05 agosto 2022

A queixa

 

A queixa

 

Quando eu era menino - oh mãe - não te deixava;

Então nunca sem mim conseguiste sair:

Tivestes de ir à rua, e embirrando eu chorava;

e ralhavas: "eu volto" e eu: leva-me! quero ir!

Pois se eras o meu sol.. Tua ausência enoitava,

e a noite era terror... Como à noite sorrir?

Mas ante a minha teimosia infantil justa e brava

fugia-te, sem mim, o ânimo de partir.

Porque naquela vez - na última somente

foste só - sem me ver, num protesto veemente

chorar como em criança ou com maior pesar?

- Mãe! é longe aonde vais? Oh leva-me contigo...

Leva... Quero ir lá longe... ir também ao Jazigo...

E lá foste a sorrir sem querer me levar!

 

Murilo Araújo

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