Como as cobras reproduzem?
As
cobras evoluíram muitas estratégias reprodutivas.
No Brasil, a maioria das cobras tem reprodução ovípara, as fêmeas depositam ovos com casca de proteção (Figura 24).
Figura 24 - No Brasil a maioria das espécies de cobras tem
reprodução ovípara, as fêmeas depositam ovos com casca de proteção. Isso
provavelmente ocorre devido ao clima quente. Esse ovos foram depositados por
uma Cobra-cipó Liophis typhlus.
Possivelmente,
esse modo reprodutivo está relacionado ao clima quente, que fornece boas
condições para que os embriões se desenvolvam externamente ao corpo da mãe.
Em
climas mais frios, muitas espécies de cobras são vivíparas, os embriões se
desenvolvem internamente ao corpo da mãe.
Os
filhotes nascem completamente formados, embora às vezes permaneçam envoltos por
uma fina película transparente.
Essa
estratégia também é utilizada por algumas espécies que ocorrem no Brasil, como
Jararacas (gêneros Bothrops, Bothriopsis e Bothrocophias), Jiboias e Sucuris
(Boa constrictor, Epicrates, Eunectes and Corallus) e a Falsa-coral Anilius
scytale.
Os
indivíduos machos de cobras, assim como outros lagartos, possuem órgãos sexuais
pareados chamados hemipênis.
Eles
permanecem na base da cauda, invertidos quando não estão em uso. Por isso, em
muitas espécies a cauda dos machos é maior do que a das fêmeas.
Eles
são evertidos no momento da cópula, pela ação de músculos e elevação da pressão
sanguínea.
Após
a eversão, o hemipênis é introduzido na cloaca (cavidade comum para excreção e
reprodução) da fêmea, onde adere às paredes internas graças a espinhos,
espículas, pregas e papilas (Figura 25).
O
formato e disposição dessas estruturas, assim como o tamanho do órgão inteiro,
são características importantes para diferenciar espécies, e auxiliam
pesquisadores a entender as relações evolutivas entre diferentes espécies de
cobras.
Figura 25 - Assim como em outros lagartos, os machos das cobras possuem hemipênis, estruturas responsáveis pela cópula e condução de esperma. Os hemipênis de diferentes espécies apresentam diferentes formas, ornamentações e cores, como o da Caninana Drymarchon corais (A), o da Cobra-coral Micrurus surinamensis (B), e o da Cobra-cipó Philodryas argentea (C).
A
cloaca das fêmeas é uma cavidade comum para eliminar os produtos do seu
metabolismo (ácido úrico), receber esperma e depositar ovos ou parir filhotes.
Após
a introdução do hemipênis e adesão nas paredes da cloaca das fêmeas, o sêmen
escorre por canais externos, onde pode fecundar imediatamente os óvulos ou ser
armazenado no corpo da fêmea por até vários anos.
Após
a cópula, um músculo retrator e a redução da pressão sanguínea retraem e
invertem o hemipênis para dentro da base da cauda do macho.
Em
algumas espécies, as fêmeas podem ser fecundadas por vários machos, e os
espermatozoides competem pela fecundação dos óvulos.
Nesse
caso, os filhotes de uma única desova poderão ter pais diferentes.
Essa
é uma estratégia interessante para aumentar o sucesso reprodutivo da fêmea,
porque aumenta a variabilidade genética e a chance de que pelo menos alguns dos
filhotes cresçam, reproduzam e espalhem seus genes.
No
entanto, esta estratégia não é interessante do ponto de vista do macho.
Em
algumas espécies, após a cópula, os machos liberam uma substância gelatinosa
que fica aderida à cavidade da cloaca e à mantém fechada, ou podem induzir
torção na porção final do oviduto das fêmeas.
Dessa
forma, o macho evita que as fêmeas sejam fecundadas por outros machos.
Os
vertebrados evoluíram comportamentos reprodutivos bastante variados.
Em
sapos, os machos cantam para atrair as fêmeas (veja o Guia de Sapos da Reserva
Ducke <http://ppbio.inpa.gov.br>).
Muitos
lagartos inflam o papo ou se tornam mais coloridos na estação reprodutiva (veja
o Guia de Lagartos da Reserva Ducke <http:// ppbio.inpa.gov.br>).
Nas
cobras, as fêmeas liberam substâncias químicas (feromônios) que atraem os
machos.
Ocasionalmente,
dois machos são atraídos pela mesma fêmea, e uma luta entre eles pode ocorrer.
O
combate geralmente não é violento, é mais semelhante a uma dança, em que os
machos se entrelaçam e tentam manter a cabeça mais elevada em relação ao
oponente.
Esse
comportamento perdura até que um deles seja subjugado e desista da luta. É
bastante comum em Cobras-cipó do gênero Chironius e Cascavéis do gênero
Crotalus.
Em muitos animais, especialmente endotérmicos, que regulam a temperatura do corpo utilizando a energia obtida dos alimentos, como aves e mamíferos, os pais gastam tempo e energia cuidando de sua prole.
Esta é uma estratégia vantajosa quando o ambiente não fornece condições para o desenvolvimento dos ovos fora do corpo da fêmea, ou quando a quantidade de energia necessária para que o filhote alcance a independência é maior do que a energia que pode ser armazenada no ovo.
Cuidado
parental é comum em jacarés, mas a maioria das cobras deposita os seus ovos
(ovíparas) ou pare seus filhotes (vivíparas) e depois os abandonam à própria
sorte.
Os
filhotes nascem aptos a se defenderem sozinhos, embora possam ser mais
vulneráveis ao ataque de predadores.
A
Naja-real asiática Ophiophagus hannah é a maior cobra peçonhenta do mundo,
chega a medir 5 m de comprimento.
No
período reprodutivo, a fêmea amontoa folhas com o corpo e a cauda para
construir um ninho, onde deposita entre 20 e 40 ovos, aos quais permanece
cuidando por todo o período de incubação.
Enrolando o corpo em torno dos ovos, ela consegue manter a temperatura sempre próxima a 28° C.
Se um predador se aproximar, a fêmea se coloca em postura de defesa, erguendo o corpo e achatando o pescoço (Figura 16).
Uma estratégia semelhante é utilizada
por Pítons australianos (Pithonidae), que evoluíram a capacidade de evitar a
perda de calor pelos ovos usando contrações musculares.
Figura 26 - Naja-real asiática Ophiophagus hannah em postura de defesa. As fêmeas dessa espécie cuidam dos ovos durante toda a incubação, e podem ser bastante agressivas para desencorajar predadores.
Na
região de Manaus, aparentemente a única espécie de cobra que apresenta cuidado
parental é a Surucucu-pico-de-jaca, Lachesis muta.
As
fêmeas depositam os ovos em buracos no solo, e os mantêm protegidos até a
eclosão, envolvendo-os com o próprio corpo.
Na
Tabela 4 apresentamos os modos reprodutivos e números máximos de ovos ou
filhotes gerados pelas cobras na região de Manaus.
Algumas
espécies de pequeno porte geram ninhadas pequenas, como a Cobra-cega Epictia
tenella, capaz de gerar no máximo três ovos.
Espécies
de grande porte podem gerar ninhadas grandes, como a Sucuri Eunectes murinus,
capaz de produzir até 80 filhotes.
Tabela
4. Modos reprodutivos e numero máximo de filhotes gerados em cada ninhada pelas
cobras na região de Manaus.