CORTE DE ÁRVORE
GUIA PRÁTICO DE “CORTE DE ÁRVORE”
INTRODUÇÃO
O presente guia tem por finalidade
estabelecer conceitos a respeito do assunto “corte de árvore” principalmente no
que tange às regras de segurança que devem ser adotadas nas operações.
Vinculada à segurança, está a aplicação de
técnicas adequadas que permitem operações de sucesso.
Para tanto, dividimos a matéria de maneira
que aqueles que a consultarem tenham em mente a importância de uma boa
avaliação da situação, conheçam técnicas de corte consagradas.
ÁRVORES
A arborização é necessária à vida humana,
pois contribui para abafar ruídos, serve como refúgio para pessoas se
abrigarem, alimento para fauna urbana e, desta forma, mantém o equilíbrio no
ecossistema, pois ajuda na absorção de águas da chuva, principalmente nas
cidades que são impermeabilizadas pelo concreto e asfalto. Também ameniza a
alta temperatura pela retirada de calor, seja evapo-transpiração, seja pelo
sombreamento proporcionado nos passeios calçadas e quintais. Enfim as árvores
são necessárias à vida, portanto devem ser tratadas com seriedade e atenção.
Sendo assim, nossa Constituição Federal
incluiu, na preservação do meio ambiente, a proteção às árvores, além de
atribuir ao Poder Público e à coletividade a obrigação de proteger, recuperar e
ampliar as áreas verdes.
No último capítulo do nosso guia prático,
elencaremos a legislação pertinente à matéria a qual deve ser somada à
legislação existente em cada localidade.
Pontos de uma árvore além da raiz
RAIZ
São divididas em dois sistemas
Sistema radicular superficial – Geralmente
presentes nas árvores brasileiras.
Sistema radicular superficial
• Sistema radicular pivotante (profundo)
Sistema radicular pivotante
CAMADAS DO TRONCO
CONDICIONANTES DE ESTABILIDADE
• FORMATO DA COPA
• CLIMA
• TIPO DE ENGALHAMENTO
• DESENVOLVIMENTO DAS RAÍZES
• AUSÊNCIA OU PRESENÇA DE VENTOS
FORMATO DA COPA E DESENVOLVIMENTO DAS
RAÍZES
As árvores normalmente têm o seu
enraizamento de acordo com a projeção da copada.
Toda esta área de projeção da copada
deveria ficar livre para que a árvore recebesse melhor nutrição.
Como já foi explorado anteriormente, as
árvores brasileiras têm um sistema radicular superficial e se espalham conforme
a copada cresce para os lados.
Projeção da copa
Normalmente, nas áreas urbanas, esta área
de projeção da copada recebe cobertura de concreto ou outro tipo de cobertura
devido à necessidade dos passeios e calçadas. Tal procedimento compromete a
estabilidade da árvore, não permitindo nutrição adequada, o que facilita a
instalação de pragas e outros problemas fito-sanitários. As árvores brasileiras
são por isso mais afetadas do que as árvores de sistema radicular pivotante.
Por esta razão entre outras ocorrem muitas quedas de árvores.
DESESTABILIZADORES DE ÁRVORES
FATORES EXTERNOS
AÇÃO DOS VENTOS
As árvores costumam desenvolver-se umas
próximas das outras como forma de se protegerem dos ventos. O Eucalipto é um
grande exemplo deste fenômeno.
A ação dos ventos numa árvore provoca o seu
tombamento devido às forças que agem sobre as raízes.
DESVIO DE FIBRAS
O desvio de fibras provoca o nó (parte mais
dura da madeira). Tal fenômeno compromete a estabilidade da árvore.
ENGLOBAMENTO INCOMPLETO
Quando a árvore sobre um ferimento, ela
inicia o englobamento. Se for completo a árvore estará protegida da influência
de desestabilização ou outros fatores maléficos. Se o englobamento for
incompleto sua estabilidade estará comprometida, além de permitir a penetração de
fatores indesejáveis que poderão comprometer sua saúde.
Englobamento incompleto
PODAS IRREGULARES
Podas feitas de maneira errada também
comprometem a estabilidade da árvore, pois provocam condições indesejáveis no
galho ou ramo cortado, alterando a arquitetura da árvore, permitindo a ação de
fungos e pragas combinados com a ação das chuvas.
Poda irregular
CONDIÇÕES DE VIDA
As condições de vida de uma árvore estão
intimamente ligadas ao clima e a ação dos demais fatores já citados. Muitas
vezes, a genética de uma árvore está, por exemplo, codificada para que tal
árvore viva recebendo sol por todos os lados. De repente, constrói-se uma
edificação ao seu lado provocando um sombreamento indesejável à genética. Essa
árvore poderá ser comprometida na sua estabilidade pelo não cumprimento de uma
necessidade genética. Isso poderá provocar a ação de agentes indesejáveis
(fungos, pragas, etc), levando a árvore ao desequilíbrio.
FATORES INTERNOS
PRAGAS
As pragas trazem danos às árvores
provocando o desequilíbrio de forças pela destruição do tecido Os danos e
sinais mais comuns são murchamento e morte.
Os CUPINS, por exemplo, são identificados
pela forma como produzem as perfurações no tecido das árvores . Tais canais
tangenciam o eixo longitudinal do tronco, ou seja, seguem o mesmo sentido do
tronco. Já as BROCAS fazem seus caminhos no sentido transversal, ou seja, perpendicular
ao eixo longitudinal do tronco.
Há também os gafanhotos, pulgões,
joaninhas, lagartas que acabam com as folhagens impedindo a fotossíntese.
DOENÇAS
As doenças mais comuns são o NANISMO,
ENVASSOURAMENTO etc. Tais doenças provocam alteração da coloração, murchamento
e podridão.
DESNUTRIÇÃO
A plantação de árvore em solos inadequados
ou em locais onde as condições de vida não são favoráveis poderá provocar a
desnutrição da árvore. Entre os sinais que se podem observar estão alteração da
coloração, debilidade, necrose e deformações
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO
Há um grande dilema no Corpo de Bombeiros
quanto a se determinar se uma árvore pode ou não ser cortada. Se está ou não em
PQI (Perigo de Queda Iminente.).
Salvo todos os dispositivos legais a
respeito, os quais não discutiremos neste capítulo, cabendo a cada avaliador
não esquecer de levar em conta estas questões legais, há que se estabelecer as
diferenças entre PERIGO DE QUEDA IMINENTE e PERIGO EM POTENCIAL.
A ideia que se tem de PERIGO DE QUEDA
IMINENTE é o de que a árvore está prestes a cair, seja por um desequilíbrio de
forças provocadas por uma rachadura, seja pela ação maciça de pragas, ou mesmo
doenças, ou até mesmo pela evolução das forças de ventos sobre as raízes, provocando
inclinações anormais ou rachaduras no solo com exposição de raízes. Nestas circunstâncias,
não há o que se discutir quanto à necessidade de corte imediato, especialmente
se tais árvores ameaçarem a vida e o
patrimônio das pessoas. O corte deve ser iniciado imediatamente, seja de dia ou
seja de noite. Logicamente deve-se precaver-se das condições de segurança para
a guarnição e população vizinha ao evento.
O que ocorre muitas vezes são os tais
PERIGOS EM POTENCIAL. A árvore está sadia, bem implantada, mas seus ramos e
galhos estão projetados sobre residências, por exemplo.
Pode ser que não estejam na iminência de
caírem sobre elas, entretanto, poderão cair por uma circunstância ou outra. Daí
convém que sejam podados para evitar um mal futuro. Cabe a presença do
Engenheiro Agrônomo para que possa verificar se a poda pode ou não prejudicar a
árvore.
Todo corte não deixa de ser um ferimento.
Muitas árvores não estão em PERIGO DE QUEDA
IMINENTE e nem oferecem PERIGOS EM POTENCIAL, mas estão numa situação de RISCO
PERMANENTE. Vejamos o caso de uma árvore que está implantada nas encostas de um
terreno. Estão sadias e bem implantadas no solo inclinado, mas a acomodação do
solo (mecânica de solo) com o passar do tempo poderá desestabilizar a árvore
pela exposição das raízes desequilibrando as forças ao longo do tronco inclinando-a
perigosamente com projeção sobre os arredores. Sendo assim, tal árvore está
numa situação de RISCO PERMANENTE, pois o somatória dos fatores que poderão
levá-la à queda são previsíveis embora tal queda não seja iminente.
Cabe a cada avaliador uma grande dose de
bom senso. Muitas vezes deixa-se de cortar ou podar uma árvore, oferecendo
perigo em potencial, ou que está em risco permanente, como é o caso de galhos
sadios projetados sobre residências ou árvores implantadas em taludes
inclinados e recebe a triste notícia de que, tempos depois, os tais galhos ou a
árvore caíram sobre a residência e provocaram lesões ou mesmo a morte de
pessoas ou então grandes danos ao patrimônio.
Na dúvida, deve-se isolar o local e acionar
as autoridades do ramo (engenheiros agrônomos, assistentes sociais, defesa
civil etc.) bem como empresas afins como as Cia de Força e Luz para juntos, sob
a tutela do SICOE, tomarem a melhor decisão. Um conselho de Orgãos com certeza
tomará a melhor decisão inclusive observando as questões legais.
Finalmente existem árvores TOMBADAS
(Registradas como patrimônio histórico ou cultural). Tais árvores para serem
cortadas necessitam de um processo especial para poda ou corte.
Convém, em caso de perigo de queda iminente
isolar a área, evacuar a população do entorno e acionar as autoridades
pertinentes ao caso. Algumas prefeituras mantém a relação de árvores tombadas
pelo patrimônio público.
Existem vários métodos para se avaliar as
condições de uma árvore a fim de se verificar sua estabilidade e saúde. Deve-se
ter sempre em mente o que é uma árvore sadia. E fazer comparações de uma árvore
sadia com a que estamos avaliando.
MÉTODO VISUAL: Consiste em verificar as
condições sanitárias da árvore, sombreamento, sol, ação da umidade, raízes expostas
apodrecidas, ação de pragas etc.
Ex. A figueira não é uma árvore que perde
folhas. Se assim acontecer poderá estar comprometida com alguma doença. Já o
Ipê em determinadas épocas do ano perde todas as folhas, mas não está morto.
MÉTODO DA AUSCUTAÇÃO Consiste em bater no
tronco, ouvir o som e depois bater numa árvore sadia da mesma espécie e
comparar os sons.
MÉTODO POR APARELHOS Consiste em utilizar
aparelhos a fim de se verificar as camadas internas da árvore:
a) Aparelhos que penetram o tronco e vão
medindo o esforço necessário para entrar;
b) Aparelhos como broca que retiram os tecido
e assim pode-se observar as camadas;
c) Aparelho de Raio X os quais mostram o
interior do tronco sem precisar perfurá-los.
O corpo de Bombeiros naturalmente usará
métodos Visuais e de Auscutação, entretanto, nada impede o acionamento de Engenheiros Agrônomos para fazerem um
exame mais acurado (completo).
PLANO DE CORTE
Uma vez definido se vai cortar ou podar a
árvore, elabora-se um plano de corte.
Toda operação planejada leva a guarnição ao
sucesso e o que é mais importante sem acidentes.
Se o plano é um corte total da árvore,
deve-se observar o seguinte:
a) Determinar o CÍRCULO DE AÇÃO: Deve-se
avaliar a altura da árvore e determinar um raio cuja distância seja de 2,5
(duas vezes e meia ) a altura da árvore.
Círculo de ação
b) Determinar a ÁREA PARA FERRAMENTAS:
Deve-se estender uma lona fora do Círculo de Ação e sobre ela colocar todas as
ferramentas.
Área para ferramentas
c) Verificar se não há OBSTÁCULOS à
SEGURANÇA DOS BOMBEIROS E POPULAÇÃO:
- Tipo, som e situação da árvore a ser
cortada;
- Animais peçonhentos instalados na árvore;
- Evacuar residências, se for o caso;
- Acionar Cia de Força e Luz para os
desligamentos necessários;
- Acionar outros serviços necessários
(Telefônica, SABESP, COMPANHIA DE GÁS etc.) para outras manobras;
- A guarnição a ser empregada deve possuir
condições físicas, psicológicas e técnicas para esse trabalho.
d) Determinar se haverá CORTE TOTAL ou se
haverá PODA PRELIMINAR ou SIMPLES PODA.
- Se o CORTE FOR TOTAL, determinar qual
será a direção da queda e realizar a ancoragem do topo com cabos de aço ou
cordas resistentes, tirfor ou sistemas para multiplicação de força para a
utilização. Em seguida realizar o entalhe direcional e após o corte de abate.
Lembrar-se de determinar a zona de segurança para quem está trabalhando.
Direção da queda
Dependendo do diâmetro da árvore, os cortes
podem ser em cunha, em leque simples ou em leque múltiplo conforme POP.
Esquema de ENTALHE DIRECIONAL, CORTE DE
ABATE E FILETE DE RUPTURA –Técnica de corte total.
Técnica de corte do tronco
Se antes do corte total, será necessário a poda
preliminar, essa deve começar com a remoção dos galhos inferiores, subindo em
direção à copada. Isso impedirá que galhos enrosquem-nos imediatamente abaixo.
Às vezes é mais trabalhoso desenroscar galhos que caíram sobre outros, o que poderá
atrasar, e muito, o tempo de corte. Portanto é fundamental o corte dos galhos
inferiores.
Nesse caso de poda preliminar, temos que
avaliar aspectos importantes: Se há possibilidade de queda livre ou se há
obstáculos que impeçam tal queda:
a) Se há possibilidades de queda livre, poderão
ser empregados três tipos de corte:
1. corte total horizontal
Corte com queda horizontal
O corte “A” por baixo, não deve ser muito
profundo, pois poderá prender o sabre da motosserra.
Feito em galhos grandes, em que se deseja
uma queda controlada não vertical, o galho cairá na horizontal.
2. corte total livre
Corte com queda vertical
Corte “A” total, sem permitir a lascada,
deve ser feito de cima para baixo até o outro lado (geralmente feito em galhos
menores em que não existe preocupação com a queda e suas conseqüências).
3. Corte lascado
Corte “A” deve ser feito de cima para baixo
até a entrecasca do lado oposto
Corte lascado
O próprio peso do galho vai lascar a casca
e a entrecasca.
Corte lascado
Feito em galhos que se deseja uma queda
vertical.
O galho ficará pendurado pela entrecasca e
a casca, quando não cai pelo próprio peso.
b) Se há obstáculos que impeçam a queda
livre:
Empregar-se-á o balancinho, que nada mais é
do que uma queda diagonal ou horizontal dos galhos sob controle de cordas,
evitando que caiam de uma só vez. O operador da motosserra sempre se afasta do
galho no momento da descida.
Adota-se uma forquilha, a mais favorável, e
acima do galho que se quer cortar. Tais forquilhas são usadas como apoio para
sustentar o galho e desviar a força, facilitando o trabalho do corte do galho e
sua queda diagonal, sustentado por uma corda ancorada no seu ponto de
equilíbrio, deve-se, ainda, usar um cabo guia para direcionar a queda.
Para queda horizontal, deverá ser usado
balancinho duplo. Escolhe-se a forquilha mais favorável ou duas, passam-se as
cordas que são ancoradas em dois pontos do galho, efetua-se o corte e se desce
gradativamente, direcionando com o cabo-guia.
Para fazer balancinho de tronco, deve-se
prender uma liga abaixo do tronco com uma manilha por onde passa uma corda que
é ancorada na parte do tronco a ser cortada, no qual também é fixado o cabo
guia, efetua-se o corte acima da liga e controla-se a descida. Em ambos os
casos, a outra extremidade da corda deverá estar ancorada durante o corte.
4) Pode-se empregar cortes de galhos com
balancinhos com ajuda de tirolesa. São cortes especiais nos quais não seja
possível o arreamento dos galhos no solo imediatamente ao lado do tronco.
Neste caso, estendeu-se tantas tirolezas
quanto forem o número dos galhos que se pretende retirar. Sempre começando de
baixo para cima.
Tirolesas
As tirolesas devem ser montadas conforme os
galhos superiores a ela são cortados.
O galho a ser cortado deve ser preparado
com balancinho e corda, que será presa à tirolesa através de manilhas, e cabo
guia, para que se puxe o galho através da tirolesa. Poderá ser utilizado
material descartado da bolsa de salvamento em alturas, que será exclusivo para
corte da árvore.
Balancinho com tirolesa
A medida que o galho é cortado e cai,
ficará dependurado na tirolesa.
Descida do galho na tirolesa
Observações
1. Deve-se lembrar de sempre fazer as
amarrações nos galhos depois de forquilhas, pois quando pendurados poderá
escapar como no caso A.
Forma incorreta e a correta de ancoragem
O galho desliza pela tirolesa até o local
desejado
Tirolesa do galho
Simples Poda
Em se tratando de simples poda de um ou
outro galho, há que se avaliarem alguns motivos que nos obrigam a podá-lo.
Podem-se encontrar situações nas quais a árvore não oferece perigo de queda
iminente, mas apresente risco em potencial. Por exemplo, galhada avançando
sobre residência é caso para a poda.
Podem-se também encontrar galhos que a
árvore vai eliminar, o que nos indica risco permanente, pois, uma hora ou
outra, a árvore vai eliminá-lo e o ele poderá causar acidentes.
Vejamos dois casos:
1º Caso em que a árvore apresenta, na base
do galho, a fossa basal. Isso quer dizer que a seiva não está indo mais para o
galho. Isto acontece quando, por um motivo ou outro, a árvore vai eliminá-lo.
2º Outro fenômeno em que a árvore vai
eliminar o galho é a formação do colar. A seiva tenta chegar mas o galho não
aceita, pois irá ser dispensado.
Crista e colar do galho
A poda técnica deve ser realizada nestes
dois casos da seguinte forma:
Corte inicial de poda
São quatro cortes começando pelo corte “A”
e terminando com o corte “D”.
Tal procedimento proporcionará menos danos
à árvore.
Corte final de poda
Deve-se passar pasta cúprica, calda
bordaleza ou mastique na ferida ou deixar por conta da árvore.
Passar pasta cúprica
Sensacional!
ResponderExcluirBom dia e obrigado pelo elogio e pela visita...
ExcluirPerfeito !
ResponderExcluir