incêndios como um sistema vai além da
administração reguladora e fiscalizadora dos Corpos de Bombeiros Militares em
seus respectivos Estados.
Ela
influencia diretamente na sociedade e sua economia, bem como nas
dinâmicas organizacionais das empresas do ramo da construção civil, que aumentam
incessantemente sua abrangência ao longo do país.
O
conhecimento que esclarece os fenômenos do incêndio é único, assim como a
segurança contra incêndio possui os mesmos objetivos de preservação da vida, do
patrimônio, do meio ambiente e da continuidade do processo produtivo. A SCIE
deve cumprir estes objetivos em todo o território nacional ao mesmo nível de
exigência, ou seja, apesar do Brasil ser um "país continental", a
severidade de um incêndio e seus danos não podem depender do nível
dedesenvolvimento e do corpo técnico de cada Estado.
As
técnicas que garantam a segurança das pessoas em seus locais de moradia, lazer
ou trabalho devem ser disponibilizados a todos através de instrumentos dinâmicos
e atuais a nível nacional, que delineiem diretrizes mestras de segurança contra
incêndio para fácil compreensão dos projetistas, agentes de fiscalização e
fornecedores de materiais e equipamentos.
Contudo,
para iniciar qualquer planejamento e evolução, há de se conhecer previamente
o atual cenário da SCIE no Brasil. A presente pesquisa tem por escopo tornar-se
um instrumento inicial de fundamentação para a consecução de uma regulamentação
técnica nacional em segurança contra incêndio em edificações.
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