6
Os carás, que de roxo estão vestidos,
São lóios dos legumes parecidos,
Dentro são alvos, cuja cor honesta
Se quis cobrir de roxo por modesta.
A mandioca, que Tomé sagrado
Deu ao gentio amado,
Tem nas raízes a farinha oculta:
Que sempre o que é feliz, se dificulta.
E parece que a terra de amorosa
Se abraça com seu fruto deleitosa;
Dela se faz com tanta atividade
A farinha, que em fácil brevidade
No mesmo dia sem trabalho muito
Se arranca, se desfaz, se coze o fruito;
Dela se faz também com mais cuidado
O beiju regalado,
Que feito tenro por curioso amigo
Grande vantagem leva ao pão de trigo.
Os aipins se aparentam
Coa mandioca, e tal favor alentam,
Que tem qualquer, cozido, ou seja assado,
Das castanhas da Europa o mesmo agrado.
O milho, que se planta sem fadigas,
Todo o ano nos dá fáceis espigas,
E é tão fecundo em um, e em outro filho,
Que são mãos liberais as mãos de milho.
O arroz semeado
Fertilmente se vê multiplicado;
Cale-se de Valença por estranha
O que tributa a Espanha,
Cale-se do Oriente
O que come o gentio, e a lísia gente;
Que o do Brasil quando se vê cozido
Como tem mais substância, é mais crescido.
Tenho explicado as fruitas, e legumes,
Que dão a Portugal muitos ciúmes;
Tenho recopilado
O que o Brasil contém para invejado,
E para preferir a toda a terra,
Em si perfeitos quatro AA encerra.
Tem o primeiro A, nos arvoredos
Sempre verdes aos olhos, sempre ledos;
Tem o segundo A, nos ares puros,
Na tempérie agradáveis, e seguros;
Tem o terceiro A nas águas frias,
Que refrescam o peito, e são sadias,
O quatro A, no açúcar deleitoso,
Que é do Mundo o regalo mais mimoso.
São pois os quatro AA por singulares
Arvoredos, Açúcar, Águas, Ares.
Nesta ilha está mui ledo, e mui vistoso
Manuel Botelho
Nenhum comentário:
Postar um comentário