Choques elétricos
Em quase toda edificação haverá a presença de energia
elétrica.
Este tão importante elemento na vida do ser humano expõe o bombeiro
e as vítimas ao risco de choque elétrico, podendo até levá-los a óbito, seja
pelo contato direto com materiais energizados (fios, equipamentos
eletro-eletrônicos, etc.), seja pela condução elétrica, quando se está
combatendo o incêndio com água ou espuma, uma vez que ambas conduzem
eletricidade.
Para ressaltar a importância da proteção do bombeiro contra choques
elétricos é preciso expor, brevemente, os perigos da eletricidade.
Todas as atividades biológicas do corpo são estimuladas ou controladas por impulsos de corrente elétrica. Se essa
corrente fisiológica interna somar-se a uma outra corrente de origem externa,
devido a um contato elétrico, ocorrerá no organismo uma alteração das funções vitais
normais que pode levar o indivíduo à morte.
Principais efeitos do choque elétrico
Os principais efeitos que uma corrente elétrica externa
produz no corpo humano são: tetanização, queimadura e complicações
cárdiorespiratórias.
Tetanização
Tetanização é a paralisia muscular provocada pela circulação
de corrente através dos nervos que controlam os músculos. As freqüências usuais
de 50 e 60 Hz são suficientes para causar uma tetanização completa.
A corrente supera os impulsos elétricos que são enviados
pela mente e os anula, podendo bloquear um membro ou o corpo inteiro. De nada
vale, nesses casos, a consciência do indivíduo e a sua vontade de interromper o
contato.
Com uma intensidade de corrente de 20 a 500 mA ocorre a paralisia estendida entre os músculos do tórax, com sensação
de falta de ar e tontura, com possibilidades de fibrilação ventricular.
Uma pessoa em contato com uma peça sob tensão pode ficar “grudada”
a ela no período em que durar a diferença de potencial, a qual, dependendo da
duração, pode levar à inconsciência e até à morte.
O limite de largar é o valor máximo de corrente que uma pessoa,
tendo à mão um objeto energizado, pode ainda largá-lo.
Estudos mostram que para essa grandeza, em corrente
alternada de 50 a 60 Hz, os valores se situam entre 6 e 14 mA em mulheres
(média de 10 mA) e entre 9 e 23 mA em homens (média de 16 mA). Em corrente contínua,
foram encontrados os valores médios de 51 mA em mulheres e 76 mA em homens.
Correntes inferiores ao limite de largar, mesmo as mais
baixas, muito embora não produzam alterações graves no organismo, podem dar origem
a contrações musculares violentas e, indiretamente, causar acidentes como
quedas, ferimentos causados por partes móveis de máquinas ou movimentos bruscos,
que levam a outros riscos.
Correntes superiores ao limite de largar, mas com pouca intensidade,
podem causar uma parada respiratória se a corrente for de longa duração. Essas
correntes produzem sinais de asfixia, graças à contração de músculos ligados à
respiração e/ou à paralisia dos centros nervosos que comandam a função
respiratória. Se a corrente permanece, a pessoa perde a consciência e morre por
asfixia.
A tabela abaixo apresenta uma relação entre a quantidade de corrente
recebida e a reação, quando uma corrente flui da mão ao pé por apenas um
segundo.
Queimaduras
A passagem da corrente elétrica pelo corpo humano é acompanhada
do desenvolvimento de calor, por efeito Joule, podendo produzir queimaduras.
Quanto maior a intensidade de corrente e mais longo o tempo pelo
qual a corrente permanece, mais graves são as queimaduras produzidas. Além
disso, as queimaduras são mais intensas nos pontos de entrada e saída da
corrente elétrica pelo corpo.
Nas altas tensões, o calor produz a destruição de tecidos superficiais
e profundos, bem como o rompimento de artérias com conseqüente hemorragia e
destruição dos centros nervosos.
As queimaduras produzidas por correntes elétricas são
internas, profundas e de difícil cura. Cabe destacar que, apesar da pele aparentemente
normal, os músculos podem apresentar necrose profunda.
Complicações cardiorespiratórias
O coração é controlado por impulsos elétricos. No entanto,
se à atividade elétrica fisiológica normal acrescenta-se uma corrente elétrica de
origem externa e, muitas vezes, maior que a corrente biológica, é fácil imaginar o que sucede com o equilíbrio
elétrico do corpo.
As fibras do coração passam a receber sinais elétricos
excessivos e irregulares e as fibras ventriculares ficam super estimuladas de
maneira caótica e passam a contrair-se desordenadamente (uma independente da outra),
de modo que o coração não possa mais exercer sua função de
bombeamento do sangue.
É a fibrilação ventricular a responsável por muitas mortes decorrentes
de acidentes elétricos, na qual as fibras musculares do ventrículo vibram
desordenadamente, estagnando o sangue dentro do coração. Dessa maneira, não há
irrigação sanguínea pelo corpo, a pressão arterial cai a zero e a pessoa
desmaia, em estado de morte aparente.
A fibrilação ventricular é acompanhada de parada
respiratória da vítima. O período vulnerável corresponde a uma parte
relativamente pequena do ciclo cardíaco (10 a 20%).
Prevenção de choque elétrico durante o socorro
É comum que incêndios danifiquem a fiação, deixando fios elétricos expostos que podem causar acidentes ou servir de
fonte de ignição para novos focos. Sempre que possível, a eletricidade da edificação
deve ser desligada. E deve-se evitar, sempre, tocar ou encostar na fiação.
O desligamento da energia elétrica deve levar em conta as demais circunstâncias do evento, como a necessidade de se
retirar as vítimas pelos elevadores ou o caso de incêndios em edificações hospitalares,
com equipamentos que não podem ser desligados.
Quando tomada a decisão de manter a energia elétrica ligada,
é imprescindível que todos os bombeiros estejam cientes disso e os benefícios
superem os riscos. Um croqui e a designação de chefes por área ajudam a
organizar os esforços de combate.
Normalmente, quando o incêndio se relaciona com fenômenos termoelétricos,
os disjuntores desarmam-se automaticamente. Porém, isso não é garantia de que a
energia esteja desligada.
Sempre que for necessário lidar com eletricidade, deve-se
utilizar luvas de proteção específicas e outros materiais isolantes.
Principais condutas em caso de choque elétrico
Interromper, imediatamente, o contato da vítima com a corrente elétrica, desligando a eletricidade na chave específica
da área ou na chave geral do local.
Não encostar na vítima, se não conseguir desligar a corrente
elétrica.
Afastar a vítima do contato com a eletricidade, utilizando material isolante, seco, como borracha, madeira ou plásticos.
Realizar reanimação cardiopulmonar se necessário e remover a vítima para um hospital, mantendo a
observação de seus sinais vitais (respiração e batimentos cardíacos).
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