26 maio 2020

MANUAL DE DESASTRES HUMANOS - VOLUME II - A síndrome de abstinência às anfetaminas - Barbitúricos - Quadro Clínico - Drogas Alucinógenas - Estudo do LSD - Xaropes para Tosse - Craque (Crack) - Quadro Clínico - Efeitos Sociais - O Problema das Drogas de Abuso Lícitas - Problemas Relacionados com o Alcoolismo - Quadro Clínico da Intoxicação Alcóolica - Quadro Clínico Relacionado com o Alcoolismo Crônico - Problemas Relacionados com o Tabagismo - Monitorização, Alerta e Alarme - ABIN - análise epidemiológica - Estudo da Ameaça - Quais as características intrínsecas da ameaça - Quais os prováveis epicentros dos desastres - Qual o Cenário que está sendo atingido pela ameaça - Análise dos Cenários Receptivos - Biopsicológicas - Familiares - Comunitárias - Econômicas - Políticas - Judiciais - Policiais - Promocionais e Culturais - Combate ao Narcotráfico


Síndrome de Abstinência


A síndrome de abstinência às anfetaminas é muito grave e se caracteriza por:

sonolência intensa, letargia, cólicas abdominais e depressão intensa, além de câimbras musculares, alucinações, delírios e tendências suicidas.

Dentre os viciados em drogas, os portadores da chamada “psicose anfetamínica” são os que apresentam maiores tendências suicidas e, também, homicidas.

O tratamento desses casos é complexo e obriga a internação em serviços especializados, na fase de desintoxicação.


f. Barbitúricos

Existem barbitúricos de ação rápida, como o secobarbital e o pentabarbital, de ação intermediária, como o butabarbital e amobarbital, e de ação demorada, como o fenobarbital e o metobarbital. Os barbitúricos são medicamentos usados em medicina como entorpecentes, mas também são comercializados como drogas de abuso.

Existe um aspecto extremamente importante que deve ser ressaltado e que corresponde ao chamado “automatismo de ingestão”, ou seja, no estado inicial de sedação causado pela droga, a pessoa esquece que já tomou a dose desejada e continua ingerindo dosagens crescentes da droga. Samuel Sch- artsman chama a atenção para este aspecto muito importante, relacionado com o uso de barbitúricos.


Quadro Clínico

Ao ingerir doses leves, o paciente apresenta: sonolência, euforia, incoordenação motora, dificuldade de raciocínio, logorréia, redução das inibições, falsos julgamentos e instabilidade emocional. O sono induzido pelos barbitúricos é diferente do normal e normalmente é mais profundo e sem o estágio de movimentos oculares.

As doses pesadas provocam depressão progressiva do Sistema Nervoso Central, sonolência, falta de coordenação dos movimentos musculares (ataxia), vertigem com nistagmo (movimentos oculares laterais), distúrbios de linguagem, sensações anormais e alucinações sensoriais (parestesias), distúrbios visuais subjetivos. Numa segunda fase, ocorre confusão mental, excitação, delírios, alucinações visuais. Nos casos mais graves, o indivíduo entra em coma, que pode evoluir para a morte por insuficiência cardiocirculatória e respiratória.

A Sindrome de Abstinência é grave e de tratamento complexo e, nos casos de intoxicação crônica, pode ocorrer entre 12 e 16 horas, após o uso de barbitúricos de ação rápida.

A síndrome caracteriza-se por apresentar fraqueza muscular (adinamia), hipotensão arterial postural (que se intensifica quando o paciente deitado, senta ou levanta-se), insônia, perda de apetite, ansiedade, tremores musculares, febre, desconforto abdominal, náuseas e vômitos. Os sintomas psíquicos são: pesadelos e sonhos aterrorizantes, alucinações, náuseas, delírios persecutórios, embotamento sensorial, convulsões e desorientação têmporoespacial.

Lesões cutâneas bolhosas são relativamente freqüentes e auxiliam no diagnóstico das intoxicações crônicas. O tratamento deve ser realizado em centro especializado.


g. Drogas Alucinógenas

Estas drogas agem primariamente sobre o Sistema Nervoso Central, alterando a senso-percepção e intensificando a receptividade emocional. São utilizadas com o objetivo de provocar “alucinações”.

As drogas alucinógenas mais utilizadas são: LSD, mescalina, psilocina, DMT, DET e DOM ou STP.


Estudo do LSD

O LSD é a dietilamina do ácido lisérgico e suas propriedades são conhecidas há séculos. Na Idade Média, apareceu uma doença chamada “Fogo de Santo Antônio”, que surgia quando se consumiam sementes contaminadas pelo fungo Ciaviceps Purpurea, que produz esta droga.

Na década de sessenta, um pseudo-intelectual, que era professor em uma universidade americana, popularizou o uso dessa droga.

Durante muito tempo, o consumo do LSD por pseudo-intelectuais foi um paradigma da “ideologia permissivista”.

A droga é ingerida sob a forma de comprimidos ou cápsulas, ou impregnada em papéis ou cubos de açúcar. Embora não produza dependência física, pode produzir graves alterações psíquicas.


Quadro Clínico

A ingestão de LSD produz os seguintes sintomas:

-  Somáticos, como tontura, fraqueza (astenia), tremores ou abalos musculares, parestesias, sensação de frio e de calor, incoordenação motora e dilatação das pupilas (midríase).

-  Perceptivos, como dificuldade para focalizar objetos, audição mais acurada, contrastes visuais mais intensificados, alteração na percepção das formas e das cores, sensação de peso alternando com leveza.

-  Psíquicos, como tensão, alucinações visuais e auditivas, alteração na percepção da própria imagem corporal, alterações do humor, percepção distorcida do tempo.

Embora o LSD seja rapidamente metabolizado pelo fígado e não cause dependência física, pode causar efeitos psicológicos imprevisíveis, como conseqüência da desorganização mental e das alucinações que cria. Já foi observado o reaparecimento de estados alucinatórios após 2 meses do uso do LSD.


Em função da confusão na percepção de sensações, é comum que, em suas “viagens”, as pessoas, sob o efeito do LSD, informem que estão:

-  ouvindo o som das cores;

-  vendo as cores do som.


As viagens podem ser emocionantes mas, algumas vezes, são assustadoras.

Existem casos de delírios e alucinações visuais tão intensos e assustadores que fazem as pessoas entrarem em pânico e atentarem contra a própria vida.

A mescalina, a psilocina, o DMT e o STP (Serenity, Tranquility and Peace) produzem efeitos semelhantes aos do LSD. O Serenity é o mais potente dos alucinógenos e produz “viagens ruins” com maior freqüência e os efeitos psíquicos podem permanecer por 4 a 5 dias.


h. Xaropes para Tosse

Numerosos xaropes para a tosse contêm um opiáceo, a codeína, utilizada para reduzir a intensidade dos reflexos tussígenos. Inicialmente, bastam algumas colheradas de xarope para que a pessoa fique eufórica e tenha uma sensação intensa de bem-estar.

Como o organismo, rapidamente, desencadeia mecanismo de tolerância para a codeína, o viciado é obrigado a aumentar rapidamente a quantidade de xarope ingerido, chegando a tomar até 5(cinco) vidros de xarope por dia.

A codeína, quando tomada em excesso, reduz o apetite e bloqueia a evacuação intestinal.


i. Craque (Crack)

O craque é um subproduto barato da cocaína, que invadiu os grandes centros dos Estados Unidos, no final da década de 80, atingindo o Brasil poucos anos depois, onde o consumo está em fase de expansão.

O consumo do craque contaminou, inicialmente, crianças e adolescentes dos grandes centros, mas está se interiorizando com grande rapidez.

Por se tratar de uma droga barata, o craque flagelou as classes mais pobres, atingindo com grande intensidade os menores de rua, e seu consumo cresceu nas “gangues urbanas”.


Quadro Clínico

O craque tem efeitos somáticos, perceptivos e psíquicos semelhantes aos da cocaína, com a seguinte diferença: a fase de excitação é mais breve e intensa e a de depressão ou de rebordosa é mais intensa e prolongada. Como a sensação de euforia é altamente prazerosa e a síndrome de abstinência é muito penosa, a dependência do craque instala-se muito rapidamente.

O consumo continuado de craque causa danos neurológicos definitivos, que se manifestam por alterações na fala, redução do vocabulário a um número extremamente pequeno de palavras e uma crescente dificuldade de expressão. 

A psicose por craque caracteriza-se por ansiedade, pânico, alucinações constantes, delírios, pensamentos paranóicos, caracterizados por megalomania, desconfiança e delírio de perseguição, hipertensão arterial e insuficiência respiratória. Os efeitos emocionais, como mania de perseguição, delírios, hiperagressividade e irritação, ansiedade e total perda do sentido de ética se intensificam, juntamente com a desesperada necessidade de novas doses de tóxicos para reduzir os sintomas de privação. 

Efeitos Sociais

O craque é um dos principais culpados pelo crescimento dos índices de violência nas ruas. Cidades que entram na rota do craque, em muito pouco tempo quintuplicam o número de homicídios, em conseqüência da hiperagressividade que desencadeia nos viciados, juntamente com a perda dos freios morais e do sentido de ética. Em função destes efeitos, houve uma explosão nas taxas de assassinatos.

Nas grandes cidade americanas, o craque virou sinônimo de morte e, em 1988, de cada 10 adolescentes detidos por violência, sete faziam uso do “craque”.

Em conseqüência da chamada “pedagogia do medo”, juntamente com o crescimento da duração das penas para os traficantes, em muitas cidades norte-americanas está havendo uma retração do consumo. Esta retração já se reflete em menores índices de violência e criminalidade.

No Brasil, o consumo da droga está em fase de expansão e, ao encontrar um campo fértil, constituído por jovens carentes, marginalizados, convivendo com famílias desintegradas e sem expectativas de futuro, a explosão de violência é uma conseqüência previsível.


6. O Problema das Drogas de Abuso Lícitas

Infelizmente, nem todas as drogas de abuso que provocam dependência psíquica e física são consideradas ilícitas.

O álcool e o tabaco (fumo), apesar dos imensos prejuízos e malefícios que causam à humanidade, ainda são consumidos como drogas lícitas e sua produção e comércio não sofrem restrições.

Por motivos psicológicos, culturais, econômicos, sociais e políticos extremamente importantes, estas drogas, de efeitos extremamente graves e muitas vezes mortais, continuam a ser produzidas, comercializadas, difundidas e consumidas sem grandes restrições.


a. Problemas Relacionados com o Alcoolismo

As bebidas fermentadas, com maiores ou menores teores alcoólicos, são produzidas pelo homem desde a mais remota Antigüidade. A produção de bebidas destiladas, com teores alcoólicos mais fortes, ocorre há mais de 3000 anos.


Quadro Clínico da Intoxicação Alcóolica

Mesmo em doses leves, o álcool produz efeitos euforizantes, porém associados a inibição da senso-percepção, transtornos visuais de pequena intensidade, retardo no tempo de reação e ligeiro grau de descoordenação motora. Mesmo em doses leves, a ingestão de bebidas alcoólicas deve ser proibida aos motoristas de veículos automotores.

Ingerido em doses moderadas, o álcool produz efeitos euforizantes, como loquacidade, hiperexcitabilidade, discreto grau de agitação psicomotora e agressividade, os quais são rapidamente seguidos pelo quadro depressivo, caracterizado por midríase (pupilas dilatadas), confusão mental discreta, distúrbios do equilíbrio, redução da senso-percepção, descoordenação neuromuscular intensa, visão desfocada, algumas vezes dupla, e ligeiro grau de estupor.

Doses elevadas de álcool produzem inconsciência (coma alcóolico), facilmente diagnosticável pelo hálito alcóolico, com midríase, perda da senso-percepção e dos reflexos, respiração lenta e superficializada, freqüência cardíaca elevada com pulso rápido e fraco (filiforme). A morte pode ocorrer como conseqüência da insuficiência respiratória causada pelo bloqueio dos centros bulbares.


Quadro Clínico Relacionado com o Alcoolismo Crônico

Observaram-se nos alcoólatras sinais e sintomas relacionados com a intoxicação alcóolica crônica. Os sinais gerais mais característicos são a perda do apetite (anorexia), perda de peso e perda da elasticidade da pele.

O álcool atua sobre o aparelho digestivo, provocando gastroenterites com diarréias freqüentes, intoxicação hepática, que pode evoluir para um quadro grave de “cirrose hepática”.

Os sinais e sintomas cardiovasculares relacionam-se com deficiências na absorção e na metabolização de vitaminas do complexo B, especialmente da Tiamina (Vit.B1) e se caracterizam por aumento da área cardíaca e insuficiência cardíaca congestiva.

O alcoolismo crônico pode produzir alterações neurológicas, como polineurites das extremidades, caracterizada por mialgia (dores musculares), astenia e redução da atividade motora, além de atrofia ótica.


Dentre os problemas psíquicos, há que se destacar as síndrome de:

-  Delirium Tremens ou mania alcoólica aguda, que se caracteriza por insônia, inquietação, tremor incontrolável, alucinações, delírio persecutório e convulsões.

-  Korsakoff, caracterizada por transtornos mentais graves, alterações da memória, descoordenação têmporo-espacial e elevado nível de sugestionabilidade.

O álcool interfere no metabolismo das vitaminas “A” e “C”, das vitaminas B1, B2, B6, e B12. A dependência física e química relacionada com a intoxicação alcoólica é muito grave, produzindo conseqüências familiares e sociais extremamente importantes, com redução da capacidade laborativa e incremento da violência no âmbito familiar.

Durante a gravidez, o alcoolismo prejudica o desenvolvimento fetal e aumenta a morbilidade e enfermidades congênitas. Está amplamente demonstrado que o número de crianças defeituosas tende a crescer quando as mães são alcoólatras.

Relatórios recentes, originados nos Estados Unidos da América, informam que o álcool é responsável por 240.000 mortes anuais, correspondendo a 15% das causas de morte, e produz um prejuízo econômico superior a 50 bilhões de dólares por ano.


b. Problemas Relacionados com o Tabagismo

O tabaco é preparado com a folha da planta Nicotina Tabacum, cultivada em quase todos os países do mundo, mas principalmente no Brasil, Cuba, México e Ásia Menor.

Embora o tabaco ou fumo possa ser mascado ou aspirado sob a forma de rapé, mais comumente é fumado, sob a forma de cigarros, cigarrilhas e charutos ou em caximbos ou narguilês.

O fumo tem dois componentes farmacológicos importantes: a nicotina e os derivados do alcatrão.

A nicotina tem efeito estimulante sobre o Sistema Nervoso Central, da mesma forma que as anfetaminas e a cocaína. Como parte da nicotina é desnaturada e queimada durante o fumo, seus efeitos são potencialmente menores que os destes tóxicos.

A nicotina contida no tabaco produz vasoconstrição e aumenta a freqüência cardíaca, diminui o apetite e amortece, parcialmente, os sentidos do olfato e do paladar. As pessoas sem o hábito de fumar sentem inicialmente náuseas e tonteira e sensação de entorpecimento.

A síndrome de abstinência ocorre quando o usuário tenta abandonar o vício do tabagismo e se caracteriza por cefaléia (dor de cabeça), instabilidade nervosa, distúrbio do sono, redução na capacidade de concentração e nervosismo. Numa segunda fase, ocorre aumento do apetite e, em conseqüência, do peso corporal.

Como a nicotina atua na liberação de adrenalina, noradrenalina e de endorfinas, além da dependência psíquica, o tabaco promove dependência física.

Os derivados do alcatrão, contidos na fumaça do tabaco, irritam as mucosas das vias respiratórias, reduzem a produção de muco e promovem tosse seca e inoportuna com dificuldades de expectoração.

Está comprovado que o hábito de fumar aumenta a incidência de câncer de pulmão (carcinoma broncogênico), câncer de esôfago, além do câncer de faringe e de boca. Também está comprovado que o hábito de fumar reduz a capacidade respiratória e provoca enfermidades pulmonares crônicas, inclusive bronquiectasias.

O hábito de fumar intensifica e aumenta a ocorrência de arteriosclerose, dos infartos do miorcárdio, dos acidentes vasculares cerebrais e de numerosas doenças arteriais periféricas.

De acordo com o Serviço de Saúde Pública dos EUA, aproximadamente 320.000 óbitos são causados anualmente pelo tabagismo, que provoca prejuízos econômicos superiores a 95 bilhões de dólares. No Brasil, a mortalidade anual relacionada com o tabagismo ultrapassa 120.000 óbitos.

Sem sombra de dúvidas, o tabagismo é um hábito extremamente mortal e com elevadíssimos índices de morbilidade.

Mães que fumam durante a gravidez prejudicam o desenvolvimento fetal dos seus filhos.

A longo prazo, o hábito de fumar gera impotência sexual masculina e redução da libido entre as mulheres.

Outro problema extremamente sério relaciona-se com o chamado fumante passivo, quando as pessoas permanecem no mesmo ambiente dos fumantes e aspiram as fumaças inaladas, contendo nicotina e derivados do alcatrão.

O hábito de fumar foi muito divulgado pelo cinema e pelas novelas de televisão.


7. Monitorização, Alerta e Alarme

Compete ao Gabinete de Segurança Institucional, cujo órgão central é a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN – a responsabilidade de articular, coordenar e centralizar as atividades de informações, relacionadas com:

-  a monitorização do narcotráfico;

-  a transmissão das situações de alerta e alarme ao Órgão de Comando, que coordena e articula a ação dos órgãos efetores, responsáveis pelo combate ao narcotráfico.

A monitorização do narcotráfico apresenta interfases muito bem definidas com a monitorização do crime organizado, de indícios de enriquecimento ilícito e dos índices de violência e, evidentemente, exige que a ABIN seja incrementada e muito bem articulada, em nível internacional e nos três níveis de Governo, com todos os órgãos e sistemas, que possam facilitar a sua ação. A cooperação com os sistemas de inteligência dos demais países e com os órgãos internacionais é de capital importância para agilizar o tráfego de informações e para ampliar o repertório das mesmas.


O estudo dos parâmetros indicadores de atividades ilícitas, relativas ao narcotráfico, é direcionado para duas vertentes:

-  Análise das ameaças representadas pelos grandes cartéis do narcotráfico e dos organismos multinacionais e sinciciais que os apóiam.

-  Análise das vulnerabilidades dos cenários, que são aproveitadas pelos narcotraficantes, para violentar o organismo social.


Da mesma forma, as metodologias de trabalho são sistematizadas em dois grandes conjuntos sistêmicos:

-  Estudos genéricos de natureza epidemiológica;

-  Investigações específicas de natureza inquisitiva.

A epidemiologia é uma ciência de grandes números que se fundamenta em análises estatísticas relativas aos parâmetros relacionados com as variáveis estudadas. Os estudos epidemiológicos dependem de informações sistematizadas, que são levantadas e encaminhadas pelos sensores periféricos dos sistemas de vigilância, mediante a utilização de técnicas de “malha fina” e armazenadas em bancos de dados.


A análise epidemiológica permite conclusões sobre:

-  a evolução da problemática estudada;

-  a indicação das medidas preventivas e combativas mais eficientes;
-  o grau de eficiência das medidas estabelecidas.


As investigações específicas, ao contrário, são pontuais e de caráter inquisitivo e, à semelhança dos inquéritos epidemiológicos, procuram aprofundar e dissecar o problema enfocado. Definido o foco da “infecção”, a técnica é “debridar” a “ferida” e retirar todos os tecidos mortificados do organismo social.

Evidentemente, as duas metodologias se complementam. As análises epidemiológicas permitem armazenar dados que facilitem a identificação dos “focos de infecção”,

e o estudo aprofundado dos focos aumenta o repertório de informações e facilita os estudos epidemiológicos.


a. Estudo da Ameaça

No caso específico do narcotráfico, o estudo sistematizado das ameaças tem por objetivo responder às seguintes perguntas:

1) Quem Ameaça?

A resposta a esta pergunta permite definir:

-  Quem comanda o tráfico;

-  Quais são os comandos intermediários;

-  Quem trafica;

-  Quem se omite e facilita;

-  Quem se beneficia;

-  Qual a estrutura das quadrilhas que compõem este organismo sincicial altamente mutável e cambiante.


2) Qual a magnitude da ameaça?

A resposta a esta pergunta permite definir o “tamanho do problema enfrentado” e, por intermédio de métodos comparativos têmporo-espaciais, quais as tendências evolutivas relativas ao agravamento ou ao abrandamento do problema. O estudo evolucional permite inferir sobre o nível de eficiência das táticas combativas utilizadas.


3) Quais as características intrínsecas da ameaça?

A resposta a esta pergunta permite definir:

-  Quem fornece matéria-prima;

-  Quem fornece insumos necessários à manipulação do produto;

-  Quem recebe e comercializa;

-  Quem transporta;

-  Quais as rotas preferenciais do tráfico;

-  Quais as metodologias que estão sendo utilizadas.


4) Qual a prevalência e, inversamente, qual a recorrência dos fornecedores estudados?

A resposta a esta pergunta permite levantar indícios sobre:

-  O incremento de atividades que possam estar relacionadas com o crescimento do tráfico, como o crescimento do número de viajantes suspeitos, numa determinada rota de tráfego.

-  A recorrência de viagens realizadas por viajantes suspeitos.

Evidentemente, as informações relativas ao tráfego de passageiros suspeitos crescem de importância quando são cruzadas com outras informações, como as relacionadas com a nacionalidade, com o nível de renda declarado e com o volume das bagagens.


5) Quais os fenômenos premonitórios relacionados com a ameaça?

A resposta a esta pergunta depende do levantamento de indícios indiretos do incremento do tráfico e, evidentemente, a captação destes índices depende:

-  do volume de informações acumuladas;

-  do grau de eficiência dos analistas;

-  do direcionamento das equipes de busca para a coleta das informações necessárias.


6) Quais os prováveis epicentros dos desastres?

A resposta a esta pergunta depende de atividades relacionadas com o geoprocessamento das informações e permite concluir sobre a localização espacial das áreas onde o fenômeno estudado está ocorrendo com magnitude e prevalência significativas.


7) Qual o Cenário que está sendo atingido pela ameaça?

A resposta a esta pergunta permite localizar os cenários mais receptivos aos efeitos deletérios do narcotráfico e facilita o desenvolvimento da segunda fase do estudo.

a. Análise dos Cenários Receptivos

Ao se analisar os cenários onde está ocorrendo o desastre provocado pelo narcotráfico, é indispensável que se realize um estudo aprofundado das vulnerabilidades que contribuem para a intensificação do problema ou, ao contrário, dos níveis de segurança global que contribuem para a redução do mesmo.


De um modo geral, estas vulnerabilidades podem ser rotuladas como:

1) Biopsicológicas

Cuja importância é reconhecida, na medida em que se percebe que “todas as condutas são motivadas” e que o ser humano, na condição de unidade “biopsicológica” é, em última análise, o cerne do problema.

A pergunta que exige resposta é a seguinte:

-  Por que motivo uma determinada pessoa tornou-se dependente do tóxico?


2) Familiares

Cuja importância é reconhecida, na medida em que se percebe que a família funciona como a “unidade celular” do tecido social e que as chamadas “neuroses familiares” atuam como fatores precipitantes do problema, na medida em que influem poderosamente na formação biopsicológica dos adolescentes.


3) Comunitárias

Cuja importância é reconhecida, na medida em que se valoriza a importância das “relações de vizinhança” no desenvolvimento da “cultura” sociocomunitária, que atua como freio para as condutas antiéticas e como apoio para uma harmoniosa estruturação comunitária. O reconhecimento da importância do desenvolvimento de relações comunitárias saudáveis para a solução dos desastres naturais, humanos e mistos é que motivou a incorporação dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil – NUDEC – e da Polícia Comunitária aos esforços de combate ao narcotráfico.


4) Econômicas

Cuja importância é reconhecida, na medida em que se demonstra cabalmente que a concentração de rendas e o crescimento do número de excluídos do processo econômico estão contribuindo para o incremento dos índices de violência, do crime organizado e do narcotráfico.


5) Políticas

Cuja importância é reconhecida, na medida em que se demonstra cabalmente que o engajamento da classe política é indispensável à formação de uma massa crítica de opiniões contra os narcotraficantes e favoráveis à solução do problema. Ninguém pode minimizar a imensa repercussão das Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI – para motivar a sociedade e o governo, na busca da solução definitiva do problema.


6) Judiciais

Na Itália, a máfia e o narcotráfico estão sendo desbaratados em função do ativo engajamento do poder judiciário na solução definitiva do problema. Numerosos juízes promissores perderam suas vidas em conseqüência de atentados organizados pela máfia, mas heroicamente, os que sobreviveram, se empenham para honrar o sacrifício dos que tombaram. A luta está sendo vencida e o bem está predominando sobre o mal!


7) Policiais

Cuja importância é reconhecida, na medida em que se percebe a importância do engajamento de uma polícia ética bem comandada, bem adestrada e totalmente descontaminada, para a solução do problema.


8) Promocionais e Culturais

Cuja importância é reconhecida, na medida em que se percebe a importância da mídia e da classe intelectual na formação de opiniões que podem contribuir para minimizar ou, ao contrário, para incrementar o problema.


9) Combate ao Narcotráfico

a. Introdução

É muito possível que a bipolarização do mundo, durante a chamada “Guerra Fria”, os irredentismos nacionalistas que provocaram os conflitos bélicos subseqüentes, o incremento dos conflitos religiosos, as chamadas “guerras tribais” que se disseminaram na África e os numerosos conflitos bélicos que estão ocorrendo no mundo tenham contribuído para dificultar a identificação do Crime Organizado e do Narcotráfico como os principais inimigos da humanidade, na Alvorada do Terceiro Milênio.

O Brasil reconhece que o combate ao narcotráfico deve ser concertado e acordado em nível internacional. Reconhece também que a luta contra o narcotráfico deve ser conduzida por países soberanos articulados, por intermédio de mecanismos de cooperação internacional e, evidentemente, não aceita que sejam delegados poderes supranacionais a terceiros países.


A partir do princípio do não-intervencionismo, o Brasil considera que o combate ao tráfico de drogas deve:

• respeitar a jurisdição e a soberania dos países engajados;

• ser desenvolvido em termos de total cooperação internacional.


b. Características da Luta contra o Narcotráfico

Necessariamente, o combate ao narcotráfico deve ser sistêmico, envolver os Três Poderes da República, os três níveis de governo e todas as áreas sadias da sociedade na luta sem tréguas, e tem por objetivo assegurar a sobrevivência e o bem-estar da juventude.

Em princípio, todos os países do mundo devem empenhar todos os componentes do poder nacional no combate, sem tréguas, ao narcotráfico.

O poder econômico deve ser empenhado para evitar a lavagem do dinheiro e para garantir a total expropriação de todos os bens adquiridos com os recursos do narcotráfico.

Todas as glebas onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas devem ser expropriadas, para fins de reforma agrária. Da mesma forma, devem ser expropriados os veículos, embarcações e aeronaves comprovadamente utilizados no tráfego de drogas.

O poder militar deve evitar que as fronteiras terrestres e marítimas e que o espaço aéreo brasileiro sejam violados pelos narcotraficantes. Considerando a vastidão territorial do Brasil e a imensidão de suas fronteiras, a tarefa não é fácil e se tornará cada vez mais factível na proporção em que a busca eletrônica for incrementada e desenvolvida. Os aviões, as embarcações e os veículos suspeitos de transportar drogas deverão ser interceptados e ordenados a descer, atracar ou a parar e o não cumprimento da ordem, ou qualquer atitude suspeita, tomada pelos tripulantes, justifica a abertura de fogo pelos militares.

O poder policial deve ser expurgado de policiais comprovadamente corrompidos pelo crime organizado. Deve ser adestrado, superiormente armado e empenhado em operações muito bem planejadas, com o objetivo de dizimar as quadrilhas de narcotraficantes. Nestas operações, os bandidos devem ser cercados e presos e as armas e drogas devem ser apreendidas.

No entanto, qualquer reação armada, por parte dos traficantes, justifica a liquidação sumária dos mesmos, por intermédio de atiradores de elite, equipados com armas de longo alcance e dotadas de miras telescópicas e postados em pontos dominantes.

As detenções e prisões devem ser por prazos prolongados, em presídios extremamente seguros e os habeas-corpus e outras medidas cautelares devem ser dificultadas, ao máximo.

Em princípio, as investigações e os inquéritos policiais devem ser apoiados por promotores de justiça e as medidas punitivas, multas e expropriações devem ser draconianas.

As investigações financeiras e patrimoniais de pessoas suspeitas devem ser amplamente facilitadas, não cabendo, nestes casos, disposições relacionadas com o sigilo bancário.

A polícia militar, responsável pelo policiamento ostensivo, deve ocupar, em caráter permanente, todas as áreas de homizio, dominadas por narcotraficantes. 

É importante que se identifiquem os pontos dominantes do terreno e neles sejam construídas casamatas blindadas, facilmente defensáveis e com bons campos de tiro, que devem ser ocupadas por destacamentos policiais de valor igual ou superior a um Grupo de Combate – GC e dotadas de armas automáticas de longo alcance e de meios de comunicações. 

É importante que estes pontos fortes, quando atacados, sejam rapidamente reforçados por unidades de elevado grau de mobilidade e de poder combativo. 

Todo o território brasileiro deve ser protegido pelas forças responsáveis pela manutenção da ordem pública e nenhuma área pode ser dominada por bandidos.

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