22 maio 2020

TÍTULO IV - DIARRÉIA CAUSADA POR ESCHERICHIA COLI CID – 008.0 - CODAR – HB. ADA/CODAR 23.204 - Caracterização - Dados Epidemiológicos - Agentes Infecciosos - Reservatórios - Mecanismos de Transmissão - Incubação e Transmissibilidade - Suscetibilidade e Resistência - Medidas Preventivas - Controle dos Pacientes, dos Contatos e dos Berçários

TÍTULO IV

DIARRÉIA CAUSADA POR ESCHERICHIA COLI CID – 008.0

CODAR – HB. ADA/CODAR 23.204


1. Caracterização

Numerosas cepas de Escherichia coli são encontradas como comensais, nos intestinos de pessoas sadias, e não provocam doenças.


No entanto, existem três tipos sorológicos de Escherichia coli, causadores de doenças:

1) As cepas invasivas provocam doença localizada primariamente nos cólons (intestino grosso), que se manifesta sob a forma de diarréia com muito muco (catarro intestinal) e ocasionalmente sangue e acompanhada normalmente de febre, definindo uma diarréia mucosanguinolenta semelhante às provocadas pelas shiguelas.

2) As cepas enterotoxígenas, que provocam uma diarréia aquosa e profusa, sem sangue e sem muco, mas acompanhada de cólicas intestinais, vômitos, desidratação, e podendo, ou não, ser acompanhada de febre, definindo uma diarréia semelhante às provocadas pelo vibrião colérico, a qual persiste por menos de 48 horas e cura espontaneamente.

3) As cepas enteropatogênicas, que têm sido associadas a surtos de doença diarréica aguda que evoluem em berçários e cujos mecanismos patogênicos ainda não foram completamente esclarecidos.

O diagnóstico é suspeitado em função do quadro clínico e dos dados epidemiológicos e confirmado pelo isolamento de cepas de E. coli, que reagem positivamente aos testes sorológicos que tipificam as cepas patogênicas.



2. Dados Epidemiológicos


a) Agentes Infecciosos

Cepas de Escherichia coli enterotoxígenas, enteropatogênicas e invasivas, que são distinguíveis das cepas de E. coli comensais, por intermédio de testes sorológicos específicos.


b) Reservatórios

Pessoas infectadas com cepas patogênicas de E. coli, na grande maioria das vezes, assintomáticas.


c) Mecanismos de Transmissão

Pela contaminação fecal da água, de alimentos e de fômites, como toalhas, lençóis, fronhas e outros equipamentos. As pessoas com diarréias agudas constituem-se em maior perigo, por estarem excretando grande número de microorganismos infectantes.

Os recém-nascidos podem ser contaminados na hora do parto, por suas próprias mães, por intermédio de contacto fecal-oral direto.

Nos berçários, o próprio pessoal de enfermagem pode contribuir para a disseminação da doença, em decorrência de rotinas de higienização mal implantadas e inadequada lavagem das mãos, antes e após o atendimento de cada bebê.


d) Incubação e Transmissibilidade

O período de incubação varia entre 12 e 72 horas, após o contágio, e a transmissibilidade permanece enquanto as pessoas estiverem eliminando germes viáveis.


e) Suscetibilidade e Resistência

As crianças, nos primeiros meses de vida, sobretudo os prematuros, são mais susceptíveis as cepas enteropatogênicas. O aleitamento materno, durante os primeiros meses, contribui para aumentar o nível de resistência. Durante o surto, os níveis de anticorpos contra os antígenos de superfície começam a se elevar, a partir das primeiras horas, e normalmente a infecção é controlada nas primeiras 48 horas. A duração da imunidade é desconhecida.


f) Medidas Preventivas

As medidas para os surtos comunitários são fortemente dependentes da Vigilância Sanitária e semelhantes às já estudadas a propósito da cólera.

A prevenção dos surtos nos berçários depende primordialmente do desenvolvimento de rotinas adequadas de anti-sepsia e de isolamento dos pacientes com diarréias e do treinamento permanente do pessoal de berçário, para cumpri-las rigorosamente.

1) A lavagem escrupulosa e a desinfecção das mãos, antes e depois de cuidar de cada bebê é, sem nenhuma dúvida, a rotina mais importante.

2) Uma assistência pré-natal consistente permite a identificação e o tratamento de diarréias nas futuras mães e reduz os riscos de transmissão na hora do parto.

3) A rotina de manter os recém-nascidos nos quartos com as mães, desde que nascidos normais e sem problemas patológicos, desde o primeiro dia, contribui poderosamente para melhorar o nível de saúde dos bebês e para reduzir os índices de infecção hospitalar.

4) A amamentação, durante os 6 (seis) primeiros meses de vida, contribui para aumentar os níveis de imunidade dos bebês e para reduzir a mortalidade infantil.

5) Os berçários de prematuros devem ser separados dos demais berçários e cada paciente deve ter equipamento (berço, banheira, trocador de fraudas, roupas-decama, termômetros e pacotes de fraldas descartáveis) absolutamente individualizado.

6) O pessoal de enfermagem deve ser muito bem adestrado em técnicas de antisepsia e de assepsia. A lavagem das mãos é fundamental e o controle da eliminação de fraldas descartáveis, da lavanderia e da central de esterilização é de importância capital.

7) Qualquer paciente com diarréia deve ser imediatamente isolado e tratado, e suas fezes devem ser obrigatoriamente encaminhadas ao laboratório de análises clínicas. O pessoal de enfermagem que trabalha nas áreas de isolamento é proibido de freqüentar as demais áreas do berçário.

8) É imperativo que se registre o número diário de deposições e a consistência das fezes de cada criança.

9) As áreas de berçário devem ser mantidas absolutamente limpas, desinfetadas e isentas de moscas e de outros insetos. As fraldas com fezes e demais fômites devem ser transportadas em recipientes estanques e impermeáveis.

10) Placas de Petri, com meios de cultura adequados, devem ser distribuídas nos berçários e levadas periodicamente ao laboratório de microbiologia, com o objetivo de detectar e identificar a presença de germes patogênicos no ambiente.

11) Crianças que, por orientação médica, são alimentadas artificialmente, são muito mais vulneráveis às infecções do que as que são amamentadas pelas mães.

Nestas condições, os cuidados de assepsia devem ser redobrados durante a preparação, guarda e distribuição das mamadeiras, que devem ser protegidas com invólucros plásticos e guardadas em refrigerador, até o momento do uso, quando são amornadas e servidas.


3. Controle dos Pacientes, dos Contatos e dos Berçários 

A ocorrência simultânea de dois ou mais casos de diarréias, em uma determinada maternidade ou entre crianças com altas recentes, deve ser interpretada como um surto epidêmico e investigada.


A notificação de casos isolados ocorridos em berçários é obrigatória para a Comissão de Controle das Infecções Hospitalares e, no caso de surtos, à autoridade sanitária local.

- A terapia hidroeletrolítica oral ou venosa e o tratamento específico da infecção, em ambiente isolado, têm por objetivo salvar a vida dos pequenos pacientes e bloquear a transmissão.

- A desinfecção concorrente e terminal do ambiente, das excreções e secreções e dos fômites (objetos contaminados) é de capital importância para bloquear a infecção.

- A comissão de Controle das Infecções Hospitalares, uma vez notificada, deve investigar exaustivamente o caso e esclarecer os mecanismos de transmissão, rever e reforçar todas as rotinas e procedimentos padronizados do berçário. 

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