02 abril 2022

A severidade de um incêndio tem relação direta com a edificação e seus riscos - Sistema de Gestão da Segurança contra Incêndio e Pânico nas Edificações

 

Para que as medidas de SCIE sejam eficientes, ou seja, cumpram os objetivos de proteção a que foram concebidos, além de serem proporcionais ao grau de risco e ao potencial de danos, elas devem ser implantadas em determinados estágios de desenvolvimento do incêndio, desde seu surgimento até sua extinção, ou seja, de nada adiantará por exemplo, prever sistemas de alerta e de iluminação de emergência se estes forem acionados quando o fogo e a fumaça estiverem em pleno desenvolvimento e não permitirem mais a saída dos ocupantes da edificação.

 

Desta forma, a severidade de um incêndio tem relação direta com a edificação e seus riscos, e as medidas de proteção aplicadas devem mitigar esses riscos a níveis mínimos aceitáveis de uso do prédio com segurança para as pessoas.

 

Quintiere e Carlsson (2000) já afirmavam que antes da inflamação generalizada a preocupação maior deveria ser com a vida humana, e depois com o incêndio totalmente desenvolvido, as atenções deveriam ser dadas a estabilidade estrutural e segurança dos bombeiros, devendo considerar a curva de incêndio-padrão para os projetos.

 

Na fase inicial e de aquecimento, as ações de alerta e saída emergencial dos ocupantes em tempo adequado são muito importantes para que não inalem fumaça ou tenham outras lesões mais graves, pois com o passar do tempo, a parte superior do compartimento fica com a temperatura alta, baixo conteúdo de oxigênio e resíduos, fumaça e produtos em suspensão advindos da queima incompleta dos materiais, inclusive gases tóxicos e inflamáveis da pirólise.

 

Coelho (2010) corrobora com os autores anteriores, esclarecendo que nesta fase de deflagração do fogo também é necessário o cuidado com os materiais utilizados no edifício quanto a reação ao fogo, trazido para as regulamentações brasileiras como controle dos materiais de acabamento e de revestimento aplicados nas construções para evitar a ignição ou retardar a propagação do fogo permitindo mais tempo para o abandono do prédio.

 

O mesmo autor enfatiza também a importância do controle da movimentação de fumaça para a saída segura das pessoas:

 

A existência de fumo e a consequente diminuição da visibilidade influencia o movimento e o comportamento das pessoas numa situação de emergência, [...]

 

A decisão dos ocupantes de um edifício sob a ação de um incêndio se movimentarem, ou não, através de um espaço enfumado surge intimamente ligada à capacidade de ainda conseguirem identificar a saída e à possibilidade de estimarem a distância a percorrer.

 

Desta forma, o controle de fumaça deve ser considerado como relevante antes da ocorrênciado flashover, principalmente em prédios mais altos, para fornecer mais tempo de escape eretardar de forma significativa o aquecimento dos compartimentos adjacentes evitando apropagação do incêndio.

 

Brentano (2007) assevera ainda que na fase inicial do incêndio, antes da sua generalização, a proteção ativa é muito importante para a intervenção no princípio de incêndio através dos chuveiros automáticos, e uso dos extintores de incêndio, hidrantes ou mangotinhos, por meio de pessoal devidamente treinado para prestar socorro.

 

Não obstante, Silva (2014) entende que antes do flashover, os riscos a serem considerados devem ser mitigados para priorizar a vida, através do alerta, presença de pessoas treinadas e o acionamento rápido dos meios especializados de socorro, controle de fumaça e reduzido tempo para desocupação do prédio aliado a compartimentação para não propagação do fogo.

 

Salienta que estes riscos estão relacionados a altura dos prédios e a densidade de pessoas que lá permanecem durante a exploração da atividade.

 

Já a partir da generalização do incêndio ocorre a degradação das estruturas e dos elementos de compartimentação, devendo-se então prever sistemas de proteção contra incêndios que evitem isto (PURKISS, 1996 apud LIMA, 2005).

 

Complementa Buchanan (2002 apud LIMA, 2005), que a informação mais valiosa para o dimensionamento de estruturas são as temperaturas do ambiente após o flashover, ou seja, o ramo ascendente da curva de incêndio natural.

 

Se o incêndio chegar ao estágio totalmente desenvolvido, a perda do patrimônio será mais relevante, pois além da destruição do conteúdo, poderá existir a interrupção do processo produtivo, com possíveis danos aos prédios vizinhos e ao meio ambiente. Neste caso, a maior  preocupação deve ser com a resistência ao fogo das estruturas e o isolamento dos riscos apartir do afastamento entre edificações e das compartimentações de áreas, também vinculados a altura da edificação e ao seu conteúdo (carga de incêndio).

 

Sob o ponto de vista do socorro a ser prestado, a manutenção da estabilidade estrutural e o retardo na propagação do incêndio através das fachadas e ligações internas permite um serviço de extinção mais eficiente, com risco diminuído aos bombeiros, e com a possibilidade de utilização dos sistemas prediais do próprio estabelecimento, com o propósito de confinamento do sinistro em um espaço limitado.

 

Está evidente que no transcorrer de um incêndio, as prioridades de proteção modificam de acordo com os objetivos a serem atingidos: proteção da vida, proteção do patrimônio e extinção do incêndio.

 

Na mesma esteira, inúmeros fatores de caracterização do prédio, sua circunvizinhança e seu conteúdo são condicionantes para o início, a severidade e a propagação do incêndio, que por sua vez, estabelecem um grau de risco que pressupõe um potencial de danos, definindo então quais as medidas de segurança contra incêndio e pânico devem ser adotadas para reduzí-los.

 

Vê-se portanto, que o comportamento do incêndio em um prédio e sua devida proteção não estão associados a características de mercado ou de vulnerabilidade social, e sim são intrínsecos à edificação, seu uso e o seu entorno, basilares para estabelecer as condições mínimas de mitigação dos potenciais danosos.

 

As exigências regulamentares para implantação das medidas de segurança contra incêndio e pânico devem ser concebidas de forma efetiva, garantindo o cumprimento de suas funções na fase adequada de desenvolvimento do incêndio para as quais foram criadas, e assim, atenderem os objetivos precípuos da SCIE.




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