TÍTULO
VII
TRIPANOSSOMÍASE
AMERICANA – DOENÇA DE CHAGAS CID – 086.2
CODAR
– HB.VTA/CODAR 23.107
1.
Caracterização
A doença de Chagas ou
Tripanossomíase Americana é uma infecção produzida por um protozoário (animal
unicelular) da espécie Tripanossoma cruzi, que normalmente se desenvolve numa
fase aguda e numa fase crônica ou tardia.
A fase aguda da doença
costuma ocorrer em crianças, enquanto que as manifestações crônicas aparecem
anos mais tarde, em plena fase adulta. Muitas vezes, as manifestações clínicas
da fase aguda são inaparentes ou pouco valorizadas e a enfermidade só se
exterioriza na fase crônica.
A fase aguda
caracteriza-se pelo aparecimento de lesões na área de contágio da infecção
(porta de entrada), como o chagoma de inoculação e o edema de pálpebra com
adenopatia satélite (sinal de Romaña), podendo ser acompanhado de febre de
intensidade variável, micro-poli-adenopatias, hepatomegalia, esplenomegalia e
anemia.
O chagoma de inoculação
apresenta-se como uma lesão papular no local da inoculação do microorganismo,
com tendência para necrose localizada, podendo ulcerar.
O sinal de Romaña é
caracterizado por conjuntivite, com inchação (edema unilateral da pálpebra e
reação inflamatória do gânglio linfático responsável pela drenagem da área
afetada - gânglio satélite).
Normalmente, as lesões
iniciais persistem por até 8 (oito) semanas. A febre é de intensidade variável
e tende a se prolongar por semanas.
As manifestações
ganglionares são disseminadas e de pequeno porte – micro-poliadenopatias e a
palpação do abdômen permite caracterizar aumentos do fígado (hepatomegalia) e
do baço (esplenomegalia). A constatação de anemias secundárias, nesta fase, é
bastante freqüente.
As seqüelas crônicas
aparecem anos mais tarde e se exteriorizam sob a forma de miocardite chagásica
ou sob a forma de grandes dilatações dos cólons (megacolon) ou do esôfago
(megaesôfago).
No caso das miocardites
chagásicas, as lesões ocorrem com freqüência no sistema condutor do impulso
estimulador da contração cardíaca e se exteriorizam sob a forma de arritmias,
confirmadas por eletrocardiogramas.
Os comprometimentos dos
órgãos do tubo digestivo, como as grandes dilatações dos cólons (megacolon) e
do esôfago (megaesôfago), são provocados pela destruição da musculatura lisa
destes órgãos, pelos parasitas.
O diagnóstico da fase
aguda é suspeitado em função do quadro clínico e dos dados epidemiológicos e
confirmado pela demonstração da existência de microorganismos infectantes no
sangue periférico, por intermédio de exames microscópicos diretos, por cultura
do protozoário em tecido de camundongo ou por xeno-diagnóstico.
O
xeno-diagnóstico fundamenta-se na demonstração da existência de parasitas no
intestino terminal de triatomíneos, que foram alimentados, semanas antes, com sangue
do paciente suspeito.
Nos casos crônicos, o
diagnóstico é suspeitado em função dos dados epidemiológicos e da constatação
das lesões cardíacas ou do tubo digestivo e é confirmado por provas sorológicas
e/ou pelo xeno-diagnóstico.
No Brasil, a prova
sorológica de Machado Guerreiro foi extremamente útil para facilitar os
levantamentos epidemiológicos de campo.
2.
Dados Epidemiológicos
a.
Agente Infeccioso
O agente infeccioso é um
protozoário (animal unicelular) da espécie Tripanosoma cruzi – descoberto em
1908 por Carlos Chagas, eminente médico sanitarista brasileiro, que o encontrou
em fezes de exemplares de reduviídeos do gênero Triatoma – em área onde a
doença era endêmica.
Tripanosoma cruzi
apresenta-se com aspectos morfológicos diferentes, tanto nos animais
vertebrados, como nos organismos transmissíveis. Injetado nos vertebrados sob a
forma de tripanossoma (dotados de grandes flagelos que se desenvolvem ao longo
de todo o corpo), ao penetrarem nos tecidos, onde se multiplicam, assumem a forma
de leishmânia (ao perderem os flagelos), retornam ao sangue, sob a forma de
critídeas (com flagelos caudais), assumem a forma de Tripanosoma e são
absorvidos pelos transmissores, onde reiniciam o ciclo de reprodução.
b.
Agentes Transmissores
Os vetores biológicos da
doença são insetos hematófagos (bebedores de sangue) da família Reduvidae,
conhecidos popularmente como barbeiros, procotós, chupões ou chupança, e
pertencentes a três gêneros: Triatoma, Panstrongylus e Rhodinius.
No
Brasil, as espécies de maior importância epidemiológica são as seguintes:
- Triatoma infestaus;
- Paustrongylus megistus;
- Triatoma sórdida;
- Triatoma brasiliensis;
- Triatoma maculata.
Estas espécies são
importantes na transmissão por seus hábitos semi-domésticos e por terem se
adaptado às casas caboclas de taipa, de pau-a-pique e de tetos de sapê. Durante
a noite, esses insetos saem de suas tocas localizadas nas frestas das paredes e
do teto, para alimentar-se de sangue humano.
c.
Reservatórios
A Doença de Chagas era primitivamente
uma zoonose e atingia principalmente os animais silvestres, como os ratos
silvestres, numerosas espécies de roedores e canídeos silvestres, tatus e
morcegos. Numa segunda fase, evoluiu como uma patologia de animais domésticos,
como cães, porcos e gatos e atingiu a espécie humana.
d.
Modo de Infecção (transmissão)
A transmissão é feita
pelas fezes eliminadas durante a picada dos vetores infectantes e a infecção
efetua-se através da contaminação das conjuntivas, de outras mucosas ou de
abrasões ou ferimentos da pele, com fezes de barbeiros infectados.
A transmissão pode ocorrer
também por transfusão de sangue ou da placenta, produzindo casos de infecção
congênita. A infecção acidental, em laboratório e entre dependentes de drogas
através do uso compartilhado de seringas, também tem ocorrido.
e.
Distribuição Geográfica
A doença ocorre apenas no
Continente Americano, com ampla distribuição geográfica no México, na América
Central, no Caribe e na América do Sul. Existem relatos de casos humanos no
Texas.
No Brasil, a doença ocorre
nas áreas rurais, que se estendem do Rio Grande do Sul ao Ceará, atingindo os
estados do Centro-Oeste. De uma maneira geral, esta endemia atinge, de forma
predominante, os estratos sociais menos favorecidos e que moram em casa de
paredes esburacadas.
3.
Medidas Preventivas
- Vigilância
Epidemiológica, especialmente nas áreas de incidência elevada da enfermidade,
com a finalidade de determinar a distribuição e a freqüência dos vetores e
hospedeiros animais infectados.
- Combate dos vetores nos
domicílios e nas pocilgas, por intermédio da borrifação sistemática com
inseticidas eficazes de ação residual.
- Construção ou melhoria
das habitações, com o objetivo de torná-las impróprias à proliferação de
triatomíneos e de impedir que sirvam de abrigo a hospedeiros animais,
silvestres ou domésticos.
- Eliminação de animais
silvestres ou domésticos (cães, porcos e gatos) infectados, nas áreas
endêmicas.
- Educação sanitária da
população sobre a importância da doença, mecanismos de transmissão e formas de
prevenção.
- Triagem dos doadores de
sangue por meio de provas sorológicas eficazes, com o objetivo de prevenir a
transmissão por transfusões.
- Uso de redes tipo selva,
nas casas infestadas por vetores.
4. Medidas de Controle do
Paciente, do Meio
Ambiente Imediato e dos Contatos - No Brasil a notificação às
autoridades sanitárias locais é obrigatória.
- O tratamento ainda está
na fase experimental, e só será efetivo na fase aguda. As seqüelas da fase
tardia são incuráveis.
- A investigação dos
contatos e das fontes de infecção é útil, quando a enfermidade é diagnosticada
na fase aguda, cabendo examinar os telhados, as paredes, as camas, os colchões,
em busca dos vetores e dos familiares em busca de infectados.
- Compensa investir na
pesquisa de vacinas contra a doença.
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