Colapso estrutural decorrente de incêndio
Anomalias em edificações
Todos os materiais que compõem as construções são susceptíveis
a alterações por diversos motivos, sejam eles fatores naturais, humanos ou
construtivos.
Diante dessas situações, as edificações podem sofrer algumas
deformações ou patologias, que a partir daqui serão denominadas anomalias,
dentre as quais os bombeiros podem identificar:
rachaduras (também conhecidas como trincas ou fissuras);
vazamentos e infiltrações;
corrosão de ferragens;
recalques;
desplacamento de revestimentos;
problemas em marquises.
Rachaduras, trincas ou fissuras
São aberturas de maior ou menor extensão nas superfícies das
construções (paredes, tetos e lajes), as quais são classificadas quanto:
Quanto ao sentido:
As rachaduras de sentido vertical, horizontal ou aleatória
são, geralmente, decorrentes do:
próprio peso da estrutura;
alterações climáticas;
retração dos produtos à base de cimento;
deformações excessivas.
Quando essas anomalias aparecem entre a alvenaria e a peça estrutural
– vigas ou pilares – provavelmente são motivadas pela deficiência da amarração,
que é a junção das paredes com as vigas.
Em geral, as fissuras diagonais, com angulação de aproximadamente
45o, aparecem devido a alterações no solo de fundação, em que a edificação ou
parte de sua estrutura diretamente envolvida tende a se acomodar (recalques),
tratando-se de um problema estrutural mais grave.
Rachaduras em diagonal em grande número, de rápido desenvolvimento
ou em peças estruturais (vigas e pilares) indicam que algo grave está
acontecendo, sendo de extrema necessidade uma vistoria emergencial por equipe
especializada e de todo o cuidado por
parte de todos os bombeiros presentes.
Quanto à profundidade
As rachaduras superficiais ocorrem apenas sobre os revestimentos
dos tetos, das paredes ou das peças estruturais, tais como rebocos e pinturas, não afetando a estrutura.
As anomalias profundas chegam a atingir a alvenaria das construções
(tijolos) e em caso de estruturas com armações de aço (concretos armados),
atingem as ferragens que estão em seu interior.
As rachaduras transpassantes, quando em situações avançadas, atravessam a estrutura afetada de um lado ao
outro das paredes ou lajes.
Quanto ao movimento
As vivas ou ativas são assim denominadas porque se movimentam,
seja por movimentos cíclicos (expansão e contração), seja por crescimento em
extensão.
As anomalias mortas ou inativas são aquelas que não se movimentam.
Para realizar a identificação desses tipos de anomalias
deve-se acompanhar seu desenvolvimento por meio de métodos de controle de aberturas.
Vazamentos e infiltrações
Vazamentos são
locais por onde escoam líquidos, gases e demais produtos que passam por
tubulações ou envasados.
Infiltração é o
processo de passagem ou acúmulo de um líquido por um meio sólido, como uma laje
ou parede.
Nos incêndios podem ocorrer ambos os processos, porém serão visualizados
mais facilmente os vazamentos, já que as infiltrações são processos mais longos
e geralmente perceptíveis após um dano.
Os motivos mais comuns para a ocorrência dessas anomalias
são os rompimentos de tubulações, estado precário ou ausência da impermeabilização, baixa qualidade de
rejuntes de revestimentos cerâmicos (pisos e fachadas), manutenção inadequada
de reservatórios ou tubulações.
Com a ocorrência de uma ou mais situações anteriormente mencionadas, pode-se iniciar uma gradativa deterioração dos
materiais construtivos, situações que podem ser agravadas durante o combate ao incêndio,
exigindo dos bombeiros atenção e cuidados.
Durante a fase de reconhecimento, a identificação de infiltrações
pré-existentes indica um fator de risco às guarnições, uma vez que essas
anomalias podem enfraquecer seriamente a capacidade resistiva do elemento estrutural.
Corrosão de ferragens
Conforme exposto no Módulo 1 deste manual, a corrosão é uma reação
química lenta, na qual acontece uma deteriorização gradual e quase
imperceptível do material, exatamente como ocorre com a ferrugem.
As ferragens que compõem as estruturas serão atingidas pelo processo
de corrosão, principalmente quando ocorrem infiltrações ou exposição às
intempéries.
Suas principais conseqüências são:
perigosa expansão da malha de ferragens, causando trincas e
desagregação, em placas ou “farelos”, do concreto que a recobre;
perda da segurança das peças estruturais (vigas, lajes, pilares,
marquises);
perda da aderência entre o concreto e as ferragens;
diminuição da resistência da estrutura;
ruptura da armação e/ou do concreto, causando o colapso de
estruturas.
No caso de incêndio, o descolamento de pedaços de concreto sugere
risco iminente para as guarnições. Os locais devem ser interditados e isolados,
pois tais características sugerem ações de escoramento emergencial, as quais
devem ser realizadas por equipes especializadas e
treinadas.
Recalques
São rebaixamentos de terra no que se refere às fundações, às
paredes ou às peças estruturais.
Possuem como
principais características:
rachaduras inclinadas, verticais e horizontais,
afundamentos de pisos,
desnivelamentos e desaprumos,
esquadrias emperradas;
guias de elevadores desalinhadas.
Suas causas são:
aberturas de escavações próximas àquele local (como em construções
de novas obras);
erosão no subsolo (vazamentos);
vibrações;
tremores de terra;
alteração química do solo;
rebaixamento do nível d’água;
carregamento mal dimensionado (todo material se deforma quando carregado);
fundações inadequadas.
As principais
conseqüências dos recalques são:
problemas nas fundações;
segurança estrutural da edificação comprometida;
prováveis riscos de colapsos estruturais.
Recomenda-se que
seja feito:
o acionamento da Defesa Civil, por meio da CIADE;
o escoramento emergencial das estruturas avariadas, realizado por equipes especializadas e treinadas;
o acompanhamento da evolução das rachaduras (controle);
a interdição e o isolamento do local.
Desplacamento de revestimentos externos
São os casos em que ocorrem o descolamento de placas de concreto, cerâmicas, rebocos e outros revestimentos de fachadas,
causando, dessa forma, um risco de queda desses materiais sobre os transeuntes
e usuários dessas edificações.
Suas principais causas são:
assentamento mal executado ou com materiais inadequados;
inadequada aplicação das juntas de dilatação;
desrespeito às normas vigentes;
infiltrações deteriorando a base de revestimento;
inexistência de manutenção periódica.
Nesses casos, deve-se retirar o material em risco de queda, quando em fachadas e executar o isolamento das áreas
afetadas.
Problemas em marquises
Marquises são coberturas em balanço na parte externa de uma edificação,
destinadas à proteção da fachada ou a abrigos de pedestres.
Anomalias nesse tipo de estrutura geralmente são originárias
de suas construções, porém existem também outras causas como, por exemplo, o
acréscimo de cargas.
Como conseqüência, apresentam algumas características:
rachaduras, trincas ou fissuras;
infiltrações;
destacamento de revestimentos;
corrosão da armadura;
bordas cedendo.
Nos casos dessas anomalias, recomenda-se o acionamento imediato da Defesa Civil, além do isolamento e sinalização
do local.
Na marquise, a ferragem que a sustenta se localiza próxima à
superfície superior da laje e é ancorada dentro da parede adjacente a esta. Com
o escoramento, aplica-se uma força contrária (de baixo para cima), fazendo com
que o peso próprio da laje a deforme no centro e cause a queda. O escoramento
só deve ser feito por equipe especializada.
Como a armadura (ferragem) da marquise se concentra na parte
superior, o concreto em deformação no meio do vão se romperá com facilidade com
a ação do escoramento, causando o colapso estrutural.
Relação entre as anomalias com a ocorrência de incêndios
estruturais
Após a compreensão do que são as anomalias, com suas causas
e conseqüências, é possível abordar o comportamento das edificações durante e
após ocorrências de incêndios estruturais.
Os materiais construtivos de uma edificação, expostos ao
fogo e às altas temperaturas, sofrem alterações em suas constituições químicas
e físicas, podendo perder as características de funcionalidade e apresentarem
riscos, pelo enfraquecimento de sua estrutura.
Anomalias causadas por incêndios
Em decorrência do comportamento dos incêndios, os materiais componentes
das estruturas das edificações podem sofrer algumas alterações, em seu aspecto
e forma devido à exposição ao calor, tais como:
calcinação (aquecimento em altíssimo grau) e esfoliação (esfarelamento) do concreto;
deformações acentuadas das estruturas;
concreto desagregado;
perda da aderência entre o aço e o concreto;
diminuição da capacidade de resistência.
Para melhor entender as características das anomalias que podem ser encontradas em decorrência dos incêndios, segue a
Tabela 7, que relaciona a evolução do comportamento do concreto em função da elevação
da temperatura ambiente.
Após a apresentação da tabela, pode-se afirmar que quanto maior o tempo de exposição do concreto às altas
temperaturas, maiores serão os danos às suas estruturas física e química.
Como consta da tabela, a partir dos 600 oC, temperatura facilmente
alcançada nos incêndios em compartimentos (residências, apartamentos, galpões,
etc.), o concreto perde 70% de sua resistência.
Dessa forma, deve-se monitorar, desde o início do combate ao
incêndio, as estruturas dos locais e ambientes sinistrados.
Diante de condições similares, os bombeiros envolvidos nas operações deverão adotar as seguintes medidas de segurança:
evitar jogar água com jatos compactos e diretamente nas peças
estruturais (lajes, vigas, pilares);
observar a existência de pontos com bolhas, fissuras, rachaduras
ou com colorações distintas nas paredes e tetos de cimento ou concreto - tais sinais indicam alterações da resistência
naquela parte da estrutura;
informar às guarnições presentes no local para, em caso de estalos,
soltura ou quedas de pedaços das construções, retirarem-se o quanto antes do interior do ambiente;
interditar e isolar o local e suas proximidades;
acionar, imediatamente, a Defesa Civil, por meio da CIADE.
Cuidados a serem adotados no cenário do incêndio
Todos os bombeiros, independente de posto, graduação ou função, devem ter um comportamento pró-ativo no cenário do
incêndio.
No que diz respeito ao colapso estrutural, os bombeiros
devem observar se há:
fissuras, rachaduras ou trincas nas paredes;
estalos nas estruturas;
deformações nas estruturas metálicas;
desabamentos anteriores e possibilidade de novos desabamentos;
buracos no piso.
Qualquer sinal destes deve ser imediatamente reportado ao comandante do socorro. E deve-se providenciar a retirada das
vítimas e dos bombeiros o mais rápido possível.
Pedaços soltos do forro do teto podem causar cortes e outras
lesões. Para preveni-los, deve-se derrubá-los com um croque ou com jato compacto.
Todo incêndio é um ambiente que oferece riscos ao bombeiro.
Antecipar-se ao risco é fundamental para sua sobrevivência e integridade.
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