Para
que as medidas de SCIE sejam eficientes, ou seja, cumpram os objetivos de
proteção a que foram concebidos, além de serem proporcionais ao grau de risco e
ao potencial de danos, elas devem ser implantadas em determinados estágios de
desenvolvimento do incêndio, desde seu surgimento até sua extinção, ou seja, de
nada adiantará por exemplo, prever sistemas de alerta e de iluminação de
emergência se estes forem acionados quando o fogo e a fumaça estiverem em pleno
desenvolvimento e não permitirem mais a saída dos ocupantes da edificação.
Desta
forma, a severidade de um incêndio tem relação direta com a edificação e seus
riscos, e as medidas de proteção aplicadas devem mitigar esses riscos a níveis
mínimos aceitáveis de uso do prédio com segurança para as pessoas.
Quintiere
e Carlsson (2000) já afirmavam que antes da inflamação generalizada
a preocupação maior deveria ser com a vida humana, e depois com o incêndio
totalmente desenvolvido, as atenções deveriam ser dadas a estabilidade
estrutural e segurança dos bombeiros, devendo considerar a curva de
incêndio-padrão para os projetos.
Na
fase inicial e de aquecimento, as ações de alerta e saída emergencial dos
ocupantes em tempo adequado são muito importantes para que não inalem fumaça ou
tenham outras lesões mais graves, pois com o passar do tempo, a parte superior
do compartimento fica com a temperatura alta, baixo conteúdo de oxigênio e
resíduos, fumaça e produtos em suspensão advindos da queima incompleta dos
materiais, inclusive gases tóxicos e inflamáveis da pirólise.
Coelho
(2010) corrobora com os autores anteriores, esclarecendo que nesta fase
de deflagração do fogo também é necessário o cuidado com os materiais utilizados
no edifício quanto a reação ao fogo, trazido para as regulamentações brasileiras
como controle dos materiais de acabamento e de revestimento aplicados nas
construções para evitar a ignição ou retardar a propagação do fogo permitindo
mais tempo para o abandono do prédio.
O mesmo autor enfatiza
também a importância do controle da movimentação de fumaça para a saída segura
das pessoas:
A existência de fumo e a consequente diminuição da visibilidade
influencia o movimento e o comportamento das pessoas numa situação de
emergência, [...]
A
decisão dos ocupantes de um edifício sob a ação de um incêndio se movimentarem,
ou não, através de um espaço enfumado surge intimamente ligada à capacidade de
ainda conseguirem identificar a saída e à possibilidade de estimarem a distância
a percorrer.
Desta
forma, o controle de fumaça deve ser considerado como relevante antes da
ocorrênciado flashover, principalmente em prédios mais altos, para fornecer
mais tempo de escape eretardar de forma significativa o aquecimento dos
compartimentos adjacentes evitando apropagação do incêndio.
Brentano
(2007) assevera ainda que na fase inicial do incêndio, antes da sua
generalização, a proteção ativa é muito importante para a intervenção no
princípio de incêndio através dos chuveiros automáticos, e uso dos extintores de
incêndio, hidrantes ou mangotinhos, por meio de pessoal devidamente treinado
para prestar socorro.
Não
obstante, Silva (2014) entende que antes do flashover, os riscos a serem
considerados devem ser mitigados para priorizar a vida, através do alerta,
presença de pessoas treinadas e o acionamento rápido dos meios especializados de
socorro, controle de fumaça e reduzido tempo para desocupação do prédio aliado a
compartimentação para não propagação do fogo.
Salienta
que estes riscos estão relacionados a altura dos prédios e a densidade de
pessoas que lá permanecem durante a exploração da atividade.
Já
a partir da generalização do incêndio ocorre a degradação das estruturas e dos
elementos de compartimentação, devendo-se então prever sistemas de proteção
contra incêndios que evitem isto (PURKISS, 1996 apud LIMA, 2005).
Complementa
Buchanan (2002 apud LIMA, 2005), que a informação mais valiosa para
o dimensionamento de estruturas são as temperaturas do ambiente após o
flashover, ou seja, o ramo ascendente da curva de incêndio natural.
Se
o incêndio chegar ao estágio totalmente desenvolvido, a perda do patrimônio
será mais relevante, pois além da destruição do conteúdo, poderá existir a
interrupção do processo produtivo, com possíveis danos aos prédios vizinhos e ao
meio ambiente. Neste caso, a maior preocupação deve ser com a resistência ao
fogo das estruturas e o isolamento dos riscos apartir do afastamento entre
edificações e das compartimentações de áreas, também vinculados a altura da
edificação e ao seu conteúdo (carga de incêndio).
Sob
o ponto de vista do socorro a ser prestado, a manutenção da estabilidade
estrutural e o retardo na propagação do incêndio através das fachadas e ligações
internas permite um serviço de extinção mais eficiente, com risco diminuído aos
bombeiros, e com a possibilidade de utilização dos sistemas prediais do próprio
estabelecimento, com o propósito de confinamento do sinistro em um espaço
limitado.
Está
evidente que no transcorrer de um incêndio, as prioridades de proteção
modificam de acordo com os objetivos a serem atingidos: proteção da vida,
proteção do patrimônio e extinção do incêndio.
Na
mesma esteira, inúmeros fatores de caracterização do prédio,
sua circunvizinhança e seu conteúdo são condicionantes para o início, a
severidade e a propagação do incêndio, que por sua vez, estabelecem um grau de
risco que pressupõe um potencial de danos, definindo então quais as medidas de
segurança contra incêndio e pânico devem ser adotadas para reduzí-los.
Vê-se
portanto, que o comportamento do incêndio em um prédio e sua devida proteção
não estão associados a características de mercado ou de vulnerabilidade social,
e sim são intrínsecos à edificação, seu uso e o seu entorno, basilares para
estabelecer as condições mínimas de mitigação dos potenciais danosos.
As exigências regulamentares para implantação das medidas de segurança contra incêndio e pânico devem ser concebidas de forma efetiva, garantindo o cumprimento de suas funções na fase adequada de desenvolvimento do incêndio para as quais foram criadas, e assim, atenderem os objetivos precípuos da SCIE.
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