Número de infectados pode ser até 50% superior, segundo
Vigilância Epidemiológica
Maior parte dos casos de dengue não notificados são da
rede particular de saúde
O número oficial de casos de dengue no Estado do Rio de
Janeiro pode ser bem maior do que o contabilizado pela secretaria de saúde.
Especialistas ouvidos pelo R7 estimam que o total de infectados pela doença
seja de três a dez vezes maior. O superintendente de Vigilância Ambiental e
Epidemiológica do Rio de Janeiro, Alexandre Chieppe, admite, em escala menor,
as subnotificações. Ele estima que os "casos reais" sejam até 50%
maiores. O órgão responde à Secretaria Estadual de Saúde.
Edimilson Migowski, presidente da Sociedade Brasileira de
Imunizações e infectologista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
estima que os médicos que atendem nas emergências, postos de saúde e
laboratórios notifiquem apenas um em cada dez casos da doença. Ou seja, se
levados em consideração os casos confirmados de dengue informados pela
Secretaria Estadual de Saúde, o total de infectados saltaria de 117.922 para
cerca de 1,17 milhões.
- Historicamente, a notificação por dengue fica em torno
de 10% dos casos. O serviço privado não notifica da mesma forma que o serviço
público notifica. De cada cem infectados, apenas 33 apresentam diagnósticos
clínicos de dengue - desses, três ou quatro casos são notificados.
O especialista explica que não se trata de negligência,
mas de sobrecarga de trabalho nos serviços públicos. Já no serviço privado,
Edimilson Migowski diz que não existe a cultura de se notificar os casos. Para
ilustrar, o especialista diz que a dengue se comporta como uma pirâmide - no
topo, estão os casos clínicos graves e os óbitos e, na base, os pacientes que
não procuram auxílio médico ou que não coletam sangue para exame.
Com base em sua experiência em hospitais, o infectologista
da UFRJ Alberto Chebabo também diz acreditar que o total de casos de dengue
seja maior do que o contabilizado pelo governo. Ele estima que a soma seja até
três vezes maior do que as notificações divulgadas.
- Há pacientes com quadros assintomáticos e outros com
quadro mais florido. Existem aqueles que só têm febre e não procuram
assistência médica e os que procuram e não fazem o diagnóstico. Esses casos não
são notificados.
O superintendente de Vigilância Ambiental e Epidemiológica
do Rio não nega essa realidade. Chieppe defende que os órgãos públicos obtêm
êxito quanto ao número de notificações e que a maioria de casos não informados
parte, sobretudo, de hospitais e clínicas particulares.
- A gente trabalha com a possibilidade de ocorrer
subnotificação e a gente sabe que ocorre principalmente na rede privada. Como a
gente trabalha com tendência, é importante que não haja absolutamente nenhuma
subnotificação de casos graves e de óbitos.
Para ele, não seria um exagero dizer que as
subnotificações no Estado do Rio de Janeiro cheguem a até 50%. Ou seja, na
opinião de Chieppe, o número de “casos reais” de dengue chegaria a 176.883, se
levados em consideração dados divulgados em 2 de junho.
Os casos de dengue são informados por médicos das redes
pública e privada a hospitais, clínicas e outros estabelecimentos de saúde que,
por sua vez, repassam as informações às secretarias estaduais e municipais do
país. As notificações se dão a partir de exames clínicos e/ou laboratoriais.
O Ministério da Saúde pede que todos os órgãos de saúde
dos Estados e municípios informem, no prazo de 24 horas, as mortes e os casos
graves da dengue. Por sua vez, os casos leves podem ser informados em até sete
dias. A decisão faz parte da Portaria 104, anunciada pelo ministro Alexandre
Padilha e publicada em 26 de janeiro no Diário Oficial da União.
Para
evitar que ocorra alto índice de subnotificação na rede privada do Rio, cerca
de 50 profissionais de saúde participaram nesta quinta-feira (2) de treinamento
do Ministério da Saúde para diagnosticar precocemente casos de dengue.
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