Estresse ou fadiga pelo calor
O grau de conforto humano em um
ambiente depende da umidade, temperatura e velocidade do ar.
Em condições de temperatura alta,
como o caso de incêndios, o bombeiro tende a diminuir os seus movimentos, mesmo
que inconscientemente. A capacidade
muscular se reduz, o rendimento diminui e a atividade mental se altera, podendo
haver perturbação da sua coordenação sensório-motora.
A freqüência de erros e acidentes
tende a aumentar, pois o nível de vigilância diminui, principalmente, a partir
de uma temperatura ambiente de 30 oC. Incêndios urbanos podem atingir 1000 oC
no nível do teto.
Se for associada alta temperatura
ambiente com esforço intenso, condições comuns em incêndios estruturais, o
tempo será fator determinante para a eficiência dos bombeiros no combate.
A exposição prolongada força o
organismo e, ainda que não se sofra queimadura ou intoxicação por fumaça, é
possível que o bombeiro apresente um quadro de estresse ou fadiga intensa.
O próprio equipamento de proteção
individual e respiratória (EPI/EPR) é pesado, incômodo, quente e limita os
movimentos. Porém é a única forma de proteção contra os efeitos danosos dos
componentes do incêndio. Acostumar-se a usá-lo diminui o estresse causado por
seu porte.
Cada bombeiro deve saber identificar,
em si mesmo e nos demais componentes da guarnição, os sintomas de estresse ou
fadiga pelo calor. Os comandantes de socorro e chefes de guarnição devem ter o controle
do tempo e das condições sob as quais os bombeiros, sob sua responsabilidade,
estão atuando, para revezamento do pessoal no combate, de forma eficiente.
Constituem tipos de estresse ou
fadigas pelo calor:
câimbras;
exaustão pelo calor;
golpe de calor.
Cãimbras
São espasmos musculares doloridos,
geralmente nos músculos da coxa, que ocorrem depois de um exercício vigoroso,
no qual esses músculos tenham sofrido uma intensa demanda física.
As cãimbras não ocorrem somente em
ambientes quentes, nem atingem somente indivíduos sedentários, mas aparecem,
com freqüência, no combate a incêndio.
A ciência médica não tem certeza da
causa das câimbras, mas há indícios de que sejam causadas
pela perda de água e sais minerais do organismo, por meio do suor produzido
durante exercícios, particularmente, com o aquecimento do ambiente. A perda do
suor causa mudança do balanço eletrolítico no corpo.
A desidratação também pode ter uma
função no desenvolvimento das cãimbras.
Uma das maneiras mais recomendadas
para evitar a fadiga dos músculos e minimizar as cãimbras ainda é o treinamento
físico, constante (regular) e adequado
do bombeiro.
Um quadro de cãimbra no bombeiro pode
ser tratado com as seguintes medidas:
remover o indivíduo do ambiente
quente e colocá-lo em
repouso em um local arejado;
afrouxar e remover roupas em
excesso;
descansar os músculos com cãimbras,
mantendo o bombeiro sentado, caso esteja consciente, ou deitado sobre o lado
esquerdo, monitorando os sinais vitais e a respiração, se estiver inconsciente.
Colocar o membro afetado mais alto que o corpo;
aplicar compressas úmidas sobre os
músculos em espasmos ajuda a aliviar a sensação da câimbra;
alongar a área afetada, quando este
tratamento não causar mais dores do que a ação da câimbra;
se estiver consciente, pode-se lhe
dar água ou uma solução diluída e balanceada de eletrólitos
(existem soluções desse tipo comercializadas em supermercados, também chamadas de isotônicos) ou soro de reidratação oral
(repondo o sódio, potássio e líquido perdido);
não ministrar tabletes de sal ou
líquidos com alta concentração de sal – vítimas com cãimbras têm uma reserva de
eletrólitos em seu organismo que não estão distribuídos corretamente.
Repousando, os eletrólitos poderão atingir o equilíbrio adequado, resolvendo o problema.
Exaustão pelo calor
A exaustão pelo calor também é
chamada de prostração ou colapso pelo calor e ocorre quando o corpo perde muita
água e eletrólitos pela transpiração, podendo evoluir para um quadro de choque hipovolêmico,
o qual será mostrado posteriormente.
A transpiração é um efetivo mecanismo
de refrigeração corporal, devido à evaporação do suor pelo corpo. Pessoas
cobertas por roupas espessas, como as de combate a incêndio, transpiram
abundantemente.
Indivíduos que desenvolvem a exaustão
pelo calor podem ser acometidos por choque hipovolêmico
moderado.
O choque hipovolêmico ocorre quando
há uma falha do sistema circulatório em fornecer sangue suficiente para todas
as partes vitais do corpo.
Com o calor, o organismo perde água
pelo mecanismo da sudorese. Há a dilatação dos vasos sangüíneos mais próximos
da superfície da pele, para dissipar o calor adicional.
A freqüência dos batimentos cardíacos
é aumentada para suprir essa necessidade ocasionando a contração de alguns
músculos e do sistema digestivo. Essa reação de contração muscular é para
manter o fluxo sangüíneo para o cérebro, coração e pulmão que são extremamente sensíveis
à falta de oxigênio.
Daí ocorre o aumento da freqüência
respiratória, para tentar aumentar a captação de oxigênio da
atmosfera e acelerar a eliminação do gás carbônico.
A contração dos vasos sanguíneos da
pele produz palidez, por falta da compensação de fluxo
sangüíneo para os órgãos vitais e para dissipar o calor, diminuindo a
temperatura e o enchimento capilar.
Quando esses mecanismos começam a
falhar, a vítima desenvolve queda na pressão arterial e começa a apresentar
alterações da função do cérebro e de outros órgãos por falta de oxigênio. Se o
estado de choque não for tratado, será fatal.
Os sinais e sintomas da exaustão pelo
calor incluem severas cãimbras, usualmente no abdômen e nas
pernas. Os demais sintomas são semelhantes aos da hipovolemia:
pele fria e pegajosa;
face acinzentada;
sensação de fraqueza, tontura e
languidez;
náuseas ou dores de cabeça;
sinais vitais que podem estar
normais, mas com pulso rápido;
temperatura usualmente normal ou
ligeiramente alta, mas raramente passando de 40 oC.
As vítimas devem ser removidas
prontamente para um ambiente fresco.
Toda roupa apertada terá de ser
afrouxada e o excesso de roupas retirado.
A vítima deve deitar-se,
urgentemente, e inalar oxigênio. Além disso, ela precisará ser transportada com
urgência ao hospital, podendo ser administrado líquido com eletrólitos por via
oral, se estiver consciente, ou endovenosa, se o quadro for de inconsciência.
Golpe de calor
É a enfermidade mais rara, porém a
mais séria decorrente da exposição ao calor seco do incêndio e
tem sintomas similares à insolação.
Como o mecanismo normal para liberar
o excesso de calor é a transpiração, o calor corporal é
então liberado rapidamente, destruindo os tecidos e resultando em morte.
Sem o devido tratamento, o golpe de
calor pode ser fatal.
O golpe de calor pode ocorrer também
durante uma atividade física rigorosa, particularmente em
ambientes fechados, pobres em ventilação e umidade.
Os sintomas são:
pele vermelha, quente e seca;
temperatura corporal muito elevada,
acima de 40 oC;
vômitos;
convulsões;
contrações musculares;
respiração profunda, seguida de
superficial;
pulso rápido e forte, seguido de
pulso fraco;
fraqueza;
escassez ou ausência de
transpiração;
pupilas dilatadas;
perda da consciência, podendo levar
ao coma.
Percebe-se então que os sintomas são
contrastantes com os de exaustão pelo calor. Porém, pode evoluir da exaustão
pelo calor para o golpe de calor,
havendo retenção da umidade na pele, quando o indivíduo não mais transpira e a
pele permanece úmida.
O calor corporal é liberado
rapidamente no paciente com golpe de calor. A vítima tem uma queda do nível de
consciência, e conseqüentemente, diminui a reação a estímulos, pois entra em
coma.
Como o pulso é rápido e forte, o
indivíduo passa a ficar inconsciente, evoluindo para uma pulsação fraca e
diminuindo a pressão sanguínea.
O golpe de calor é uma emergência que
ameaça a vida. Por isso, deve ser tratada no hospital, sem demora no
atendimento.
A recuperação do paciente dependerá
da velocidade e do vigor com que o tratamento é administrado. O corpo deve ser
resfriado, por qualquer meio que esteja disponível.
Na cena do incêndio, a vítima deve
ser removida do ambiente quente, deslocada para a viatura de
atendimento pré-hospitalar e colocada sob o máximo de refrigeração.
As roupas do paciente devem ser
removidas, colocando-lhe toalhas ou lençóis molhados. Para isso, pode-se
envolvê-lo, sem pressão, com um pano e molhá-lo com a própria mangueira da
viatura, transportando-o, imediatamente, ao hospital.
A ambulância deve dar uma notícia
prévia ao hospital sobre o problema, para que se
prepare um banho com água gelada logo na chegada do paciente. Se houver a
possibilidade de aplicar bolsas de gelo, deve-se aplicá-las nas axilas, punhos,
tornozelos, virilha e pescoço, além de ministrar oxigênio.
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