Pânico
A origem da palavra pânico é relativa ao deus da mitologia
grega, Pan; que assusta sem motivo; relacionado a susto ou pavor repentino, às
vezes, sem fundamento, que provoca uma reação desordenada individual ou
coletiva de propagação rápida.
O pânico é uma sensação psicológica de temor, a qual se
manifesta de forma dinâmica ou estática. É causada por uma informação ou fato
que extrapola a faixa de normalidade de um indivíduo, tornando-se adverso em
razão do seu não processamento, podendo ser intensificado por fatores
emocionais.
É importante considerar que as pessoas envolvidas em um
incêndio podem ser tomadas pelo pânico, e isso inclui os bombeiros. Essa
situação pode levá-los a uma condição irracional, dando vazão a vários
instintos primitivos básicos (fuga - luta - medo).
Cada pessoa apresenta
reações próprias, podendo ir desde o choro convulsivo e histérico até permanecerem
estáticas, aparentemente sem reação.
Existem vários exemplos de incêndios nos quais as pessoas,
na busca frenética e desordenada por uma saída do local sinistrado, acabaram,
infelizmente, em locais de difícil acesso para o salvamento, como banheiros,
atrás de armários, debaixo de mesas ou em locais inundados pela fumaça,
tornando-se vítimas fatais:
ASTÓRIA — em julho de 1963, Rio de Janeiro — 4 (quatro) mortos e 30
(trinta) feridos;
ANDRAUS — fevereiro de 1972, São Paulo — 16 (dezesseis) vítimas
fatais;
JOELMA — fevereiro de 1974, São Paulo — 188 (cento e oitenta e
oito) vítimas fatais.
A tentativa desordenada de evasão, impulsionada pelo desejo
único de permanecer vivo, estabelece a “lei do mais forte” em toda sua
dimensão, e, invariavelmente, ocorrem pisoteamentos, esmagamentos e saltos para
morte, que são gestos desesperados e traduzem não uma tentativa de escapar, mas
o último esforço para reduzir o martírio e os sofrimentos da morte pelo fogo.
Por esses motivos, nem sempre a vítima facilita a ação do bombeiro, que deve
conseguir realizar uma ação correta de convencimento, persuasão ou domínio das
vítimas.
Ações
preventivas
As ações preventivas devem se desenvolver sob dois aspectos:
• na capacitação dos bombeiros, no
exercício de suas atividades específicas;
• na elaboração de planos de evacuação
para os principais estabelecimentos, conforme a área de cada unidade
operacional, considerando as características e o público a ser atingido,
proporcionando condutas educativas com o objetivo de minimizar os efeitos do
pânico, em caso de ocorrência do incêndio.
As unidades operacionais do CBMDF, dentro da sua área de
atuação, juntamente com os órgãos setoriais da Diretoria de Serviços Técnicos,
devem implantar simulados e simulacros em edificações como hospitais, creches,
asilos, locais de difícil acesso para as viaturas de combate, locais de
concentração de público, e outros julgados relevantes. Tudo para desenvolver a
cultura e o controle do pânico, visando ações preventivas, avaliando o desempenho
profissional dos bombeiros de forma criteriosa e a utilização dos equipamentos
de acordo com observações mais completas e próximas da realidade.
Devem ser capacitados os bombeiros, com treinamentos e
palestras, com o objetivo de identificar as situações de pânico que poderão ser
encontradas nas atividades de combate a incêndios e salvamentos, buscando
prepará-los para que não se deixem contagiar pelo medo, conseguindo desenvolver
ações controladoras, capazes de transmitir e inspirar confiança nas vítimas. Os
dados obtidos por meio da execução desses exercícios ou treinamentos devem
formar um banco de dados nas unidades, possibilitando a otimização do
desempenho nos simulados e simulacros futuros, visando à real ocorrência de
sinistros.
Fatores estimulantes
do pânico
• falta de
conhecimento sobre o fato gerador do estímulo — a pessoa em pânico não sabe o que está realmente acontecendo;
• grande densidade
populacional no ambiente —
congestionamento nas saídas de emergências;
• riscos
envolvidos nas atividades desenvolvidas no local — a evacuação de um hospital ou asilo será mais complicada
para os bombeiros do que em edifícios residenciais;
• altura em que a
pessoa se encontra — o que implica dizer que quanto mais
elevada estiver, mais propensa ao pânico ela se encontrará;
• aumento da
temperatura ambiental — tornando a cena do incêndio
insuportável aos presentes;
• ocorrência de
mudanças orgânicas nos níveis sensoriais e fisiológicos — cada indivíduo reage de uma maneira.
Controle do
pânico
Em primeiro lugar, é necessário que o bombeiro tenha
controle de suas próprias emoções, desenvolvendo também sua capacidade de
liderança, para então auxiliar no controle do pânico das pessoas presentes na
cena do incêndio.
Deve-se ter em mente que não existe um perfil único para
todas as vítimas, podendo ser adultos, idosos, crianças, enfermos, deficientes
físicos, deficientes mentais ou grávidas. Logo, o bombeiro terá de analisar
esse aspecto no que se refere às características do público encontrado, para só
então efetivar uma escolha rápida e bem direcionada da maneira de lidar com
ele.
Após obter essas informações, terá como base o horário e a
atividade (se residencial ou comercial) do local onde está ocorrendo o
sinistro. A guarnição deve observar quais as vítimas que se apresentam menos
traumatizadas, pois elas serão mais facilmente convencidas de que a presença da
equipe dos bombeiros é um fator favorável, uma vez que são os indivíduos que os
ajudarão a manterem-se vivos.
Para convencer as vítimas envolvidas em um sinistro, o
bombeiro deverá ser persuasivo, ao conversar com elas. De acordo com a
circunstância, pode ser necessário o uso de meios estimulantes, os quais variam
desde a clássica batida nas faces (com moderação), até a ameaça de emprego da
força, com o intuito de dominar a(s) vítima(s), sendo recomendado o uso da
força apenas em último caso.
É necessário que a guarnição de salvamento tenha
conhecimento do seguinte:
• altura e número de pavimentos da
edificação;
• pontos de acesso e escape do prédio;
• perigos existentes e áreas de risco;
• sistemas de preventivos existentes e/ou
disponíveis;
• população fixa e/ou flutuante.
Procedimentos
básicos:
• buscar a retirada das vítimas por meio
da ação de uma equipe treinada e altamente disciplinada;
• manter curiosos afastados para evitar
confusão e para que o bombeiro possa atuar melhor;
• colocar as vítimas sob o comando de
socorrista. Esse bombeiro demonstrará a elas que controla a situação,
preferencialmente mediante uma postura tranqüila, mas com a firmeza necessária,
transmitindo, sempre que possível, mensagens curtas, porém expressivas,
realizando, de acordo com a necessidade, determinadas ações de efeito
psicológico;
• se estiver próximo às vítimas e desejar
conduzi-las para um local de escape, retire todo o grupo de uma forma
organizada e não permita conversas durante a condução, a fim de evitar o risco
de perda do controle sobre os elementos do grupo;
• se, durante a condução das vítimas,
estiver escuro, determine que se dêem as mãos e não elevem os pés para dar a
passada, buscando, dessa forma, evitar a separação do grupo e/ou a ocorrência
de acidentes durante o seu deslocamento (queda de uma ou mais pessoas em poços,
degraus, buracos que possam existir, mas que, se tornam imperceptíveis com a
escuridão).
Salvamento de
pessoas:
É um trabalho difícil, pois o bombeiro terá de ir até um
ponto, geralmente, confinado pelo incêndio, do qual a vítima por si só não teve
condições de sair. Portanto, também ele passa a correr risco de morte. As
pessoas constituem a mais urgente prioridade para as guarnições de bombeiros
que atuam nos incêndios.
Além do risco da
própria vida, poderá, ainda, o bombeiro deparar-se com dois fatores adversos:
a) aglomeração — na tentativa de fuga, as pessoas vão se ajuntando até
formarem um grupo numeroso, que acaba retido em algum compartimento do prédio.
Nesse caso, o trabalho do bombeiro é dificultado, pois todos querem salvar-se e
cada um quer ser o primeiro;
b) pânico — estado de extrema ansiedade, decorrente da evolução do
medo, afeta as pessoas, tornando-as, por vezes, desordenadas e irracionais.
O salvamento, principalmente o de pessoas, consiste na
promoção da fuga do local sinistrado, colocando-as em local seguro e isento de
riscos.
O principal meio de fuga são as escadas enclausuradas (vide
seção Sistemas de Proteção contra Incêndio, no módulo 5 deste manual). As
quais, só existem em edifícios mais altos e novos. Ao bombeiro, cabe
localizá-las e conhecer o sistema das suas portas corta-fogo. Então, seu
trabalho se limitar-se-á a conduzir as vítimas até a porta do pavimento
sinistrado, daí terão acesso à rua, através da escada enclausurada. Na sua
falta, utiliza-se a escada comum.
Dependendo da necessidade, poderão ser usadas outras técnicas
de salvamento, como cabos aéreos, escadas ou plataformas mecânicas, entre
outros. Porém, só devem ser utilizadas quando necessário e as escadas, por
algum motivo, não atenderem ao propósito.
Como a segurança humana é uma das principais finalidades do
escape nos incêndios, a evacuação deve estar baseada nos princípios da
objetividade, precisão, disciplina e segurança.
As vítimas devem
ser conduzidas para as escadas de incêndio, deixando um bombeiro ou mais
encarregados de dar as seguintes orientações necessárias:
• as vítimas não devem ir para os andares
superiores;
• devem manter uma distância segura entre
uma vítima e outra;
• as vítimas descem apenas de um lado da
escada, destinando o outro para o trânsito das equipes de bombeiros;
• evitam-se correrias e aglomerações
desnecessárias;
• concentram-se as vítimas em um mesmo
local a fim de se efetuar uma chamada rápida e para que se verifique se há
falta de alguma pessoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário