26 maio 2020

MANUAL DE DESASTRES HUMANOS - VOLUME II - COLAPSO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO - CODAR - HS.CCP/CODAR - 22.214 - Caracterização - A população carcerária tende a cresce - Numa visão idealista, o sistema carcerário tem por objetivo - Contribuem para o encarecimento do sistema penitenciário - COMPARTIMENTAÇÃO DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA - Personalidades Psicóticas Anti-Sociais - Quadros Psicóticos Endógenos - Quadros Relacionados com Síndromes de Desajustamento Social - psiquiatria forense e o aperfeiçoamento dos testes psicológicos e psicométricos - REDUÇÃO DOS RISCOS DE CORRUPÇÃO - Ocorrência - Principais Efeitos Adversos - Monitorização, Alerta e Alarme - A população carcerária pode ser substancialmente reduzida, caso sejam adotadas as seguintes medidas gerais - Técnicas de Auto-Gestão de Instituições Penitenciárias - Atividades Assistenciais


COLAPSO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO

CODAR - HS.CCP/CODAR - 22.214

1. Caracterização

A população carcerária tende a crescer, em função do incremento:

-  dos índices de criminalidade;

-  do banditismo e do crime organizado;

-  do tráfico de drogas;

-  da violência doméstica;

-  da violência urbana e rural;

-  das patologias sociais, com reflexo na geração de comportamentos criminosos.

Em conseqüência, as cadeias e os presídios funcionam com populações carcerárias muito superiores às lotações previstas e os custos relacionados com a ampliação e a modernização do sistema penitenciário são muito elevados.


Numa visão idealista, o sistema carcerário tem por objetivo:

-  segregar delinqüentes e proteger a sociedade contra a ação dos mesmos;

-  recuperar, reabilitar e ressocializar todos os delinqüentes que sejam recuperáveis.


Contribuem para o encarecimento do sistema penitenciário:

·  A necessidade de evitar que presos recuperáveis coabitem com presos de mais difícil recuperação e que sejam contaminados por suas taras, o que exige uma adequada compartimentação das instalações carcerárias.

·  A necessidade de combater a ociosidade, “mãe de todos os vícios”, de ressocializar delinqüentes e de recuperá-los e de incrementar a “terapêutica ocupacional”, o que exige a construção de instalações que facilitem a manutenção da população carcerária permanentemente ocupada em atividades laborativas.

-  A comprovada queda da imunidade coletiva, das populações carcerárias a doenças contagiosas, especialmente às sexualmente transmissíveis, e às doenças degenerativas, o que exije um crescimento inusitado de leitos hospitalares, nestas instituições, além da contratação de pessoal de saúde especializado em medicina carcerária.

-  A necessidade de incrementar o sistema de segurança, com o objetivo de reduzir as constantes tentativas de fuga, por parte da população carcerária.

-  A necessidade de reduzir os riscos de corrupção e de envolvimento dos responsáveis pela segurança carcerária e que, por dever de ofício, entram em contato mais profundo com a população carcerária.


2. COMPARTIMENTAÇÃO DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA

De acordo com a psiquiatria e com a medicina forense, a população carcerária é subdividida em três grandes grupos, constituídos por pessoas com:

-  Personalidades Psicóticas Anti-Sociais

Típicas de pessoas geneticamente más e que, embora dotadas de livre arbítrio, assumem comportamentos anti-sociais, como afirmação de suas personalidades perversas. No atual estágio de desenvolvimento científico, estes criminosos são irrecuperáveis e voltarão a delinqüir se tiverem novas oportunidades.


-  Quadros Psicóticos Endógenos

Compreendendo não somente os quadros psicóticos endógenos, mas também quadros disrítmicos e oligofrênicos, relacionados com o incremento de comportamentos agressivos e criminosos compulsivos, os quais não são influenciáveis pelo livre arbítrio. Estes casos devem ser tratados em manicômios judiciais, orientados por psiquiatras.


-  Quadros Relacionados com Síndromes de Desajustamento Social

Nestes casos, os problemas relacionados com os desajustes ambientais, atuam como indutores da criminalidade e, dependendo da intensidade e do padrão de evolução do quadro, estes delinqüentes podem ser reabilitados e ressocializados.

O alcoolismo e a dependência de drogas, por bloquearem os mecanismos de autocensura, contribuem para o agravamento de todos os casos.


A crescente evolução da psiquiatria forense e o aperfeiçoamento dos testes psicológicos e psicométricos, auxiliam a classificação da população carcerária, por três tipos de instituições especializadas:

-  as prisões de segurança máxima, para delinqüentes com personalidades psicóticas anti-sociais e para aqueles do terceiro grupo que cometeram delitos graves e que podem reincidir, após libertados;

-  os manicômios judiciais devem prover carceragem e tratamento psiquiátrico, para delinqüentes psicóticos, disrítmicos, oligofrênicos e para pacientes neurotizados, que necessitam de assistência psiquiátrica temporária ou definitiva;

-  Os estabelecimentos carcerários especializados em reabilitação e ressocialização deverão prover carceragem, para delinqüentes recuperáveis.


3. REDUÇÃO DOS RISCOS DE CORRUPÇÃO

O potencial de corrupção da população carcerária não pode ser subestimado e relaciona-se com a teoria da “maçã podre”, segundo a qual, uma única maçã podre, colocada numa cesta de frutas íntegras, contamina as mais próximas, de tal forma que, em muito pouco tempo, todas as frutas apodrecem.

A sociedade carcerária promove suas próprias regras de hierarquização e de poder, que tendem a ser impostas a todos e atingem até mesmo os próprios agentes carcerários responsáveis pela operacionalização dos presídios e pela garantia da segurança das instalações.

É importante que, nestas instalações, a exaltação do instinto gregário faz com que, os indivíduos busquem aumentar sua segurança biopsicológica, formando “gangues” e “feudos” totalmente hierarquizados.

Nas disputas pelo poder, as guerras de quadrilhas são inevitáveis e muitos crimes são “encomendados”, para reduzir o poder e intimidar as gangues rivais.

Nas instituições carcerárias, o tráfico de drogas, de cigarros e de bebidas alcoólicas ocorre com a cumplicidade de alguns carcereiros, e serve como elemento de consolidação do poder.

A compartimentação das prisões e a redução das oportunidades de contato entre as populações que habitam os diversos compartimentos contribuem para reduzir a hierarquização e o controle da instituição, por focos paralelos de lideranças deletérias.

As curvas e a imposição do homossexualismo passivo, aos mais fracos e desprotegidos, pelos mais violentos, é uma regra em praticamente todos os estabelecimentos carcerários.

Como conseqüência da promiscuidade sexual entre os detentos e do uso compartilhado de seringas para a aplicação de drogas, a ocorrência da SIDA/AIDS na população carcerária é, pelo menos, 5 (cinco) vezes maior que na população geral.

Para reduzir os riscos de quebra de disciplina e de corrupção dos agentes carcerários é indispensável que sejam estabelecidas regras muito rígidas para reduzir o clima de “camaradagem” e de “cumplicidade”, entre detentos e agentes carcerários. É desejável que os carcereiros trabalhem em “trincas” e que a composição destas trincas varie constantemente.

Também é necessário que exista uma rotação constante dos agentes carcerários, entre os diversos compartimentos da instituição e entre as diferentes instituições.


O funcionamento, em caráter permanente, de um sistema de auditoria e de reciclagem e de treinamento em serviço dos agentes de carceragem:

-  reativa o desempenho dos procedimentos de segurança;

-  reduz o abrandamento do sistema disciplinar;

-  contribui para reduzir o clima de camaradagem e as oportunidades de corrupção.

Um sistema interno de televisão, com câmaras colocadas em locais estratégicos, e a gravação de imagens, contribuem para aumentar a segurança da instituição e para minimizar atitudes prepotentes e oportunidades de tentar manobras de corrupção.

A prática de revistas inusitadas dos presos e das instalações, à intervalos de tempo irregulares, porém freqüentes, contribui para reduzir o contrabando de drogas e a posse de armas pela população carcerária.


4. Ocorrência

Embora não existam sistemas carcerários perfeitos e à prova de prepotência e de corrupção de agentes carcerários, o problema tende a se agravar nos países em desenvolvimento, onde a dívida social acumulada costuma ser muito elevada.

Mesmo nos países mais desenvolvidos, são raros os estabelecimentos carcerários que cumprem, pelo menos parcialmente, suas funções correcionais.

Também são raros os países onde os presídios e cadeias não estão com populações carcerárias muito acima do que foi previsto no planejamento.

No Brasil, o problema carcerário é extremamente grave e as rebeliões de pessoal encarcerado ocorrem com muita freqüência, caracterizando o nível de revolta dos mesmos e a fragilidade dos procedimentos de segurança.


5. Principais Efeitos Adversos

A superpopulação dos cárceres, as guerras internas pelo poder, a prepotência, o clima de corrupção, o estímulo à depravação e a fragilidade dos procedimentos de segurança geram numerosos efeitos adversos sobre a própria população carcerária e sobre a sociedade em geral.

Em termos de saúde pública, é fácil concluir que o encarceramento contribui para reduzir o nível de imunidade individual e coletiva às enfermidades contagiosas e degenerativas.


Contribuem para promover estas alterações do Sistema Imunitário:

-  Os efeitos altamente estressantes, relacionados com a privação da liberdade e com o regime disciplinar imposto aos detentos.

-  O clima de insegurança coletiva que atua, com maior ou menor intensidade, sobre todos os detentos.

-  Um natural abrandamento das atividades de asseio corporal e de higiene ambiental.

-  A convivência forçada e promíscua de muitas pessoas, em ambientes confinados, que favorecem as oportunidades de contágio;
-  O ócio forçado e as normais deficiências do regime alimentar.

Em termos de saúde ambiental, o ambiente de insegurança e o clima de incertezas quanto ao futuro, além das próprias limitações relacionadas com a privação da liberdade e com a convivência forçada com as pessoas perigosas, contribuem para aumentar o nível de estresse e para induzir numerosas neuroses situacionais.

A convivência com bandidos de elevada periculosidade e a formação de gangues com o objetivo de aumentar o nível de segurança biopsicológica, acaba facilitando a transmissão das taras mais negativas, para os delinqüentes de menor periculosidade.

O homossexualismo forçado aos mais brandos de caráter, pelo elementos mais prepotentes, contribui para promover graves alterações psicológicas de difícil recuperação, que algumas vezes levam a atitudes de auto-destruição.

Evidentemente, todas as deformações psicológicas que ocorrem sobre os detentos acabam se refletindo sobre seus familiares.

As rebeliões e as fugas e evasões das instalações correcionais se refletem sobre a sociedade local e sobre a vizinhança dos presídios.
Num mundo que deve evoluir para o solidarismo, a população carcerária não deve ser encarada como parte de um mundo distante, que não atinge as pessoas comuns da sociedade. Ninguém pode ser indiferente aos destinos de um segmento importante da humanidade.


6. Monitorização, Alerta e Alarme

Evidentemente, toda a população carcerária deve ser, permanentemente, monitorizada e acompanhada. Cada detento deve ser cuidadosamente entrevistado e triado, e todas as informações sobre o mesmo devem ser arquivadas em bancos de dados. Toda a sua vida carcerária deve ser minuciosamente registrada e acompanhada, da mesma forma que os sinais externos de agravamento ou de abrandamento de sua periculosidade e os sucessos ou insucessos das atividades relacionadas com sua reabilitação e ressocialização.

A monitorização da vida carcerária dos detentos e a padronização da documentação legal facilitam os procedimentos legais relacionados com o cumprimento das penas e com possíveis abrandamentos das mesmas.

Um bom sistema de monitorização, alerta e alarme, permite antecipar as possíveis rebeliões e as conspirações para a promoção de fugas, além de contribuir para a redução das atividades relacionadas com o tráfico de drogas no ambiente carcerário.


7. Medidas de Otimização da População Carcerária

A população carcerária pode ser substancialmente reduzida, caso sejam adotadas as seguintes medidas gerais:

-  Não penalizar réus primários, de pequenos delitos, com medidas de privação da liberdade, mas com penas pecuniárias ou obrigando-os a cumprir trabalhos de promoção social e atividades em proveito das comunidades.

-  Tão logo seja possível, recolher delinqüentes apenados, em comprovado processo de reabilitação, a albergues correcionais ou mesmo a ambulatórios correcionais, mantendo ativa assistência domiciliar dos mesmos A filosofia que permitiu reduzir o custo de internação dos hospitais e a otimização do custo leito-dia, mediante tratamentos intensivos, seguidos de alta precoce dos pacientes, que continuam seus tratamentos em regime de semi-internato, ambulatorial e mediante assistência domiciliar, pode e deve ser usada, com as devidas cautelas, nos estabelecimentos correcionais, após caracterizada a pouca periculosidade dos detentos beneficiados pelo sistema.

A divisão e a segregação da população carcerária, em função do nível de periculosidade, embora exija um maior espaço físico para a construção das instalações, beneficia a rápida reabilitação dos detentos de menor periculosidade e reduz o clima de constrangimento e de prepotência dos mais perigosos, sobre os mesmos.


8. Técnicas de Auto-Gestão de Instituições Penitenciárias

As atividades laborativas, ao combaterem a ociosidade, cumprem importantes funções na reabilitação e na ressocialização da população carcerária.


Caso sejam instituídos conselhos de autogestão, com a participação de representantes eleitos pela população carcerária, estas atividades laborativas podem ser planejadas para:

-  reduzir o custo das instalações carcerárias;

-  melhorar o nível de conforto e a alimentação dos detentos;

-  remunerar as famílias dos detentos aprisionados;

-  instituir um fundo de participação que facilite a reintegração dos detentos reabilitados na sociedade, após o cumprimento de suas penas.


9. Atividades Assistenciais

A assistência religiosa é muito importante para facilitar a reabilitação dos detentos.

No entanto, é indispensável que as pessoas que se dedicarem à assistência religiosa aos detentos sejam essencialmente bondosas, carismáticas e que tenham uma profunda fé religiosa e na importância de suas atividades. São bastante freqüentes os casos de conversão religiosa, com muito bons resultados sobre o moral dos detentos.

Da mesma forma, as atividades educativas, culturais, desportivas e de educação física podem e devem ser incentivadas, em benefício dos detentos.

No entanto, o clima de segurança e o controle dos detentos não pode ser descuidado, da mesma forma que as atividades de monitorização, alerta e alarme.

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