VII
Não há bela sem senão e Lisa era ciumenta o que a
fazia sofrer muito. Pensava que Eugénio não devia apenas viver só para ela,
como também não admitia que outra mulher pudesse amá-lo. Mas como, residiam no
campo, não havia muita razão para acirrados ciúmes. Por consequência, a
existência decorria-lhes serena e calma.
Até a sogra se tinha ido embora. Só Maria Pavlovna, de
quem Lisa era extraordinariamente amiga, aparecia de vez em quando e com eles
ficava semanas inteiras. O trabalho de Eugénio ia-se tornando mais suave a
saúde de Lisa, apesar do seu estado, era excelente.
Eugénio levantava-se cedo e dava uma volta pela
propriedade. Ao bater das dez horas ia tomar o café no terraço, onde o esperavam
Maria Pavlovna, um tio que agora vivia com eles, e Lisa. Depois, não se viam
até ao jantar, ocupando cada qual o tempo a seu modo; em seguida davam um
passeio, a pé ou de carro. À noite, quando Eugénio regressava da refinaria
tomavam chá; mais tarde, uma vez por outra, faziam qualquer leitura em voz
alta;
Lisa trabalhava ou tocava piano. Quando Eugénio
precisava de se ausentar, recebia todos os dias carta da mulher. Mas, às vezes,
ela acompanhava-o e sentia-se, com isso, particularmente alegre. No aniversário
dum ou doutro reuniam alguns amigos, e era um gosto ver como Lisa sabia dispor
as coisas de modo que estivessem satisfeitos. Eugénio sentia que admiravam a
sua jovem e encantadora mulher, o que fazia com que ele a amasse ainda mais.
Tudo agora lhes corria bem. Ela suportava
corajosamente a gravidez e ambos começavam a fazer projetos sobre a maneira de
educar o filho. O modo de educação, os métodos a seguir, tudo isso era
resolvido por Eugénio. Ela, afinal, não desejava senão uma coisa: proceder
segundo a vontade do marido. Eugénio começou a ler muitos livros de medicina e
prometia a si próprio que o menino havia de ser criado segundo os métodos da
ciência. Lisa concordava naturalmente com esses projetos, e, numa perfeita
comunhão de ideias, assim chegaram ao segundo ano do seu casamento, melhor, à
sua segunda primavera de casados.
Barros Vital
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