Processos de extinção do fogo
Como visto anteriormente, a combustão
se processa por meio do triângulo ou tetraedro do fogo. Conseqüentemente, os
métodos ou processos de extinção de
incêndio são baseados na retirada de um ou mais elementos que o compõe. Se um
dos lados da figura for quebrado, a combustão será interrompida e o incêndio
poderá ser extinto.
Retirando-se um ou mais elementos do fogo, o
incêndio extinguir-se-á.
Baseado nesses princípios, processos ou
métodos foram desenvolvidos, ao longo dos anos, para a extinção de incêndios,
sendo eles:
• a retirada ou controle de material;
• o resfriamento;
• o abafamento;
• a quebra da reação em cadeia.
Retirada de material
A retirada ou controle de material é o
processo conhecido como isolamento das chamas ou como proteção dos bens (também
conhecido como salvatagem).
O método consiste em promover ações de
retirada ou de controle do material combustível ainda não atingido pela
combustão.
Esse método pode envolver desde ações
simples e rápidas por parte dos bombeiros, como a retirada de botijão de gás
liquefeito de petróleo (GLP) de dentro de um ambiente sinistrado, até medidas
mais complexas, como a drenagem do líquido combustível de um reservatório em
chamas, que necessita de equipamentos e cuidados especiais.
Em todos os casos, a retirada de
material é um método que exige bastante cuidado, pois implica na
atuação próxima ao combustível ainda preservado pelo incêndio, que pode vir a
ignir se houver aproximação de uma fonte de calor apropriada. Se isso ocorrer enquanto
o bombeiro estiver próximo ou em contato direto com o material combustível,
ficará exposto a um risco considerável. Por isso, toda ação de retirada de
material, por mais simples que pareça ser, deve ser feita com o equipamento de
proteção individual (EPI) completo.
Exemplos de retirada de material:
• remover a mobília ainda não atingida do ambiente em chamas;
• afastar a mobília da parede aquecida para que não venha a ignir os materiais próximos – isso é
válido, principalmente, em edificações geminadas (que compartilham uma mesma
parede);
• fazer um aceiro (área de segurança feita para evitar a propagação de um incêndio) em redor da área
atingida pelas chamas;
• retirar o botijão de GLP de dentro do ambiente sinistrado.
Exemplos de controle de material:
• fechar portas de cômodos ainda não atingidos pelas chamas;
• deixar fechadas as janelas do pavimento superior ao incêndio
– isso impedirá ou dificultará o contato entre o material combustível destes
pavimentos com a fonte de calor proveniente da fumaça;
• fechar o registro da central de GLP da edificação.
Com o processo de retirada de material, o incêndio
será controlado pela falta de combustível disponível para a queima.
Existem casos em que não é possível
realizar a retirada de material, geralmente, em virtude do
peso ou dimensões elevadas do bem, do risco de agravamento das condições do
incêndio com a retirada do material ou da insuficiência de pessoal para cumprir
a missão com rapidez e eficiência.
Para se resolver tal problema, existe o
método denominado salvatagem, assunto que será abordado no Módulo 3.
A guarnição de combate a incêndio deve
atentar que é importantíssimo não confundir a retirada de material com o rescaldo.
Enquanto a retirada de material é um
processo de extinção do incêndio que preserva os combustíveis ainda não
atingidos pelas chamas, o rescaldo é uma fase do combate ao incêndio (assunto a
ser abordado no Módulo 4 deste manual) que ocorre quando as chamas já foram debeladas,
a fim de assegurar que não haverá reignição dos materiais.
Nessa fase, deve ser dispensado um
grande cuidado por parte de todas as guarnições de bombeiros com a preservação
da cena do sinistro, movendo o mínimo possível de materiais, comburidos ou não,
do ambiente incendiado para auxiliar nos trabalhos de perícia de incêndio.
Resfriamento
Consiste no combate ao incêndio por
meio da retirada do calor envolvido no processo de combustão. É o método mais
utilizado pelos bombeiros, que usam agentes extintores para reduzir a
temperatura do incêndio a limites abaixo do ponto de ignição dos materiais
combustíveis existentes.
Figura 46 - Resfriamento utilizando água
Apesar de ser feita, na maioria das vezes, com uso de água, uma ação de ventilação tática também constitui uma ação de resfriamento. Isso porque, ao escoar a fumaça do local sinistrado, se remove também calor do ambiente.
Figura 47 - Resfriamento utilizando
ventilação
Em todos os casos, ao retirar calor do
ambiente sinistrado,
evita-se que os outros materiais
combustíveis atinjam seu ponto de ignição, restringindo as chamas somente ao
combustível já afetado.
O resfriamento extingue o fogo ao retirar calor do
ambiente sinistrado, interrompendo a combustão.
Abafamento
É o método que atua na diminuição do
oxigênio na reação até uma concentração que não permita mais combustão.
Esse processo também inclui ações que
isolam o combustível do comburente, evitando que o oxigênio presente no ar
reaja com os gases produzidos pelo material combustível.
Em regra geral, quanto menor o tamanho
do foco do incêndio, mais fácil será utilizar o abafamento.
Exemplo de ações de abafamento:
• tampar uma panela em chamas;
• lançar cobertor sobre um material incendiado;
• cobrir com espuma determinado líquido em chamas, formando
uma espécie de manta;
• “bater” nas chamas com um abafador.
O abafamento diminui ou isola o oxigênio na reação.
Quebra da reação em cadeia
É o processo que se vale da introdução
de substâncias inibidoras da capacidade reativa do comburente com o
combustível, impedindo a formação de novos íons (radicais livres produzidos
pela combustão).
Nesse método, substâncias químicas
(como o Halon), especialmente
projetadas para tal, irão reagir com os íons liberados pela reação em cadeia,
impedindo-os de continuar a quebra das moléculas do combustível.
Principais agentes extintores
Os agentes extintores são substâncias
encontradas na natureza ou criadas pelo homem, com a finalidade de extinguir um
incêndio conforme o aproveitamento de propriedades físicas ou químicas, visando
sempre a retirada de um dos elementos que compõem o fogo.
Os agentes extintores são produtos que,
para serem comercializados no Brasil, precisam de aprovação do Sistema
Brasileiro de Certificação, cujo órgão principal é o Instituto Nacional de
Metrologia e Qualidade Industrial (INMETRO).
Os requisitos técnicos mínimos exigidos
para os agentes extintores, bem como para os aparelhos extintores, encontram-se
nas Normas Brasileiras (NBR) aprovadas pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
Os agentes extintores certificados no
Brasil e que serão abordados neste manual são:
• água - NBR 11.715;
• espuma mecânica - NBR 11.751;
• pós para extinção de incêndio - NBR 10.721;
• gás carbônico - NBR 11.716.
As normas citadas acima referem-se
apenas ao emprego desses agentes em aparelhos extintores de incêndio.
Água
A água, na sua forma líquida, é o
agente extintor mais utilizado nos combates a incêndios e, durante muito tempo,
foi o único recurso utilizado na extinção dos incêndios. Sua grande utilização
se deve à sua disponibilidade na natureza e às suas propriedades físicas e
químicas.
A grande eficiência da água no combate
ao fogo é decorrente basicamente de duas propriedades:
• a mudança de estado físico de líquido para vapor a 100°C – a
passagem da água para estado de vapor reduz a concentração do comburente (oxigênio)
no fogo;
A passagem da água para o estado de vapor reduz a concentração
de oxigênio no ambiente e remove o calor da combustão, atuando eficientemente
por abafamento e resfriamento.
• o alto calor latente de vaporização – a constante física que
define a mudança de estado (de líquido para vapor) é capaz de absorver o calor
da combustão a uma taxa de aproximadamente 40 kJ/mol, cujo valor é bastante
alto se
comparado com os demais líquidos. Isso
quer dizer que, para cada mol de molécula de água, consegue-se absorver 40 kJ
de calor da combustão.
Apesar de a capacidade da água tornar
insustentável a combustão pela retirada de calor da reação, é importante
lembrar que, ao sofrer esse processo, ela se transforma em vapor, no qual cada
litro de água se transforma em 1.700 (mil e setecentos) litros de vapor.
Cada litro de água, no estado líquido, transforma-se
em 1.700 litros
de vapor!
Se for adotado o método de ataque
indireto (técnica de combate a ser abordada no Módulo 3 deste manual), o vapor
d’água será essencial para a extinção do incêndio por abafamento. Se, entretanto,
houver presença humana no ambiente, seja de bombeiros ou de vítimas, as
condições de sobrevida serão agravadas, aumentando o risco de queimaduras e
desconforto extremo. Exceto nesse método, é necessário que as ações de combate
evitem uma grande produção de vapor no ambiente.
Tão importante quanto conhecer as
propriedades da água é saber utilizá-la de forma racional no
combate aos incêndios.
O seu excesso causa tanta ou maior
destruição que as chamas, a fumaça e o calor.
A água utilizada em um combate a incêndio que não se
transforma em vapor é desperdiçada, acumulando-se no ambiente e causando mais
danos que benefícios.
A água desperdiçada em um combate a
incêndio costuma:
• danificar mobília, equipamentos e outros ambientes que não
tinham sido afetados pelo calor ou pelas chamas, aumentando o dano patrimonial;
• necessitar de ações de esgotamento posteriores ou durante o
combate a incêndio;
• acumular-se em um ambiente de forma que possa causar uma sobrecarga estrutural da edificação
(por causa da pressão da coluna d’água sobre o piso e as paredes) ou acidentes
(encobrindo buracos e outros riscos para os bombeiros ao adentrarem no
ambiente).
A água apresenta algumas desvantagens
no combate a incêndio decorrentes de suas propriedades físicas. São elas:
• alta tensão superficial - dificulta o recobrimento da superfície
em chamas e prejudica a penetração no material
em combustão;
• baixa viscosidade – provoca o escoamento rápido (a água permanece pouco tempo sobre a
superfície do material);
• densidade relativamente alta - prejudica o combate em líquidos
inflamáveis de densidade menor que a da água, fazendo com que ela não permaneça
sobre a superfície do líquido em chamas.
A água utilizada em incêndios conduz
eletricidade por possuir sais minerais em sua composição, o que a torna
inadequada para incêndios envolvendo equipamentos energizados por causa do
risco de choque elétrico. A água também não é indicada para debelar incêndios classe
D, uma vez que o oxigênio presente em sua composição promove violenta reação
exotérmica (liberação de calor) ao entrar em contato com metais pirofóricos.
Saber qual a quantidade de água
necessária para realizar a extinção de um determinado incêndio é
um dado de interesse de todo comandante de socorro. Diante disso, vários
estudos e ensaios são realizados com o objetivo de se obter um valor que possa
ser aplicado às infinitas possibilidades de incêndio.
Primeiramente, os estudos tentam
descobrir a quantidade de calor liberado de um incêndio em determinado
experimento, seja em pequena ou grande escala, por meio de um equipamento
chamado calorímetro. A Tabela 3 mostra o calor liberado por diferentes objetos
e valores obtidos por meio de ensaios com essa metodologia.
Nessa estimativa, não está se tratando
da capacidade extintora da água. O exemplo é baseado em uma estimativa teórica,
ao relacionar a quantidade de calor que pode ser absorvida com a utilização de
1000 litros de água em um determinado ambiente. Isso porque a eficiência da utilização
da água dependerá de diversos fatores, tais como: tipo de jato, tamanho da
gota, compartimentação do ambiente, ventilação, dentre outros. A capacidade
extintora dos agentes será abordada mais adiante.
Sabe-se que a massa molar de uma
substância é a grandeza que relaciona a massa de uma molécula com a quantidade
de matéria (dada em mols). No caso da água, cada mol vale 18 gramas . Como dito anteriormente,
o calor latente de vaporização da água vale 40 kJ para cada mol, o que
significa que são necessários 18
gramas de água para absorver 40 kJ de calor liberado na
combustão (40 kJ/18 gramas), considerando que toda água utilizada no combate
será convertida em vapor.
O cálculo será feito para cada 1.000 litros de água.
Esse valor equivale a 1.000
kg , já que a densidade da água a 25 oC é praticamente 1,0
g/ml. Sabe-se que a quantidade de calor latente de vaporização da água (QL) é
obtida pela seguinte fórmula:
QL = m.L
Sendo o calor latente de vaporização da
água (L) de 40kJ/mol, ou seja, 40.000 J por 18 gramas de água, e que
a referida massa de água (m) é 1000
kg , tem-se que:
QL = 1.000 . (40.000/0,018)
QL =2 222,2 x 103 kJ ou QL = 2 222MJ
Entretanto, é necessário considerar a
quantidade de energia (ou calor) necessária para transformar essa água em
vapor. Como a temperatura antes do incêndio era de 25°C , e como a água se transforma
em vapor a uma temperatura de 100 °C:
q = m.c. (T final – T inicial),
Na qual q é a quantidade de calor, m a
massa, c é o calor específico e T a temperatura.
Para o caso da água c vale 4,18
kJ/kg°C.
q = 1.000 . 4,218 . (100 – 25)
q = 316,3x103 kJ ou q = 316 MJ
Portanto, a quantidade de calor
absorvida (QT) nesse processo será:
QT = 2222 – 316 = 1906 MJ
Assim, nas condições acima, 1.000 litros de água
conseguem absorver 1906 MJ.
Para estabelecer uma relação desse
valor com o calor liberado em um ambiente, será adotado como padrão o calor
liberado por 1 kg
de madeira, que é de 18,6 MJ. Logo, 1906 MJ correspondem ao calor liberado por 102 kg de madeira.
Enfim, se fosse possível utilizar 1.000 litros de água
com 100% de sua eficiência (condição ideal), o combate seria capaz de absorver uma quantidade de calor liberada por uma
queima total de aproximadamente 100
kg de madeira.
4.2.2 Pó para extinção de
incêndio
Durante muito tempo, o pó utilizado no
combate a incêndio era conhecido como pó
químico seco, porém, desde o início da década de 90, passou a ser chamado de pó
para extinção de incêndio.
De acordo com a NFPA, esse material é
definido como um pó composto de partículas muito pequenas, normalmente de
bicarbonato de sódio ou potássio, para aparelhos extintores destinados a
combater incêndios em combustíveis sólidos e líquidos (ou gases) inflamáveis, e
de fosfatomonoamônico para extintores ditos polivalentes, ou seja, para incêndios
em sólidos, líquidos (ou gases) e equipamentos elétricos energizados.
Em todos os tipos, são utilizadas
substâncias que evitam o “empedramento” e a absorção de umidade,
proporcionando a fluidez adequada ao pó.
O pó, quando aplicado diretamente sobre
a chama, promove a extinção quase de uma só vez pelas seguintes propriedades
extintoras:
• abafamento – a decomposição térmica do pó no fogo promove a
liberação do dióxido de carbono e de vapor d’água, que isolam o comburente da
reação;
• resfriamento – o pó absorve calor liberado durante a combustão;
• proteção contra a radiação das chamas – o pó produz uma
nuvem sobre as chamas, protegendo o combustível do calor irradiado;
• quebra da reação em cadeia – estudos sugerem que a quebra da
reação em cadeia na chama é a principal propriedade extintora do pó, o qual
interfere, por meio de suas partículas,
na concentração de radicais livres (íons provenientes da reação em cadeia)
presentes na combustão, diminuindo seu poder de reação com o comburente e,
conseqüentemente, extinguindo as chamas.
Espuma
A espuma surgiu da necessidade de
encontrar um agente extintor que suprisse as desvantagens encontradas quando da
utilização da água na extinção dos incêndios, principalmente naqueles envolvendo
líquidos derivados de petróleo.
A solução encontrada foi o emprego de
agentes tensoativos na água, a fim de melhorar sua propriedade extintora. Os
agentes tensoativos são aditivos empregados para diminuir a tensão superficial da
água, melhorando a propriedade de espalhamento sobre a superfície em chamas e a
penetração no material.
As espumas líquidas se assemelham a
bolhas. São sistemas constituídos por uma fase contínua
líquida (na superfície) e uma dispersão gasosa (no interior), apresentando uma
estrutura formada pelo agrupamento de várias células (bolhas) originadas a
partir da introdução de agentes tensoativos e ar na água.
Entretanto, cabe ressaltar que uma
bolha possui alta área superficial e conseqüentemente, alta
energia de superfície, o que a torna termodinamicamente instável. Em outras
palavras, quanto maior for uma bolha, menor será a sua estabilidade térmica e
também mecânica.
As espumas apresentam densidade muito
menor que da água.
Assim as espumas espalham-se sobre a
superfície do material em combustão, isolando-o do contato com o oxigênio
atmosférico. Essa é uma das razões que a torna mais eficiente do que a água no
combate a incêndios que envolvem líquidos inflamáveis.
As espumas mecânicas utilizadas em
combate a incêndio são formadas a partir da dosagem do agente surfactante
(tensoativo), ou líquido gerador de espuma na água, no qual, por um processo mecânico,
o ar é introduzido na mistura.
A espuma mais eficiente para a extinção
de incêndios em líquidos inflamáveis é à base de um concentrado conhecido como
AFFF (aqueous film-forming foam –
espuma formadora de filme aquoso), que forma uma película sobre a superfície em
chamas. O processo de extinção da espuma gerada a partir de concentrados de
AFFF consiste em isolar o combustível
líquido em chamas do oxigênio do ar, evitando, assim, a liberação de vapores
inflamáveis.
Figura 48 - Espuma AFFF
Cabe ressaltar, por fim, que o
concentrado AFFF é eficiente no combate a incêndios de hidrocarbonetos
derivados de petróleo, tais como gasolina e diesel. Porém, em combustíveis
polares, como o álcool, o concentrado AFFF deve ter, em sua composição, a
presença de uma substância denominada de polissacarídeo, a qual evitará o
ataque do álcool à espuma.
Comercialmente, as espumas são geradas
a partir de soluções aquosas de 1
a 6 por cento do concentrado (volume do concentrado em relação
ao volume da solução desejada). O operador da viatura deverá seguir as
orientações fornecidas pelo fabricante do líquido gerador de espuma.
Para exemplificar, ao preparar uma
solução a partir de um concentrado 6% de AFFF, o operador deverá introduzir 60
ml do concentrado em um recipiente e acrescentar água até completar o volume de
1000 ml (1 litro ).
Semelhantemente à água, a espuma também
não é indicada para incêndios em equipamentos energizados e em metais combustíveis.
Gás carbônico
O dióxido de carbono (CO2), também
conhecido como anidrido carbônico ou gás carbônico, é um gás inerte, sendo um
agente extintor de grande utilização que atua principalmente por abafamento, por
promover a retirada ou a diluição do oxigênio presente na combustão e por
resfriamento.
É um gás sem cheiro, sem cor e não
conduz eletricidade, sendo recomendado na extinção de incêndios em líquidos ou
gases inflamáveis e equipamentos elétricos energizados.
Apesar de agir eficientemente por
abafamento, não é recomendado para incêndios em combustíveis sólidos, por causa
da dificuldade de penetração no combustível e pelo baixo poder de resfriamento,
comparando-se com o da água.
Possui a grande vantagem de não deixar
resíduo, o que o torna adequado para ambientes com equipamentos ou maquinários
sensíveis à umidade, como centros de processamento de dados e computadores.
Por outro lado, a partir de uma
concentração de 9% por volume, o gás carbônico causa inconsciência e até a
morte por asfixia, o que restringe o seu uso em ambientes fechados ou com a
presença humana.
O gás carbônico é uma vez e meio mais
pesado que o ar.
Um quilo de gás carbônico liquefeito
produz 500 litros
de gás.
Incêndios envolvendo agentes oxidantes,
como o nitrato de celulose ou o permanganato de potássio,
que contêm oxigênio em sua estrutura,
não podem ser extintos por gás carbônico, tendo em vista possuírem seu próprio
suprimento de comburente.
Metais de elementos químicos como
sódio, potássio, magnésio, titânio, zircônio e os hidretos metálicos têm a
característica de decompor o gás carbônico, sendo ineficaz a sua utilização
nesses casos. Esses elementos são chamados de materiais combustíveis, tratados especificamente
nos casos de incêndios classe D mais adiante.
O gás carbônico pode ser encontrado em
aparelhos extintores portáteis ou em sistemas fixos (baterias).
Classes de incêndio
Apesar de ocorrerem as mesmas reações
químicas (inclusive a reação em cadeia) na combustão dos diferentes materiais,
os incêndios são classificados conforme o tipo de material combustível neles predominante.
Conhecer as classes de incêndio auxilia tanto o trabalho dos bombeiros na
adoção da melhor técnica de combate, combinada com o agente extintor mais
adequado, quanto a primeira resposta por parte da população, quanto ao uso dos
aparelhos extintores nos princípios de incêndio.
Os materiais combustíveis são
classificados como:
• sólidos comuns;
• líquidos ou gases inflamáveis;
• equipamentos elétricos energizados;
• metais combustíveis.
Saber o quê está queimando sempre será essencial para a
escolha da melhor técnica e do agente extintor mais adequado ao combate ao incêndio.
Classe A
Esta classe de incêndio representa a
combustão de todos os combustíveis sólidos comuns, como madeira, papel, tecido,
borracha, pneu, plástico, etc.
A queima desse tipo de combustível
deixa resíduos de cinzas e carvão e se dá volumetricamente (em largura,
comprimento e profundidade).
O método de extinção mais eficiente
para essa classe é o resfriamento, com a utilização de água, apesar de alguns
pós para extinção de incêndio de alta capacidade extintora e espumas também conseguirem
o mesmo efeito.
Classe B
Esta classe de incêndio representa a
queima de líquidos ou gases inflamáveis:
• combustíveis líquidos: gasolina, álcool, diesel, querosene;
• tintas e solventes;
• óleos e gorduras de cozinha, utilizadas para confecção de alimentos;
• resinas e óleos vegetais (provenientes do armazenamento de algodão, por exemplo).
Sua queima não deixa resíduo e se dá
superficialmente (em largura e comprimento).
Os métodos mais utilizados para
extinguir incêndios em líquidos
inflamáveis são o abafamento (pelo uso de espumas) e a quebra da reação em
cadeia (com o uso de pós para extinção de incêndio).
Incêndios envolvendo a queima de gases
inflamáveis geralmente são extintos com
a retirada (ou controle) do material combustível – como, por exemplo, fechar o
registro do botijão ou da canalização de
GLP. Isso porque a combustão dos gases se dá de forma muito rápida, não havendo
tempo hábil para a atuação do agente extintor sobre o combustível.
Classe C
Representa a queima de equipamentos que
se encontram energizados, constituindo os materiais elétricos energizados,
oferecendo especial risco ao bombeiro pela condutividade elétrica.
Nesse tipo de incêndio, a sua principal
característica – presença de energia elétrica – será, na maioria das vezes, a
grande responsável por iniciar ou propagar o incêndio para outros materiais, geralmente
combustíveis sólidos, líquidos ou gases inflamáveis.
A primeira ação em um incêndio desta classe deve ser
cortar o fornecimento da energia elétrica.
A ação de cortar a energia elétrica
fará com que o incêndio passe a ser classificado como A ou B.
Com isso, o incêndio poderá ser extinto utilizando as técnicas e os agentes
extintores mais adequados a essas classes.
Não sendo possível cortar a energia
elétrica para o combate ao incêndio, os cuidados devem ser voltados para que o
agente extintor não seja condutor elétrico preferencialmente. Se isso também
não for possível, deve-se calcular as distâncias, os cuidados e os riscos do combate
e escolher um agente extintor com baixa condutividade elétrica.
Apesar de a água não ser adequada para
o combate a incêndios da Classe C, pode ser que seja o único agente extintor disponível
na cena do incêndio, obrigando os bombeiros a utilizá-la.
Devido à alta constante dielétrica, que
oferece certa “resistência” à passagem da corrente elétrica conforme a
distância e o potencial elétrico emitido, pode-se utilizar esse agente nesses
tipos de incêndio, com as seguintes restrições:
• desde que respeitadas as distâncias estabelecidas conforme a
Tabela 14;
• desde que em fontes de baixa tensão – até 600 volts.
Como é possível observar na tabela, o
jato neblinado oferece mais segurança nas ações envolvendo eletricidade que o
jato sólido ou compacto. O seu uso deve ser feito por meio de esguichos que garantam
as distâncias de segurança acima relacionadas, excluindo-se os aplicadores de
neblina.
A certificação de agentes extintores
para classe C é feita apenas para os aparelhos extintores de incêndio. O
extintor é montado em um dispositivo (vide Figura 49) em estrutura metálica e
todo o conjunto é submetido a uma tensão de 100 kV.
Estabelecida a tensão, o extintor é
descarregado com o auxílio de dispositivo automático contra um anteparo feito
em chapa metálica colocado à distância de 250 mm . Enquanto o agente
extintor é projetado contra o anteparo, não pode haver descarga elétrica.
Caso ocorra a descarga elétrica, fica
caracterizado que a condutividade elétrica do agente extintor em teste não
oferece segurança ao operador que o manuseie no combate a princípios de incêndio
em equipamentos elétricos energizados.
Na Figura 49, é apresentada o diagrama
do dispositivo de teste classe C, no qual se mede a existência de corrente
elétrica passando pelo agente extintor ao atingir a placa alvo, à direita da
figura.
Classe D
Esta classe de incêndio representa a
queima de metais combustíveis, em sua maioria, alcalinos. A maior parte desses elementos
queima de forma violenta, produzindo muito calor e luz brilhante.
Em geral, os materiais pirofóricos,
aqueles que se inflamam espontaneamente, são associados aos
incêndios classe D, uma vez que os agentes extintores dessa classe são
adequados para ambos.
Sua queima atinge altas temperaturas e
reage com agentes extintores que contenham água em seu
interior, o que exige pós especiais para extinção de incêndio, que irão agir
por abafamento e quebra da reação em cadeia.
Os elementos mais conhecidos são:
magnésio, selênio, antimônio, lítio, potássio, alumínio fragmentado, zinco,
titânio, sódio, urânio, zircônio, tório, plutônio e cálcio.
Em alguns casos, a utilização de água
nesses metais irá agravar o quadro do incêndio, podendo causar reações
violentas. Em outros, a mera presença do oxigênio no ar causará a reação. Cada metal
deve ser avaliado em suas características antes de qualquer combate.
Esses metais não são encontrados em
abundância nas edificações, mas podem fazer parte de processos industriais ou edificações
que servem como depósitos ou galpões. A sua existência deve ser do conhecimento
dos bombeiros do quartel da área de atuação.
Tal processo é viável por meio dos
serviços técnicos presentes nas organizações bombeiro militar, por ocasião das
vistorias técnicas realizadas nas edificações. Ao ter ciência que determinada
indústria manipula ou armazena esse tipo de material, a tropa deve ser alertada
sobre os produtos e preparada, por meio de treinamentos e cuidados específicos, para uma ação emergencial.
Outros metais que não são classificados
como combustíveis podem queimar se estiverem em forma de
limalha ou pó.
Ao se depararem com produtos químicos, os bombeiros
devem considerar o que prescreve o manual da Associação Brasileira da Indústria
Química (ABIQUIM) antes de aplicar água sobre o incêndio.
Classe K
A norma NFPA, prevê incêndios Classe K,
que representam a queima de óleos e gorduras de cozinha.
Apesar de envolver líquidos
inflamáveis, incorrendo naturalmente na Classe B, essa classificação ocorre com
o objetivo de enfatizar os riscos e a necessidade da prevenção de incêndios por
meio de campanhas educativas específicas e desenvolvimento de agentes
extintores adequados.
O combate se faz da mesma forma que os
de Classe B e essa classificação não é adotada oficialmente no Brasil.