02 agosto 2012

VI - Acidentes por Coleópteros ( Besouros ) - Ações do veneno - Quadro Clínico - Tratamento -


VI - Acidentes por Coleópteros

1. Introdução
Vários gêneros de coleópteros podem provocar quadros vesicantes. A compressão ou atrito destes besouros sobre a pele determina um quadro dermatológico, decorrente da liberação, por parte do inseto, de substâncias tóxicas de efeito cáustico e vesicante. O contato ocorre, muitas vezes, nas proximidades de luz artificial para a qual são fortemente atraídos. São descritas em torno de 600 espécies no mundo, sendo mais de 48 sul-americanas. Já foram registrados surtos epidêmicos.

2. Coleópteros de importância médica
No Brasil, são descritos os acidentes por besouros do gênero Paederus (Coleoptera, Staphylinidae) nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e pelo gênero Epicauta (Coleoptera, Meloidae) no estado de São Paulo.

O gênero Paederus (potó, trepa-moleque, péla-égua, fogo-selvagem) compõe-se de pequenos besouros de corpo alongado, medindo de 7 mm a 13 mm de comprimento (fig. 64); possuem élitros curtos, que deixam descoberta mais da metade do abdome. Vivem em lugares úmidos, arrozais, culturas de milho e algodão.



Cinco espécies de Paederus são associadas a acidentes humanos no Brasil: P. amazonicus, P. brasiliensis, P. columbinus, P. fuscipes e P. goeldi.

São espécies polífagas, predadoras de outros insetos, nematódeos e girinos. Quando molestados, os adultos se defendem com as mandíbulas, tentando morder, ao mesmo tempo em que encurvam o abdome, provavelmente também para acionar a secreção das glândulas pigidiais.

As denominações de potó-grande, potó-pimenta, papa-pimenta, caga-fogo e caga-pimenta provavelmente correspondem ao gênero Epicauta (Coleoptera, Meloidae), as cantáridas do Novo Mundo (fig. 65), também dotadas de propriedades vesicantes (atribuídas à cantaridina) sendo causadoras de lesões menos evidentes, que regridem em cerca de três dias.



3. Ações do veneno
A hemolinfa e a secreção glandular do potó contêm uma potente toxina de contato, denominada pederina, de propriedades cáusticas e vesicantes. Trata-se de uma amida cristalina, solúvel em água e no álcool, de ação inibidora do DNA que atua em nível celular por bloqueio da mitose. Adultos, ovos e larvas de Paederus contêm a toxina, mas a dermatite produzida pelas fêmeas é mais grave, sugerindo alguma relação com o sistema reprodutor feminino.
Duas outras amidas cristalinas, a pseudopederina e a pederona, já foram também isoladas da hemolinfa de Paederus.


4. Quadro clínico

Alguns pacientes experimentam sensação de ardor contínuo, no momento do contato. O quadro clínico varia de
intensidade, podendo o acidente ser classificado, em:

a) Leve: discreto eritema, de início cerca de 24 horas após o contato, que persiste por, aproximadamente, 48  horas.

b) Moderado: marcado eritema, ardor e prurido, também iniciando-se algumas horas depois do contato. Segue-se um estádio vesicular, as lesões se alargam gradualmente até atingirem o máximo de desenvolvimento em cerca de 48 horas. Surge, depois, um estádio escamoso: as vesículas tornam-se umbilicadas, vão secando durante uns oito dias e esfoliam, deixando manchas pigmentadas que persistem por um mês ou mais.

c) Grave: em geral mais extensos devido ao contato com vários espécimes, contam com sintomas adicionais, como febre, dor local, artralgia e vômitos. O eritema pode persistir por meses.

As lesões são tipicamente alongadas, por causa da esfregadela do inseto sobre a pele. Daí a expressão dermatite linear. As vesículas podem ser claras ou pustulizadas por infecção secundária. As áreas mais expostas do corpo são as mais afetadas (fig. 66). As palmas das mãos e as plantas dos pés parecem poupadas.



Os dedos que friccionaram o inseto podem levar a toxina a outras áreas, inclusive à mucosa conjuntival, provocando dano ocular (conjuntivite, blefarite, ceratite esfoliativa, irite).
O diagnóstico diferencial deve ser feito com a larva migrans cutânea, herpes simples, dermatite herpetiforme, zoster, pênfigo, acidente de contato com lagartas, fitofotodermatite e outras afecções.


5. Tratamento
Se o paciente esfregar inadvertidamente contra a pele um espécime de potó, deve lavar imediatamente as áreas atingidas, com abundante água corrente e sabão. Nas lesões instaladas, utilizar banhos anti-sépticos com permanganato (KMnO4) 1:40.000 e antimicrobianos, como creme de Neomicina. Alguns autores recomendam o uso de corticosteróides tópicos.

A tintura de iodo destrói a pederina e tem sido empregada no tratamento das lesões cutâneas, mas sua aplicação pode não ser suficientemente precoce para evitar o desenvolvimento da reação.
Antibióticos sistêmicos podem ser usados para controle da infecção secundária.
Em caso de contato com os olhos, deve-se lavar o local com água limpa e abundante, instilar antibióticos para prevenir a purulência, e corticóides. A atropina deve ser aplicada nos casos de irite.

Fonte: FUNASA

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