22 maio 2020

TÍTULO VII - TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA – DOENÇA DE CHAGAS CID – 086.2 - CODAR – HB.VTA/CODAR 23.107 - Caracterização - Dados Epidemiológicos - Agente Infeccioso - Agentes Transmissores - Reservatórios - Modo de Infecção (transmissão) - Distribuição Geográfica - Medidas Preventivas - Medidas de Controle do Paciente, do Meio


TÍTULO VII

TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA – DOENÇA DE CHAGAS CID – 086.2

CODAR – HB.VTA/CODAR 23.107


1. Caracterização

A doença de Chagas ou Tripanossomíase Americana é uma infecção produzida por um protozoário (animal unicelular) da espécie Tripanossoma cruzi, que normalmente se desenvolve numa fase aguda e numa fase crônica ou tardia.

A fase aguda da doença costuma ocorrer em crianças, enquanto que as manifestações crônicas aparecem anos mais tarde, em plena fase adulta. Muitas vezes, as manifestações clínicas da fase aguda são inaparentes ou pouco valorizadas e a enfermidade só se exterioriza na fase crônica.

A fase aguda caracteriza-se pelo aparecimento de lesões na área de contágio da infecção (porta de entrada), como o chagoma de inoculação e o edema de pálpebra com adenopatia satélite (sinal de Romaña), podendo ser acompanhado de febre de intensidade variável, micro-poli-adenopatias, hepatomegalia, esplenomegalia e anemia.

O chagoma de inoculação apresenta-se como uma lesão papular no local da inoculação do microorganismo, com tendência para necrose localizada, podendo ulcerar.

O sinal de Romaña é caracterizado por conjuntivite, com inchação (edema unilateral da pálpebra e reação inflamatória do gânglio linfático responsável pela drenagem da área afetada - gânglio satélite).

Normalmente, as lesões iniciais persistem por até 8 (oito) semanas. A febre é de intensidade variável e tende a se prolongar por semanas.

As manifestações ganglionares são disseminadas e de pequeno porte – micro-poliadenopatias e a palpação do abdômen permite caracterizar aumentos do fígado (hepatomegalia) e do baço (esplenomegalia). A constatação de anemias secundárias, nesta fase, é bastante freqüente.

As seqüelas crônicas aparecem anos mais tarde e se exteriorizam sob a forma de miocardite chagásica ou sob a forma de grandes dilatações dos cólons (megacolon) ou do esôfago (megaesôfago).

No caso das miocardites chagásicas, as lesões ocorrem com freqüência no sistema condutor do impulso estimulador da contração cardíaca e se exteriorizam sob a forma de arritmias, confirmadas por eletrocardiogramas.

Os comprometimentos dos órgãos do tubo digestivo, como as grandes dilatações dos cólons (megacolon) e do esôfago (megaesôfago), são provocados pela destruição da musculatura lisa destes órgãos, pelos parasitas.

O diagnóstico da fase aguda é suspeitado em função do quadro clínico e dos dados epidemiológicos e confirmado pela demonstração da existência de microorganismos infectantes no sangue periférico, por intermédio de exames microscópicos diretos, por cultura do protozoário em tecido de camundongo ou por xeno-diagnóstico. 

O xeno-diagnóstico fundamenta-se na demonstração da existência de parasitas no intestino terminal de triatomíneos, que foram alimentados, semanas antes, com sangue do paciente suspeito.

Nos casos crônicos, o diagnóstico é suspeitado em função dos dados epidemiológicos e da constatação das lesões cardíacas ou do tubo digestivo e é confirmado por provas sorológicas e/ou pelo xeno-diagnóstico.

No Brasil, a prova sorológica de Machado Guerreiro foi extremamente útil para facilitar os levantamentos epidemiológicos de campo.


2. Dados Epidemiológicos

a. Agente Infeccioso

O agente infeccioso é um protozoário (animal unicelular) da espécie Tripanosoma cruzi – descoberto em 1908 por Carlos Chagas, eminente médico sanitarista brasileiro, que o encontrou em fezes de exemplares de reduviídeos do gênero Triatoma – em área onde a doença era endêmica.

Tripanosoma cruzi apresenta-se com aspectos morfológicos diferentes, tanto nos animais vertebrados, como nos organismos transmissíveis. Injetado nos vertebrados sob a forma de tripanossoma (dotados de grandes flagelos que se desenvolvem ao longo de todo o corpo), ao penetrarem nos tecidos, onde se multiplicam, assumem a forma de leishmânia (ao perderem os flagelos), retornam ao sangue, sob a forma de critídeas (com flagelos caudais), assumem a forma de Tripanosoma e são absorvidos pelos transmissores, onde reiniciam o ciclo de reprodução.


b. Agentes Transmissores

Os vetores biológicos da doença são insetos hematófagos (bebedores de sangue) da família Reduvidae, conhecidos popularmente como barbeiros, procotós, chupões ou chupança, e pertencentes a três gêneros: Triatoma, Panstrongylus e Rhodinius.


No Brasil, as espécies de maior importância epidemiológica são as seguintes:

- Triatoma infestaus;

- Paustrongylus megistus;

- Triatoma sórdida;

- Triatoma brasiliensis;

- Triatoma maculata.

Estas espécies são importantes na transmissão por seus hábitos semi-domésticos e por terem se adaptado às casas caboclas de taipa, de pau-a-pique e de tetos de sapê. Durante a noite, esses insetos saem de suas tocas localizadas nas frestas das paredes e do teto, para alimentar-se de sangue humano.


c. Reservatórios

A Doença de Chagas era primitivamente uma zoonose e atingia principalmente os animais silvestres, como os ratos silvestres, numerosas espécies de roedores e canídeos silvestres, tatus e morcegos. Numa segunda fase, evoluiu como uma patologia de animais domésticos, como cães, porcos e gatos e atingiu a espécie humana.


d. Modo de Infecção (transmissão)

A transmissão é feita pelas fezes eliminadas durante a picada dos vetores infectantes e a infecção efetua-se através da contaminação das conjuntivas, de outras mucosas ou de abrasões ou ferimentos da pele, com fezes de barbeiros infectados.

A transmissão pode ocorrer também por transfusão de sangue ou da placenta, produzindo casos de infecção congênita. A infecção acidental, em laboratório e entre dependentes de drogas através do uso compartilhado de seringas, também tem ocorrido.


e. Distribuição Geográfica

A doença ocorre apenas no Continente Americano, com ampla distribuição geográfica no México, na América Central, no Caribe e na América do Sul. Existem relatos de casos humanos no Texas.

No Brasil, a doença ocorre nas áreas rurais, que se estendem do Rio Grande do Sul ao Ceará, atingindo os estados do Centro-Oeste. De uma maneira geral, esta endemia atinge, de forma predominante, os estratos sociais menos favorecidos e que moram em casa de paredes esburacadas.


3. Medidas Preventivas

- Vigilância Epidemiológica, especialmente nas áreas de incidência elevada da enfermidade, com a finalidade de determinar a distribuição e a freqüência dos vetores e hospedeiros animais infectados.

- Combate dos vetores nos domicílios e nas pocilgas, por intermédio da borrifação sistemática com inseticidas eficazes de ação residual.

- Construção ou melhoria das habitações, com o objetivo de torná-las impróprias à proliferação de triatomíneos e de impedir que sirvam de abrigo a hospedeiros animais, silvestres ou domésticos.

- Eliminação de animais silvestres ou domésticos (cães, porcos e gatos) infectados, nas áreas endêmicas.

- Educação sanitária da população sobre a importância da doença, mecanismos de transmissão e formas de prevenção.

- Triagem dos doadores de sangue por meio de provas sorológicas eficazes, com o objetivo de prevenir a transmissão por transfusões.

- Uso de redes tipo selva, nas casas infestadas por vetores.


4. Medidas de Controle do Paciente, do Meio 

Ambiente Imediato e dos Contatos - No Brasil a notificação às autoridades sanitárias locais é obrigatória.

- O tratamento ainda está na fase experimental, e só será efetivo na fase aguda. As seqüelas da fase tardia são incuráveis.

- A investigação dos contatos e das fontes de infecção é útil, quando a enfermidade é diagnosticada na fase aguda, cabendo examinar os telhados, as paredes, as camas, os colchões, em busca dos vetores e dos familiares em busca de infectados.

- Compensa investir na pesquisa de vacinas contra a doença.

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