SALVAMENTO
URBANO, MONTANHA E ESPÉLEO
Conceitos,
técnicas e procedimentos
O
salvamento na montanha é um tema complexo e com uma infinidade de variantes,
desde uma simples ajuda a um acidentado de pouca gravidade em um lugar de fácil
acesso, até complicados resgates em locais de difícil acesso e com acidentados
graves.
No
primeiro caso, poderá ser empregado apenas um socorro simples, com poucas
medidas e um transporte improvisado simples, porém quando o acidente ocorrer em
uma parede, em um lugar de difícil acesso ou de difícil saída, o socorro
torna-se mais complicado, já que a evacuação inicial levará ao solo ou a um
lugar seguro que requer uma intervenção técnica que necessite de um mínimo de
material e de conhecimentos.
Nesse
assunto, vamos procurar abordar em profundidade toda a problemática do socorro
improvisado na montanha (reações à frente dos acidentes, buscas, evacuações e
transportes).
O
resgate improvisado com os meios limitados que possam dispor
uma cordada ou grupo (cordada é um grupo de indivíduos que estuda e traça a
trajetória de ação de uma equipe), requer uma grande capacidade de
improvisação, sangue frio e profundo conhecimento de todo o material, assim
como as manobras e a atenção minuciosa que o salvamento exige. Isso não é de
imediato, a solução para todos os problemas, mas, com uma preparação adequada,
podemos converter em um simples “susto” o que poderia ser uma grande tragédia.
Um
resgate desse tipo poderá ser realizado com melhores garantias de segurança,
assim sendo, antes de iniciar qualquer operação de salvamento improvisado e
complexo deverá ser levado em conta uma possível intervenção de um helicóptero
ou até mesmo de um grupo de profissionais qualificados. Nem sempre é recomendado
iniciar um resgate improvisado, lento e perigoso, se um helicóptero poderá
solucionar o problema em pouco tempo.
Atualmente,
em quase toda a Europa está sendo empregado o helicóptero nas atividades de
salvamento. No País, alguns estados já sentem a necessidade de implantação
desse recurso material e, no Distrito Federal, esse serviço vem funcionando
devido à necessidade de ganhar tempo no deslocamento de vítimas para o hospital.
Deve, portanto, ser observado que o uso de uma aeronave requer um comportamento
profissional muito importante que é o treinamento técnico e específico para a
atividade.
Nem
sempre é possível poder avisar ou aguardar uma equipe de socorro especializada,
pois as limitações do local inviabilizam a espera.
Exemplo:
distância, clima e, muitas vezes, as dificuldades de acesso.
Nesse
caso, a atuação da equipe presente torna-se decisiva. As pessoas próximas podem ser de
grande ajuda como colaboradores, já que quanto mais meios humanos e materiais
dispusermos, mais fácil e rápida será desencadeada a operação, porém mais
difícil será coordená-la, sendo a liderança primordial num momento como esse.
As
intervenções de salvamento devem respeitar três normas básicas:
- não
ponha em risco evidente a pessoa que necessita de ajuda imediata;
- não
ponha em risco os resgatadores e a aeronave;
-
garantir a evacuação de todos os participantes, quando for concluída a
operação.
Diante
da possível intervenção em um salvamento, não há dúvidas
de que deve existir o dever moral e legal na prestação de socorro. A atuação
deve ser baseada no conhecimento e não se deve assumir funções para as quais
não se está capacitado, porque podem realizar ações incertas e, com isso, terá
uma grande chance de cometer erros.
Os
problemas e situações que podem surgir são infinitos e seria impossível fazer
uma relação de todos eles. Para oferecer uma solução mais prática, contudo, se
temos os recursos e conhecemos as manobras necessárias, o grupo poderá sair da
maioria das situações com paciência e serenidade, com os recursos disponíveis e
com um julgamento acertado para decidir que ação, manobra ou sistema a ser empregado
em cada caso.
Nem
tudo vale para tudo, a solução passa, com freqüência, por combinar diferentes
sistemas ou improvisar em função do terreno e dos meios disponíveis.
Todo
profissional deveria está preparado para socorrer outro em caso de acidente.
Se
não temos o conhecimento e a experiência prática necessária, a boa vontade,
nesse caso, não serve nada
A prática
periódica das técnicas de resgate é uma garantia para qualquer socorrista, que,
dependendo do caso, saberá raciocinar com rapidez e segurança.
Acidentes
e suas causas
Os
acidentes são, com freqüência, um acúmulo de erros. Quando vistos isoladamente,
os erros parecem não ter importância, porém vistos juntos podem levar a um
desfecho trágico.
Os
nossos próprios erros, uma fatalidade, ou mesmo a troca constante da natureza
das manobras podem ser a causa de grandes acidentes, que, uma vez ocorridos, de
nada vale se lamentar ou atribuir a culpa aos companheiros, pois a prioridade
passa a ser a busca de soluções para a situação. A solução adaptada, mesmo
sendo satisfatória, é, em geral, traumática, complexa e possível de criar
riscos adicionais, os quais poderão gerar acidentes graves.
Grande
parte dos acidentes ocorre em itinerários relativamente fáceis, durante
excursões, ascensões clássicas e nas descidas, quando o cansaço e a falta de
atenção nos fazem mais vulneráveis.
A
falta de conhecimento e aprendizagem inadequada leva a erros que seriam
facilmente evitados, mas que levam a conseqüências muito graves. Os cursos de
formação ou a contratação de pessoas experientes (guias) devem ser o passo
lógico para iniciar uma atividade de risco.
Ser
consciente dos perigos a que está exposto a cada momento é a melhor forma de
poder evitá-los. O conhecimento das suas próprias limitações, assim como a de
seus companheiros evitam que chegue a forçar os limites técnicos e físicos,
além da capacidade individual e de segurança.
Deve-se
ter sempre em mente que um grupo deixa de ser forte quando apenas um membro
desse grupo subestima as suas próprias limitações, pois, quando ele se torna o
elo mais fraco do grupo, por conseqüência, enfraquece a união do conjunto.
Perigos Latentes, como
evitá-los:
Como
vimos anteriormente, os perigos latentes são, na maioria dos casos,
controláveis com uma atuação de acordo com as condições do terreno em que se
movimenta. Essa atuação é conseqüência de uma boa formação e a experiência terá
de ser mais valorizada na proporção em que o meio de atuação for mais difícil e
perigoso.
Profundo
conhecimento do meio e aprendizagem das técnicas
precisas de resgate
Essa
reiterada receita é a forma de se evitar a maioria dos acidentes,
a qual unida à experiência de cada dia na atividade, desde cedo cria o sentido
comum, que faz com que a pessoa não ofusque o seu conhecimento e execute cada
operação com prudência.
O
treinamento aumenta o rendimento, o conhecimento e a própria confiança pessoal,
levando-nos a uma boa condição física e psicológica.
Uma
equipe adequada também pode evitar ou atenuar as conseqüências de um acidente,
por exemplo, uma mudança climática súbita pode alterar o curso da atividade e,
muitas vezes, poderá trazer conseqüências graves, porém uma equipe unida, uma
boa reserva física e com uma atitude serena, podem ser suficientes para passar pelo
perigo.
Um
bom estado de ânimo, boas doses de prudência e resoluções firmes são
indispensáveis para o êxito nas rotas mais difíceis e perigosas. Esses dois
últimos termos (dificuldade e perigo) não precisam estar associados, mas é de
suma importância considerá-los em conjunto na hora de eleger a rota adequada
para ser seguida.
A
sensatez do membro de uma equipe é, definitivamente, o melhor
remédio, pois a prudência e covardia, custo e temeridade são atitudes que o
indivíduo deve saber distinguir.
Finalmente,
chegamos à conclusão de que a prevenção passa por um rigoroso controle de
nossos conhecimentos, materiais, experiências e treinamentos.
Apesar
de adotar as medidas de segurança mencionadas anteriormente, devemos estar preparados
para o caso de nos envolvermos em um acidente. A formação em primeiros socorros
e técnicas avançadas deveriam ser qualidades comuns a todos os profissionais,
haja vista que em determinadas situações a ajuda externa é difícil de
conseguir.
A
melhor forma de poder pensar e acertar os passos que devem ser seguidos depois
de um acidente é mantendo a calma, e analisar a situação friamente. A
precipitação só conduz a erros que poderão agravar mais a situação e as lesões
do acidentado.
O
princípio básico do socorrista segue os três pontos seguintes:
1)
proteger:
É a
primeira medida destinada ao acidentado, evitando que ele continue exposto a
novos perigos ou que sua situação se agrave.
2)
alertar:
Mesmo
quando contamos com pessoas experientes, ou quando a situação é demasiadamente
fácil, devemos, mesmo assim, solicitar ajuda externa.
3)
socorrer:
Aplicando
as técnicas de primeiros socorros, com uma atitude segura e calma, busque
tranqüilizar o acidentado; não deixando a situação traumatizá-lo e demonstrando
confiança sempre; pois, nas próximas horas, você poderá necessitar de toda sua
moral e capacidade, retirando o acidentado, se necessário, ou simplesmente preparando
para esperar ajuda.
No
meio rural, essa ordem de atuação é de difícil aplicação por suas condições
particulares. Muitas vezes, dar o alerta é de suma importância, principalmente
quando não podemos contar com pessoas experientes e em número suficientes para
poder proteger e socorrer o acidentado.
A
mobilização de um ferido grave é um tema altamente delicado, se não dispomos
dos meios necessários para imobilizar a vítima adequadamente. Diante das
mínimas suspeitas de lesões cervicais ou medulares, o ferido não poderá ser
removido até que se disponham dos meios adequados para imobilizá-lo.
Quando
se decide solicitar ajuda externa a grupos de resgate organizados
(profissionais), ela deverá ser feita por pessoas qualificadas e experientes. O
ideal é que sempre seja realizada por uma dupla.
As
pessoas que partem em busca de ajuda devem levar equipamentos para garantir sua
segurança. Elas devem conhecer o terreno, a localidade em que está o ferido,
bem como conhecimentos técnicos suficientes para realizar a atividade. Elas
devem sinalizar todo o caminho até que cheguem a um lugar totalmente conhecido.
Uma
vez solicitada a ajuda, os mensageiros devem se assegurar de que foram
compreendidos com exatidão e insistir na comprovação de que o resgate será
posto em ação imediatamente.
É
importante que os mensageiros sirvam de guias para a equipe de resgate, para
que não se perca tempo para chegar ao local exato do acidente.
Dados
que devem ser oferecidos em favor do resgate
A
coleta de dados é de suma importância para a operação de resgate, pois são os
dados que direcionarão e definirão a tática a ser usada. Algumas perguntas são
imprescindíveis, dentre elas destacamos:
1.
Quem solicita o socorro? Um grupo ou um indivíduo?
2.
Onde ocorreu? Descrição do acidente, quantos feridos? Há gravidade? Que tipo de
lesão?
3.
Como ocorreu o acidente?
4.
Quando? (o tempo é muito importante).
5.
Quais são as referências geográficas?
6.
Quantas pessoas estão no local e quantas estão aptas a prestar ajuda e que
meios dispor?
7.
Quais as condições climáticas (meteorologia) no local do
acidente?
8.
Quais são as condições de acesso até o local do acidente?
Um
acidente com uma cordada de duas pessoas pode forçar a necessidade de deixar o
acidentado só e buscar ajuda. Não é uma decisão fácil, inclusive para um exímio
socorrista (um montanheiro), porém terá de analisar friamente e valorizar a
situação e capacidade, levando em conta diversos fatores:
-
Podemos deixar o ferido, levando em conta as suas lesões?
- Em
quanto tempo, podemos voltar com ajuda?
- Que
tempo climático pode fazer nas próximas horas?
-
Temos material, capacidade técnica e física suficientes para afrontar o perigo?
-
Conhecemos o terreno suficientemente para regressar?
- Que
possibilidades temos de que alguém nos veja ou descubra em um período razoável?
Tomada
a decisão de deixar o acidentado, deve-se ter as devidas precauções:
-
deixá-lo a salvo dos perigos, bem amarrado, de forma que não possa desatar-se
em um momento de crise.
- dar
assistência possível e necessária antes de partir;
-
deixar o mais abrigado possível;
-
deixar, ao seu alcance, todas as provisões e roupas disponíveis.
Se
estivermos próximos ao cume, seguir escalando é o meio mais rápido do que uma
grande descida por toda a parede. Nesse caso, necessitamos conhecer as técnicas
de como escalar sozinho.
Se
for possível mandar ajuda, faremos esforços para sermos vistos ou ouvidos nos
arredores mediante sinais óticos ou acústicos.
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