Evacuação e busca em local de incêndio
A segurança dos ocupantes de uma edificação sinistrada sempre
será uma prioridade no atendimento, gerenciada diferentemente conforme a etapa
da ocorrência.
Pessoal
Até a extinção do foco, não há equipe específica de busca. A
segunda linha faz este papel. Após a extinção do fogo, as equipes de busca são
subordinadas a um chefe de guarnição, e cada equipe tem um chefe e um ajudante.
Material
Usa-se o mesmo EPI e EPR de combate a incêndio sempre que se
estiver trabalhando no andar do incêndio ou acima deste.
Após a extinção do fogo, é tarefa da segunda linha a entrar
na edificação iniciar a busca, então ela deve trazer desde o início da ocorrência
o material necessário (de arrombamento, de busca sob móveis e de marcação dos
cômodos), como será detalhado adiante. O mesmo material deve ser utilizado
pelas demais equipes de busca designadas.
Reconhecimento, evacuação e salvamento
Ao chegar ao local da ocorrência, o reconhecimento pode indicar
uma vitima evidente, visível em uma janela alta ou gradeada, por exemplo. Ou
impedida de sair por conta de uma deficiência física. Neste caso, a localização
da vitima é conhecida, e faz-se de imediato o salvamento da vítima, mesmo antes
da extinção do fogo. Para este salvamento, pode ser necessário cortar grades
com um corta-frio ou subir escada prolongável com EPI e EPR. Havendo outra
guarnição disponível, o combate ao fogo pode ser feito ao mesmo tempo.
Busca rápida
Havendo informação de vítima no interior da edificação com localização específica (em tal quarto, por exemplo), a
critério do Comandante de socorro, faz-se a busca rápida. É uma busca dirigida
a um local determinado. Não é sistemática, é pontual. Se a vítima não for encontrada
imediatamente, o bombeiro retorna ao exterior.
Considere-se a situação hipotética em que um edifício tenha
o pavimento térreo tomado pelo incêndio, impedindo o acesso ao primeiro andar
pelas escadas da edificação.
Havendo informação de que existem vítimas em
determinado cômodo no primeiro pavimento, faz-se a busca rápida da seguinte
forma:
• A guarnição de combate a incêndio
posiciona no solo uma linha de mangueira para apoio e uma escada prolongável na
janela do cômodo.
• O chefe da guarnição de busca e
salvamento permanece no solo, enquanto uma equipe (dupla) sobe com EPI e EPR e
faz a busca.
• O bombeiro no alto da escada força a
entrada, com um pé de cabra, aparelho hidráulico ou corta-frio.
Figura 155 - Entrada para realizar busca rápida
• Passa as ferramentas para o ajudante,
entra pela janela e fecha a porta do cômodo, isolando-o do restante da estrutura.
• Antes de entrar no ambiente, o bombeiro
precisa avaliar as condições internas do cômodo. Se houver muita fumaça pode
haver risco de backdraft ou flashover. Nesse caso, o bombeiro,
antes de entrar, passa uma ferramenta junto à janela, em forma de varredura,
para verificar eventual presença de vítima desfalecida.
• Busca exclusivamente no cômodo onde
entrou.
• Encontrando a vítima, o bombeiro que
entrou retira-a com a ajuda do outro que está na escada.
• Qualquer busca desse tipo deve ser
coordenada com o comandante de socorro, pois pode afetar o ataque ao fogo, a
ventilação e outras buscas.
• Se a janela puder ser fechada, um
bombeiro entra e o outro a segura aberta apenas alguns centímetros até que seja
fechada a porta do cômodo para o restante da estrutura. A busca assim é mais
segura, pois há menos risco de atrair o fogo, em busca de oxigênio.
• Ao final deste capítulo são detalhadas
técnicas de retirada de vitimas.
Mesmo não havendo vitimas evidentes, colocam-se escadas prolongáveis ou mecânicas nas janelas do nível do incêndio.
Em caso de necessidade, isto agiliza o salvamento, seja de
bombeiro, seja dos ocupantes do prédio.
O reconhecimento pode também indicar vitima no exterior da edificação
(queimada ao tentar combater o fogo, desfalecida, caída sobre a janela, etc.).
É preciso providenciar atendimento pré-hospitalar.
Havendo evacuação em curso (pessoas saindo sem ajuda) ou pessoas
com dificuldade de locomoção a serem retiradas, se possível o cômodo onde está
o foco deve ser fechado, diminuindo a propagação do fogo e o espalhamento da
fumaça.
Os bombeiros auxiliam a evacuação orientando os ocupantes para
as saídas.
Geralmente, os ocupantes retirados de uma edificação fornecem
as indicações mais precisas sobre a localização de vítimas que necessitam ser
resgatados.
Deve-se considerar a necessidade de designar guarnições para
bloquear o acesso à estrutura (por todos os lados) de pessoas estranhas ao
serviço. É comum que a tarefa de evacuar uma estrutura seja complicada por
pessoas que insistem em retornar, usando entradas laterais ou de garagem, mesmo
após o isolamento da frente.
As vítimas devem ser encaminhadas pelos bombeiros para o local
de triagem.
Vítimas devem receber atendimento e ocupantes ilesos devem, se
possível, ser listados para informação daqueles que procuram conhecidos. As
pessoas atraídas pelo tumulto serão mantidas à distância por um bom isolamento.
Durante a progressão e ataque ao fogo
Durante a progressão para atacar o fogo, qualquer pessoa encontrada deve ser retirada rapidamente.
A primeira linha progride para atacar o foco. Mas, se
encontra uma vitima, regressa com ela para o exterior, entrega-a para o atendimento
pré-hospitalar e retorna para fazer o ataque ao fogo.
Havendo duas linhas, uma continua a progressão e a outra retira a vítima.
A segunda linha de mangueira deve trazer lanterna e material
de arrombamento (pé-de-cabra, alavanca, machado, corta-frio) e ferramenta que
permita tatear sob móveis (croque, bastão ou alavanca).
E rádio comunicador e câmera térmica (se houver). Assim,
pode ajudar efetivamente a primeira linha, seja no ataque ao fogo, seja no salvamento
de vitimas.
Não há equipe específica de salvamento durante a progressão.
O salvamento é feito pelas linhas de mangueira. Somente se
houver várias vitimas no mesmo cômodo, uma ou mais duplas de bombeiros podem
retirar as vítimas, rapidamente, protegidos por no mínimo uma linha de
mangueira, enquanto outra linha progride para atacar o foco.
O ataque não pode ser interrompido ou adiado para fazer buscas,
pois a propagação do fogo tende a vitimar bombeiros e outras pessoas.
Busca após a extinção do fogo
Após a extinção do fogo, torna-se possível explorar sistematicamente
o ambiente para encontrar vítimas no menor tempo possível. Isso porque o risco
de propagação está controlado, e ainda mais porque, quando for feita a
ventilação, haverá melhora da visibilidade.
Uma linha continua junto ao foco, fazendo o rescaldo, e a segunda linha começa a busca. Havendo pessoal disponível,
outras linhas podem ser empenhadas também.
Mesmo quando não houver fumaça visível, linhas de mangueira devem
estar a postos em cada cômodo onde se faz a busca de vítimas, pois um acúmulo
de fumaça pode deflagrar um comportamento extremo do fogo. Havendo fumaça, a
linha de mangueira realiza a busca.
Em cada cômodo, a busca deve ser realizada duas vezes, por equipes
diferentes. A primeira vez é chamada de busca primária, a segunda vez é chamada
de busca secundaria.
Sendo realizadas por equipes diferentes, uma busca pode
encontrar o que a outra não encontrou e vice-versa.
Devem ser marcados os locais já buscados e, para áreas extensas,
usam-se mapas e/ou croquis. Isso evita perder tempo ou deixar de buscar alguma
área.
Para identificar o cômodo onde a busca é feita usa-se um marcador
feito de borracha de câmara de ar: em uma tira de, aproximadamente, 20
centímetros de comprimento e 7 centímetros de largura, faz-se dois furos
distantes dois centímetros de cada extremidade da tira.
Ao entrar num cômodo, a equipe encaixa um dos furos no trinco
de fora e outro no de dentro da porta. Além de sinalizar a presença da equipe,
isso também impede o trancamento acidental da porta. Ao sair, a equipe tira o
marcador do trinco interno e deixa-o pendurado no trinco externo, sinalizando
que aquele cômodo já foi buscado. Esse marcador também pode ser utilizado para
evitar o travamento de portas de emergência. Para portas sem trinco usa-se giz ou
fita adesiva formando um “x” (um traço sinaliza que a busca está em curso;
dois, que foi completada).
Até a busca mais simples, em residência térrea pequena, não deve
ser subestimada. Ao contrário do senso comum, incêndios em residências térreas
costumam fazer, relativamente, mais vítimas do que aqueles em edifícios altos.
Entrada
Figura 156 – Sentido da busca em um cômodo
Em ambientes maiores, haverá necessidade de mais de uma equipe
para a busca. Nesse caso, a primeira a entrar vai para a direita e outra para a
esquerda, até encontrarem-se, viram e retornam ao ponto de entrada.
A equipe deve seguir sistematicamente de um cômodo para outro,
buscando em cada um cuidadosamente. No caso de corredores, faz-se da mesma
forma, ou seja, segue-se de um lado até o final, depois se volta pelo outro
lado, cobrindo assim todos os cômodos.
Em corredores, o chefe pode ficar à porta enquanto o
ajudante entra no cômodo para fazer a busca. Os dois se comunicam, e com este procedimento
se evita a desorientação.
Pode-se colocar um cabo para servir de corrimão, amarrado no
exterior e próximo ao foco, para facilitar a localização das equipes de busca.
Cômodos trancados por fora também devem ser buscados, já que
algumas pessoas deixam crianças e animais presos em casa.
As portas do cômodo explorado devem ser fechadas para evitar
mais entrada de fumaça e propagação do fogo, identificando-o por marcação da
porta, evitando o atraso decorrente da realização da segunda busca no mesmo
local.
As janelas do cômodo explorado devem ser abertas para o exterior para dissipar a fumaça acumulada, sempre que
possível.
Ao subir ou descer escadas, havendo pouca visibilidade, deve-se
apoiar o corpo sobre as mãos e os joelhos, mantendo sempre a cabeça em nível
mais elevado do que o corpo. Isso diminuirá a possibilidade de perder o
equilíbrio, principalmente quando descer.
Toda porta deve ser fechada durante e depois da busca no cômodo, para não interferir com a ventilação do incêndio.
Deve-se buscar em qualquer lugar onde alguém possa estar,
inclusive box de banheiros, armários, atrás e dentro de móveis, debaixo
de camas, perto de janelas e portas.
Dentro de cada cômodo, deve-se parar alguns segundos e tentar ouvir algum som emitido por vítima.
Uma ferramenta pode ser usada para buscar sob e dentro de móveis.
Figura 179– A busca é feita orientando-se pelo contorno do
ambiente
Para buscar vítimas em áreas grandes e congestionadas, como depósitos
e bibliotecas, o chefe de equipe permanece em contato com uma parede, enquanto
o ajudante busca numa ala, volta à parede e busca na ala seguinte e assim por
diante.
As setas largas na Figura 157 indicam a trajetória do chefe
da equipe e as setas estreitas indicam a trajetória do ajudante.
Figura 157 - Busca em seção de uma biblioteca
Organização de grandes buscas
Em todas as áreas da edificação deve ser feita a busca,
visto que a fumaça pode acumular-se em pontos distantes do foco. Conforme o
tipo de edificação, essa operação será organizada de maneiras distintas.
Busca em edifícios altos
Assim como o combate, a busca em edifícios altos deve ser feita na seguinte ordem de prioridade:
• No pavimento do incêndio.
• No pavimento imediatamente acima do
incêndio.
• No pavimento mais alto do prédio.
Depois, ela será feita nos demais pavimentos, pois é
possível que a fumaça se estratifique, acumulando antes do pavimento mais alto.
O mesmo vale para residências de múltiplos pavimentos.
Em geral, pelo menos duas duplas de busca são necessárias para
averiguação em cada andar.
Figura 181 - Ordem de realização da busca em edifício alto
Busca em grandes superfícies
Em edificações de grande superfície, como shoppings,
feiras, depósitos e fábricas, geralmente, a busca precisa ser feita por mais de
uma entrada. Isso exige mais do controle de pessoal e da coordenação da busca.
É preciso utilizar croquis e mapas e designar responsáveis por diferentes
áreas.
Salvamento de bombeiro
Cada bombeiro deve cuidar para não tornar-se vítima. Quando um
bombeiro torna-se vítima, o socorro tende a ser desviado de suas funções para
atendê-lo. O profissionalismo tende a ficar em segundo plano. Outros bombeiros
tendem a colocar-se em risco absurdo para buscá-lo.
Para evitar tornar-se vítima, cada bombeiro deve trabalhar
sob comando de seu chefe imediato, ou seja:
• Cumprir as suas ordens, no local
determinado.
• Dar retorno, ou seja, comunicar-lhe
quando terminar uma missão ou quando não puder realizá-la.
• Sugerir providências quando for o caso.
Enquanto aguarda ordem para entrar, a dupla de bombeiros deve
estar pronta para conectar o ar de sua máscara rapidamente. Com isso, se for
designada para salvar outro bombeiro ou outra vítima, evita o impulso de
empreender um salvamento sem o equipamento de proteção.
Se passar mal ou ficar desorientado, o bombeiro deve pedir ajuda, de imediato. Vergonha de pedir ajuda só piora a
situação.
Se um bombeiro passar mal ou estiver desorientado no ambiente,
seu ajudante ou chefe de linha ou quem encontrá-lo deve de imediato pedir ajuda
e auxiliar sua saída. Se estiver inconsciente, pode-se arrastá-lo de costas
para o solo, pelo colarinho da capa de aproximação e transportando a mangueira
com a outra mão. Em casos graves de desorientação, o bombeiro pode ter que ser
retirado pela força.
Se passar mal e estiver sozinho, o bombeiro deve buscar a
parede mais próxima para orientar-se, e buscar a saída.
Técnicas de retirada de vítimas
As vítimas do incêndio devem ser retiradas rapidamente. Para
isso, há várias técnicas que podem ser utilizadas.
Ao localizar a vítima, o bombeiro deve fazer uma avaliação rápida sobre o seu estado geral e dar início à sua retirada,
utilizando a técnica mais adequada.
Se a vítima for encontrada inconsciente, especialmente se estiver caída perto de escada, deve-se supor que sofreu
queda, e transportá-la com os cuidados de estabilizar a coluna. Deve ser
retirada, preferencialmente, com utilização de prancha rígida, lona, cobertor
ou maca. No entanto, se as condições do incêndio não permitirem, então se faz a
retirada como for possível.
É preferível fazer a retirada pelas escadas ou corredores da própria edificação. É a maneira mais fácil, que permite
evacuação de mais pessoas com segurança em menos tempo.
A retirada de vítimas por escada prolongável apoiada nas janelas
é mais lenta e pode ser dificultada pelo peso da vítima, pela sua fragilidade
ou pela resistência quando está desorientada ou assustada.
A escada deve ser apoiada no peitoril da janela ou poucos centímetros abaixo, facilitando a saída.
A retirada utilizando plataforma ou escada mecânica é lenta
e com limitações quanto ao peso. A guarnição precisa estar familiarizada com o
seu uso para realizar uma boa operação. Ao colocar-se plataforma ou escada
mecânica junto a alguma janela, deve-se arvorar o equipamento acima da altura
da vítima, e só então aproximar a extremidade da escada ou o cesto da
plataforma.
Tragicamente, há relatos de acidentes em que a vítima, desorientada, pula para alcançar o
equipamento enquanto este ainda encontra-se alguns andares abaixo da sua
posição.
Ao
aproximar-se da vítima com uma plataforma mecânica ou escada mecânica, deve-se
arvorá-la acima do pavimento em que a vítima se encontra e só então descê-la.
Constituem técnicas de retirada de vítimas:
• Caminhando, se a vítima conseguir andar, procure fazer com que ela se
desloque o mais abaixada possível. Se não for possível, apóie a vítima no ombro
(ver Figura 158).
Figura 158 - Bombeiros apóiam a vítima
• Nos braços, para percurso curto e vítima leve.
• Por arrastamento, quando a vítima não tem condições de caminhar e o seu peso é elevado (ver Figura ).
Figura 183 - Bombeiros arrastam a vítima com a ajuda de uma
lona
• Pelas
extremidades – um procedimento simples e de fácil
execução, as pernas da vítima são apoiadas nos ombros do bombeiro que está à
frente enquanto os ombros são segurados pelo bombeiro que está atrás (Figura
159).
• Com o emprego de uma cadeira ou prancha rígida – procedimento ideal para retirada de vítimas gravemente feridas, pessoas idosas e obesas. O transporte é feito por dois bombeiros, diminuindo o esforço e desgaste físico, bem como o agravamento de lesões da vítima.
• Descendo vítima pela escada prolongável – posiciona-se a escada alinhada com a moldura inferior da janela.
Um bombeiro auxilia a passagem da vítima para o outro, que fará a descida conforme a Figura 160.
Figura 160 – Descida de vítima consciente ou inconsciente
• Apoiando vítima
consciente na escada prolongável –
O bombeiro inicia a descida antes da vítima, posicionando-se
atrás dela para prevenir queda. A vítima desce normalmente pela escada.
• Salvamento de
vítimas onde há fogo – Em ambientes em que haja presença de chamas ou de fumaça intensa, os
bombeiros devem realizar o salvamento da vítima protegidos por uma linha de
mangueira. Se algo acontecer durante este percurso, tanto os bombeiros quanto a vítima serão protegidos pela ação da água.
Figura 161 a/b – Salvamento de vítima com um bombeiro
Figura 162 a/b – Salvamento de vítima com um bombeiro e utilizando o cabo da vida
Figura 163 – Salvamento de vítima com uma dupla de bombeiros
(situação ideal)
muito bem explicado parabens
ResponderExcluirBoa noite Loks...
ResponderExcluirObrigado pelo parabéns e pela visita...