05 agosto 2022

2 - À ILHA DE MARÉ TERMO DESTA CIDADE DA BAHIA SILVA

 

2

 

Do trabalho marítimo regalo;

Uns as redes estendem,

E vários peixes por pequenos prendem;

Que até nos peixes com verdade pura

Ser pequeno no Mundo é desventura:

Outros no anzol fiados

Têm aos míseros peixes enganados,

Que sempre da vil isca cobiçosos

Perdem a própria vida por gulosos.

Aqui se cria o peixe regalado

Com tal sustância, e gosto preparado,

Que sem tempero algum para apetite

Faz gostoso convite,

E se pode dizer em graça rara

Que a mesma natureza os temperara.

Não falta aqui marisco saboroso,

Para tirar fastio ao melindroso;

Os polvos radiantes,

Os lagostins flamantes,

Camarões excelentes,

Que são dos lagostins pobres parentes;

Retrógrados cranguejos,

Que formam pés das bocas com festejos,

Ostras, que alimentadas

Estão nas pedras, onde são geradas;

Enfim tanto marisco, em que não falo,

Que é vário perrexil para o regalo.

As plantas sempre nela reverdecem,

E nas folhas parecem,

Desterrando do Inverno os desfavores,

Esmeraldas de Abril em seus verdores,

E delas por adorno apetecido

Faz a divina Flora seu vestido.

As fruitas se produzem copiosas,

E são tão deleitosas,

Que como junto ao mar o sítio é posto,

Lhes dá salgado o mar o sal do gosto.

As canas fertilmente se produzem,

E a tão breve discurso se reduzem,

Que porque crescem muito,

Em doze meses lhe sazona o fruito,

E não quer, quando o fruto se deseja,

Que sendo velha a cana, fértil seja.

As laranjas da terra

Poucas azedas são, antes se encerra

Tal doce nestes pomos,

Que o tem clarificado nos seus gomos;

Mas as de Portugal entre alamedas

São primas dos limões, todas azedas.

Nas que chamam da China

Grande sabor se afina,

 

Manuel Botelho

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