O que as cobras comem?
Existe
uma grande variedade de ambientes ocupados por cobras, e sua dieta reflete essa
diversidade. As cobras se alimentam de uma grande variedade de presas, como
lesmas e caracóis, centopeias, escorpiões, gafanhotos, besouros, larvas de
libélulas, crustáceos (caranguejos), peixes, anfíbios, incluindo ovos e larvas
(sapos, rãs, pererecas e cecílias), aves e seus ovos, uma grande diversidade de
mamíferos (roedores, catitas, morcegos), jacarés, tartarugas e seus ovos,
lagartos e seus ovos e até mesmo outras cobras e seus ovos.
Contudo,
cada espécie geralmente se alimenta de uma pequena variedade de tipos de
presas.
A
Mussurana Clelia clelia pode caçar até mesmo cobras peçonhentas como Jararacas,
pois é imune ao veneno.
A
mandíbula das cobras não é fusionada na região do queixo como na maioria dos
vertebrados, mas formada por duas hemimandíbulas livres e independentes.
Por
serem independentes entre si, as hemimandíbulas se movimentam alternadamente
entre os lados com ajuda dos dentes, para que o alimento alcance o esôfago.
Os
dois grupos de cobras já mencionados, que diferem por sua capacidade de
deslocar ossos da cabeça para ter maior abertura de boca, ocorrem na região de
Manaus.
Scolecophidia é
representado pelas famílias Typhlopidae, Leptotyphlophidae e Anomalopididae,
cada uma com apenas uma espécie.
Por
não conseguirem abrir a boca em ângulos maiores que 90°, consomem presas
pequenas como formigas e cupins.
Alethinophidia é
representado na região de Manaus pela maioria das cobras, com cerca de 60
espécies conhecidas.
A
capacidade de deslocar o osso quadrado (conecta o maxilar às hemi-mandíbulas),
a presença de costelas livres
(não
se fundem na região ventral) e a pele elástica, possibilitam às cobras
Alethinophidia o consumo de presas grandes, muitas vezes com diâmetro maior que
o do seu próprio corpo.
Consumir
presas grandes é uma ótima estratégia utilizada pelas cobras para a absorção de
grandes quantidades de nutrientes com apenas uma investida de caça.
No
entanto, essa estratégia pode ser arriscada.
As
cobras engolem suas presas inteiras (Figura 9), o que aumenta drasticamente o
volume do seu corpo e diminui a capacidade locomotora, fatores que as tornam
demasiadamente lentas para fugir em uma situação de risco. Algumas espécies
regurgitam presas recentemente ingeridas, se elas precisarem fugir rapidamente.
As
Sucuris (Eunectes murinus), presentes na região de Manaus, são famosas por esse
comportamento, por ingerirem regularmente presas grandes como capivaras.
As
cobras desenvolveram diferentes estratégias para capturar suas presas.
Algumas
espécies simplesmente as seguram com os dentes até que não ofereçam resistência
à ingestão.
As
constritoras, como o boídeos e alguns colubrídeos, enrolam seu corpo ao redor
da presa, formando alças.
Esse
comportamento tem o objetivo de reduzir o espaço disponível para a expansão da
caixa torácica da presa para
a
respiração, acarretando em morte por asfixia e parada cardíaca. Geralmente, as
cobras iniciam o processo de ingestão somente após a morte da presa (Figura
10).
Viperídeos
adultos, como Jararacas do gênero Bothrops e Surucucus Lachesis muta, caçam por
espreita pequenos mamíferos, como roedores e marsupiais (mucuras).
A
maioria das espécies permanece enrodilhada à espera de uma presa que cruze o
seu caminho a uma distância adequada para o alcance do seu bote (movimento de
ataque surpresa), que pode chegar a um terço do comprimento do seu próprio
corpo, ou mais, no caso da Surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta).
Durante
o bote o corpo da cobra é projetado em direção à presa, para que os dentes
inoculadores de veneno possam alcançá-la.
Após o envenenamento a presa é liberada, e geralmente consegue fugir por alguns metros, até que o veneno cause paralisia de seus membros locomotores e órgãos.
Figura 10 - Como seu próprio nome sugere, a Jiboia Boa constrictor é uma espécie constritora, que enrola seu corpo ao redor da presa, matando-a por parada respiratória e cardíaca.Geralmente,
durante a fuga a presa deixa um rastro químico, que as cobras utilizam para
rastreá-la e posteriormente ingerí-la. Normalmente, as cobras iniciam a
ingestão da presa pelo lado da cabeça, uma vez que as patas das presas podem
dificultar o processo ou machucar as cobras.
Os
filhotes de algumas espécies de Jararacas balançam a extremidade branca ou
amarelo-creme da cauda para simular a movimentação de um verme ou larva, para
atrair presas como anfíbios e lagartos (Figura 11).
Na
Tabela 1 apresentamos os principais tipos de presas consumidas pelas cobras na
região de Manaus. Algumas espécies possuem alimentação restrita a um tipo de
alimento, como a Falsa-coral Drepanoides anomalus, especialista em comer ovos
de répteis. Outras se alimentam de uma grande variedade de presas, como a
Sucuri Eunectes murinus, que pode comer anfíbios, répteis,aves, peixes, e até
jacarés e tartarugas.
Tabela
1. Principais tipos de presas consumidas pelas cobras na região de Manaus