Dinâmica do incêndio
É o comportamento do incêndio quanto à
sua propagação em um ambiente, confinado ou não, dentro das suas fases. A
dinâmica do incêndio é diretamente influenciada pelos diversos fatores,
variáveis caso a caso, tais como: a temperatura atingida no ambiente, projeto arquitetônico
da edificação, o comportamento da fumaça e a carga de incêndio.
Fases do incêndio
O processo de queima em um incêndio
ocorre em estágios ou fases claramente definidos, seja de um incêndio
estrutural, em veículo ou florestal.
Reconhecendo as diferentes fases, os
bombeiros podem compreender melhor todo o desenvolvimento e combater o incêndio
em diferentes níveis, com as táticas e ferramentas mais adequadas a cada etapa.
Se o bombeiro conhece bem as fases e as técnicas adequadas para atuar em cada
uma delas o incêndio será debelado com eficiência.
As fases do incêndio são descritas
como: inicial, crescente, totalmente desenvolvida e final; serão
abordadas enfatizando as características de ambiente delimitado por teto e
paredes, típicas de um incêndio estrutural. Isso vale também para um ambiente
interior de um automóvel.
I. Fase inicial
Inicia-se após a ignição de algum
material combustível. É a fase em que o combustível e o oxigênio
presentes no ambiente são abundantes. A temperatura permanece relativamente
baixa em um espaço de tempo maior e abrange a eclosão do incêndio, o qual fica restrito
ao foco inicial. O desenvolvimento do incêndio está limitado ao objeto
inicialmente ignido (foco do incêndio) e às suas proximidades.
II. Fase crescente
O início desta fase abrange a incubação
do incêndio. Em incêndios confinados, à medida que a combustão progride, a
parte mais alta do ambiente (nível do teto) é preenchida, por convecção, com fumaça
e gases quentes gerados pela combustão. O volume das chamas aumenta e a
concentração de oxigênio começa a baixar para 20%.
A propagação dependerá muito da
quantidade e forma do material combustível no ambiente. No início dessa fase, a
temperatura ainda não é muito alta, mas há um aumento exponencial na quantidade
de liberação de calor em um curto período de tempo, fazendo com que todos os
materiais presentes no ambiente venham a sofrer pirólise.
Nessa fase, a temperatura sobe de 50 ºC para 800 ºC, aproximadamente,
em um espaço de tempo relativamente curto. O tamanho e forma do ambiente também
influenciarão o comportamento do fogo: quanto menor o ambiente, mais facilmente
se desenvolverá o incêndio. Da mesma forma, quanto mais fechado (com poucas
aberturas naturais para ventilação, como janelas
e portas, por exemplo), mais calor será irradiado para o material combustível
ainda não atingido.
No final dessa fase, todos os materiais
presentes no ambiente atingirão seu ponto de ignição, imergindo o ambiente
inteiro em chamas, também conhecido como flashover.
O calor se espalha para cima e para fora do combustível inicial por convecção e
condução.
III. Fase totalmente desenvolvida
Também chamada de estágio de queima
livre ou estável, é nela que o incêndio torna-se mais
forte, usando mais e mais oxigênio e combustível. Nessa fase, sua temperatura
continuará se elevando acima de 800 ºC, o que já foi provado em testes reais de incêndio em ambientes
fechados (Karlsson, B e Quintiere, J. G., Encolsure Fire Dynamics).
O acúmulo de fumaça e gases quentes é
intensificado. A concentração de oxigênio baixa para 18%, com grandes
diferenças entre os níveis do piso e do teto.
Enquanto no piso a concentração de
oxigênio é quase normal e a temperatura ainda é confortável, no teto a camada
de gás combustível e temperatura aumentam rapidamente. Daí a importância do
combate ser feito de joelhos ou agachado. A transição entre a fase crescente e esta
pode ocorrer quando o suprimento de combustível ou oxigênio começa a ser limitado.
Na literatura brasileira sobre combate
a incêndio, a fase totalmente desenvolvida abrange basicamente a propagação do incêndio,
destacando-se que:
• se o incêndio ocorrer em ambiente fechado, todo ele se inflama,
ficando o incêndio dependente da quantidade de oxigênio;
• se o incêndio ocorrer em ambiente aberto, a massa gasosa
poderá se dispersar, ficando o incêndio dependente da quantidade de
combustível.
Os incêndios são controlados pela
disponibilidade de combustível ou de ar.
Inicialmente, todo incêndio se comporta
com características de incêndio bem ventilado, porque o oxigênio está
plenamente disponível, ainda que esteja ocorrendo em um ambiente fechado (ou compartimentado).
Conseqüentemente, desenvolve-se
controlado pela queima do combustível.
Em geral, esses incêndios possuem duas
camadas distintas: uma de ar na parte inferior e outra de
fumaça na parte superior (Figura 50). Nesse caso, os produtos da combustão
serão praticamente os mesmos daqueles provenientes da queima do mesmo material
em local aberto.
Fig 50 - Situação de incêndio limitado
pelo combustível
Em ambientes limitados, o incêndio aos
poucos diminuirá a quantidade de oxigênio e passará a ter
velocidade, produção de calor e extinção controlados pelo oxigênio disponível,
ou seja, ele será controlado pela ventilação. Em geral, esses incêndios
apresentam apenas uma camada, a de fumaça, que preenche praticamente todo o ambiente.
Nos incêndios controlados pela
ventilação, a combustão dentro do compartimento será incompleta.
O incêndio subventilado é aquele cuja
liberação de calor é controlada pela disponibilidade de ar.
Para um incêndio totalmente
desenvolvido ser controlado pela disponibilidade de combustível, em um cômodo
de 6m x 6m, por exemplo, seria necessário abrir o equivalente a toda uma
parede. Daí percebe-se que a maioria dos incêndios estruturais é controlada
pela disponibilidade de ar, mesmo quando há janelas e portas abertas.
Quando não há aberturas, o incêndio
subventilado é chamado de confinado.
A maioria dos incêndios estruturais é controlada pela
disponibilidade de ar, mesmo quando há janelas e portas abertas.
Fig 51 - Situação de incêndio limitado
pela ventilação
A velocidade de queima estará limitada
pela quantidade de ar que entra no compartimento. Essa circunstância resultará
na saída do combustível não queimado e dos outros produtos da combustão incompleta
do ambiente, propagando-se para os espaços adjacentes.
Os incêndios controlados pela
ventilação podem produzir quantidades maciças de monóxido de carbono, o que os
tornam potencialmente letais.
Enquanto uma combustão viva pode
ocorrer em concentrações tão baixas quanto 15% de oxigênio no ar em temperatura
ambiente (21ºC), sob condições de temperatura após a generalização do incêndio (flashover), a combustão na camada de
fumaça pode continuar a ocorrer até próximo de 0% de oxigênio. Quanto maior for
a temperatura do ambiente, menor será a necessidade de oxigênio.
Uma combustão lenta (incandescência),
uma vez iniciada, pode continuar com baixa concentração de oxigênio, mesmo
quando o ambiente está com temperaturas relativamente baixas. Essa condição mostra
que a madeira e outros materiais podem continuar sendo consumidos, mesmo quando
o ambiente está com uma concentração baixa de oxigênio. Combustíveis aquecidos
envolvidos sob uma camada de produtos da combustão, com baixa concentração de
oxigênio na parte superior do ambiente,
também podem ser consumidos.
IV. Fase final
Também chamada de estágio de brasa ou
decrescente, seu início ocorre quando o incêndio já
consumiu a maior parte do oxigênio e combustível presente no ambiente. As
chamas tendem a diminuir e buscar oxigênio disponível por qualquer abertura. A
concentração de oxigênio baixa para 16%. Se a concentração baixar para 15% ou
menos, as chamas extinguir-se-ão, permanecendo somente brasas.
A temperatura no teto ainda é muito
elevada e o ambiente é rico em gases quentes e fumaça, podendo conter gases
perigosos, como o metano. Há pouca ou nenhuma visibilidade no local. Ocorre uma
diminuição linear da temperatura, o que significa que o ambiente estará resfriando,
porém muito lentamente e com pouco oxigênio.
Se não houver ventilação, a temperatura
do ambiente diminuirá gradualmente até que as chamas e incandescências se
apaguem.
Se houver, porém, uma entrada de ar no
ambiente causada, por exemplo, pelo arrombamento por parte dos bombeiros de
forma precipitada, a massa gasosa presente na fumaça poderá ignir de forma rápida
e violenta, produzindo muito calor e uma onda de choque, expondo a vida dos
bombeiros ao risco de morte ou a danos graves.
Essa fase abrange a extinção do
incêndio.
Todo o combustível praticamente foi
consumido e há chamas pequenas e separadas umas das outras. Há também o
surgimento de incandescências. Nesta fase, o incêndio dependerá da quantidade
de material combustível ainda não ignido.
Figura 52 - Gráfico da temperatura versus tempo das fases de um incêndio
Carga de incêndio
É a quantidade total de material
combustível existente em um prédio, espaço ou área passível de ser atingida
pelo fogo, incluindo materiais de acabamento e decoração, expressos em unidades
de calor ou em peso equivalente de madeira.
Na prática, é tudo aquilo que serve
como combustível.
Logo, uma sala de cinema tem muito mais
carga de incêndio que a portaria de um edifício, ainda que de mesmas dimensões
e área. A carga de incêndio de uma indústria de móveis é maior que um galpão
utilizado para estocar ferragens.
Carga de incêndio típica de:
• Uma sala de estar — jogo de sofá, estante, TV, aparelho de
som, mesa de centro e de canto, tapete, etc.
• Um quarto — cama, guarda-roupa, criado-mudo, TV, etc.
• Compartimento de passageiro de um veículo — bancos estofados,
painel em plástico, forro de tecido no teto, carpete, etc.
A carga de incêndio também pode ser
definida como a carga de incêndio por metro quadrado de área de um ambiente, ou
seja, como carga de incêndio específica, expressa em MJ/m2.
Tabela 17 – Carga de incêndio típica de diferentes ocupações Tipo de ocupação Carga de incêndio específica (MJ/m2)
Tabela 18 – Classificação das
edificações quanto à carga de incêndio
Fumaça
A fumaça é um fator de grande
influência na dinâmica do incêndio, de acordo com as suas características e seu
potencial de dano.
Antigamente, qualificava-se a fumaça
basicamente como um produto da combustão, que dificultava muito os trabalhos
dos bombeiros por ser opaca, atrapalhando a visibilidade, e por ser tóxica, o
que a tornava perigosa quando inalada.
Com estudos mais recentes, foram
valorizadas outras três características: quente, móvel e
inflamável, além das duas já conhecidas: opaca e tóxica.
Caracterísitcas da fumaça:
1. Quente, porque a combustão libera calor, transmitindo-o a outras
áreas que ainda não foram atingidas. Como já tratado na convecção, a fumaça
será a grande responsável por propagar o incêndio ao atingir pavimentos
superiores (por meio de dutos, fossos e escadas) e acumular-se no ambiente.
2. Opaca, uma vez que seus produtos - principalmente a fuligem –
permanecem suspensos na massa gasosa, dificultando a visibilidade tanto para
bombeiros, quanto para as vítimas, o que exige técnicas de entrada segura em
ambientes que estejam inundados por fumaça.
3. Móvel, porque é um fluido que está sofrendo um empuxo constante,
movimentando-se em qualquer espaço possível e podendo, como já dito, atingir
diferentes ambientes por meio de fossos, dutos, aberturas ou qualquer outro
espaço que possa ocupar. Daí o cuidado que os bombeiros devem ter com
elevadores, sistemas de ventilação e escadas. Essa característica da fumaça
também explica porque ocorrem incêndios que atingem pavimentos não consecutivos
em um incêndio estrutural.
4. Inflamável, por possuir íons provenientes da reação em cadeia da combustão em seu interior
capazes de reagir com o oxigênio, o que a torna uma massa combustível gasosa.
5. Tóxica, pois seus produtos são asfixiantes e irritantes, prejudicando
a respiração dos bombeiros e das vítimas, assunto que será aprofundado no
Módulo 2 deste manual.
O conceito atual de fumaça não desabona
o antigo, somente o complementa de maneira vital para a segurança e trabalho
dos bombeiros no combate a incêndio.
Em ambiente fechado, como um
compartimento, a fumaça tende a subir, atingir o teto e
espalhar-se horizontalmente até ser limitada pelas paredes, acumulando-se nessa
área.
Figura 53 – Movimento da fumaça em um
ambiente fechado
A partir daí, a fumaça começará a
descer para o piso. Em todo esse processo, qualquer rota de saída pode fazer
com que se movimente através desta, podendo ser tanto por uma janela, quanto
por um duto de ar condicionado, uma escada, ou mesmo um fosso de elevador.
Se não houver uma rota de escape
eficiente, o incêndio fará com que a fumaça desça para o piso, tomando todo o
espaço e comprimindo o ar no interior do ambiente.
Cientes das características da fumaça e
dos riscos que ela representa em um incêndio, os bombeiros podem adotar medidas
simples e de suma importância durante as ações de combate, que garantam a
segurança tanto para si próprios, quanto para as vítimas, tais como:
• resfriar a camada gasosa com o jato d’água apropriado e a técnica adequada;
• estabelecer meios que permitam o escoamento da fumaça (ventilação
tática);
• monitorar os pavimentos da edificação, principalmente acima
do foco do incêndio;
• ter cuidados com espaços vazios, como fossos, dutos, escadas,
etc.;
• utilizar o equipamento completo de proteção individual e respiratória.
Durante muito tempo, os bombeiros eram
treinados e instruídos para atacar a base do fogo como primeira medida do combate
ao incêndio. O fato de que a fumaça pode também pegar fogo ou explodir só foi
considerado recentemente, com o estudo da reação em cadeia.
Consequentemente, há a necessidade de
uma mudança no comportamento dos bombeiros quanto ao
combate, direcionando sua atenção, primeiramente, aos gases inflamáveis
presentes na fumaça.
Como utilizar as técnicas de forma
eficiente é assunto do Módulo 3 deste manual.
A influência dos elementos
construtivos na dinâmica dos incêndios.
Cada edificação possui características
arquitetônicas e estruturais próprias e seus elementos influenciam diretamente
a dinâmica de um incêndio, tanto separadamente quanto em conjunto.
Alguns fatores que afetam o
comportamento de um incêndio e devem ser observados pelos bombeiros, a fim de
se compreender as variações na dinâmica do incêndio e para efetuar um combate
eficiente, são:
• o tamanho e o número de aberturas de ventilação (janelas e
portas) do ambiente sinistrado – quanto menor o tamanho e o número de aberturas (ou
ainda se estiverem fechadas), mais fumaça acumular-se-á no ambiente;
• o volume do ambiente (altura, largura e comprimento) – quanto maior o espaço disponível, maior
a quantidade de fumaça acumulada em seu interior;
• o número de compartimentos em que o ambiente está dividido – quanto mais compartimentado o
ambiente, menor quantidade de fumaça espalhar-se-á e mais fácil será o seu
combate;
• as propriedades térmicas das paredes do compartimento –
quanto melhor isolante térmico for o material das paredes e teto, menor
quantidade de calor é irradiada para outros ambientes;
• o tamanho, a composição e a localização dos materiais combustíveis
existentes no ambiente (carga de incêndio) – quanto maior a carga de incêndio
de um ambiente, mais fumaça é produzida e maior o potencial de dano do incêndio.
Além desses fatores, alguns elementos
construtivos são comuns em muitas edificações e ainda não despertam a atenção
devida dos bombeiros, tais como piso falso e teto falso.
Piso falso
É a elevação do piso, com a finalidade
de permitir a acomodação e passagem de cabeamento, principalmente de transmissão
de dados, comunicação e de eletricidade, o que o torna muito comum em ambientes
com vários computadores ou de centro de processamento de dados.
Sua altura varia de 15 a 120 centímetros e
um incêndio atingindo essa área pode apresentar risco de queda dos bombeiros no momento do combate ou durante a busca de
vítimas.
Geralmente, é feito em placas de
madeira sobre estrutura metálica.
Figura 54 - Exemplo de piso falso
Teto falso
Teto falso ou forro é um rebaixamento do teto, como se pode ver na Figura 40. Com altura variável, ele forma um vão entre o teto e o forro.
Algumas edificações possuem esse espaço como sótão e costumam guardar materiais e mobílias, o que aumenta a carga de incêndio do ambiente, agravando as condições do incêndio.
Figura 55 - Teto falso servindo como depósito de material
A Figura 55 mostra um forro sendo utilizado como depósito de materiais em um restaurante no Texas, EUA, em 2000, onde ocorreu um incêndio que vitimou fatalmente dois bombeiros. As condições do sinistro foram, sobremaneira, agravadas por essa situação.
Em outras edificações, o forro estará fixado junto à laje, não havendo espaço entre eles. Saber se existe ou não um vão entre esses dois elementos geralmente só será possível nas ações de reconhecimento do sinistro, antes do combate, por parte dos bombeiros.
Como a fumaça é móvel e quente, existe uma grande probabilidade desse espaço ser tomado por ela, agravando as condições do incêndio, pela livre propagação do calor para áreas não atingidas.
O risco que um teto falso (ou forro) oferece em um incêndio é devido, principalmente, à possibilidade de a fumaça acumular-se e movimentar-se em seu interior.
Existem vários tipos de forros. Alguns são de alto custo, portanto, não tão comuns, tais como: o de poliuretano, de metal perfurado e o de lã mineral. Geralmente, são utilizados em teatros, shoppings, aeroportos e locais que necessitam de cuidados quanto à propagação do som.
Figura 56 - Exemplo de forro de metal perfurado
Os tipos mais comuns de forro são de PVC, de madeira, de gesso e de fibra de madeira.
PVC – Cloreto de polivinila
Apesar de não ignir facilmente, o PVC deforma com um mínimo de calor, derretendo e fazendo cair gotas de polímero quente sobre os bombeiros, com risco grave de queimadura.
O uso completo do EPI é imprescindível em todas as ações de combate a incêndio!
Figura 57 - Exemplo de forro de PVC Madeira
O forro de madeira, tipo paulista, é combustível e, normalmente, permite uma fácil e rápida propagação do incêndio, pois aumenta a carga de incêndio do ambiente, dificultando a extinção do sinistro.
Figura 58 - Exemplo de forro de madeira Gesso
O gesso também é muito utilizado tanto em residências quanto em edificações comerciais. Ele é incombustível, porém trinca quando aquecido e produz pedaços cortantes ao ser quebrado, podendo desprender-se do teto e ferir os bombeiros, mesmo na fase do rescaldo.
Por ser muito parecido com o material de acabamento das paredes, quase não é percebido visualmente pelos bombeiros antes de se decompor.
Fibra de madeira
O forro de fibra de madeira prensada foi muito utilizado até a década de noventa, devido ao seu baixo custo em relação ao gesso, feito em forma de placas fixadas a estruturas metálicas ou de madeira. É combustível, o que agrava, sobremaneira, a propagação do incêndio.
Figura 59 - Exemplo de forro de fibra de madeira
Apesar de hoje quase não ser utilizado, esse tipo de forro ainda é comum em edificações antigas.
Edificações com grandes extensões com esse tipo de forro apresentam risco potencial de ocorrência de explosão da fumaça (backdraft) em caso de incêndio.
Fachadas de vidro
As edificações modernas estão sendo projetadas, cada vez mais, em grande número com fachadas de vidro, também chamadas de “pele de vidro”. Nessas edificações, há um suporte metálico preso à laje que sustenta grandes “placas” de vidro, substituindo as paredes de tijolos ou de concreto. Entre a laje e os vidros existe um espaço que forma um vão, o que faz com que se assemelhe a uma gaiola.
Figura 60 – Exemplo de prédios com fachada de vidro em Brasília - DF
Com a ação do calor, os vidros se deformam, deixando livre o espaço entre a laje de um pavimento e a estrutura dos vidros. Essa abertura favorece a propagação vertical do calor e agrava as condições do incêndio, como é possível notar na Figura 61, a menos que haja uma compartimentação vertical que ofereça resistência ao calor.
Figura 61 - Incêndio no Ministério do Desenvolvimento Urbano em 1988.
A compartimentação horizontal de um ambiente tem a finalidade de dividir o plano horizontal de um mesmo pavimento da edificação, por paredes ou outros elementos estruturais resistentes ao calor, com o objetivo de evitar a propagação do incêndio e da fumaça pela ação deste.
É o mesmo que transformar uma caixa grande em várias caixas menores de mesma altura. Como já foi dito, quanto mais compartimentado for o ambiente, mais restrito e, portanto, menor o potencial de dano devido a um incêndio.
Acontece que, nesse tipo de edificação, é comum que os cômodos sejam separados por divisória, geralmente de madeira sem tratamento retardante ao fogo, o que implica no agravamento do incêndio por dois grandes fatores:
• as divisórias aumentam a carga de incêndio da edificação;
• ao se deformarem, pela ação do calor, aumentam o espaço disponível para a propagação do calor e da fumaça.
A compartimentação vertical de um ambiente consiste em evitar que o calor e a fumaça se propaguem verticalmente por meio de lajes ou afins. É o mesmo que isolar uma caixa de outra que se encontra acima. Na maior parte desse tipo de edificação, não há uma compartimentação vertical que consiga reter o calor no pavimento. O mais comum é a utilização de peças metálicas, apenas com fins arquitetônicos, para separar um pavimento do outro, como mostra a Figura 62.
Figura 62 – Peça metálica entre o suporte dos vidros e a laje.
É importante ressaltar que esse dispositivo não impede a propagação do incêndio ao pavimento imediatamente superior, pelo fato de o metal se deformar facilmente quando exposto ao calor, permitindo a circulação da fumaça por esse espaço.
Os vidros são materiais pouco combustíveis, porém também se deformam com a ação do calor. Quando um vidro se rompe em determinado pavimento, permite a livre passagem da fumaça quente para o pavimento superior.
Os vidros mais encontrados em edificações são os laminados, temperados ou aramados. Todos possuem alto custo e a ação de quebrá-los em um combate deve ser, ao máximo, evitada.
Considerações gerais sobre os vidros:
• Os vidros laminados possuem esse nome por terem uma lâmina adesiva plástica entre as suas duas faces. São os mais utilizados em fachadas por serem, entre outras coisas, bastante resistentes ao vandalismo. Por outro lado, eles dificultam a ação dos bombeiros caso necessitem quebrá-los.
Figura 63 - Prédio com fachada em vidro laminado - Centro de Convenções Ulisses Guimarães
• Os vidros temperados são confeccionados submetendo-os a altas temperaturas e resfriando-os abruptamente. São quebráveis, contudo apresentam alta resistência ao calor e a choques mecânicos, sendo muito utilizados em portas e acessos.
• Os vidros aramados possuem, em seu interior, uma malha de arame que não permite a passagem de objetos em caso de quebra do vidro. Por esse motivo são considerados vidros de segurança, sendo utilizados principalmente em rotas de fuga e locais protegidos.
Combater um incêndio em uma edificação em que existe o predomínio de estruturas com vidros irá requerer dos bombeiros a utilização de todos os sistemas de proteção contra incêndio e pânico existentes na própria edificação, assunto que será abordado no Módulo 5 do presente manual.
Quebrar os vidros para acessar o interior do prédio ou para fazer o combate é uma medida extrema, que deve ser evitada ao máximo.
Gesso acartonado
Hoje em dia está sendo muito utilizado na construção civil para substituir a alvenaria em paredes internas e divisórias.
Conhecido também como drywall, o gesso acartonado possui a característica de ser de montagem rápida e fácil.
No Brasil, até 2008, não existia legislação que obrigasse os usuários deste material a adotarem medidas que o tornasse resistente ao fogo e ao calor. Portanto, a presença deste material pode favorecer a propagação das chamas, tanto pela combustibilidade do material utilizado em sua confecção, quanto pela deformação com a ação do calor, acarretando a descompartimentação do ambiente (aumentando seu volume) e permitindo a propagação do incêndio pela movimentação da fumaça.
Quando montado, o gesso acartonado assemelha-se demasiadamente a uma parede comum, o que dificulta a identificação visual pelos bombeiros em caso de sinistro.
Dutos
Os dutos são aberturas verticais em uma edificação que atravessam os pavimentos, servindo para diferentes finalidades, desde a passagem de instalações elétricas e hidráulicas até uma escada ou fosso de elevador.
Estudos provenientes das análises de vários incêndios mostram que os dutos (escadas, fossos de elevadores, dutos de ventilação ou dutos técnicos - shafts) auxiliam na propagação do incêndio por convecção, semelhantemente ao que ocorre em chaminés.
Figura 64 - Fosso de elevador e escada facilitam a movimentação da fumaça na edificação
Dada a sua característica móvel, a fumaça tende a ocupar todos esses espaços, levando massa combustível gasosa aquecida a áreas ou ambientes ainda não afetados.
Em razão dessa característica, os bombeiros devem estar sempre atentos à presença de espaços como esses na edificação e monitorar se há início de outros focos, inclusive em pavimentos não consecutivos.
Figura 65 – Exemplo de escada
Em uma edificação, as escadas de emergência, que
normalmente são protegidas por paredes, são as melhores rotas de fuga para as
vítimas, bem como de acesso para os bombeiros.
Um duto técnico, ou shaft, é uma abertura feita próxima à parede, semelhante a um armário, em
todos os pavimentos, para a passagem de canalização hidráulica ou elétrica ou,
ainda, servindo de ventilação. Os
bombeiros podem ter dificuldades em visualizar um duto técnico nas edificações.
Contudo, costumam estar próximos a banheiros, cozinhas e áreas de serviço.