VIII - Acidentes por Celenterados
1. Introdução
O filo Coelenterata
é composto por animais simples, de
estrutura radial, apresentando tentáculos que se inserem em volta da cavidade oral.
Esses
tentáculos capturam presas e apresentam células portadoras de um minúsculo corpo
oval chamado nematocisto, capaz de injetar veneno por um microaguilhão que
dispara quando a célula é tocada (fig. 71). Compreende 3 classes:
a) Classe Anthozoa: anêmonas e corais. As anêmonas lembram flores
aquáticas.
b) Classe Hydrozoa: são as hidras (pólipos fixos) e colônias de pólipos
de diferenciação maior (caravelas ou Physalias).
c) Classe Scyphozoa: medusas, formas livres, popularmente conhecidas como
águas-vivas.
Acidentes com anêmonas e corais são pouco freqüentes e
de pouca gravidade: o contato é rápido e existem poucos nematocistos. Corais
podem produzir cortes e introduzir fragmentos calcários. O gênero Anemona é
o mais comum no Brasil. Corais são pólipos concentradores de cálcio e formam
grandes recifes (gênero Orbicella
e Oculina, os populares corais brancos).
Os acidentes mais importantes ocorrem devido às classes
Hydrozoa (caravelas) e Scyphozoa
(águas-vivas). As caravelas
apresentam um balão flutuador de coloração azul-purpúrica, de onde partem
inúmeros tentáculos. A caravela do Oceano Atlântico é a Physalia physalis que atinge 30 cm de comprimento do corpo e pode ter
tentáculos de 30 metros (fig. 72). A freqüência dos acidentes é maior no verão,
quando podem atingir a praia em grande número, provocando centenas de
acidentes. A caravela (Physalia) é sem dúvida a responsável pelo maior número e pela
maior gravidade dos acidentes desse gênero no Brasil.
As medusas também provocam acidentes. As mais
perigosas, capazes de matar um homem em minutos, são as do gênero Chironex
(box jellyfish), encontradas na
Austrália. No Brasil, os acidentes mais graves são causados pela Chiropsalmus quadrumanus, da mesma família da Chironex
e pela Carybdea alata,
menos perigosa. Existem ainda as espécies Tamoya
haplonema e a Cyanea sp.
As medusas preferem águas de fundo arenoso e estuários de rios, recolhendo-se em águas profundas nas horas mais quentes do
dia.
2. Ações do veneno
O veneno de celenterados é uma mistura de vários
polipeptídeos que tem ações tóxicas e enzimáticas na pele
humana podendo provocar inflamação extensa e até
necrose. Outra ação importante é a neurotoxicidade que provoca efeitos
sistêmicos, desorganiza a atividade condutora cardíaca levando a arritmias
sérias, altera o tônus vascular e pode levar à insuficiência respiratória por
congestão pulmonar. Atividade hemolítica foi descrita para o veneno de Physalia.
3. Quadro clínico
3.1. Manifestações locais
São as mesmas para todos os celenterados, ocorrendo
ardência e dor intensa no local, que podem durar de 30 minutos a 24 horas.
Placas e pápulas urticariformes lineares aparecem precocemente, podendo dar
lugar a bolhas e necrose importante em cerca de 24 horas. Neste ponto as lesões
urticariformes dos acidentes leves regridem, deixando lesões eritematosas lineares, que podem
persistir no local por meses. (fig. 73).
3.2. Manifestações sistêmicas
Nos casos mais graves há relatos de cefaléia,
mal-estar, náuseas, vômitos, espasmos musculares, febre, arritmias cardíacas. A
gravidade depende da extensão da área comprometida. A ingestão de celenterados
pode levar a quadros gastrintestinais alérgicos e quadros urticariformes. Podem
aparecer urticárias e erupções recorrentes, estas a partir de um único
acidente, além de reações distantes do local do acidente. O óbito pode ocorrer
por efeito do envenenamento (insuficiência respiratória e choque) ou por
anafilaxia.
4. Diagnóstico
O diagnóstico é clínico. O padrão linear edematoso é
muito sugestivo, se acompanhado de dor aguda e intensa. O acidente deve ser
diferenciado da fitofotomelanose.
5. Tratamento
a) Fase 1 - repouso do segmento afetado.
b) Fase 2 - retirada de tentáculos aderidos: a descarga de
nematocistos é contínua e a manipulação errônea aumenta o grau de
envenenamento. Não usar água doce para lavar o local (descarrega nematocistos
por osmose) ou esfregar panos secos (rompe os nematocistos). Os tentáculos
devem ser retirados suavemente levantando-os com a mão enluvada, pinça ou bordo
de faca. O local deve ser lavado com água do mar.
c) Fase 3 - inativação do veneno: o uso de ácido acético a 5%
(vinagre comum), aplicado no local, por no mínimo 30 minutos inativa o veneno
local.
d) Fase 4 - retirada de nematocistos remanescentes: deve-se
aplicar uma pasta de bicarbonato de sódio, talco e água do mar no local,
esperar secar e retirar com o bordo de uma faca.
e) Fase 5 - bolsa de gelo ou compressas de água do mar fria por 5
a 10 minutos e corticóides tópicos duas vezes ao dia aliviam os sintomas
locais. A dor deve ser tratada com analgésicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário