05 agosto 2022

VII - A Tortura da Carne

 

VII

 

Não há bela sem senão e Lisa era ciumenta o que a fazia sofrer muito. Pensava que Eugénio não devia apenas viver só para ela, como também não admitia que outra mulher pudesse amá-lo. Mas como, residiam no campo, não havia muita razão para acirrados ciúmes. Por consequência, a existência decorria-lhes serena e calma.

Até a sogra se tinha ido embora. Só Maria Pavlovna, de quem Lisa era extraordinariamente amiga, aparecia de vez em quando e com eles ficava semanas inteiras. O trabalho de Eugénio ia-se tornando mais suave a saúde de Lisa, apesar do seu estado, era excelente.

Eugénio levantava-se cedo e dava uma volta pela propriedade. Ao bater das dez horas ia tomar o café no terraço, onde o esperavam Maria Pavlovna, um tio que agora vivia com eles, e Lisa. Depois, não se viam até ao jantar, ocupando cada qual o tempo a seu modo; em seguida davam um passeio, a pé ou de carro. À noite, quando Eugénio regressava da refinaria tomavam chá; mais tarde, uma vez por outra, faziam qualquer leitura em voz alta;

Lisa trabalhava ou tocava piano. Quando Eugénio precisava de se ausentar, recebia todos os dias carta da mulher. Mas, às vezes, ela acompanhava-o e sentia-se, com isso, particularmente alegre. No aniversário dum ou doutro reuniam alguns amigos, e era um gosto ver como Lisa sabia dispor as coisas de modo que estivessem satisfeitos. Eugénio sentia que admiravam a sua jovem e encantadora mulher, o que fazia com que ele a amasse ainda mais.

Tudo agora lhes corria bem. Ela suportava corajosamente a gravidez e ambos começavam a fazer projetos sobre a maneira de educar o filho. O modo de educação, os métodos a seguir, tudo isso era resolvido por Eugénio. Ela, afinal, não desejava senão uma coisa: proceder segundo a vontade do marido. Eugénio começou a ler muitos livros de medicina e prometia a si próprio que o menino havia de ser criado segundo os métodos da ciência. Lisa concordava naturalmente com esses projetos, e, numa perfeita comunhão de ideias, assim chegaram ao segundo ano do seu casamento, melhor, à sua segunda primavera de casados.

 

Barros Vital

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