TIPOS DE CRISE CONVULSIVA
Quando falamos em crise
convulsiva, convulsão ou ataque epilético, logo vem à nossa cabeça aquela
assustadora imagem de um paciente se debatendo todo, babando, com os olhos
revirados e com movimentos anárquicos dos membros. Na verdade, isto representa
uma crise convulsiva generalizada, chamada de crise convulsiva tônico-clônica
que é apenas um dos vários tipos de crise convulsiva existentes.
As crises convulsivas (crises epiléticas) são divididas em dois grupos,
crise convulsiva parcial e crise convulsiva generalizada:
a) Crise convulsiva parcial - A crise epilética parcial é aquela
que ocorre quando os impulsos elétricos anômalos ficam restritos a apenas uma
região do cérebro.
É chamada de crise epilética
parcial simples, aquela que ocorre sem alteração do nível de consciência do
paciente. Os sintomas podem ser sutis e dependem da área cerebral afetada.
Alguns sintomas que podem ocorrer na crise epilética parcial simples
são:
– Movimentos involuntários de
parte do corpo;
– Alterações sensoriais como do
paladar, audição, visão ou olfato;
– Alucinações;
– Alterações na fala;
– Vertigens;
– Sensação de estar fora do corpo.
Muitas vezes os sintomas destas
crises parciais simples são tão sutis que o diagnóstico é difícil de ser
pensado, até mesmo para o paciente. Às vezes são confundidos com doenças
psiquiátricas.
Nas crises epiléticas parciais
complexas, o quadro clínico é mais rico. Ao contrário das crises parciais
simples onde o paciente tem plena noção do que está acontecendo, nas crises
complexas, o paciente não tem a menor consciência do que está fazendo. Em
geral, uma crise parcial complexa é precedida por uma crise parcial simples,
recebendo esta o nome de aura. É uma espécie de aviso que a convulsão está
chegando.
Na crise convulsiva parcial
complexa o paciente normalmente apresenta comportamentos e movimentos repetidos
tipo beijos, mastigações, andar em circulo, olhar fixo, ficar puxando a roupa,
virar a cabeça para um lado e para o outro, esfregar as mãos etc..
Tudo de modo inconsciente. Às vezes, o
paciente é capaz de obedecer ordens e consegue falar, porém, apresenta um
discurso incoerente.
A crise convulsiva parcial
complexa costuma durar em média 1 minuto. Quando a crise termina, o paciente
retoma a consciência, mas costuma estar muito confuso, sem saber o que
aconteceu. Geralmente, a última coisa que ele lembra é da crise parcial simples
(aura) que antecedeu a crise complexa.
As crises parciais podem
anteceder uma crise epilética generalizada. Na verdade, o paciente pode começar
com uma crise parcial simples, evoluir para uma crise parcial complexa e
terminar com uma crise generalizada.
b) Crise convulsiva generalizada - Na crise convulsiva
generalizada, os dois hemisférios do cérebro são afetados.
Uma das manifestações possíveis
da crise epilética generalizada é a crise de ausência, também chamado de
pequeno mal. Na crise de ausência o paciente perde contato com o mundo externo
e fica parado com o olhar fixo. É possível haver alguns automatismos como picar
de olhos repetidamente, como ocorre na crise parcial complexa. A diferença é
que a crise de ausência é mais curta, dura cerca de 20 segundos, pode ocorrer
dezenas de vezes ao longo do dia e o paciente não apresenta aura, nem está
confuso ao final da crise. Às vezes, o paciente retoma a atividade que estava
fazendo como se nada tivesse acontecido.
Em pessoas com epilepsia, flashes
luminosos repetidos ou hiperventilação (respirar rapidamente durante algum
período de tempo) podem desencadear crises generalizadas do tipo ausência. Este
tipo de crise é mais comum na infância, podendo desaparecer após a
adolescência.
O tipo mais conhecido de crise
convulsiva, chamado também de ataque epilético ou grande mal, é a crise
convulsiva tônico-clônica. É o quadro mais assustador. O paciente subitamente
apresenta uma rigidez dos músculos e imediatamente cai inconsciente. Segue-se,
então, movimentos rítmicos e rápidos dos membros. O paciente perde controle dos
esfíncteres, podendo se urinar ou evacuar. É comum salivar e morder a língua
durante a crise, o que pode provocar um espumamento avermelhado.
As crises tônico-clônicas duram
entre 1 a 3 minutos. Ao final, o paciente apresenta cansaço extremo,
sonolência, confusão e amnésia, não lembra que ocorreu.
Outro tipo de crise epilética
generalizada é a crise convulsiva atônica. Manifesta-se como uma súbita perda
do tônus muscular, fazendo com que a pessoa caia. É muito curta, dura menos de
15 segundos, porém, devido às quedas, costuma causar traumatismos sérios.
c) Status epilepticus - A maioria das crises convulsivas
são auto-limitadas e não precisam de tratamento médico imediato.
Chamamos de
status epilepticus quando a convulsão não cede após vários minutos ou quando o
paciente apresenta quadros repetidos de crise sem que tenha havido tempo dele
recuperar a consciência entre os episódios. Geralmente, crises convulsivas que
duram mais de 5 minutos são consideradas emergências, pois colocam o cérebro em
risco, e devem ser tratadas com drogas para abortá-las.
d) Convulsão febril - A convulsão febril ocorre
normalmente em crianças entre seis meses e seis anos de idade (pico entre 1 ano
e 1 ano e meio) que apresentam quadro febril acima de 38ºC.
Apesar de ser um
quadro assustador para os pais, é benigno e não causa lesões cerebrais na
criança. É comum e ocorre em até 5% das crianças.
Se a criança só tem convulsão
quando está febril, ela não é considerada como portadora de epilepsia.
O que desencadeia a convulsão é a
febre, independente da sua causa. A crise pode ser parcial (mais comum) ou
complexa, inclusive com crises tônico-clônicas. A convulsão febril costuma ser
mais demorada do que as crises nas epilepsias. Podem durar até 15 minutos. Não
se assuste se a criança apresentar fraqueza em um dos membros logo após o fim
das crises. É temporário.
Não adianta dar banho em água
fria ou encher a criança de antitérmicos. Isso não impede o aparecimento das
crises, também não é necessário usar drogas antiepiléticas. O quadro é benigno
e os efeitos colaterais não justificam o seu uso.
A convulsão febril não traz
maiores complicações e desaparece com a idade. O ideal é sempre levar a criança
ao pediatra após a crise para que ele possa investigar o motivo da febre e
confirmar que se trata apenas de convulsão febril, e não de epilepsia.
Fonte: DR. PEDRO PINHEIRO
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