17 maio 2015

Eficácia da Terapia Nutricional Enteral no processo de cicatrização de úlceras de pressão - Introdução - Método - Resultados - Discussão - Conclusão - Referências - Fonte




INTRODUÇÃO


A úlcera por pressão (UP) é um problema de saúde pública que afeta as pessoas doentes, a família e a sociedade.Ela é definida como "uma área danificada localizado sobre a pele e tecido subjacente causado por pressão, cisalhamento, atrito, ou uma combinação de ( 1 ) ". Sua etiologia tem outros fatores contribuintes que são intrínsecas ao assunto, tais como nutrição, idade e comorbidades, entre outros ( 2 ) . Intervenções impostas para a sua prevenção e tratamento interferir na qualidade de cuidados de saúde ( 3 ) .

A idade é considerada um fator de risco para UP, especialmente em pacientes com idade 65 anos ou mais. A falha de cicatrização de feridas afeta 3-6.000.000 pessoas nessa idade, e representa 85% dessa ocorrência ( 4 ) .

No Brasil, a preocupação com o PU tornou-se mais evidente com a publicação da RDC Nº 36, de 25 de julho th2013, que instituiu ações para promover a segurança do paciente e melhoria da qualidade nos serviços de saúde.

Prevenção de PU foi incluído no plano de segurança do paciente para o qual devem ser desenvolvidas estratégias e ações para a gestão de risco ( 5 ) . Um protocolo foi publicado para a prevenção que inclui estratégias para otimização da nutrição e hidratação ( 6 ​​) .

Em relação à nutrição, estudos mostram uma relação entre desnutrição e desenvolvimento de PU e cicatrização demorada ( 7 - 8 ) . 

Um estudo que pacientes classificados como desnutridos, em risco nutricional e eutróficos de acordo com o Índice de Massa Corporal, encontrada estado nutricional extremamente pobres em pacientes com PU (39,5% desnutridas e 2,5% bem nutridos), em comparação com pacientes sem PU (16,6 % desnutridos e 23,6% bem nutridos) (p <0,001) ( 9 ) . Um estudo prospectivo de alto risco e pacientes hospitalizados identificada desnutrição em 29% dos pacientes na admissão e após quatro semanas de 17% destes PU desenvolvido, no entanto, a lesão ocorreu em apenas 9% dos pacientes que não estavam desnutridos ( 10 ) .

Neste sentido, a triagem nutricional contribui para identificar a necessidade de terapia Enteral Nutrition (ENT), a fim de fornecer calorias, proteínas, aminoácidos, vitaminas e hidratação adequada para pacientes com PU. O enfermeiro deve ser o responsável pela realização da triagem nutricional e ações para a implementação ENT ( 11 -13 ) .

ENT usa o alimento especialmente formulado (industrializados ou não), exclusiva ou parcialmente utilizados para substituir ou complementar a alimentação para as necessidades nutricionais do paciente, e está envolvida na síntese ou manutenção de tecidos, órgãos ou sistemas ( 5 , 11 ) .

A fim de prevenir e tratar a UP, muitos suplementos foram comercialmente desenvolvido para ENT (suplemento nutricional oral e via nasogástrica, nasoenteral / nasojejunal ou tubo percutânea). Estas fórmulas são compostos principalmente por proteína, arginina, glutamina, vitamina C, zinco, ferro e vitamina E ( 14 ) , e são classificados de acordo com a complexidade dos nutrientes em polimérico, oligoméricas, monoméricas, e fórmulas e também dietas modulares ( 15 ) .

Em relação à importância do estado nutricional adequada para a cura de PU, é necessário avaliar a eficácia de terapia nutricional (NT) como um tratamento para a PU. Para tanto, a pesquisa com o design apropriado sobre o tema, bem como revisões sistemáticas para apresentar o melhor nível de evidência para a tomada de decisão clínica é indispensável.

Uma revisão sistemática (SR), publicado em 2003, teve como objetivo avaliar a eficácia da nutrição enteral e parenteral para a prevenção e tratamento de PU incluiu oito ensaios clínicos randomizados (ECR), e observou que os suplementos nutricionais reduziu o número de novas úlceras, mas foi não é possível chegar a conclusões definitivas sobre o efeito da nutrição enteral e parenteral, devido à heterogeneidade dos estudos ( 16 ) .

Em outra SR publicado em 2005 para verificar o impacto do apoio nutricional enteral sobre a incidência e cura de UP, 15 estudos foram incluídos e cinco foram agrupados em uma meta-análise de suplementos nutricionais orais ou alimentação por sonda enteral. 

A meta-análise, n = 1.224, de pós-cirúrgicos idosos cronicamente hospitalizados mostrou que suplementos orais foram associadas a uma menor incidência de desenvolvimento de UP (odds ratio 0,75, IC 95% [62-89]). 

Tal como para a cicatrização de feridas, meta-análise não foi possível, no entanto estudos individuais têm mostrado resultados favoráveis ​​com a utilização de altas doses de suplementos proteicos especializados para PU cura ( 17 ) .

Em 2008, um SR avaliar tratamentos disponíveis para intervenções nutricionais PU incluiu sete ensaios clínicos randomizados e os autores descobriram que a suplementação de proteína promoveu a cicatrização de úlceras em comparação com placebo (Escala Cura média marcar 3.55 [4.66] vs. 3,22 [04:11], p <0,05), mas há pouca evidência para justificar o uso rotineiro de ENT em comparação com o tratamento padrão para o PU de cura ( 18 ).

Embora tenha sido conduzida SRs envolvendo nutrição na prevenção e tratamento de PU, verificou-se que estes não se restringiam a ENT; extrapolando a pesquisa para outras estratégias e este não alcançar uma ampla pesquisa nos bancos de dados. Portanto, considerando a urgência de novos estudos com qualidade metodológica e que o SR torna possível obter respostas para questões clínicas e seguro incorporar novos procedimentos para o exercício profissional com apoio científico ( 19 ) , um SR teve como objetivo avaliar a eficácia da Terapia Nutricional Enteral (ENT) no processo de cicatrização de úlceras de pressão (UP) em adultos e idosos foi proposto.



MÉTODO

Trata-se de uma Revisão Sistemática (RS), baseada nas recomendações do Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions propostas pela Colaboração Cochrane (20). A RS difere de outros métodos de revisão, pois utiliza procedimentos explícitos de busca sistemática e análise crítica para sintetizar a literatura acerca de uma questão específica, tendo por objetivo minimizar os vieses e o erro aleatório presentes em análises individuais(19).

Para elaboração da pergunta de pesquisa utilizou-se o acrônimo PICO(20) (P - população e problema; I - intervenção; C - comparação; O - desfechos), no qual: P - Adultos e idosos com úlcera por pressão; I - Uso de terapia nutricional enteral; C - Comparação sem complemento; ou fórmulas diferentes; O - Cicatrização total; Cicatrização parcial; estabilidade da área total; redução do exsudato; redução de tecidos desvitalizados; tempo de tratamento para cicatrização da úlcera por pressão; e outros. Assim, a pergunta de pesquisa foi Qual a efetividade da terapia nutricional enteral no processo de cicatrização das UP em adultos e idosos?

Os critérios de inclusão foram: ensaios clínicos randomizados, sem restrição de idioma ou data de publicação, que avaliaram o efeito da TNE no processo de cicatrização das UP em adultos e idosos, hospitalizados ou em domicílio, que compararam tratamento com TNE e placebo; ou TNE com diferentes composições; ou TNE com diferentes dosagens.

Foram excluídos estudos que envolveram outras etiologias de feridas; não limitaram a intervenção à TNE (adotaram outra via de administração); e não descreveram a fórmula utilizada na TNE.

O desfecho primário foi a cicatrização total da UP, e os secundários foram cicatrização parcial da UP; estabilidade da área; redução do exsudato e de tecidos desvitalizados. A busca ocorreu de maio a agosto de 2013. Os estudos foram identificados por meio das bases de dados: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) em The Cochrane Library, National Library of Medicine/NLM (MEDLINE)/PubMed, Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Biomedical Database (EMBASE), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) e Web of Science. Procedeu-se também à busca manual, por meio da consulta de resumos de trabalhos apresentados em congressos, referência de artigos das revisões sistemáticas e dos ECR identificados, ainda, bases de registro de ECR e contato com pesquisadores atuantes na área de tratamento de feridas.

As estratégias de busca foram formuladas conforme os critérios e manuais de cada base de dados. Utilizaram-se descritores Medical Subject Heading (MeSH), Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e termos relacionados ao problema de pesquisa (úlcera por pressão), intervenção (terapia nutricional enteral) e desenho do estudo (ensaio clínico randomizado), combinados com operadores booleanos (AND e OR) e símbolos de truncagem.


O Quadro 1 apresenta a estratégia de busca adotada na base MEDLINE via PubMed, a qual foi adaptada para as demais bases analisadas.



Gráfico 1  Estratégia de busca na base de dados MEDLINE / PubMed - Curitiba, PR, 2013 


Para a inclusão, os resumos dos estudos identificados foram avaliados de forma cega e independente por dois revisores, que aplicaram os critérios de elegibilidade e selecionaram os estudos relevantes; em caso de discordância, um terceiro revisor foi solicitado. Na primeira reunião de consenso os estudos selecionados foram avaliados na íntegra com aplicação dos critérios de elegibilidade, e, posteriormente, na segunda reunião de consenso, foram definidos os estudos incluídos e excluídos da revisão. O grau de concordância entre os revisores foi avaliado pela medida Kappa(20), o programa STATA® 9.7 foi utilizado. O Kappa avalia a concordância interobservadores e varia de 1 (concordância completa) a -1 (discordância completa)(21).

Para a extração dos dados, adotou-se um formulário adaptado(22), o qual incluiu: identificação do estudo (título, revista, ano de publicação, volume e número), método, características dos participantes e da intervenção, desfecho, aspectos éticos, financiamento e parecer do revisor.

A qualidade metodológica dos estudos foi realizada por meio da Ferramenta da Colaboração Cochrane para avaliação do risco de viés de ensaios clínicos randomizados, disponível no programa Review Manager versão 5.1.0, no qual os estudos foram julgados como 'baixo risco de viés' (low risk of bias), 'alto risco de viés' (high risk of bias) e 'risco incerto de viés' (unclear risk of bias), para seis domínios: geração de sequência aleatória, ocultação da alocação, cegamento dos participantes e profissionais, cegamento de avaliadores do desfecho, desfechos incompletos e relato de desfecho seletivo(20).

Devido à heterogeneidade dos estudos, os dados foram agrupados e analisados por desfechos de modo descritivo.

Não houve conflito de interesses na condução desta revisão. Também não ocorreu nenhum tipo de financiamento para o estudo.


RESULTADOS


Foram identificados 432 estudos, dos quais: 66 na MEDLINE/PUBMED, 100 na EMBASE, 58 na CENTRAL, 124 na Web of Science, 69 na CINAHL, zero/nenhum na SciELO e LILACS, e 15 na busca manual. Desses, 156 estavam duplicados e 244 não atenderam aos critérios de inclusão. Assim, foram avaliados 32 estudos na íntegra e após análise independente por dois revisores, dez estudos foram incluídos nesta revisão, conforme Figura 2. Foi solicitado o parecer do terceiro revisor para obter consenso dos estudos incluídos. O índice Kappa demonstrou concordância significativa de 0.939 (p<0.001 e IC 95%).



Figura 1  Fluxograma de identificação, selecção e inclusão de estudos - Curitiba de 2013 


Na avaliação da qualidade metodológica dos estudos, apenas dois tinham baixo risco de viés para todas as áreas avaliadas (E32, E90) e um para cinco áreas (E5). Dois classificado com duas áreas de alto risco de viés (E419, E424) e dois com um (E420, E10). Em oito estudos foram pelo menos uma área classificada no incerto risco de viés (E5, E10, E412, E418: E419, E424, E425, e426), que mostra uma falta de detalhes na descrição da metodologia desses estudos e impede uma análise adequada quanto à qualidade. A Figura 2 dá uma revisão de estudos para cada área individualmente.


Figura 2  Avaliação individual da qualidade metodológica dos estudos incluídos na revisão sistemática - Curitiba, PR, 2013. 


Gráfico 2 apresenta estudos selecionados e referências relacionadas, ano de publicação, país, design e número de pacientes. Gráfico 3 apresenta a lista de estudos como a intervenção e do número de participantes no grupo experimental e controle, avaliação e acompanhamento. Faz-se notar que as operações contemplado suplementos, tais como a arginina, a vitamina C, colagénio, ornitina alfa-cetoglutarato (OKG), sulfato de zinco, colagénio hidrolisado e suplementos nutricionais mistos. Apenas dois estudos (E412, E419) tinham a mesma intervenção (vitamina C).




Gráfico 2  estudos selecionados de acordo com o ano de referência, país, design e número de pacientes - Curitiba de 2013








Gráfico 3  estudos selecionados de acordo com a intervenção nos grupos experimental e controle, número de participantes no grupo experimental e controle, avaliação e acompanhamento - Curitiba, 2013. 


Quatro estudos (E10, E424, E425, E426) avaliaram o uso de suplementos nutricionais mistos. No estudo E10 a interação entre os dois grupos (intervenção e controle) quanto ao tamanho das UP e o período de intervenção foi significativo (p<0,001). Houve redução significativa no tamanho da ferida a partir do primeiro dia do período de intervenção (p=0,05). O estudo E424 que avaliou a dieta A, B e C, obteve que: a Dieta C apresentou uma melhora significativa do escore inicial PUSH tool (9,4 ± 1,2); e o escore PUSH tool na terceira semana foi significativamente menor em comparação às dietas A e B (7,0 ± 1,5 e 6,0±1,2; p<0,05). Os pacientes apresentaram um valor aproximado de 2,5 vezes maior quanto à melhora na cicatrização de UP após três semanas em comparação com os outros dois grupos. A Dieta A (controle) demonstrou uma pequena melhora na cicatrização das UP na terceira semana (8,7 ± 1,0 vs 7,0 ± 1,5; semana 0 e 3, respectivamente; p<0,05) e na Dieta B não houve mudanças significativas na pontuação PUSH tool nas três semanas.

No estudo E425 a redução no tamanho da UP no grupo experimental diferiu significativamente do grupo controle durante o período de oito semanas (p=0,006, tratamento por tempo, p=0,016, tratamento por tempo2, repeated-measures mixed models [RMMM]). As UP no grupo experimental foram significativamente menores em comparação com a avaliação inicial a partir da terceira semana (p=0,019) e nas semanas seguintes (p=0,012). No grupo controle as UP eram significativamente menores em comparação com a avaliação inicial a partir da quinta semana (p=0,019), e nas semanas subsequentes (p=0,008). O escore PUSH tool melhorou significativamente no grupo experimental em comparação com o grupo controle (p=0,011, tratamento por tempo, p=0,033, tratamento por tempo2, RMMM). Os tipos de tecidos diferiram significativamente entre os tratamentos após quatro semanas, houve menos UP identificadas com 'tecido de granulação' ou 'tecido necrótico' e mais UP identificada como 'fechada' ou 'tecido epitelial' no grupo experimental comparado ao grupo controle (p=0.037), demonstrando boa evolução da cicatrização e presença de cicatrização completa das lesões. Os subescores do instrumento PUSH tool relacionados ao tamanho da UP e quantidade de exsudato não diferiram significativamente entre os grupos. No entanto, a diminuição no número de curativos (grupo experimental) diferiu significativamente em relação ao grupo controle ao longo do período de oito semanas (p=0.003, tratamento pelo tempo; p=0.045, tratamento por tempo2, RMMM, post hoc), assim, infere-se melhora das condições gerais da UP, como exsudato e presença de tecidos desvitalizados.

As diferenças entre as intervenções no estudo E426 tornaram-se estatisticamente significativas no escore PUSH tool na 12ª semana (p<0,05) e na área da UP na 8ª semana (p<0,05). Os participantes do grupo experimental demonstraram uma média de redução significativamente maiores, quanto à área da UP (57% vs 33% na 8ª semana, p<0,02; 72% vs 45% na 12ª, p<0,005). O fornecimento de quantidades adequadas de energia e proteína demonstrou ser eficaz em melhorar a cicatrização de UP (p<0,001) para ambos os grupos.

O estudo E5 avaliou o uso da arginina na cicatrização da UP e obteve diferença significativa no decréscimo do escore PUSH tool ao longo do tempo (p<0,001). Não houve diferença na taxa de cicatrização entre os grupos (p=0,991).

O estudo E32 avaliou o Colágeno hidrolisado e identificou que a mudança do escore PUSH tool em oito semanas foi de 3,22 ± 4,11 no grupo controle e 3,55 ± 4.66 (p<0,05) no grupo experimental. Os escores PUSH tool diminuíram em todos os pacientes durante o período de intervenção, no entanto, o grupo experimental apresentou aproximadamente o dobro da taxa cicatrização em comparação ao grupo controle. O grupo experimental obteve maior redução no escore PUSH tool em comparação ao grupo controle (60% vs 48%, p<0,05).

A Ornitina alfa-cetoglutarato foi avaliada pelos estudos E90 e o Subgrupo de UP com área ≤ 8 cm2 apresentou diminuição absoluta da área da UP na sexta semana significativamente maior no grupo experimental em comparação com o grupo controle (-2,3 ± 4,2 cm2 vs -1,7 ± 1,7 cm2, p=0.006). Houve tendência à maior proporção de feridas que atingiu uma regressão superior a 90% em seis semanas no grupo experimental (23,4% vs 13,0%) (OR=0,49; IC 95% [0,16-1,46]. A taxa de cicatrização foi mais elevada no grupo experimental em comparação com o controle (-0,07 ± 0,11 cm2/dia vs -0,04 ± 0,08 cm2/dia; p=0,007). No Subgrupo de área > 8 cm2 não houve diferenças entre os grupos quanto à diminuição absoluta da área, proporção da regressão e taxa de cicatrização das UP. Não houve diferença na taxa de cicatrização.

Dois estudos avaliaram a vitamina C (E412, E419). O estudo E412 na análise por intenção de tratar (ITT), a taxa de cicatrização absoluta no grupo experimental foi de 0,21 e 0,27 cm2/semana no grupo controle (IC 90%). A redução média do volume da UP foi de 0 ml/semana no grupo experimental e 0,20 ml/semana no grupo controle (IC 90%). A média de 'mudança clínica' (velocidade de cicatrização, redução da superfície e do volume) foram pontuados em uma escala de -100 a +100%, e no grupo experimental observou-se melhora de 17,89% por semana e 26,08% por semana no grupo controle. Na análise por protocolo, foram incluídos 67 pacientes, a taxa de cicatrização absoluta no grupo experimental (n=35) foi de 0,23 e 0,27 cm2/semana no grupo controle (n=28) (IC 90%). A redução média do volume da UP foi de 0,05 ml/semana no grupo experimental e 0,11 ml/semana no grupo controle (IC 90%). A média de "mudança clínica" no grupo experimental foi de 18,79% por semana e 29,50% por semana no grupo controle.

O estudo E419 obteve que o grupo experimental apresentou uma redução significativa na área da UP de 84% (p<0,005), em comparação com 42,7% (p<0.001) no grupo controle. As taxas médias de cicatrização foram de 2,47 cm2 e 1,45 cm2 por semana nos grupos tratados e não tratados, respectivamente.

O sulfato de zinco foi avaliado no estudo E418. Para dez participantes que receberam a intervenção houve mudança na UP quanto ao volume médio de 10 ml (± de 9 ml), dez pacientes que receberam placebo tiveram alteração no volume médio de 6,0 ml (±17,5 ml), os resultados não foram estatisticamente significativos.


DISCUSSÃO

Tendo em vista que a adequada nutrição relaciona-se ao processo de cicatrização, o objetivo desta RS foi avaliar a efetividade da TNE como tratamento no processo de cicatrização das UP em adultos e idosos. Para esse desfecho, os resultados dos estudos incluídos demonstram que a TNE auxilia a cicatrização de UP, porém não foram constatadas evidências científicas suficientes para se confirmar esse achado.

Nos estudos selecionados foram randomizados 553 pacientes, e destes 488 foram incluídos nas análises dos dados.

Em relação à 'cicatrização total da UP', cinco estudos relataram 39 UP que alcançaram esse desfecho (E10; E90; E425; E426; E419). Houve maior proporção de UP cicatrizadas nos grupos experimentais (61,5%). Para o subgrupo 'suplementos nutricionais mistos' (E10; E425; E426), foram 16 UP (28,5%; N=56) cicatrizadas nos grupos experimentais e 9 (13%; N=65) nos controles, com tempo de seguimento de oito a 12 semanas.

Concorda com esse achado o estudo(23) multicêntrico aberto que incluiu 245 pacientes, e avaliou os efeitos de um suplemento nutricional misto (proteína, arginina, vitamina C, vitamina E, e outros micronutrientes - Cubitan®), e obteve 65 UP (27%) cicatrizadas em nove semanas. Revisão Sistemática(24) apontou como limitação o uso dos desfechos 'redução no tamanho da ferida' e 'taxa de cicatrização' como substituto da 'cicatrização completa' pelos estudos incluídos, assim, a falta de homogeneidade dos desfechos analisados dificulta a comparação entre os estudos.

Quanto ao desfecho 'cicatrização parcial' para o subgrupo 'suplementos nutricionais mistos', os grupos que receberam as intervenções apresentaram diminuição da profundidade e da área da lesão, bem como melhores taxas de cicatrização em comparação aos grupos controle. Infere-se que TNE enriquecida com proteínas e micronutrientes favorecem o processo de cicatrização de UP (E10; E424; E425; E426). Em consonância com esse dado, um estudo(23)verificou a redução significativa da área das úlceras (1580 ± 3743 mm2para 743 ± 1809 mm2), representando 53% de redução em nove semanas (p<0.0001). Estudo prospectivo(25) conduzido com 39 pacientes, que usaram um suplemento nutricional misto (suplemento rico em proteína, enriquecido com arginina, vitamina C e zinco), após três semanas de intervenção constatou redução significativa da área das UP de 23.6 cm2 para 19.2 cm2 (p<0.001), representando redução de 29%. Ainda, diretriz nacional recomenda a Terapia Nutricional para pacientes portadores de UP, com fórmulas de nutrientes imunomoduladores e maior teor de proteínas no tratamento de pacientes com UP, com alto grau de recomendação e força de evidência (A)(26).

Para o subgrupo 'arginina', apenas um estudo avaliou este nutriente isoladamente, não houve diferenças significativas na taxa de cicatrização entre o grupo experimental e controle, assim, sugere-se que a dose de 4,5g de arginina por dia pode promover um benefício similar na cicatrização em comparação à dose de 9g (E5). Destaca-se que, dos estudos incluídos, outros três apresentavam arginina nas composições das fórmulas (E424; E425; E426). Estudo observacional(27) avaliou a taxa e o tempo para cicatrização de UP em 18 participantes que receberam terapia nutricional com 9g de arginina (Arginaid®, Nestlé Nutrition®) em comparação a um controle histórico com 17 participantes. Identificou-se um total de 26 UP cicatrizadas no grupo controle histórico e 30 UP nos 18 pacientes no grupo experimental. No grupo experimental, o tempo para cicatrização mostrou-se duas vezes mais rápido em comparação ao controle (10.5 ± 1.3 semanas vs 21 ± 3.7 semanas; p=0.006). Portanto, este estudo sugere benefício da suplementação com 9g de arginina na cicatrização de UP.

Para o subgrupo 'vitamina C' os resultados divergiram. Tendo em vista a heterogeneidade dos estudos incluídos, conclui-se que não há evidências acerca dos benefícios da suplementação com vitamina C na cicatrização das UP (E412; E419). Ao encontro desses achados, outras quatro RS que avaliaram os efeitos da suplementação com vitamina C na cicatrização de UP incluíram os mesmos estudos da presente revisão e concluíram que, devido à escassez de produção científica e rigor metodológico, o papel da vitamina C permanece incerto na cicatrização das UP(16,18,24,). Ressalta-se que outros quatro estudos incluídos na presente revisão apresentavam a vitamina C nas composições das fórmulas (E10; E424: E425; E426).

Para a o 'sulfato de zinco' os pacientes que receberam a intervenção obtiveram maior redução no volume da lesão, no entanto, não houve significância estatística e apenas três pacientes concluíram o estudo (E418). Corroborando com este dado, em uma RS(28) com o objetivo de determinar a eficácia da suplementação com sulfato de zinco para promover a cicatrização de úlceras venosas e arteriais, foram incluídos seis ECR, verificando que não há evidências para afirmar que a suplementação com sulfato de zinco favorece a cicatrização.

Uma revisão crítica(29) sobre os efeitos da suplementação com zinco na cicatrização de feridas analisou as publicações científicas e verificou que o zinco participa significativamente no processo de cicatrização, no entanto, não há evidência para subsidiar a indicação dessa suplementação. Os estudos incluídos foram considerados antigos, com amostras pequenas, tempo de seguimento curto, alta taxa de perdas de seguimento, e de baixa qualidade metodológica. Assim, salienta-se a necessidade de estudos com metodologia rigorosa.

Quanto ao uso de 'suplementos nutricionais mistos', embora não haja evidências que a suplementação com vitaminas e minerais auxilie na cicatrização das UP, a suplementação é recomendada quando há suspeita de deficiências(3).

Para o 'ornitina alfa-cetoglutarato', houve diferenças estatísticas apenas para o subgrupo ≤ 8 cm2, o grupo experimental apresentou maior redução da área total em comparação ao controle. O estudo sugere que a suplementação com OKG apresenta benefícios na redução da área de UP com área menor ou igual a 8 cm2, acelerando o processo de cicatrização (E90). Corrobora com esse dado o ECR, com 47 participantes, que analisou a eficácia do OKG comparado com controle isonitrogenado na cicatrização de pacientes queimados graves. Constatou-se que o tempo de cicatrização de feridas em pacientes que recebem OKG foi menor em relação ao controle (60±7 vs 90±12 dias; p<0.05)(30).

Para o 'colágeno hidrolisado', o grupo experimental apresentou aproximadamente o dobro da taxa cicatrização em comparação ao grupo controle e obteve maior redução no escore PUSH tool em oitos semanas (60% vs 48%, p<0.05). O estudo sugere que suplementação com colágeno hidrolisado promove a cicatrização de UP (E32). Não foram identificados outros estudos que avaliassem os efeitos da TNE com colágeno hidrolisado em UP ou outros tipos de feridas, os próprios autores do estudo discorrem que desconhecem estudos que contemplem essa temática (E32).

Em relação à 'redução de tecidos desvitalizados' apenas um estudo no subgrupo 'suplementos nutricionais mistos' (E425) avaliou esse desfecho. Houve diminuição significativa no número de curativos no grupo experimental em relação ao grupo controle, assim, infere-se melhora das condições gerais da UP, como exsudato e presença de tecidos desvitalizados. Igualmente, dois estudos(23,25) analisaram o desfecho 'redução do exsudato' e verificaram redução significativa da quantidade de exsudato em três e nove semanas, respectivamente (p=0.012; p<0.0001). Um estudo(25) verificou a redução significativa de tecido necrótico (p=0.001).

Anteriormente à elaboração desta revisão, foram efetuadas buscas no intuito de identificar outras RS que contemplassem a TNE como tratamento para UP. Foram encontradas três, todavia, essas não se restringiam à TNE, e/ou não realizaram busca ampla em bases de dados, e/ou não se apresentavam devidamente atualizadas. A primeira revisão(16) incluiu oito estudos que dataram de 1971 a 1995, a segunda(17) quatro de 1990 a 2002, e a terceira(18) sete estudos de 1971 a 2006. Na presente revisão foram incluídos dez estudos publicados entre 1971 a 2012, dos quais cinco apresentaram ano de publicação superior às demais revisões.

Nesta revisão, os estudos incluídos foram heterogêneos em relação aos pacientes (cirúrgicos, residentes de instituições de longa permanência para idosos - ILPIs, critérios de elegibilidade), ao tipo de intervenção, amostra e tempo de seguimento. Infere-se que a interpretação dos resultados dos estudos deve ser feita com cautela tendo em vista o tamanho das amostras e as perdas de seguimento. A heterogeneidade entre os estudos inviabilizou a combinação e comparação dos resultados, assim, foram considerados inadequados para realização de metanálise e para detectar os efeitos das intervenções nutricionais.

Dentre as limitações desta RS, os ECR não apresentaram descrição adequada da metodologia, com informações relevantes e claras, ou seja, descrição detalhada dos métodos de ocultação do sigilo de alocação, geração da sequência de alocação, e uso de método duplo-cego. Similarmente a esta revisão, uma RS(25) que avaliou a eficácia e a segurança de estratégias de tratamento para adultos com úlceras por pressão, publicada em 2013, incluiu 11 ECR, dos quais três foram considerados de boa qualidade, dois de qualidade moderada e seis de má qualidade. Ao encontro com a presente revisão, relatou-se como limitações: baixa qualidade metodológica; amostras pequenas, que limitam a detecção de diferenças estatisticamente significativas; diferenças na população dos pacientes quanto às características das úlceras (localização e estágio), intervenções e comparações (placebo ou tratamento padrão)(25).

Outra limitação foi a avaliação do risco de viés, somente dois estudos (E32; E90) apresentaram baixo risco de viés para todos os domínios avaliados na "Ferramenta da Colaboração Cochrane para avaliação do risco de viés de ensaios clínicos randomizados". Os demais ECR não apresentaram descrição adequada da metodologia, tais como, descrição detalhada dos métodos de ocultação do sigilo de alocação, geração da sequência de alocação, e uso de método duplo-cego. Porém, não é possível afirmar com precisão se a ausência de tais dados indica que o estudo não foi conduzido adequadamente, haja vista que por vezes os dados são omitidos devido às normas de publicações exigidas pelas revistas, tal como limitação de laudas para o estudo. Os ECR incluídos foram conduzidos com amostras pequenas, fato que dificulta a detecção dos efeitos das intervenções e diferenças significativas entre os grupos.

As TNE incluíram diferentes componentes: arginina (E5), vitamina C (E412; E419), colágeno hidrolisado (E32), OKG (E90), sulfato de zinco (E418) e suplementos nutricionais mistos (E10; E424; E425; E426). A maioria dos estudos teve como intervenção suplementos nutricionais mistos, inviabilizando a verificação dos efeitos dos componentes isoladamente, bem como o agrupamento para análise estatística da RS.

Os estudos divergiram quanto à análise dos dados, houve apresentação apenas gráfica e ausência de dados absolutos, assim dificultando a análise crítica e agrupamento dos estudos.

Dessa forma, não há como confirmar que a TNE favorece a cicatrização de UP em adultos e idosos, mas esta revisão apresenta como avanços o maior índice de confiança e menos riscos de viés, pois foram incluídos apenas ECR, foi efetuada extensa busca em várias bases de dados, teve uma metodologia rigorosa e predefinida, selecionou e avaliou criticamente pesquisas relevantes, coletou e analisou os dados dos estudos, fornecendo importantes informações para a tomada de decisão clínica.


CONCLUSÃO

A partir dos estudos individuais, infere-se que a TNE com fórmulas proteicas e com micronutrientes pode fornecer benefícios ao processo de cicatrização, bem como o cálculo da dosagem ideal conforme o gasto energético basal. Contudo, as evidências são insuficientes e não foi possível realizar metanálise para se afirmar que a TNE promove a cicatrização de UP. Entretanto, é incontestável a importância da intervenção nutricional em pacientes desnutridos e portadores de UP e da avaliação da equipe multiprofissional e equipe nutricional especializada. Destarte, até que novos ECR sejam realizados não é possível determinar quais componentes nutricionais devem ser adotados para tratamento de UP. Sugere-se que a prática clínica permaneça respaldada pelos guidelines acerca de tratamento de UP e TNE.

Por meio desta revisão, foram verificadas duas lacunas presentes nas produções científicas. A primeira observada foi quanto à efetividade da TNE com vitamina C isolada no processo cicatrização de UP, tendo em vista que o último ECR identificado acerca desta temática data de 1995. Uma segunda lacuna averiguada diz respeito ao colágeno hidrolisado que, embora tenha demonstrado resultados favoráveis e indique que a sua ação promove a cicatrização de UP, não foram localizados outros estudos que avaliassem a efetividade da sua suplementação em UP ou outros tipos de feridas. Portanto, necessitam-se de pesquisas que contemplem a ação desses dois nutrientes. Mais pesquisas com um número maior de pacientes e com metodologia adequada são necessárias para obter evidências que avaliem o impacto da nutrição nas úlceras.


Diante da escassez de dados provenientes de ECR de qualidade para indicar o uso de TNE, bem como a composição das fórmulas, justifica-se a realização de novos estudos que possam ser incorporados a esta revisão, para que se estabeleça a segurança, o benefício e o maior grau de certeza quanto ao uso da TNE para tratamento de UP. Sugere-se a condução de ensaios clínicos randomizados com rigorosa descrição metodológica e sustentados em recomendações consagradas na literatura. Também com amostras maiores, avaliação dos componentes nutricionais isoladamente, resultados descritos detalhadamente e com fornecimento de dados absolutos.

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* Extraído da tese "Efetividade da terapia enteral nutricional No processo de cicatrização das úlceras POR PRESSAO: Revisão Sistemática", Universidade Federal do Paraná, de 2013.
Recebida: April21, de 2014; Aceito: November18, de 2014
Correspondência: Gisely Blanc. Rua João Dembinski, 1103. CEP: 81.270-330 - Curitiba, PR, Brasil. E-mail:giselyblanc@hotmail.com


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