TÍTULO
VI
P
E S T E CID 020
CODAR
– HB.VPE/CODAR 23.106
1.
Caracterização
A peste é uma doença de
animais – zoonose – que envolve roedores e suas pulgas, as quais podem
transmitir a infecção para outros animais silvestres e domésticos e,
ocasionalmente, para seres humanos.
Normalmente, a reação
inicial é uma linfoadenite, que se localiza nos gânglios que recebem a drenagem
linfática do local da picada da pulga – caracterizando a peste bubônica.
Em aproximadamente 70% dos
casos, o bubão localiza-se na região inguinal, mas pode localizar-se também nas
axilas e na região cervical.
Os gânglios linfáticos
comprometidos apresentam uma intensa reação inflamatória, que se caracteriza
pelos “quatro or”: tumor, rubor, calor e dor, ou seja, os gânglios inchados
apresentam coloração avermelhada, apresentam-se aquecidos e doem. É normal que
os gânglios coalesçam, fistulem e supurem. Na fase de formação do bubão, a
febre já se faz presente, acompanhada de adinamia (debilidade) e cefaléia (dor
de cabeça).
Todas as formas de peste,
inclusive os casos de inoculação local inaparente, podem evoluir para uma fase
em que os bacilos invadem a corrente sanguínea e passam a se multiplicar aí,
caracterizando a peste septicêmica, que provoca a disseminação da doença para
órgãos, como os pulmões – peste pneumônica – e meninges – meningite pestosa.
A infecção dos pulmões
provoca uma pneumonia extremamente grave, com efusão pleural e comprometimento
dos gânglios do mediastino. A peste pneumônica tem uma significação
epidemiológica especial, ao permitir que a peste passe a disseminar-se, a
partir da inalação de gotículas de catarro contaminado, em suspensão no ar,
dando origem a casos de peste pneumônica primária, com comprometimento da
faringe.
O desenvolvimento das
técnicas de desratização e de despolinização e, acima de tudo, o advento da
terapia antibiótica, com tetraciclina, contribuíram para reduzir a capacidade
infectiva e a mortalidade causada pela peste que, nos casos não tratados,
ultrapassava 50%. No momento atual, a peste é francamente curável e, se o
tratamento for precoce, não ocorrem seqüelas.
O diagnóstico da peste,
suspeitado pelo quadro clínico e pelas condicionantes epidemiológicas, é
confirmado laboratorialmente, pelos exames microscópicos e pelas provas
sorológicas, com técnicas de imunofluorescência.
Em lâminas coradas pelo
método de Gram, a microscopia permite caracterizar bactérias gram-negativas,
com coloração bipolar e de forma normalmente ovóide, em material aspirado do
bubão, do sangue (peste septicêmica) ou do escarro (peste pneumônica).
2.
Dados Epidemiológicos
a.
Agente Infeccioso
O agente infeccioso é o
bacilo da peste –Yersina pestis ou Pastenrella pestis, de acordo com a
nomenclatura antiga. Este microorganismo gram-negativo, com característica
coloração bipolar e normalmente de forma ovóide (bacilo curto), demonstra nos
antibiogramas sensibilidade às tetraciclinas.
b.
Distribuição Geográfica
A peste, que na
Antiguidade e na Idade Média comportou-se como um dos maiores flagelos da
humanidade, nos dias atuais tende a se caracterizar como uma doença de roedores
domésticos que pode, ocasionalmente, provocar casos humanos isolados. Nas
condições atuais, a vigilância epidemiológica e a vigilância sanitária crescem
de importância, com o objetivo de limitar as áreas vulneráveis à doença e de
facilitar o diagnóstico precoce e bloquear a disseminação para seres humanos.
Existem
pestes em roedores silvestres, com riscos de ocorrência de casos humanos
isolados:
- em áreas pontuais do
México, do Caribe, da América Central e da América do Sul;
- no terço ocidental do
território dos Estados Unidos da América;
- nos países da antiga
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, atualmente Confederação dos
Estados Independentes – CEI;
- nos países do Oriente
Médio e da Ásia Central e Sul Oriental.
No Brasil, a doença foi
introduzida, em 1889, no porto de Santos e, em 1900, no porto do Rio de
Janeiro. Em 1902, surgiu em cidades portuárias de Pernambuco, Ceará e Rio
Grande do Sul e, em 1903, do Pará e do Maranhão. Paraná, Espírito Santo e
Sergipe foram atingidos em 1906; a Paraíba, em 1912. Alagoas, em 1914 e Minas
Gerais, em 1936.
A
história natural da doença no Brasil desenvolveu-se, em três períodos:
- No primeiro período a
peste atingiu os principais portos do Brasil.
- Numa segunda fase, disseminou-se
pelas rotas de comércio, para as cidades do interior.
- Na terceira fase, a
peste foi erradicada nos centros urbanos, mas permaneceu como uma zoonose com
ocorrência de casos humanos isolados, nas áreas rurais dos
Estados do: Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Norte de Minas Gerais e
áreas serranas do Rio de Janeiro.
c.
Reservatórios e Mecanismos de Transmissão
Os roedores silvestres são
os reservatórios naturais da peste. Os logomorfos (coelhos e lebres), os carnívoros
e os roedores domésticos podem ser contaminados por pulgas infectadas e podem
ser fonte de infecção humana.
A peste nos seres humanos
ocorre quando estes se introduzem no ciclo de transmissão zoonótica ou quando
animais silvestres infectados transmitem a doença, por intermédio das pulgas,
para roedores urbanos e, a partir daí, para o homem.
As
fontes de exposição que causam a doença humana são:
- as picadas de pulgas
infectadas, especialmente a Xenophylla cheopis, nos surtos urbanizados e a Polygenes
bohlsi Jordani, nos casos silvestres;
- as gotículas de catarro
infectado e os fômites (material infectado pelas secreções purulentas),
especialmente no caso de pacientes com peste pneumônica;
- as culturas de
laboratório e a manipulação de tecidos de animais infectados, inclusive
carnívoros e carniceiros que podem se infectar ao se alimentarem em locais
infestados de pulgas infectadas;
- contatos com fezes de
pulgas contaminadas.
d.
Período de Incubação e de Transmissibilidade
Os primeiros sinais e
sintomas ocorrem de 2 a 6 dias após a picada, podendo ser observado nos casos
de peste pneumônica ou dilatados, em função do nível de imunidade.
Teoricamente, as pulgas
permanecem infectantes durante toda a vida. Normalmente, a peste bubônica é
transmitida pela picada da pulga infectada, mas pode ser transmitida pelas
gotículas de catarro ou por secreções purulentas, especialmente nos casos de
peste pneumônica.
e.
Suscetibilidade e Resistência
A suscetibilidade é
universal. Os estratos populacionais de baixo nível econômico e social e que
vivem em residências com poucas condições de higienização e em ambientes
confinados e infestados de pulgas e roedores são mais vulneráveis aos riscos de
surtos de doença. A vacinação com três doses confere imunidade por
aproximadamente um ano.
3.
Medidas Preventivas
O objetivo fundamental da
prevenção é reduzir a probabilidade de que seres humanos sejam picados por
pulgas contaminadas ou expostas a pacientes com peste pneumônica.
As principais medidas
preventivas relacionam-se com a educação sanitária, vigilância epidemiológica,
vigilância sanitária e com as práticas de desratizaç ão e de despulinização
(extermínio das pulgas).
a)
Educação Sanitária
Nas
áreas de risco, a educação sanitária tem por objetivo educar a população sobre:
- os riscos da doença e os
mecanismos de transmissão;
- o controle do lixo
urbano e doméstico;
- as medidas de
desratização e de redução da população de pulgas;
- o controle das
infestações de pulgas em animais domésticos e em seres humanos,
mediante o uso de
inseticidas apropriados;
- a redução dos riscos
relacionados com a contaminação em áreas de peste silvestre.
b)
Vigilância Epidemiológica
A vigilância
epidemiológica controla a ocorrência de casos humanos obrigatoriamente
notificados. Controla a população de roedores nos ambientes urbanos e os
índices de infestação por pulgas. Vigia os focos de peste silvestre, por
intermédio de exames sorológicos de roedores silvestres e dos carnívoros.
c)
Vigilância Sanitária
A vigilância sanitária
controla os portos e terminais de transportes internacionais e se
responsabiliza pela supervisão das atividades relacionadas com a destruição de
todos os ratos e de pulgas em navios, docas e armazéns e controla, com especial
atenção, as cargas oriundas de países com problemas de peste endêmica e dos
viajantes expostos à contaminação, que devem ser isolados e observados durante
sete dias.
d)
Práticas de Desratização e de Despulinização
Todas as embarcações,
contêineres e vagões ferroviários devem ser mantidos livres de roedores e devem
ser desratizados periodicamente. As edificações, especialmente as localizadas
em terminais de carga, devem ser construídas à prova de ratos (blindadas), com
todas as possíveis entradas bloqueadas e devem ser desratizadas e
despulinizadas periodicamente.
4.
Controle dos Pacientes, dos Contatos e do Meio Ambiente Imediato
- O regulamento
internacional exige a notificação de todos os casos suspeitos ou confirmados de
peste.
- A investigação da fonte
de infecção e dos contatos é obrigatória. Descoberta a fonte de infecção, o
controle das pulgas deve preceder ou coincidir com o controle dos ratos.
Pulverizar com inseticidas as trilhas dos roedores e os locais de ninhada, as
dependências da casa, o mobiliário, as pessoas, as roupas e os animais
domésticos é medida indispensável. Numa segunda fase, há que eliminar o rato e
controlar o lixo orgânico, para evitar reinfestações.
- Os contatos humanos,
além de desinfestados com a aplicação de inseticidas, devem ser submetidos a
quimioprofilaxia e mantidos sob observação durante sete dias.
- Os pacientes devem ser
isolados e tratados com antibióticos específicos e especialmente nos casos da
peste pneumônica, devem ser considerados como contaminantes ativos até que se
completem 48 horas de resposta clínica favorável à antibioticoterapia adequada.
O uso de luvas, máscaras e aventais descartáveis é obrigatório, da mesma forma
que as atividades de descontaminação concorrente e terminal.
- A quarentena é de sete
dias para todos os contatos.
- A antibioticoterapia
específica deve ser desencadeada, o mais precocemente possível e em doses
adequadas. Como existem cepas resistentes a alguns antibióticos, a comprovação
da eficiência, com antibiogramas e ajustamento da terapêutica, pode tornar-se
necessária.
5.
Participação da Defesa Civil
Especialmente nas áreas de
riscos de contaminação, próximas a focos de peste silvestre, sob a forma de
zoonoses, a participação das COMDEC e dos NUDEC, em campanhas educativas é
indispensável.
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