05 agosto 2022

II - A Tortura da Carne

 

II

 

Entretanto deu-se um acontecimento que, embora de pouca importância, muito contrariou Eugénio. Ele, que até aí levara uma vida de rapaz solteiro, tivera, como é natural, relações com mulheres de diferentes classes sociais. Não era um devasso mas, segundo ele próprio afirmava, também não era um monge. Por isso gozara da vida tanto quanto lhe exigia a saúde do corpo e a liberdade do espírito. Desde os dezesseis anos que tudo lhe correra bem

e não se corrompeu nem contraiu qualquer doença. Em S. Petersburgo fora amante de uma costureira; porém, como esta adoecesse, procurou substitui-la, e a sua vida em nada se modificara.

Mas desde que, havia dois meses, se tinha instalado no campo, não voltara a ter relações com qualquer mulher. Uma continência tal principiava a enervá-lo. Precisaria de ir à cidade.

Eugénio Ivanovitch começou a seguir com uns olhos concupiscentes as raparigas que encontrava. Sabia bem que não era bonito ligar-se a qualquer mulher do campo. Sabia, isto pelo que o informaram, que o pai e o avô tiveram uma conduta que sempre se distinguira dos outros proprietários, nunca se metendo com as criadas de casa ou as jornaleiras. Por isso, resolveu seguir-lhes o exemplo. Mas, com o tempo, sentindo-se cada vez mais inquieto, pensou que seria possível arranjar uma mulher, isto sem que ninguém o soubesse... Quando falava com o staroste ou com os carpinteiros, encaminhava a conversa para o assunto, prolongando-a propositadamente. Entretanto, sempre que se lhe proporcionava o ensejo, olhava para as camponesas com mal contido interesse.

 

Barros Vital

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