MANUAL
DE ASPECTOS LEGAIS NO SERVIÇO DE BOMBEIROS
INTRODUÇÃO
O Manual "Aspectos Legais no Serviço
de Bombeiros" é ferramenta importantíssima que vem juntar-se ao acervo de
cada um dos policiais militares que servem no Corpo de Bombeiros.
Avançando século XXI, adentro, não se
pode esquecer, em nenhum momento, que o Direito é tão antigo quanto o próprio
ser humano.
Pode-se dizer, mesmo, que surge nos primórdios da humanidade,
quando o homem percebe que é melhor viver em grupo, tanto para sua defesa como
para a realização de trabalhos, quanto para poder satisfazer todas as suas
necessidades. A partir dessa percepção, surgem as regras de convivência, a
forma como cada um deve comportar-se em relação aos outros e a delimitação do
que se deve, do que se pode e do que não se pode fazer. É o Direito que nasce
com o homem e só pode existir em função dele.
Vivemos, hoje, em um Estado Democrático
de Direito. A expressão é imponente e reveladora de certa complexidade. Na
verdade, trata-se de fruto do desenvolvimento do homem, da sociedade e das
relações das mais diversas naturezas que surgiram entre os indivíduos. O
Direito, que é a ciência que estuda justamente aquele conjunto de regras
convivenciais, autorizando as pessoas a fazerem ou deixarem de fazer algo, e
permitindo que todos possam agir conforme os seus preceitos, desenvolveu-se
como sua razão de existir, ou seja, como o homem e a sociedade. Percebe-se,
portanto, que é dinâmico, que continua e continuará se desenvolvendo pelos
tempos afora, adaptando-se, aperfeiçoando-se, disciplinando novas relações.
Como profissional que lida diariamente
com a população e tem a necessidade de trabalhar em equipe, pode-se
perfeitamente dimensionar quão importante é para o bombeiro saber o que se
pode, o que não se pode e o que se deve fazer e, mais ainda, quais são as
consequências que podem advir das suas ações e das suas omissões. Não apenas
isso, mas o que as outras pessoas, os destinatários dos serviços prestados,
igualmente, têm que saber para poder conviver e para receber o melhor
atendimento possível.
Não se deve esquecer o que o Estado, como pessoa jurídica
de direito público, tem de observar e respeitar na sua maneira de proceder, na
busca da consecução do bem comum e da satisfação do interesse público. Esse
entremear de normas de conduta reciprocamente consideradas implica não só
limites, deveres e obrigações, como também direitos de cada um, os quais, em
última análise, são o móvel e fundamento das diversas restrições à conduta das
pessoas.
Os direitos de uma pessoa normalmente se
prolongam até uma interface não permeável com os direitos das outras pessoas.
As leis, por sua vez, constituem-se na
positivação desse grande conjunto normativo que constitui as regras de Direito.
Daí o porquê da ênfase aos aspectos legais relacionados com as atividades de
bombeiro. Conhecer a lei, minimamente, em sua área de atuação, representará com
certeza o primeiro movimento no sentido de que se tenha a real dimensão da
importância do estudo dessa ciência que é um todo, unitário, mas que se divide
sistematicamente, até mesmo para o melhor estudo de seus princípios e a
aplicação de seus diversos institutos.
Bem, assim, saber o Direito, tendo
conhecimento dos aspectos legais que tocam de perto os serviços de bombeiros,
permitirá que sejam mais bem prestados à comunidade, assim como possibilitará a
preservação da imagem e do bom nome da Corporação e, também proporcionará ao
bombeiro os meios úteis e necessários ao resguardo de suas responsabilidades
relativamente ao exercício de suas funções, revelando-se como conhecimento
precioso inclusive para a vida pessoal de cada um.
Saber o Direito, nos aspectos legais
inerentes às atividades de bombeiros, representará sem sombra de dúvidas o
ponto determinante de uma atuação segura, em que o bombeiro saberá até onde
pode seguir no exercício de sua profissão, preservando seus direitos, cumprindo
seus deveres e obrigações e resguardando os direitos dos destinatários da
prestação de serviços e os do próprio Estado.
As questões práticas e as dúvidas que
surgem ante as mais diversas situações do cotidiano não deixam margem ao
entendimento de que saber os aspectos legais, com propriedade e convicção, não
é uma faculdade, mas uma obrigação do profissional.
Poderá o bombeiro entrar em uma
residência para combater um incêndio, ainda que à noite, sem considerar a
questão da proteção da inviolabilidade do domicílio?
E se for para resgatar uma vítima de
queda?
Poderá ainda o bombeiro deixar de
conduzir a vítima ao centro médico de referência ou ao pronto socorro indicado
quando ela própria negar-se a receber os cuidados?
E no caso de um acidente de trânsito
envolvendo mais de um veículo, em que haja vítimas, poderá o bombeiro autorizar
ou até mesmo proceder a retirada dos veículos da posição em que se encontram
antes da realização da pesquisa pericial da Polícia Científica?
E se movimentar os ditos veículos a bem
da segurança da fluidez do tráfego e dos demais condutores, por ser de
logradouro de extremo movimento?
As ocorrências são muitas, os aspectos
legais envolvidos são diversos e levam a conseqüências distintas. Não é sem
razão que surgem mais e mais perguntas a povoar de dúvidas o pensamento do
bombeiro que na hora da emergência conta, não raras vezes, com fração de
segundos para agir.
Quando chega ao local de um grande
sinistro, verifica que há um caríssimo veículo de luxo obstruindo o único
hidrante disponível, e não surge o proprietário prontamente para dali
retirá-lo, o que o bombeiro deverá fazer?
Chamar apoio de veículos-tanque, enquanto
o incêndio consome a edificação?
Remover o veículo dali à força, arrombando-o
ou simplesmente quebrando as janelas e tentando conectar a adutora através do
seu habitáculo?
Deverá ou poderá utilizar-se então da
reserva de incêndio de um edifício vizinho?
E se assim fizer, o proprietário ou o
condomínio terá de arcar com o custo do consumo d’água para o combate às
chamas?
O que deve o bombeiro fazer em cada caso?
O alarme soa, mas o bombeiro está
cansado. Isso é o suficiente para deixar de atender à ocorrência?
No local do corte de árvore, que se
encontra em risco de queda iminente o bombeiro se acidenta, recebendo um
violento golpe de um galho que lhe acerta a cabeça e ele não estava trajando
seu EPI, ou seja, estava sem capacete.
Se vier a morrer, ou ficar incapacitado
para o serviço, quais serão as conseqüências para ele e para sua família?
E, ao contrário, se mesmo usando o
capacete o bombeiro perde a sua vida?
A vítima está no beiral de um pavimento
de edificação elevada onde as labaredas já começam a feri-la pelas costas. Pode
o bombeiro deixar de salvá-la sob a alegação de que é muito perigoso e, assim
sendo, não lhe pode ser exigido tamanho sacrifício?
As linhas iniciais deste manual de
aspectos legais no serviço de bombeiros apenas buscam demonstrar que o
profissional não pode prescindir desses conhecimentos básicos. Relacionar todas
as dúvidas, questões, situações práticas, casos reais, enfim, dizer caso a caso
o que fazer, certamente implicaria elaboração de vários espessos volumes de
páginas e mais páginas, para à determinada altura desse trabalho de fôlego perceber-se
a sua absoluta inviabilidade.
As regras gerais, impessoais, abstratas
da legislação certamente poderão fornecer subsídios à resposta de todos esses
questionamentos, basta dedicar-lhes a necessária atenção e estudo.
Os conhecimentos trazidos no presente
manual começam por transitar no campo do Direito Constitucional, em que há
delimitação da própria competência dos Corpos de Bombeiros; passando por noções
de Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Ambiental e até dispositivos
do Código Trânsito Brasileiro de.
A correta compreensão dos aspectos legais
ora reunidos neste Manual, que por certo serão objeto de continuada revisão e
aperfeiçoamento, tanto quanto dinâmico é o Direito, associado aos demais
conhecimentos técnico-profissionais, invariavelmente, conduzirá os integrantes
do Corpo de Bombeiros a sempre bem cumprir a missão de “Proteção da Vida, do
Meio Ambiente e do Patrimônio”.
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