23 maio 2020

TÍTULO I - DENGUE - CID 0 61 - CODAR - HB.VDE/CODAR 23.101 - Caracterização - Quadro de Dengue Hemorrágico - Dados Epidemiológicos - Agentes Infecciosos - Reservatórios e Agentes Transmissores - Períodos de Incubação e de Transmissibilidade - Suscetibilidade e Resistência - Distribuição - Estudo Sumário do Agente Transmissor (Aedes aegypti) - Medidas de Controle - Medidas de Controle dos Pacientes e do Meio Ambiente - Medidas de Combate em Casos de Epidemia - Atuação da Defesa Civil


TÍTULO I

DENGUE - CID 061

CODAR - HB.VDE/CODAR 23.101


1. Caracterização

O dengue é uma doença infecciosa viral aguda e febril, cujo quadro clínico caracteriza-se por febre elevada, dores intensas e erupções cutâneas.

A febre surge de forma súbita e se mantém por cinco dias, podendo excepcionalmente ultrapassar sete dias, com ascensão em crise, acompanhada de calafrios e queda em lise, com intensa sudorese. Pode, excepcionalmente, apresentar quadros febris difásicos, com dois piques febris.

Os sintomas dolorosos são muito típicos desta enfermidade conhecida popularmente como “febre quebra-ossos”. A dor de cabeça é intensa e localizada atrás das órbitas (cefaléia retro-ocular). As dores musculares (mialgias) e articulares (artralgias) são intensas, exasperantes e quase insofríveis.

As erupções cutâneas iniciam-se com vermelhidão da pele (eritema) provocada pela dilatação generalizada dos vasos da derme. 

Numa segunda fase, o plasma extravasa para o tecido intersticial e produz exantemas, normalmente localizadas na face interna dos braços e das pernas e na região peitoral. 

Nos últimos dias de infecção, podem surgir pequenos pontos hemorrágicos (petéquias) nos pés, pernas, braços, axilas e no céu da boca (abóbada palatina) e derrames hemorrágicos (equimoses), provocados por pequenos traumatismos.

Podem ocorrer dilatações dos gânglios linfáticos, e os exames de sangue (hemogramas) acusam uma queda do número de leucócitos (leucopenia).

A convalescença é tipicamente demorada e acompanhada de sensação de fadiga, moleza, cansaço fácil (astenia) depressão e anemia.

As epidemias ocorrem de forma explosiva, com quadros sintomáticos intensos, mas de muito baixa letalidade.

O diagnóstico específico é feito em laboratórios de referência, por intermédio de provas sorológicas específicas e pelo isolamento do vírus.


Quadro de Dengue Hemorrágico

Nos quadros clínicos de dengue hemorrágico a letalidade aumenta, caracterizando e caracteriza-se um desastre de graves proporções, em função do crescimento do número de pacientes que necessitam de tratamento em ambiente hospitalar.

Nestes quadros, alguns organismos que foram sensibilizados por uma infecção anterior desencadeiam formas clínicas extremamente graves, ao serem reinfectados por vírus de outros tipos.

Estas patologias costumam acontecer, a partir de 5 (cinco) anos do primeiro surto epidêmico, quando a região é reinfectada por vírus de grupos antigênicos diferentes.

Nos quadros de dengue hemorrágico, os sintomas iniciais são os do dengue clássico, mas as manifestações hemorrágicas costumam aparecer a partir do segundo ou terceiro dia, complicando o quadro clínico.

Nos casos benignos, estas manifestações hemorrágicas variam entre petéquias, equimoses e hemorragias nasais e gengivais.


Nos casos malignos ocorrem grandes hemorragias gastrointestinais, acompanhadas de vômitos escuros com características de “borra de café” e de fezes líquidas e escuras “alcatroadas”. Quando muito intensas, estas hemorragias provocam quadros de “choque hemorrágico”, que se caracterizam por:

·  aumento da freqüência cardíaca (taquicardia);

·  queda acentuada da pressão arterial (hipotensão);

·  pulso muito rápido e fraco, quase impalpável (puls o filiforme);

·  pele úmida e fria (sudorese e vasoconstrição periférica);

·  lábios e extremidades arroxeadas (cianose) denunciando ineficiente oxigenação dos tecidos.

Se a hemorragia não for detida e o volume do sangue não for reposto, o quadro de choque pode evoluir para a morte.


Nos quadros de dengue hemorrágico, além do crescimento dos gânglios linfáticos, pode ocorrer aumento de volume do fígado (hepatomegalia) e do baço (esplenomegalia), e os exames de sangue inespecíficos comprovam:

·  hemoconcentração, através da elevação do volume relativo de glóbulos vermelhos no hematócrito;

·  queda das plaquetas e do tempo protrombina, caracterizando as tendências hemorrágicas;

·  elevação das transaminases, caracaterizando agressões às víceras;

·  queda das albuminas sérias, caracterizando um aumento da permeabilidade das paredes dos capilares.


2. Dados Epidemiológicos

a. Agentes Infecciosos

Os vírus do dengue são fagovírus do Grupo D, conhecidos como flavovírus e se distribuem por quatro tipos imunológicos 1, 2, 3 e 4.


b. Reservatórios e Agentes Transmissores

O homem é o reservatório desta doença e alguns mosquitos do gênero Aedes atuam como agentes transmissores desta enfermidade. Na Malásia, comprovou-se uma forma de dengue disseminada em macacos.

No Brasil, o principal agente transmissor é o mosquito Aedes aegypti e, esporadicamente, o Aedes albopictus . É importante registrar que o A. aegypti é um mosquito caseiro e de hábitos domésticos.


c. Períodos de Incubação e de Transmissibilidade

O homem, após picado e infectado, apresenta o quadro de viremia entre 3 e 15 dias e, normalmente, torna-se infectante para o mosquito a partir do quinto dia. O mosquito torna-se infectante a partir do oitavo dia da picada de um paciente infectado. Não existe transmissão direta de homem para homem.


d. Suscetibilidade e Resistência

A suscetibilidade ao dengue é universal. Nas crianças, a doença costuma ser mais benigna do que nos adultos. A imunidade para vírus do mesmo tipo sorológico (homóloga) é de longa duração. A heteróloga é fugaz e, ao contrário, pode predispor o organismo para um quadro de dengue hemorrágico.


e. Distribuição

O vírus do dengue é endêmico nos países da Ásia Tropical, tendo se disseminado, num passado remoto, para a África Ocidental, para a Polinésia e para a Mi cronésia.

Mais recentemente, difundiu-se pelos países do Caribe e daí pela América Central, México e Vale do Rio Grande, atingindo o Texas.

Cresceu para a América do Sul e, a partir de 1980, disseminou-se pelo Brasil, onde apresenta surtos de recrudescimento no início do período chuvoso.

Em nosso País, os riscos de surtos de dengue hemorrágico são cada vez mais elevados.


3. Estudo Sumário do Agente Transmissor (Aedes aegypti)

O mosquito adulto é de porte médio, corpo escuro e escamoso, com um característico desenho, em forma de lira, na região dorsal. De hábitos diurnos (vespertinos), é um mosquito caseiro, que tem dificuldades de se reproduzir em ecossistemas naturais. Suas asas frágeis dificultam o vôo em ambientes com fortes correntes de ar e seus raios de ação são de, no máximo, cem metros.

O ovo do Aedes aegypti é elástico, muito pequeno (0,5mm x 0,2mm) e difícil de ser visualizado em depósitos de água. Caracteriza-se por sua imensa resistência à dessecação, podendo se manter viável por mais de 450 dias, em ambiente seco, e eclodindo poucos dias depois de os depósitos terem recebido água.

As larvas são mais facilmente visíveis e permanecem próximas da superfície da coleção de água, em posição vertical (90°), respirando por intermédio de um sifão. Tipicamente, apresentam fotofobia e mergulham rapidamente, movimentando os seus corpos em “s”, quando atingidas pelos focos das lanternas.

As pupas ou ninfas permanecem no meio líquido, apresentam a forma de uma vírgula, não se alimentam, respiram por intermédio de sifões, continuam com fotofobia e atingem a fase adulta após sete dias.


a. Medidas de Controle

Inicialmente, é necessário monitorizar os vetores e as pessoas infectadas, por intermédio da vigilância epidemiológica, que verifica a densidade dos vetores existentes na localidade e a incidência de casos de dengue suspeitados e confirmados.

Numa segunda fase, há que pesquisar os focos de reprodução ou criadouros que correspondem às coleções de água parada (normalmente límpidas) e estabelecer planos, com o objetivo de eliminar os vetores.

O passo mais importante é o de mobilizar a população, por meio de campanhas de educação sanitária, para que a mesma participe ativamente da solução do problema.

Os esforços devem ser concentrados na eliminação dos criadouros (coleções de água) na proteção das residências, com telas, inseticidas e ventiladores, para gerarem correntes de ar, que dificultam o vôo de mosquitos.

A proteção pessoal com mosquiteiros e repelentes é pouco eficiente, em virtude dos hábitos diurnos e vespertinos dos mosquitos.


b. Medidas de Controle dos Pacientes e do Meio Ambiente

Ainda não existem vacinas nem tratamento específico para o dengue, mas o tratamento sintomático é recomendado e contribui para reduzir o mal-estar e, nos casos de dengue hemorrágico, os riscos de morte, em conseqüência do choque hipovolêmico.

A notificação é obrigatória nos casos de surtos epidêmicos.

A partir do início da fase febril, os pacientes devem ser isolados por, no mínimo, 6 (seis) dias, em ambiente telado e borrifado com inseticidas eficazes, para dificultar a propagação da doença.

A investigação dos contatos e do ambiente, buscando identificar os criadouros de mosquitos e os hospedeiros responsáveis pelo início do surto é bastante útil.


c. Medidas de Combate em Casos de Epidemia

Pesquisa e destruição ou eliminação dos criadouros de mosquitos, ou seja, de pequenas coleções de água, normalmente localizadas em ambiente doméstico. Uma especial atenção deve ser dada aos reservatórios de água potável, que devem ser hermeticamente fechados, aos pneumáticos, jarros e vasos de flores, às latas e garrafas, às calhas, às valetas de drenagem e a quaisquer recipientes que possam acumular água e que podem receber os ovos dos mosquitos.

É importante registrar que, normalmente, os cemitérios funcionam como os principais focos de criadouros de mosquitos e que a importação de pneus usados facilita a disseminação do Aedes.

Nos grandes depósitos de água potável, a destruição das formas larvares deve ser desenvolvida por larvicidas específicos e que sejam inócuos para as pessoas e para os mamíferos e demais vertebrados.

A redução da densidade das formas adultas é obtida pelo espargimento de inseticidas em suspensão de ultra-baixo-volume (UBV), a qual é realizada por intermédio de espargidores instalados em viaturas (fumacês).

A proteção das unidades residenciais é feita com telas, inseticidas e ventiladores que provocam correntes aéreas que impossibilitam o vôo dos mosquitos.

A proteção dos indivíduos é feita com mosquiteiros e repelentes.

Dentre todas as medidas, as mais efetivas são a destruição dos criadouros e a eliminação dos transmissores ainda na forma larvar.


d. Atuação da Defesa Civil

No Brasil já existe uma tradição de participação da Defesa Civil nas campanhas de combate ao dengue.


A Defesa Civil desempenha um importante papel na:

·  promoção de campanhas educativas, a partir do envolvimento das COMDEC e NUDEC;

·  mobilização dos órgãos setoriais do SINDEC e de voluntários, para apoiar a ação dos agentes de saúde no combate aos transmissores.

É imperativo que se destaque a importância da cooperação das Forças Armadas, por ocasião das Campanhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário