25 maio 2021

Como as cobras percebem o ambiente? - Guia de Cobras da Região de Manaus - Amazônia Central

 Como as cobras percebem o ambiente?

 

Muitas cobras conseguem elevar a porção anterior do corpo para um nível mais alto que o substrato, especialmente espécies que utilizam a visão para caçar.

 

No entanto, as cobras passam a maior parte do tempo com o corpo no mesmo nível que o substrato, onde a vegetação e outros obstáculos tornam a visão e audição pouco eficazes para sua orientação.

 

Para compensar essa condição, elas possuem sistemas de percepção bastante complexos, provavelmente herdados de seus ancestrais que viviam em túneis subterrâneos.

 

As cobras não possuem ouvidos externos, como a maioria dos lagartos (essa é uma ótima maneira para diferenciar lagartos que parecem cobras das cobras verdadeiras).

 

No entanto, as cobras percebem sons de baixa frequência, e são capazes de perceber movimentos que passam muitas vezes despercebidos por nós.

 

Os sons conduzidos pelo substrato são transmitidos ao osso quadrado (que conecta a maxila à mandíbula), que por sua vez transmite a outros ossos localizados em uma estrutura homóloga ao ouvido médio de outros vertebrados.

Figura 17 - A língua bífida das cobras capta micro-partículas do ambiente, que são interpretadas pelo órgão de Jacobson, de forma muito semelhante aos cheiros interpretados pelo nosso nariz.

 

Cobras possuem um sistema de percepção química formado pela ação conjunta entre a língua bífida (Figura 17) e o órgão de Jacobson, que corresponde a uma estrutura localizada na base do cérebro, com aberturas internas na região superior da boca.

 

A língua capta micropartículas presentes no ar e as conduz ao órgão de Jacobson, que tem a função de interpretar as diferentes sensações de odor, como direção de parceiros sexuais, presas e predadores.

 

Por esta razão as cobras estão sempre dardejando a língua, para perceberem quimicamente o ambiente.

 

Mas esse não é um sistema exclusivo das cobras, outros lagartos, que são parentes próximos das cobras, possuem o mesmo sistema de percepção química.

 

Graças a grande área de superfície do corpo, atribuída ao seu formato alongado, bem como aos diversos receptores espalhados pela pele, as cobras também são muito sensíveis ao toque.

 

As víboras neotropicais (família Viperidae, subfamília Crotalinae), representadas pelas Jararacas, Surucucus e Cascavéis (a última não ocorre na região de Manaus), possuem um sistema de percepção térmica constituído pelas fossetas loreais, localizadas entre as narinas e os olhos (Figura 18A). 


Essas fossetas são estruturas muito sensíveis à radiação infravermelha emitida pela temperatura do corpo das presas, quando é mais alta do que a temperatura do ambiente. 


Esse sistema é uma poderosa ferramenta utilizada por víboras que caçam durante a noite, na região de Manaus representadas pelas Jararacas e Surucucus (gêneros Bothrops e Lachesis).

 

Alguns pitonídeos (Pítons, não ocorrem naturalmente no Brasil) e boídeos, como as espécies do gênero Corallus (Periquitamboia, Cobra-papagaio), possuem receptores térmicos localizados ao longo da boca, entre as escamas labiais (Figura 18B). 


Essas fossetas são utilizadas para perceber diferenças de temperatura entre os corpos das presas e o ambiente, mas possivelmente é um sistema menos eficiente em comparação ao dos viperídeos.


Figura 18 - Algumas cobras possuem órgãos capazes de perceber a presença de outros animais por meio do calor emitido pelo corpo. Os crotalíneos, como a Jararaca-verde Bothriopsis bilineata (A), possuem fossetas loreais, enquanto alguns boídeos, como a Periquitamboia Corallus batesii (B), possuem fossetas labiais.

 

Todas as cobras que possuem fossetas loreais localizadas entre os olhos e as narinas são peçonhentas, mas as Corais verdadeiras e algumas espécies com dentição opistóglifa (veja o tópico “Mordidas de cobras”) são peçonhentas e não possuem fossetas. 


As cobras que possuem fossetas labiais não são peçonhentas.

 

Para localizar a superfície da água nos oceanos, a cobra marinha Aipysurus laevis possui receptores de luz na cauda, uma adaptação importante para a sobrevivência da espécie no ambiente marinho, porque nem sempre é fácil determinar o caminho para cima quando se está dentro da água. Muitos mergulhadores se arriscam aprendendo.

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