Com epidemia de dengue decretada no Ceará, Fortaleza sofre
por falta de leitos para a internação nos hospitais particulares. De acordo com
o presidente da Associação dos Hospitais do Estado do Ceará (Ahece), Aramici
Pinto, existem 1.430 leitos disponíveis nos 13 hospitais conveniados da rede
privada. O número é considerado baixo diante da demanda provocada pela epidemia
de dengue.
“Estamos vivendo um período de exceção nos últimos 30
dias. Os hospitais públicos e privados estão lotados de pacientes com dengue e
virose”, pontua Pinto. Os casos confirmados no Estado do Ceará, até a tarde de
sexta (15), são de 11.087. Destas, 25 pessoas morreram, sendo quatro por febre
hemorrágica de dengue e os outros 21 por complicações na evolução da doença.
O UOL Ciência e Saúde entrou em contato com quatro hospitais
privados, procurando vagas para internação, sem identificar que se tratava de
uma reportagem. O Hospital Regional da Unimed, Monte Klinikum, Antônio Prudente
e São Carlos informaram que estão com leitos lotados e, em suas emergências, já
haviam pacientes aguardando lugar.
A lotação nos hospitais particulares obriga os pacientes
com plano de saúde a procurar atendimento em hospitais públicos. Foi o caso da
funcionária pública Cristiane Pereira, 48, que só tomou ciência da situação na
rede privada quando um médico sugeriu que sua mãe, dona Marlene Pereira, 75,
fosse internada num corredor do hospital particular. “Achei uma falta de
respeito. Pagamos caro pelo plano e a opção é essa?”, questiona.
As plaquetas de dona Marlene estavam muito baixas. Os
exames sinalizavam três mil, quando o saudável é de 15 mil. Foi então que
Cristiane decidiu procurar atendimento na rede pública. E teve surpresas.
“Confiei porque ouvi que o hospital era referência, mas também estava lotado.
No entanto, receberam tão bem a minha mãe que eu tomei um susto”, recorda, mais
aliviada porque dona Marlene já se recupera bem.
O presidente da Ahece, Aramici Pinto, diz que a falta de
leitos na rede privada tem se tornado cada vez mais comum no Ceará. A opção,
conforme identifica, seria a construção de outros dois hospitais particulares
de, pelo menos, 150 leitos para atender a demanda somente em Fortaleza. Segundo
conta, em 2004, apenas 6% da população tinha plano de saúde no Ceará.
Atualmente, são 28%. A expectativa é de que sejam criados mais 75 leitos nos
próximos 60 dias na rede privada.
A partir do fim de abril, 50 leitos receberão pacientes na
rede hospitalar pública. A garantia é do coordenador de Promoção e Proteção à
Saúde do Ceará, Manoel Fonseca. Ele reconhece que a situação é crítica,
principalmente para pacientes graves que precisam de hidratação venosa e
acompanhamento da evolução do número de plaquetas.
“Trinta desses leitos já estão funcionando no Hospital
Universitário (Walter Cantídio, em Fortaleza)”. Outros 20 leitos, na Santa Casa
da Misericórdia, no Centro da capital cearense, aguardam assinatura de
convênio.
Caos de falta de vagas
A epidemia de dengue no Ceará formou o Ministério da Saúde
a liberar R$ 4 milhões para o combate à dengue. Metade da verba será destinada
somente para a capital Fortaleza. A transferência será feita em parcela única,
como definido em portaria do Ministério publicada nesta sexta (15) no Diário
Oficial da União.
O Ceará integra a lista dos sete estados que concentraram
68% dos casos de dengue no país. A relação é composta ainda pelo Amazonas, Rio
de Janeiro, Paraná, Acre, São Paulo e Minas Gerais.
Enquanto isso, um balanço divulgado também pela pasta da
Saúde, no último dia 6, apontou redução nas notificações da doença em relação
ao ano de 2010. Os números indicam queda de 69% nos casos graves da doença e
43% de redução da dengue clássica. Segundo o Ministério, a quantidade de mortes
diminuiu nos três primeiros meses de 2011, em comparação com o mesmo período do
ano passado.
O balanço parcial mostra que, entre 1º de janeiro e 31 de
março desse ano, foram confirmados 95 óbitos pela doença. No mesmo período do
ano passado, foram 261 mortes – indicando queda de 64%. A maior parte dos
óbitos confirmados ocorreu no Nordeste – 32 casos, dos quais o Ceará foi
culpado, até a data, por 20 óbitos.
Casos Graves
O balanço nacional é positivo. As formas graves de dengue
tiveram redução de 69% no primeiro trimestre de 2011 até o último dia 6 de
abril. Foram 2.208, contra 7.064 no mesmo período de 2010. A região Sudeste
concentra 1.260 casos graves confirmados – dos quais 1.064 foram registrados no
Rio de Janeiro.
Já no Norte, foram confirmados 498 casos graves, sendo 407
no Amazonas. O Nordeste confirmou 315 casos graves, dos quais 123 no Ceará. No
Centro Oeste, foram 88 confirmados (35 em Goiás) e, no Sul, 47 – a maioria no
Paraná (46).
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, observa que a
redução geral no total de notificações, casos graves e óbitos por dengue não
deve representar o fim da mobilização de gestores, profissionais de saúde e da
população contra a doença.
“Isso [a redução no primeiro trimestre] não é motivo para
baixar a guarda. O mosquito da dengue consegue sobreviver em ambiente seco por
mais de 300 dias, quase um ano”, alerta o ministro Padilha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário